quinta-feira, 11 de março de 2021

Os fantasmas no contexto da antropologia médica


A Medicina inclui, no capítulo do Transe e Possessão, as perturbações que uma pessoa apresenta caracterizadas pela perda transitória da consciência da sua própria identidade, mas sem perda da perfeita consciência do meio ambiente. Nesta classificação não entram os casos que fazem parte de contextos culturais e religiosos. Só são considerados os estados de transe involuntários e não desejados. E ainda é feita a distinção entre o estado de transe da hipnose, que não é patológico; e a dissociação psicótica, que obviamente é patológica. 


Antropologia Médica ou da Saúde pode ser compreendida como o estudo da antropologia aplicado a práticas de manutenção e recuperação da saúde em diferentes culturas ou etnias. É praticamente um consenso entre pesquisadores da área que o fenómeno saúde/doença, não deve ser compreendido de forma reducionista limitada ao modelo biomédico. Segundo Minayo, é necessário adotar uma reflexão antropológica nos estudos e nas práticas de saúde como forma de ampliar o seu olhar sobre um fenómeno que não pode ser encarado fora do contexto cultural. Alguns autores usam indistintamente a denominação antropologia médica, etnomedicina e antropologia da saúde, outros apresentam distinções na delimitação de objeto a aplicação dos recursos metodológicos desta ciência social. Para Sevalho e Castiel tal integração interdisciplinar é uma empreendimento que implica importantes transformações no âmbito das disciplinas envolvidas requerendo uma readequação de vocabulários e específicos e uma combinação de técnicas e métodos de investigação.

É no seio da crença espírita que é mais deliberada a tentativa de contactar o espírito de uma pessoa que já morreu. Fantasma, na crença popular, é a alma ou espírito da pessoa que já morreu, e que se pode manifestar de várias maneiras. De qualquer modo, a crença em manifestações espirituais dos mortos é comum em todas as culturas desde a Antiguidade, e ainda prevalentes atualmente em culturas ainda com práticas pré-históricas. Mas também é um dado assente pela ciência de que não há fantasmas, nem locais habitados por espíritos. Tudo isso cabe na designação de necromancia.

A noção de espiritual no sentido de transcendente e sobrenatural é um fenómeno cultural universal. Em muitas culturas, fantasmas malignos e perturbadores são diferenciados dos espíritos benignos envolvidos na veneração aos mortos. A veneração aos mortos envolve tipicamente rituais designados para a proteção contra espíritos vingativos do Além, imaginados como famintos e invejosos em relação aos vivos. Entre as estratégias para evitar os espectros existe o sacrifício, isto é, dar ao morto comidas e bebidas para apaziguá-lo, ou a expulsão mágica do morto para forçá-lo a não voltar. A alimentação ritual dos mortos é realizada em eventos tradicionais, como é o caso do Festival das Almas na China, ou o Dia de Finados no Ocidente. O banimento mágico dos mortos está presente em muitos dos costumes funerários ao redor do mundo. Corpos encontrados em diversos monumentos megalíticos haviam sido ritualmente amarrados antes de sere enterrados. O costume de atar os cadáveres ainda persiste em algumas regiões do mundo, por exemplo, nas regiões rurais da Anatólia.

O local onde são avistados fantasmas é descrito como um local assombrado, e frequentemente considerado como sendo o sítio onde os espíritos dos antigos moradores moram. A atividade sobrenatural no interior de residências é associada principalmente a eventos violentos ou trágicos ocorridos nestas, como homicídio ou suicídio. Mas nem todos os locais assombrados foram cenário de uma morte violenta, ou mesmo de atos de violência. Muitas culturas e religiões acreditam que a essência de um ser, como a "alma", continua a existir após a morte. Algumas conceções filosóficas e religiosas sustentam que os "espíritos" daqueles que morreram não vão "embora", mas permanecem presos dentro da propriedade onde as suas memórias ainda são fortes.

