Esta é mais uma metáfora, duplamente apropriada. Primeiro: da vida humana para a biologia; segundo: da biologia para a semiótica, semiologia, semântica, intercomunicação humana. Segundos mensageiros (second messengers), que alguns preferem pronunciar: mensageiros secundários – Second messenger ist ein englischer Fachterminus der Biologie und Medizin, den man mit sekundärer Botenstoff ins Deutsche übersetzen kann. Segundos mensageiros - são moléculas intracelulares de sinalização, libertadas pela célula para provocar inúmeras alterações fisiológicas, entre as quais a apoptose (morte celular programada), que dito de uma forma mais prosaica é o sinal que desliga o interruptor de estado vivo. A proliferação, diferenciação, translocação de vesículas, produção de enzimas etc., ocorrem em resposta à ativação dos recetores da célula por parte dos denominados primeiros mensageiros ou mensageiros primários: hormonas; neurotransmissores; fatores de crescimento; citocinas.
Dos segundos mensageiros dos dias de Hoje: De um depoimento duma jornalista de 30 anos que teve covid-19.
Achei sempre que se a covid passasse por mim eu provavelmente não daria pela sua presença. Tenho 30 anos, sou saudável e por isso confesso que fiquei surpreendida quando o vírus me apanhou. Fui sempre muito cuidadosa desde que a pandemia chegou a Portugal e também por isso achei que estaria a fazer o necessário para não entrar nos números assustadores com que todos os dias nos deparamos. Enganei-me. Os meus cuidados não foram suficientes. Ainda não consigo perceber exatamente como, mas tive covid-19. Comecei por sentir dores nos ouvidos e na garganta. Espirrava constantemente, mas não tossia e quando liguei para a saúde 24 disseram-me que seria uma amigdalite. Pelo sim pelo não, mantive-me em casa, atenta e resguardada. Os sintomas foram piorando, as dores passaram a ser em todo o corpo e a minha cabeça até latejava. Fiz o teste e entrei para os tais números. Seguiram-se dias mesmo muito difíceis. Comecei a ter dificuldades respiratórias, a perder líquido pelos ouvidos e o cansaço era tão extremo que mal saía da cama. O paladar e o olfato foram-se e as refeições passaram a ter despertador. Não tinha apetite, mas obrigava-me a comer para de alguma forma ajudar o meu corpo a combater o vírus. Foram três semanas disto, uns dias pior e outros melhor. Cheguei a ter de ir para a urgência e esse dia foi com toda a certeza o mais duro, sobretudo emocionalmente. Ver uma ambulância à porta de casa e pessoas vestidas como astronautas para me virem buscar foi assustador porque nós sabemos o que se passa nos hospitais, as dificuldades que lá se vivem e por isso não queremos lá ficar. Não fiquei, felizmente. Psicologicamente as paredes de casa foram um grande desafio. Quando estamos doentes apetece aquele miminho da família, que nesta altura não pode dar. Valeu-me o sono constante que se apoderou de mim e que fez com que os dias e noites passassem aparentemente mais depressa. Quando tive alta e testei negativo senti-me quase como livre de novo. Obviamente os cuidados permaneceram, mas o facto de voltar ao trabalho, à rua, a ver a família mais de perto, chegou a ser emocionante. O mundo cá ou lá fora está diferente. Às vezes penso que não mais voltará a ser exatamente o que conhecíamos. Não seremos os mesmos depois de mais um ano de pandemia. Perdemos muita coisa, mas quero acreditar que ganhámos outras. Ter sido uma das infetadas fez-me pensar mais sobre isso porque no fundo fui uma sortuda. Tive quem cuidasse de mim, ainda que à distância, tive quem me trouxesse a casa comida e medicamentos, tive quem me ligasse todos os dias e mais que uma vez por dia. E não é sobre isso esta pandemia? Cuidarmos uns dos outros? Protejam-se e protejam os vossos e, se for preciso, cuidem deles, sempre.
Dos segundos mensageiros dos dias de 1980. Numa daquelas jornadas médicas de geriatria.
