quarta-feira, 24 de março de 2021

Frases – separando o essencial do acessório




De Magdalena Andersson, social-democrata, Ministra das Finanças da Suécia, acerca da isenção de impostos dos suecos reformados que vivem em Portugal:
 
“Se um paciente sueco e um paciente português estiveram lado a lado num hospital em Portugal, o português pagou impostos pelos dois. Muito interessante observar a forma como os cidadãos comuns em Portugal aceitam isto”.

De Henrique Monteiro:
Isto o quê? “A possibilidade de os mais ricos pagarem zero ou 10%, enquanto os cidadãos comuns pagam muito mais, uma injustiça que mina a credibilidade do sistema fiscal. Portugal é um enorme ‘offshore’ para reformados ricos. Gente que vem da Europa, com boas pensões, que pode comprar boas casas e que não é taxada, ou é-o em apenas 10% dos seus rendimentos de pensionista. Apesar dessas pensões atingirem valores que em Portugal teriam, de imposto, pelo menos 45%, e nos seus países de origem, tanto ou mais do que por cá. De facto, é impressionante como aceitamos esta desigualdade gigantesca. E dá-nos vontade de perguntar por onde anda o PCP, o Bloco e os restantes caça-desigualdades. O negócio para o nosso país é fantástico: se eles não viessem para Portugal também não pagariam nada às nossas finanças. Vivendo cá, pelo menos boa parte do ano, deixam o IVA e a miríade de taxas e taxinhas que vêm agarradas às transações mais diversas. É igualmente um bom negócio para um pensionista que aufira 10 mil euros. Na Suécia deixaria mais de cinco mil nos cofres do Estado. Aqui, não deixa nada, ou segundo legislação mais recente, deixa mil. A diferença (e tendo em conta o custo de vida mais baixo, o clima e a consequente qualidade de vida) provoca uma tentação óbvia.

De Daniel Oliveira:
"A cegueira perante regras erradas ou pouco claras poupa dinheiro ao Estado na relação com os pequenos, tira dinheiro ao Estado na relação com os grandes. O que o Estado perderia com o “planeamento fiscal” no negócio das barragens daria para salvar 12.500 restaurantes familiares, como o da ex-desempregada que não teve apoios por critérios objetivamente errados. O labirinto do burocrata serve para que o grande seja criativo e o pequeno seja tramado. O formalismo cego é a injustiça mascarada de rigor."

De Sérgio Sousa Pinto, numa entrevista a Maria João Avilez:

 


 

"Vivemos um período marcado por duas narrativas alternativas: uma diz-nos que o regime está esgotado, sem capacidade de se reconstituir, não se vislumbrando ninguém à altura de o fazer. Seria então preciso passar a outra coisa qualquer. O novo partido Chega, juntamente com um populismo torrencial, vive da revolta de muita gente que perdeu a fé no regime e no atual sistema de partidos; a outra narrativa diz-nos que o grande problema de Portugal consiste na direita! Ou seja, que derrotar a direita e resolver os problemas nacionais é, afinal, a mesma coisa. O que está por detrás disto é um quadro mental quase de tipo religioso, profundamente maniqueísta, em que o tal 'lado certo da história' — expressão pavorosa —, apropriado pela esquerda, defrontaria a reação, a inimiga da verdade, do bem e da virtude; o 'lado certo da História' consiste, portanto, na concertação entre as esquerdas e contra o quê? Não contra o atraso, as desigualdades, a pouca produtividade, a pobreza endémica — as nossas reais misérias — mas contra a direita, padroeira de todas as desgraças.

Ou mudamos ou acabaremos uma Suécia fiscal implantada numa Albânia económica. A classe média já exporta os filhos licenciados para fora. Um dia esses filhos enviarão remessas para financiar a velhice dos pais. O colapso da classe média significará a inviabilidade do país e do nosso regime democrático. Chega de propaganda, chega de atirar palavras contra a realidade. A realidade vence sempre.

Mário Soares era um homem do seu tempo. E na geração dele os populares eram os populares. Às vezes fazia-me lembrar o Clement Attlee quando andava de casa em casa pela Inglaterra a falar aos militantes do Labour e deixava os sapatinhos à porta, alguém havia de os engraxar porque naquele meio social era o que se fazia. Soares tinha essas marcas, mas, ao mesmo tempo, tinha essa familiaridade com o povo, apreciava-a verdadeiramente e divertia-se com ela. Aquilo não era fingido, nem um número penoso para bater todos os recordes da popularidade. Fazia as campanhas eleitorais com felicidade e enorme empenho, sabia como lhe eram indispensáveis à perceção da realidade. Nunca eram um ato gratuito. Eram uma condição sine qua non para que as transformações que considerava desejáveis pudessem vir a ocorrer. O que vemos agora são episódios: o Presidente da República a cortar o cabelo, a ir buscar uns bifes num saco de plástico... No fundo, é a continuação da cultura que Guterres tentou instaurar, só que agora nos surge de uma forma desabrida e descontrolada: Guterres inventou a teoria da dessacralização do poder e Marcelo — muito parecido com Guterres, no modo de pensar e na sua mundividência — elevou a dessacralização do poder a este extremo. Começou com Guterres a dizer que preferia ficar parado no trânsito sem batedores. E, então, primeiro tiraram-se os batedores, depois o carro oficial e por fim vai-se ali comprar uns pastéis de bacalhau."


