Se um cidadão português se considera social-liberal, podemos situá-lo no centro-esquerda do espectro político tradicional dos finais do século XX. O social-liberalismo combina princípios do liberalismo económico moderado com preocupações sociais, defendendo um Estado regulador e protetor, mas sem abandonar os mecanismos de mercado. No contexto europeu e português, este posicionamento é frequentemente associado a partidos como o Partido Socialista (PS) ou algumas alas mais moderadas dos Verdes e dos social-democratas.
Na tabela tradicional do espectro político está à esquerda dos liberais clássicos e dos conservadores, que tendem a defender um Estado mínimo e menos regulação económica. Está à direita dos social-democratas mais tradicionais e da esquerda socialista, que costumam defender um Estado mais interventivo na economia. Em resumo, um social-liberal no contexto português estaria próximo das correntes mais moderadas da social-democracia europeia, defendendo economia de mercado com uma forte rede de proteção social.
O social-liberalismo é amplamente compatível com a Terceira Via promovida por Tony Blair, Gerhard Schröder e outros líderes do centro-esquerda nos anos 1990 e 2000. A Terceira Via procurava uma síntese entre o liberalismo económico e políticas sociais ativas, aceitando o mercado como motor da economia, mas defendendo um Estado regulador e um sistema de bem-estar eficiente. Na prática, isso significava aceitar privatizações e flexibilidade no mercado de trabalho, mas com políticas para reduzir desigualdades. Incentivar investimentos privados e inovação, mantendo proteção social e serviços públicos essenciais. Assim, significa rejeitar tanto o neoliberalismo puro como o socialismo estatal. Corrente que influenciou o Partido Socialista português na era de António Guterres e José Sócrates.
A classificação social-liberal ainda é válida em 2025, mas já não tem o mesmo peso político e simbólico que teve nos anos 1990 e 2000. A Terceira Via perdeu muito do seu apelo nos últimos anos, especialmente após a crise financeira de 2008, que expôs fragilidades do modelo de conciliação entre mercado e Estado. Muitos desses social-liberais: uns migraram para posições mais à esquerda, defendendo maior intervenção estatal; outros foram para um liberalismo económico mais radical. No entanto, há quem ainda se identifique com esse posicionamento, especialmente entre pessoas mais velhas, que viveram a ascensão dessa corrente. Em Portugal, o PS ainda mantém traços social-liberais que internamente tem de lidar com duas frentes opostas: os que estão atentos à sua esquerda (Bloco de Esquerda e PCP); e os que piscam o olho ao PSD e Iniciativa Liberal.
É neste terreno que se desenha o “centro pragmático”. O discurso social-liberal atual entretém-se com narrativas de "reformismo moderado" ou "social-democracia centrista", sem o entusiasmo ideológico dos tempos de Blair e Guterres. O SPD de Olaf Scholz pode ser classificado como centro-esquerda pragmático, mantendo elementos do social-liberalismo, mas com um retorno parcial a políticas mais social-democratas clássicas.
Comparado com a era de Gerhard Schröder (1998-2005), quando o SPD estava fortemente alinhado com a Terceira Via, Scholz tem tentado equilibrar o compromisso com o mercado e uma maior ênfase na justiça social, especialmente diante de desafios como transição energética e mudanças climáticas. Industrialização verde, combinando inovação com proteção social. Apoio a programas sociais, como subsídios para aluguer de casa e aumento do salário mínimo. Uma política externa mais assertiva, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia. No entanto, Scholz não rompeu completamente com o legado reformista da Terceira Via, o que gera críticas tanto da esquerda mais radical (que o acusa de ser insuficientemente progressista) como da direita liberal que o vê demasiado estatista. Assim, podemos dizer que o SPD sob Scholz não é tão social-liberal quanto no tempo de Schröder, mas também não voltou à social-democracia clássica do pós-guerra. Ele ocupou um centro-esquerda pragmático, que apesar de se ter adaptado às circunstâncias de 2025 teve uma queda estrondosa nas últimas eleições que voltou a dar lugar ao regresso da CDU ao poder, agora liderado por Friedrich Merz.
Com a guerra na Ucrânia e a crise migratória, o SPD de Scholz foi forçado a deslocar as suas prioridades para a segurança e defesa, áreas tradicionalmente dominadas pela direita. Boris Pistorius, que tem ganhado popularidade e é visto como um potencial sucessor de Scholz. Tal viragem representa uma mudança para uma postura mais dura em temas como defesa e segurança interna. Pistorius, como ministro da Defesa, tem adotado uma posição mais assertiva, defendendo o aumento dos gastos militares e um rearmamento da Alemanha, algo impensável para os social-democratas alemães há poucos anos. Scholz já havia começado a endurecer a política migratória, e Pistorius pode levar essa linha ainda mais longe, aproximando-se de uma postura de centro-direita nesse tema. Essa mudança não significa que o SPD esteja abandonando completamente a social-democracia, mas sim que os critérios clássicos de economia e bem-estar social foram secundarizados por um contexto de urgência: guerra na Europa, crise migratória e o desafio de manter a coesão social num momento de polarização. Se Pistorius substituir Scholz, é provável que vejamos um SPD mais pragmático, nacionalista e focado em segurança, algo que o afastaria ainda mais do antigo social-liberalismo de Schröder e da Terceira Via.