Assisti a uma conferência de um dos nossos mais prestigiados professores catedráticos de medicina. Ele entrou devagar, arrastando os pés, um homem muito velho. Eu, naquela altura, fiquei surpreendido e tive aquele tipo de vergonha alheia e pensei: “Ele já não tinha necessidade disto”. Mas hoje, que também já sou um velho, não me surpreendo e nem sinto o mínimo sentimento de vergonha. Hoje sabemos que os velhos muitas vezes têm dificuldade em mover-se apesar de possuírem uma saúde esplêndida nos restantes departamentos do corpo, incluindo o cérebro. E este reparo remete-me para o conceito de “normal”. Li algures: “os outros, os grupos de idade normal, muitas vezes têm dificuldade em se colocar no lugar dos mais velhos na experiência do ‘envelhecer’”. Pois a maioria das pessoas mais jovens não tem base de experiência própria para imaginar o que ocorre quando o tecido muscular endurece gradualmente, ficando às vezes flácido, quando as articulações enrijecem e a renovação das células se torna mais lenta. Um velho já passou por novo, mesmo que já não se lembre; vice-versa não é verdadeiro. A experiência do envelhecimento é agora um tópico muito discutido. Agora que estou velho sei, por experiência própria, que as pessoas são simpáticas quando dizem palavras gentis como: “Impressionante! Como você consegue manter-se com esse aspeto! Que maravilha!” Mas não é fácil imaginar que o nosso próprio corpo, tão cheio de frescura e muitas vezes de sensações agradáveis, pode ficar vagaroso, cansado e desajeitado. Não podemos imaginá-lo e, no fundo, não o queremos. Dito de outra maneira, a identificação com os velhos compreensivelmente coloca dificuldades especiais para as pessoas de outras faixas etárias. Consciente ou inconscientemente, elas resistem à ideia do seu próprio envelhecimento. E já agora da sua própria morte. Esta é a realidade nas sociedades com esperança média de vida de 80 anos, mas ainda não na maioria dos países de África em que a esperança média de vida não vai além dos 40 anos. Numa sociedade com uma expectativa de vida de 80 anos, a morte para uma pessoa de 20 ou mesmo 30 anos é consideravelmente mais remota que numa sociedade com uma expectativa de vida de 40. A vida é mais curta, a ameaça da morte é trazida mais insistentemente à consciência, a ideia da morte é mais presente, e práticas mágicas para lidar com essa angústia maior, embora oculta, pela integridade da vida e do corpo, práticas que andam de mãos dadas com a maior insegurança, são amplamente difundidas.
Portanto, segundos mensageiros são componentes de iniciação de cascatas de transdução de sinal dentro das células; enquanto os primeiros mensageiros são componentes de informação que circulam fora das células, na corrente sanguínea e espaços intersticiais. Quando um recetor celular é ativado por um primeiro mensageiro, como, por exemplo, uma hormona, a proteína G muda a sua conformação, separando a sua subunidade alfa da subunidade beta-gama, e trocando GDP (guanosina difosfato inativa) por GTP (guanosina trifosfato ativa), e move-se através da membrana celular ativando segundos mensageiros. A proteína G pertence a uma classe de proteínas envolvidas na transdução de sinais celulares. Isso leva a uma cascata de eventos de sinalização que resultam na regulação dos processos seguintes da célula, como a liberação de segundos mensageiros, como o AMP cíclico. A proteína G, junto com o seu recetor transmite os sinais de um primeiro mensageiro, controlando o metabolismo da maquinaria celular, como a contração, a transcrição e a secreção. Essas proteínas pertencem a um grupo amplo de enzimas denominado ATPases. As moléculas de segundo mensageiro mais comuns são: Adenosina monofosfato cíclico (AMP cíclico); Guanosina Monofosfato cíclico (GMP cíclico); Inositol trifosfato (IP3; Diacilglicerol (DAG); iões de cálcio (Ca2+)
Em biologia – transdução de sinal refere-se a qualquer processo através do qual uma célula converte um tipo de sinal ou estímulo noutro tipo de sinal. A maioria dos processos de transdução de sinal envolvem sequências ordenadas (chamadas também de cascatas) de reações bioquímicas dentro da célula, que são levadas a cabo por enzimas ativadas por segundos mensageiros, resultando numa via de transdução de sinal. Tais processos são usualmente rápidos: do nível do milésimo de segundo, no caso do fluxo de iões; ou do nível do minuto, no caso de cascatas de quinases mediadas por proteínas e lípidos. Mas podem durar horas, ou mesmo dias, a completar. O número de proteínas e outras moléculas participantes nos eventos envolvendo transdução de sinal aumenta à medida que o processo emana do estímulo inicial, resultando numa cascata de sinal, começando com um relativo pequeno estímulo que desenvolve uma grande resposta. Isto é referido como amplificação de sinal.
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