De António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas: 

"Teorias de conspiração estão a infetar a internet. O ódio tornou-se viral, estigmatizando pessoas e grupos. O mundo tem de se unir também contra esta doença. Excesso de informação sobre determinado tema, por vezes incorreta e produzida por fontes não verificadas ou pouco fiáveis, que se propaga velozmente (ex.: infodemia de notícias falsas nas redes sociais). A infodemia global está a espalhar-se". 


De David Marçal, especialista em comunicação de ciência: 

"O facto de acreditarem em mentiras torna-se numa dimensão identitária. As pessoas têm hoje um bilhete de entrada nesse clube restrito por acreditarem num disparate qualquer. Seja acreditarem que a terra é plana. Ou acreditarem que as máscaras não são úteis no combate ou na prevenção da Covid-19. Também tem a ver um pouco com a questão do efeito Dunning-Kruger. As pessoas são demasiado incompetentes para reconhecerem a sua própria incompetência. Nós tendemos sempre para eliminar a dissonância cognitiva. E, portanto, o que nós fazemos no caso de um enviesamento de confirmação é preencher tudo, vamos ao encontro e tentamos fazer o retrato que está de acordo com os retratos que já temos. Pensamos para tentar encontrar as provas que temos razão. É algo que todos fazemos. Mas quando estamos, emocionalmente, com um problema psicológico, estamos mais vulneráveis a fazer isso. Não acreditem na palavra de ninguém, porque é por aqui que entram os processos cognitivos que nos levam a acreditar e a disseminar Fake News. A sociedade científica mais antiga do mundo, a Royal Scociety, tem escrito em latim na porta o seu lema: 'Nullius in Verba'."

De David Dunning, psicólogo social: David Dunning desenvolveu em finais da década de 90 do século passado um estudo, acerca da confiança que as pessoas podem ter, o que sabem e o que não sabem, a ignorância que carregam quando pensam que sabem, mas não sabem. O que o efeito Dunning-Kruger mostra é que não sabemos o que não sabemos. A nossa ignorância é invisível para nós. Para quem sofre de ignorância, e somos todos nós em algum momento, e algumas pessoas mais vezes, sofrem de superioridade ilusória. Não conseguem reconhecer quando o seu conhecimento é inferior.

"Saber distinguir um verdadeiro perito de um falso perito também é uma aptidão. E à medida que avançamos na era da Internet, onde há tanta informação, esta vai ser uma aptidão chave que as pessoas devem aprofundar. saber separar um falso perito de um verdadeiro".
Por isso tem surgido a necessidade de se formarem grupos de jornalistas dedicados a esta temática infernal, a separar a verdade da mentira, a demonstrarem falácias. Tal como o 'Polígrafo SIC', são parte de um todo que tenta repor, a cada instante, a verdade. O contexto da pandemia da Covid-19 tem merecido a maior atenção, o que naturalmente se entende dadas as graves implicações que essas falsidades desempenham na saúde pública e estabilidade social. E depois os governos, e as organizações internacionais, também estão muito preocupadas com tudo o que se está passar com o fenómeno da pós-verdade. Por exemplo, um estudo levado a cabo pela Universidade de Bristol, em Inglaterra, refere que alguns pacientes com Covid-19 prolongada sentiram alívio dos sintomas após a toma da vacina. Mas isto é um dado muito duvidoso, porque os cientistas ainda não conseguem identificar se o fenómeno é realmente físico (biológico), ou apenas efeito placebo. De qualquer modo, se se concluir que se trata de efeito placebo, o que significa de sugestão psicológica, não deixa de ser um efeito positivo no que respeita ao bem-estar das pessoas do ponto de vista da saúde. E nesse caso, não faria sentido estar a desvirtuá-lo.

Repare-se nas implicações práticas do que se acabou de dizer, em defesa do princípio de separação entre o essencial e o acessório, ou a realidade tal como ela é, versus 'a ideologia'.  Porque para a ciência o que importa são as provas e os factos. Por isso não partilhe com ninguém o que outros colocam nos seus murais por mero sentimento. À medida que a pandemia avançou, disseminaram-se também nas redes fluxos de teorias, de mentiras, de falácias. Negacionistas e elementos de grupos anti-vacinas tornaram-se ativos na tentativa de colocar em causa os factos produzidos pela ciência. Vídeos, textos e fotografias foram usados com o objetivo de alimentar essas mesmas teorias. Supostos cientistas, médicos - alguns que perderam a licença para exercer, como é o caso do norte-americano Thomas Cowan, autor e médico antroposófico - especialistas e peritos juntaram-se em movimentos para erguer uma alegada verdade, sobre a doença, ou sobe as vacinas. Esses falsos especialistas, pseudocientistas, assentam na autoridade que têm: 'acreditem em mim que sou médico'.

A própria Comissão Europeia lançou um manual que tenta servir de guia, ou de farol, perante a escuridão que a mentira pode criar. Definiu as características que estas teorias têm em comum: um alegado plano secreto, um grupo de conspiradores, supostos elementos de prova que confirmam a teoria, falsas sugestões de que nada acontece por acaso e tudo está interligado, a divisão entre bons e maus e os bodes expiatórios.


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