Trava-línguas são conjuntos de palavras, como por exemplo: "Três pratos de trigo para três tigres tristes" – não frases no sentido proposicional. E dá-se pelo nome de trava-línguas precisamente pela sua dificuldade de pronunciar rapidinho e de uma assentada. Podendo ser um bom exercício, sobretudo com crianças, para aperfeiçoar a pronúncia. De resto, são também uma boa diversão. Os trava-línguas fazem parte das diversões orais da cultura popular. O que as torna apelativas é o desafio de reproduzi-los sem errar. E não há melhor entusiasmo numa criança do que um bom desafio. Portanto, uma brincadeira que agrada sempre, e mais ainda quando certas palavras, na atrapalhação, descambam para a asneira, ou seja, o palavrão obsceno.
Naturalmente, este assunto remete-me para as minhas memórias de infância, e mais uma vez para a minha avó Maria, com quem eu me criei, e um dia lhe ouvi estas palavras: “Este rapaz está a precisar que lhe cortem a trava da língua”. Mas ouvi-lhe muito mais vezes dizer: “Fecha, mas é, a taramela”, quando já não estava para nos ouvir dizer mais disparates. Mas noutras ocasiões dizia: “Parece que se te entaramelou a língua, meu filho . . .”, quando tivemos um mau desempenho numa prova oral na Escola; ou quando interrogado sobre alguma patifaria, ficava embaraçado e começava a titubear.
Ora, a taramela é uma peça de madeira que gira em torno de um prego, ou desliza por uma calha na madeira, para fechar as portas das lojas das alfaias agrícolas, ou das cortes do gado. Em certas regiões também lhe dão o nome de cravelho. Mas em jargão popular das nossas terras campestres também significa língua, vozearia ou falatório. Portanto, qualquer pessoa que é tagarela, o povo diz que dá à taramela. Daí que quando ficamos enrascados o povo também diga: “que se nos entaramelou a língua”.
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