Morreu no domingo passado Hubert Auriol, vencedor de três edições do Paris-Dakar. Estava há mais de um mês internado com covid-19. Francês vivendo em Garches, era conhecido nas lides automobilísticas por "O Africano", por ter nascido em Addis Abeba, Etiópia, para além da sua vocação africana.
As minhas viagens agora são sem sair de casa. Mas não dou o tempo por perdido, antes pelo contrário, já tenho dito aqui que pelas leituras em livros e ultimamente através do manancial que é a Internet, tenho descoberto outros sentidos em lugares onde já estive, e ao mesmo tempo conhecido sítios onde nunca estive, mas depois destas ricas viagens até parece que estive. E viagens assim se podem prolongar, repetir e aumentar através de leituras ou do estudo de mapas, fotografias e filmes. É económico, não cansa, não é arriscado, podemos parar em qualquer momento, voltar quando nos apetecer, contemplar calmamente, tudo aquilo que se torna impossível numa viagem real.
Abdou e Mariem são dois jóvens casados, e ela está à espera de bebé, o quarto filho. Não se admirem porque, como diz Abdou, a mulher andar com a barriga plana significaria que alguma coisa não estava bem, porque era contrário à natureza. O ritmo da natureza exige que a mulher dê, uma vez por ano, a prova da sua fertilidade generosa à natureza.
Os dois pertencem à comunidade fula, o maior grupo étnico do Senegal. A pele deles é mais clara do que os outros habitantes da África Ocidental naquela latitude. Léopold Senghor, um grande poeta senegalês, tinha orgulho na sua gente, e lamentava a humilhação do branco europeu durante séculos ao povo africano. Uma das teorias reza que os antepassados do Senegal chegaram ali vindos do Egito antigo, quando o Sara ainda era verde. E mais, o historiador e linguista senegalês Cheikh Anta Diop, sustenta que os gregos antigos, da civilização grega, também tinham as raízes da sua civilização assentes em terras africanas das margens do rio Nilo. Já para não falar das origens africanas da humanidade.
Aliás, foi nestas teses que Sartre e Camus se inspiraram para os seus escritos acerca do mundo multicultural e da relação Eu-Outro. O Senegal obteve a independência em 1960. E Léopold Senghor, que convivia no Quartier Latin com essas e outras grandes figuras, foi eleito presidente. E em 1963, Senghor levou a cabo a concretização de um sonho, em Dakar, com a realização do Primeiro Festival Mundial de Artes Negras.
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