Há um ano foi notícia em Portugal que o melhor barbeiro do país era uma mulher ucraniana a residir em Viseu há quase duas décadas. Uma mulher barbeiro a trabalhar na barbearia do senhor Osvaldo, em Viseu, que lhe deu emprego há 15 anos. Em 2019, venceu o maior evento nacional de barbeiros, o Challenge CACP BarberShop. Fazia parte da seleção, com 11 elementos, a representar Portugal no OMC Hairworld 2020 - World Cup, em Paris.
O primeiro argumento que sustenta a ideia de que há profissão de homem e profissão de mulher é que ambos têm muitas diferenças – físicas, psicológicas, etc. E isso, apesar de ser verdade, generaliza, e, tal como na medicina, cada caso é um caso. Uma mulher pode ser mais forte que um homem e um homem pode ser mais delicado que uma mulher. Do mesmo modo, uma mulher pode ser mais organizada que outra, e um homem pode ter um perfil de liderança melhor que outro. O que determina a nossa capacidade para uma profissão não é o género, mas as nossas aptidões, habilidades adquiridas e treino profissional.
A ideia de que existe profissão de homem e profissão de mulher não afeta apenas a vida de indivíduos que sofrem com o preconceito - como as alunas de engenharia que são assediadas por colegas ou os meninos que não podem fazer aula de dança porque os pais não deixam - mas também afeta o mercado de trabalho como um todo. As profissões ditas femininas estão entre as mais desvalorizadas, como por exemplo: costureira; empregada doméstica; ou professora de Educação Infantil. Muitos empregadores evitam contratar mulheres, ou então pagam um salário menor que o que é pago a homens. Isso faz com que, muitas vezes, as mulheres se afastem dessas áreas. É claro que, como em tudo, pode haver exceções para determinadas funções, quer relacionado com a temperatura do corpo, quer com a parte hormonal, como me dizem que faz diferença na preparação do sushi, ou nas massas a levedar.
Noutros tempos, estou a lembrar-me da minha juventude, estavam bem definidos os papeis das costureiras, modistas e alfaiates. Até aos meus vinte anos toda a minha roupa de fazenda foi feita num alfaiate. E até ter o fato pronto, ia lá várias vezes fazer a prova. Por outro lado, para ser uma boa modista, eram necessárias habilidades incríveis nas mais distintas áreas. Ter bom gosto, desenhar bem, e sei lá que mais, como conhecer toda a parte técnica de construção da roupa, saber tudo sobre tecidos, e toda a complexidade da roupa feminina. A modista, hoje, tornou-se uma profissão quase extinta. Na produção em escala, o estilista desenha, o modelista faz os moldes e a costureira, muitas vezes, fica no trabalho de costurar apenas uma parte pequena das peças sem mal ter consciência do produto final. Por isso, quando me apetece contar histórias da minha terra, do tempo em que andava no liceu, tenho de pensar duas vezes quando nas estórias entram barbeiros, alfaiates ou costureiras modistas, para não ferir certas suscetibilidades. Modistas ou costureiras eram profissionais independentes que trabalhavam a partir de casa ou em pequenos ateliers onde eram feitos os desenhos, os moldes, o corte dos tecidos e a costura das peças de roupa tanto para mulheres como para crianças. A grande diferença entre ambas é que a modista era uma costureira de elite.
Na década de 1950 ocorreu a grande revolução da moda com a criação do pret à porter, que em francês significa "pronto a vestir". As roupas começaram a ser confecionadas em série de acordo com modelos disponíveis e medidas padrão. Esta padronização das peças e consequente venda massificada em lojas de roupa, trouxe um impacto negativo para as atividades profissionais das modistas, costureiras e alfaiates, mas não só, pois foi também nesta altura que passámos a ter de “caber” nas roupas em vez de vestir algo que nos assentasse naturalmente. Os tempos mudaram, mas não muito. As mulheres ainda não estão em pé de igualdade em cursos de áreas tecnológicas e os homens ainda são alvo de piada se querem dar continuidade ao atelier de costura que era de sua mãe, por exemplo. O género ainda influencia na escolha da profissão.
No último meio século os cientistas sociais arranjaram nomes para tanta coisa que no meu tempo de liceu não havia sequer um. Hoje chamam Papel Social de Género ao conjunto de comportamentos associados à masculinidade e feminilidade agrupados num sistema. Sistema esse que pode variar bastante de sociedade para sociedade. Papéis de género referem-se a um conjunto de padrões e expectativas de comportamentos que são aprendidos em sociedade, e que conformam as identidades dos indivíduos. São a manifestação social ou a representação social do que é ser homem ou mulher.
Culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Com o passar do tempo mudanças ocorrem sob regras e valores. A identificação dos diferentes comportamentos de género é uma ferramenta de análise fundamental para a compreensão do lugar ocupado pela categoria 'género' na escala social e o valor socialmente dado a cada um dos grupos. É importante também assinalar que esses padrões não são absolutos e homogéneos, o que significa que devemos compreendê-los como expectativas assumidas pela sociedade, mas que não representam o conjunto de atitudes e comportamentos de todos os indivíduos. Dizer que uma pessoa é uma mulher pode antecipar algo sobre os constrangimentos e expectativas em geral com os quais ela precisa lidar. Mas não antecipa qualquer coisa em particular sobre quem ela é, o que ela faz, como ela vivencia a sua posição social. A categoria 'género' em tempos recentes passou a receber muitos mais géneros no âmbito da transgeneridade, a que alguns se referem por transexualidade. Mas a identidade de género não tem a exclusividade das identidades. Vigilância de género é, por assim dizer, a imposição de padrões estereotipados sobre um indivíduo a quem foi atribuído à nascença o sexo masculino ou feminino.
