A deriva da política na Europa tem-se deslocado do eixo económico esquerda/direita para um eixo mais cultural e civilizacional global/nacional, que também se pode dizer cosmopolita/nativista. Esse novo alinhamento manifesta-se, por exemplo, nos debates sobre imigração, multiculturalismo, patriotismo. Muitos partidos, que antes eram definidos pela economia, giram hoje em torno de questões culturais e identitárias. A questão da coesão cultural da Europa é complexa. Historicamente, houve tempo em que as identidades nacionais e civilizacionais europeias opunham-se a impérios: Império Otomano; Império Napoleónico; Império Austro Húngaro; Império Soviético. Tudo isto desabou, sem antes ter passado por duas Guerras Mundiais seguidas de uma Guerra Fria. Hoje, na sequência de uma globalização difusa, e de fluxos migratórios maciços para dentro da Europa levou a um maior desgaste das identidades primitivamente europeias: nórdicos; celtas; anglo-saxónicos; germânicos; latinos; eslavos.
O multiculturalismo foi promovido como um ideal, a partir do pensamento académico das universidades formatadas no pós Maio 68. E a sua evolução, que culminou no predomínio das universidades nos Estados Unidos, desencadeou uma avalanche reacionária sobretudo naqueles que sentiram ameaçada a sua identidade de cariz civilizacional. No fundo, o que vemos na Europa é uma luta entre duas concepções de identidade: Identidade fluida e cosmopolita (defendida pelas elites políticas e culturais, baseada em valores como diversidade, inclusão e direitos humanos) -- Identidade enraizada e tradicional (defendida por setores mais conservadores e populistas, que veem a Europa como um espaço com uma herança cultural especificada pelo cristianismo, filosofia grega e direito romano).
Até 2022, a Europa não identificava nenhum inimigo externo. Mas em fevereiro de 2022 tudo mudou com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, e uma guerra que se arrasta há três anos que acabou por colocar o denominado Ocidente em maus lençóis. Durante a Guerra Fria, a ameaça soviética justificava a integração europeia e o alinhamento ocidental. Mas este interlúdio durou trinta anos, mais coisa menos coisa. A Rússia é vista hoje como ameaça geopolítica. Há excepções, a começar pela Hungria e a Eslováquia, mas que a pouco e pouco se vai estendendo a todo o leste europeu que no passado esteve do outro lado da tal "cortina d ferro", a denominada zona de influência soviética. A isto já desde do "11 de setembro 2001" se vem juntado a guerra surda islamista com atentados terroristas esporádicos um pouco por toda a Europa ocidental. E foi então que a extrema-direita se levantou contra a imigração com a sua reclamação por políticas de maior segurança.
A Europa já enfrenta desafios na integração de populações imigrantes, especialmente vindas do Norte de África e do Médio Oriente. As projeções indicam que as pressões migratórias ainda vão crescer devido aos crónicos conflitos que agora estão a ser agravados pelas mudanças climáticas. Cresce a tensão entre aqueles que defendem um modelo mais aberto e aqueles que querem preservar a identidade europeia tradicional. Muitos europeus veem as suas lideranças distantes dos problemas reais. E as populações locais vão-se vendo a braços com os impactos práticos das suas políticas. Ora, é essa sensação de abandono que alimenta partidos populistas e movimentos identitários.
A divisão já não é apenas entre países, mas dentro deles. Em cidades como Paris, Berlim e Londres, coexistem populações com visões de mundo radicalmente diferentes. O resultado é uma sociedade cada vez mais segmentada, onde a coesão social se torna frágil. Se essa tendência continuar, o que podemos esperar da próxima década? A Europa pode caminhar para uma espécie de "balcanização" identitária, onde diferentes grupos vivem em bolhas separadas, sem um verdadeiro sentido de comunidade. Ou, em um cenário mais radical, podemos ver um ressurgimento do nacionalismo e medidas mais duras para tentar restaurar uma identidade europeia mais uniforme. A História mostra que, quando sociedades perdem um sentido comum de identidade e propósito, entram em decadência ou são substituídas por novas forças. Se a Europa não encontrar um fator unificador (seja ele cultural, tecnológico ou geopolítico), a fragmentação pode ser o prenúncio de um declínio mais profundo.
Vladimir Putin já lançou as cartas. E se ao mesmo tempo Trump abandonar o apoio à Europa, Putin continuará a sua estratégia de desestabilização da União Europeia. Trump já deu sinais de que considera a NATO um fardo para os EUA. E se ele realmente reduzir ou até retirar o suporte militar e económico aos aliados europeus, muitos países, especialmente os do Leste Europeu, terão de fazer contas à sua existência livres de Putin. Este, por sua vez, já trabalha há anos para enfraquecer a coesão da UE, apoiando movimentos nacionalistas e explorando divisões internas. Uma Europa mais fragmentada é o seu propósito ao tentar expandir a sua influência. É o que já está a acontecer com a Hungria de Viktor Órban, com declarada proximidade de Moscovo. Vislumbram-se tempos sombrios para a Europa, a entrar em mais um ciclo, pela enésima vez, de conflitos e instabilidade.
A Europa já enfrenta desafios na integração de populações imigrantes, especialmente vindas do Norte de África e do Médio Oriente. As projeções indicam que as pressões migratórias ainda vão crescer devido aos crónicos conflitos que agora estão a ser agravados pelas mudanças climáticas. Cresce a tensão entre aqueles que defendem um modelo mais aberto e aqueles que querem preservar a identidade europeia tradicional. Muitos europeus veem as suas lideranças distantes dos problemas reais. E as populações locais vão-se vendo a braços com os impactos práticos das suas políticas. Ora, é essa sensação de abandono que alimenta partidos populistas e movimentos identitários.
A divisão já não é apenas entre países, mas dentro deles. Em cidades como Paris, Berlim e Londres, coexistem populações com visões de mundo radicalmente diferentes. O resultado é uma sociedade cada vez mais segmentada, onde a coesão social se torna frágil. Se essa tendência continuar, o que podemos esperar da próxima década? A Europa pode caminhar para uma espécie de "balcanização" identitária, onde diferentes grupos vivem em bolhas separadas, sem um verdadeiro sentido de comunidade. Ou, em um cenário mais radical, podemos ver um ressurgimento do nacionalismo e medidas mais duras para tentar restaurar uma identidade europeia mais uniforme. A História mostra que, quando sociedades perdem um sentido comum de identidade e propósito, entram em decadência ou são substituídas por novas forças. Se a Europa não encontrar um fator unificador (seja ele cultural, tecnológico ou geopolítico), a fragmentação pode ser o prenúncio de um declínio mais profundo.
Vladimir Putin já lançou as cartas. E se ao mesmo tempo Trump abandonar o apoio à Europa, Putin continuará a sua estratégia de desestabilização da União Europeia. Trump já deu sinais de que considera a NATO um fardo para os EUA. E se ele realmente reduzir ou até retirar o suporte militar e económico aos aliados europeus, muitos países, especialmente os do Leste Europeu, terão de fazer contas à sua existência livres de Putin. Este, por sua vez, já trabalha há anos para enfraquecer a coesão da UE, apoiando movimentos nacionalistas e explorando divisões internas. Uma Europa mais fragmentada é o seu propósito ao tentar expandir a sua influência. É o que já está a acontecer com a Hungria de Viktor Órban, com declarada proximidade de Moscovo. Vislumbram-se tempos sombrios para a Europa, a entrar em mais um ciclo, pela enésima vez, de conflitos e instabilidade.
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