Por outro lado, com a subida fulgurante da extrema-direita com a AfD, é desejável que a CDU de Merz se coligue com o SPD para garantir a justiça social. Uma coligação entre a CDU de Friedrich Merz e o SPD pode ser uma solução pragmática para conter a ascensão da AfD, garantindo estabilidade política e um certo equilíbrio entre crescimento económico e justiça social. Por conseguinte, as vantagens de uma "grande coligação" CDU-SPD bloqueará a AfD. A extrema-direita cresce explorando temas como imigração, insegurança e descontentamento económico. Uma aliança CDU-SPD pode neutralizar a AfD ao oferecer soluções realistas sem extremismos. A Alemanha precisa manter a sua liderança na EU, especialmente diante da guerra na Ucrânia. CDU e SPD compartilham essa visão internacionalista. Independentemente de os descontentes com isso poderem migrar para posições mais radicais, beneficiando tanto a AfD como a esquerda radical (Die Linke ou o novo partido de Sahra Wagenknecht).
Portanto, a questão não é apenas se CDU e SPD devem governar juntos, mas como podem oferecer um projeto convincente que traga crescimento económico, segurança e justiça social sem alienar os eleitores que estão sendo atraídos pela AfD. Agora, é preciso não ignorar um fator psicológico e sociológico essencial: as populações não reagem apenas ao que já acontece, mas ao que temem que possa acontecer. O Leste Alemão olha para o que aconteceu no Oeste – Regiões da antiga RDA podem não ter tantos imigrantes quanto as grandes cidades ocidentais (Berlim, Hamburgo, Colónia), mas veem o impacto da imigração nesses lugares e temem que lhes aconteça o mesmo. Os alemães do leste já passaram pelo colapso de um sistema (a queda do comunismo) e aprenderam que mudanças abruptas podem trazer insegurança. Isso os torna mais céticos em relação a políticas migratórias abertas.
Mesmo que a imigração ainda não seja massiva no Leste, o debate nacional a transforma numa questão central. A repetição constante do tema pelos meios de comunicação cria uma sensação de urgência. Muitos cidadãos do Leste sentem que, após a reunificação, ficaram como "cidadãos de segunda classe". Isso os torna mais suscetíveis a discursos populistas que apontam a imigração como mais uma ameaça aos seus interesses. Muitos analistas de esquerda tendem a olhar apenas para os dados objetivos (quantidade real de imigrantes) e ignoram o fator subjetivo (percepção e medo social). Mas a política não é feita apenas de realidades concretas. Em política, as narrativas e os sentimentos têm um peso sobre as pessoas semelhante ao peso da gravidade sobre a Terra.
Na tabela tradicional do espectro político está à esquerda dos liberais clássicos e dos conservadores, que tendem a defender um Estado mínimo e menos regulação económica. Está à direita dos social-democratas mais tradicionais e da esquerda socialista, que costumam defender um Estado mais interventivo na economia. Em resumo, um social-liberal no contexto português estaria próximo das correntes mais moderadas da social-democracia europeia, defendendo economia de mercado com uma forte rede de proteção social.
O social-liberalismo é amplamente compatível com a Terceira Via promovida por Tony Blair, Gerhard Schröder e outros líderes do centro-esquerda nos anos 1990 e 2000. A Terceira Via procurava uma síntese entre o liberalismo económico e políticas sociais ativas, aceitando o mercado como motor da economia, mas defendendo um Estado regulador e um sistema de bem-estar eficiente. Na prática, isso significava aceitar privatizações e flexibilidade no mercado de trabalho, mas com políticas para reduzir desigualdades. Incentivar investimentos privados e inovação, mantendo proteção social e serviços públicos essenciais. Assim, significa rejeitar tanto o neoliberalismo puro como o socialismo estatal. Corrente que influenciou o Partido Socialista português na era de António Guterres e José Sócrates.
A classificação social-liberal ainda é válida em 2025, mas já não tem o mesmo peso político e simbólico que teve nos anos 1990 e 2000. A Terceira Via perdeu muito do seu apelo nos últimos anos, especialmente após a crise financeira de 2008, que expôs fragilidades do modelo de conciliação entre mercado e Estado. Muitos desses social-liberais: uns migraram para posições mais à esquerda, defendendo maior intervenção estatal; outros foram para um liberalismo económico mais radical. No entanto, há quem ainda se identifique com esse posicionamento, especialmente entre pessoas mais velhas, que viveram a ascensão dessa corrente. Em Portugal, o PS ainda mantém traços social-liberais que internamente tem de lidar com duas frentes opostas: os que estão atentos à sua esquerda (Bloco de Esquerda e PCP); e os que piscam o olho ao PSD e Iniciativa Liberal.
É neste terreno que se desenha o “centro pragmático”. O discurso social-liberal atual entretém-se com narrativas de "reformismo moderado" ou "social-democracia centrista", sem o entusiasmo ideológico dos tempos de Blair e Guterres. O SPD de Olaf Scholz pode ser classificado como centro-esquerda pragmático, mantendo elementos do social-liberalismo, mas com um retorno parcial a políticas mais social-democratas clássicas.