Mediunidade, ou canalização, designa a alegada comunicação com espíritos. Apesar de ser uma crença disseminada pela maioria das sociedades ao longo da história humana, foi a partir do século XIX que a mediunidade começou a ser um objeto de intensa investigação científica. Investigações durante este período revelaram grande número de fraudes, que passaram a faze parte do espetáculo de ilusionismo. E a prática começou a perder credibilidade, apesar de persistir em alguns nichos culturais. Espíritas alegam que quando espíritos desejam comunicar-se, podem entrar em contacto com a mente do médium ativo, e, assim, se comunicar por várias formas. Também afirmam existir a mediunidade de psicometria, que consiste em um médium ler impressões e recordações pelo contacto com objetos comuns; e a mediunidade de cura, que se refere ao alegado poder de curar ou aliviar os males pela imposição das mãos ou pela prece.

Enquanto no meio espírita se utiliza a palavra médium para designar o indivíduo que serve de intermediário de comunicação entre os espíritos encarnados e os espíritos desencarnados, outras doutrinas e correntes filosóficas utilizam termos como clarividente, intuitivo, sensitivo. No entanto, o significado desses termos pode ser considerado por alguns com o mesmo significado. Médium seria aquele que serve de "meio" (veículo), para que o espírito se manifeste no mundo material. Clarividente seria alguém com capacidade de enxergar o plano espiritual. Intuitivo, bem como o sensitivo, seria aquele com capacidade de sentir a cadeia dos acontecimentos e assim prevê-los. Alan Kardec definiu no capítulo XIV de O Livro dos Médiuns as diversas faculdades mediúnicas, de acordo com o que julgou oportuno. Há ainda que considere neste âmbito, o fenómeno da revelação divina: seja por exemplo o caso de Nossa Senhora ter aparecido aos pastorinhos e revelado um segredo; seja o caso das sagradas escrituras transmitidas por Deus aos profetas. A Revelação pode originar-se diretamente de uma divindade ou por um intercessor ou agente, como um anjo ou santidade. 

O retorno das crenças pagãs pré-cristãs que chegaram à Europa-América nos idos "Anos 60" é muito diverso e variado, quer em termos quantitativos, quer qualitativos. É uma amálgama de crenças sincréticas que vai desde o animismo puro e duro, passando pelos politeísmos até ao panteísmo. Muitos neopagãos, chamemos-lhes assim, praticam uma espiritualidade que é completamente moderna em sua origem, enquanto outros tentam reconstruir precisamente ou reviver antigas religiões como são encontradas em fontes históricas e folclóricas. A maior parte das religiões neopagãs são tentativas de reconstrução, ressurgimento ou - mais comumente - adaptação de antigas religiões pagãs, mas não restritas a estas, sem perder de vista as experiências e as necessidades apresentadas pelo mundo contemporâneo dos países mais desenvolvidos com fome de natureza. É um assunto que tem interessado muito certos escritores académicos que preferem o termo "paganismo contemporâneo" para cobrir todos os novos movimentos religiosos politeístas e distingui-los do paganismo tradicional das antigas religiões étnicas que reivindicam uma continuidade histórica ininterrupta às margens da religião dominante, que normalmente é o cristianismo.

Na experiência religiosa a transcendência é um estado de ser que superou as limitações da existência física e, por algumas definições, também se tornou independente dela, como tipicamente é dito se manifestar em oração, estado de espírito iluminado. A Igreja Católica, assim como outras igrejas cristãs, sustenta que Deus transcende toda a criação. As noções de transcendência e imanência estão presentes nos conceitos platónicos, como na Teoria das Ideias, em que há uma subdivisão do Mundo Inteligível das Formas imutáveis, acima do Céu, eternas e transcendentes, e do mundo sensível das formas aparentes, os fenómenos sensíveis manifestos que delas participam. Conceitos como o princípio criador Uno e Nous, Demiurgo e Alma do Mundo seguem todo o neoplatonismo e influenciam as filosofias religiosas posteriores.

As raízes do transcendentalismo estão na filosofia transcendental de Kant, em contraponto com o sensorialismo de Locke. Princípios transcendentais: princípios não baseados em experiências sensoriais, mas vindas do interior espiritual ou mental do ser humano. Kant chamou todo o conhecimento de transcendental, pois não se prende somente a objetos, e sim a camadas da mente humana. Idealismo transcendental é uma terminologia aplicada à epistemologia de Kant, segundo a qual os fenómenos da realidade objetiva não se mostram exatamente tal como são, não são as coisas-em-si, mas a fenomenologia dessas coisas, aparecimentos na aparência que são processados no nosso cérebro como representações construídas como imagens dessa mesma realidade. O seu oposto seria o idealismo dogmático. 

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