A ideia de que existe profissão de homem e profissão de mulher não afeta apenas a vida de indivíduos que sofrem com o preconceito - como as alunas de engenharia que são assediadas por colegas ou os meninos que não podem fazer aula de dança porque os pais não deixam - mas também afeta o mercado de trabalho como um todo. As profissões ditas femininas estão entre as mais desvalorizadas, como por exemplo: costureira; empregada doméstica; ou professora de Educação Infantil. Muitos empregadores evitam contratar mulheres, ou então pagam um salário menor que o que é pago a homens. Isso faz com que, muitas vezes, as mulheres se afastem dessas áreas. É claro que, como em tudo, pode haver exceções para determinadas funções, quer relacionado com a temperatura do corpo, quer com a parte hormonal, como me dizem que faz diferença na preparação do sushi, ou nas massas a levedar.
Noutros tempos, estou a lembrar-me da minha juventude, estavam bem definidos os papeis das costureiras, modistas e alfaiates. Até aos meus vinte anos toda a minha roupa de fazenda foi feita num alfaiate. E até ter o fato pronto, ia lá várias vezes fazer a prova. Por outro lado, para ser uma boa modista, eram necessárias habilidades incríveis nas mais distintas áreas. Ter bom gosto, desenhar bem, e sei lá que mais, como conhecer toda a parte técnica de construção da roupa, saber tudo sobre tecidos, e toda a complexidade da roupa feminina. A modista, hoje, tornou-se uma profissão quase extinta. Na produção em escala, o estilista desenha, o modelista faz os moldes e a costureira, muitas vezes, fica no trabalho de costurar apenas uma parte pequena das peças sem mal ter consciência do produto final. Por isso, quando me apetece contar histórias da minha terra, do tempo em que andava no liceu, tenho de pensar duas vezes quando nas estórias entram barbeiros, alfaiates ou costureiras modistas, para não ferir certas suscetibilidades. Modistas ou costureiras eram profissionais independentes que trabalhavam a partir de casa ou em pequenos ateliers onde eram feitos os desenhos, os moldes, o corte dos tecidos e a costura das peças de roupa tanto para mulheres como para crianças. A grande diferença entre ambas é que a modista era uma costureira de elite.
Na década de 1950 ocorreu a grande revolução da moda com a criação do pret à porter, que em francês significa "pronto a vestir". As roupas começaram a ser confecionadas em série de acordo com modelos disponíveis e medidas padrão. Esta padronização das peças e consequente venda massificada em lojas de roupa, trouxe um impacto negativo para as atividades profissionais das modistas, costureiras e alfaiates, mas não só, pois foi também nesta altura que passámos a ter de “caber” nas roupas em vez de vestir algo que nos assentasse naturalmente. Os tempos mudaram, mas não muito. As mulheres ainda não estão em pé de igualdade em cursos de áreas tecnológicas e os homens ainda são alvo de piada se querem dar continuidade ao atelier de costura que era de sua mãe, por exemplo. O género ainda influencia na escolha da profissão.
No último meio século os cientistas sociais arranjaram nomes para tanta coisa que no meu tempo de liceu não havia sequer um. Hoje chamam Papel Social de Género ao conjunto de comportamentos associados à masculinidade e feminilidade agrupados num sistema. Sistema esse que pode variar bastante de sociedade para sociedade. Papéis de género referem-se a um conjunto de padrões e expectativas de comportamentos que são aprendidos em sociedade, e que conformam as identidades dos indivíduos. São a manifestação social ou a representação social do que é ser homem ou mulher.
Culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Com o passar do tempo mudanças ocorrem sob regras e valores. A identificação dos diferentes comportamentos de género é uma ferramenta de análise fundamental para a compreensão do lugar ocupado pela categoria 'género' na escala social e o valor socialmente dado a cada um dos grupos. É importante também assinalar que esses padrões não são absolutos e homogéneos, o que significa que devemos compreendê-los como expectativas assumidas pela sociedade, mas que não representam o conjunto de atitudes e comportamentos de todos os indivíduos. Dizer que uma pessoa é uma mulher pode antecipar algo sobre os constrangimentos e expectativas em geral com os quais ela precisa lidar. Mas não antecipa qualquer coisa em particular sobre quem ela é, o que ela faz, como ela vivencia a sua posição social. A categoria 'género' em tempos recentes passou a receber muitos mais géneros no âmbito da transgeneridade, a que alguns se referem por transexualidade. Mas a identidade de género não tem a exclusividade das identidades. Vigilância de género é, por assim dizer, a imposição de padrões estereotipados sobre um indivíduo a quem foi atribuído à nascença o sexo masculino ou feminino.
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