Comparado com a era de Gerhard Schröder (1998-2005), quando o SPD estava fortemente alinhado com a Terceira Via, Scholz tem tentado equilibrar o compromisso com o mercado e uma maior ênfase na justiça social, especialmente diante de desafios como transição energética e mudanças climáticas. Industrialização verde, combinando inovação com proteção social. Apoio a programas sociais, como subsídios para aluguer de casa e aumento do salário mínimo. Uma política externa mais assertiva, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia. No entanto, Scholz não rompeu completamente com o legado reformista da Terceira Via, o que gera críticas tanto da esquerda mais radical (que o acusa de ser insuficientemente progressista) como da direita liberal que o vê demasiado estatista. Assim, podemos dizer que o SPD sob Scholz não é tão social-liberal quanto no tempo de Schröder, mas também não voltou à social-democracia clássica do pós-guerra. Ele ocupou um centro-esquerda pragmático, que apesar de se ter adaptado às circunstâncias de 2025 teve uma queda estrondosa nas últimas eleições que voltou a dar lugar ao regresso da CDU ao poder, agora liderado por Friedrich Merz.
Com a guerra na Ucrânia e a crise migratória, o SPD de Scholz foi forçado a deslocar as suas prioridades para a segurança e defesa, áreas tradicionalmente dominadas pela direita. Boris Pistorius, que tem ganhado popularidade e é visto como um potencial sucessor de Scholz. Tal viragem representa uma mudança para uma postura mais dura em temas como defesa e segurança interna. Pistorius, como ministro da Defesa, tem adotado uma posição mais assertiva, defendendo o aumento dos gastos militares e um rearmamento da Alemanha, algo impensável para os social-democratas alemães há poucos anos. Scholz já havia começado a endurecer a política migratória, e Pistorius pode levar essa linha ainda mais longe, aproximando-se de uma postura de centro-direita nesse tema. Essa mudança não significa que o SPD esteja abandonando completamente a social-democracia, mas sim que os critérios clássicos de economia e bem-estar social foram secundarizados por um contexto de urgência: guerra na Europa, crise migratória e o desafio de manter a coesão social num momento de polarização. Se Pistorius substituir Scholz, é provável que vejamos um SPD mais pragmático, nacionalista e focado em segurança, algo que o afastaria ainda mais do antigo social-liberalismo de Schröder e da Terceira Via.
Por outro lado, com a subida fulgurante da extrema-direita com a AfD, é desejável que a CDU de Merz se coligue com o SPD para garantir a justiça social. Uma coligação entre a CDU de Friedrich Merz e o SPD pode ser uma solução pragmática para conter a ascensão da AfD, garantindo estabilidade política e um certo equilíbrio entre crescimento económico e justiça social. Por conseguinte, as vantagens de uma "grande coligação" CDU-SPD bloqueará a AfD. A extrema-direita cresce explorando temas como imigração, insegurança e descontentamento económico. Uma aliança CDU-SPD pode neutralizar a AfD ao oferecer soluções realistas sem extremismos. A Alemanha precisa manter a sua liderança na EU, especialmente diante da guerra na Ucrânia. CDU e SPD compartilham essa visão internacionalista. Independentemente de os descontentes com isso poderem migrar para posições mais radicais, beneficiando tanto a AfD como a esquerda radical (Die Linke ou o novo partido de Sahra Wagenknecht).
Portanto, a questão não é apenas se CDU e SPD devem governar juntos, mas como podem oferecer um projeto convincente que traga crescimento económico, segurança e justiça social sem alienar os eleitores que estão sendo atraídos pela AfD. Agora, é preciso não ignorar um fator psicológico e sociológico essencial: as populações não reagem apenas ao que já acontece, mas ao que temem que possa acontecer. O Leste Alemão olha para o que aconteceu no Oeste – Regiões da antiga RDA podem não ter tantos imigrantes quanto as grandes cidades ocidentais (Berlim, Hamburgo, Colónia), mas veem o impacto da imigração nesses lugares e temem que lhes aconteça o mesmo. Os alemães do leste já passaram pelo colapso de um sistema (a queda do comunismo) e aprenderam que mudanças abruptas podem trazer insegurança. Isso os torna mais céticos em relação a políticas migratórias abertas.
Mesmo que a imigração ainda não seja massiva no Leste, o debate nacional a transforma numa questão central. A repetição constante do tema pelos meios de comunicação cria uma sensação de urgência. Muitos cidadãos do Leste sentem que, após a reunificação, ficaram como "cidadãos de segunda classe". Isso os torna mais suscetíveis a discursos populistas que apontam a imigração como mais uma ameaça aos seus interesses. Muitos analistas de esquerda tendem a olhar apenas para os dados objetivos (quantidade real de imigrantes) e ignoram o fator subjetivo (percepção e medo social). Mas a política não é feita apenas de realidades concretas. Em política, as narrativas e os sentimentos têm um peso sobre as pessoas semelhante ao peso da gravidade sobre a Terra.
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