Habituámo-nos ao conforto do mimo social e agora que nós europeus vamos ter de gastar muito mais por causa da insegurança geopolítica mutos temem que os europeus não vão conseguir manter o seu modelo social de bem-estar e providencial. Esse dilema entre paz e justiça social é, na verdade, um reflexo da fragilidade do modelo europeu de bem-estar quando confrontado com ameaças externas e crises geopolíticas. Durante décadas, a Europa investiu na sua estabilidade interna, usufruindo da "paz dos vencedores" da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria. Com isso, fortaleceu sistemas de proteção social e um estilo de vida relativamente confortável, sustentado por um crescimento económico estável e uma ordem global previsível.
Agora, diante de uma conjuntura em que "preparar-se para a guerra" se torna uma necessidade – seja por tensões com a Rússia, pela crescente instabilidade no Médio Oriente ou pela concorrência estratégica com outras potências –, a Europa se vê forçada a reavaliar as suas prioridades. Manter o atual nível de bem-estar enquanto aumenta gastos militares e energéticos pode não ser sustentável sem escolhas difíceis.
Se priorizarmos a justiça social, mantendo altos níveis de proteção e benefícios, pode faltar capacidade para investimentos em defesa e segurança, tornando a Europa vulnerável. Se priorizarmos o fortalecimento militar e a autonomia estratégica, os cortes no Estado social podem gerar tensões internas, fomentando instabilidade política e protestos. A chave será encontrar um equilíbrio, mas isso exigirá sacrifícios. Talvez a Europa precise repensar seu modelo de bem-estar para adaptá-lo à nova realidade, sem cair no populismo nem no militarismo cego.