segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A necessidade de uma ciência integradora: de volta ao tempo cíclico


O tempo cíclico é o tempo mítico, que a ciência e a filosofia moderna abandonaram para abraçar o tempo linear judaico-cristão, com um começo e um fim. É o tempo historicista/positivista, irreversível, correndo de trás para a frente.

Assim, com este paradigma de pensamento, o progresso técnico tocado pela evolução da ciência seria linearmente contínuo numa crescente melhoria de bem-estar. E não podia ser de outra maneira. Se a técnica apresentava problemas, eles não estavam na técnica em si mesmo, mas na sua excessiva utilização abusiva, fáustica, desequilibrada e sem o mínimo respeito pela qualidade da vida dos ecossistemas humanos e naturais.

É preciso refletir sobre o poder das formas mentais, para avaliarmos os efeitos do excesso de racionalismo e o défice daquilo a que os antigos chamavam Sagrado. E o que agora está à vista é uma certa patologia a que chamaremos demencial por falta de melhor, que vive num vaivém constante entre consciente e inconsciente.

A dimensão espiritual, a que os materialistas reduzem apenas à intuição, dispõe precisamente da capacidade de manejar as ambiguidades naturais da vida. O excesso de racionalidade inevitavelmente teria de dar origem à irracionalidade. Fico-me por poderes instituídos que continuam negacionistas aos sinais dos tempos, sem compreenderem as formas culturais nascentes, como é o caso de um Trump ou um Bolsonaro. Todos os tipos de fundamentalismo constituem barreiras intransponíveis a diálogos fundamentais que precisamos ter.


A ciência contemporânea tem sabido descrever a realidade com uma eficiência assombrosa, mas apenas no que diz respeito ao seu suporte material. Porque em relação a bom senso, necessário para orientar a nossa maneira de estar no mundo de forma sustentável, fracassou. Se a Natureza se criou a si própria, mas com um livro de instruções escrito em linguagem simbólica, sendo a matemática a linguagem de eleição para Galileu, e para mais alguns talentosos, a verdade é que este talento matemático se tem ficado apenas pela tinta com que o texto foi escrito, tendo o significado do poema ficado por decifrar. Neste aspeto, não temos estado mal nos últimos anos em Portugal, basta ver o crescente número de prémios que os nossos jovens vão ganhando no estrangeiro ao mais alto nível. Sobretudo, precisamente, no campo das ciências exatas. E o nosso Presidente não se tem feito rogado ao repetir à exaustão que “nós somos os melhores”.

Mas, já há pelo menos há duas décadas, um desses cientistas portugueses já consagrados ao fim de muitos anos radicado lá fora – António Damásio – nos vem informando da importância fundamental das emoções na racionalidade. Ou seja, sem o tempero das emoções a nossa razão cai na apatia de espírito. A nossa glória reside na imaginação e um pouco no sonho também. Para além do pensamento conceptual, que é intrínseco ao pensamento científico racional, precisamos também do pensamento metafórico e alegórico que é feito de imagens analógicas. Ora, o paradigma dominante tem sido o das ciências exatas, em detrimento das ciências sociais e humanas. Uma delas, desvalorizada e desacreditada pelo “mainstream” é a antropologia. E dentro desta, a antropologia cultural e simbólica.

Por muito difícil que a vida e a mente sejam de compreender, não faria sentido dizer que a mente não faz parte do Universo no seu fundamento essencial, como dizer que são coisas que evoluíram por acaso, mas que podiam não ter evoluído, e assim, a Terra a esta hora seria um planeta igual a Vénus ou Júpiter, sem vida nem mente. Um objeto mecânico sem vida nem mente.

Todos esses campos que por vezes se classificam de espirituais, devem merecer o mesmo tipo de atenção da ciência que é dada à matéria e às máquinas. Aquelas coisas que à partida são chamadas perjuramente de invisíveis pela ciência ortodoxa, também deviam ser aprofundadas pela ciência. Todos teriam a ganhar, crentes e não crentes nesses disparates supersticiosos. E de facto isso não contrariaria o facto de chamarmos disparates a muitas coisas que ouvimos todos os dias na rua ou na televisão. Mas sem arrogância ou presunção de superioridade. Na verdade, ainda há muita coisa por explicar, e que os verdadeiros cientistas não sabem. Por exemplo, na Holanda, Alemanha, Áustria, a medicina convencional recorre assiduamente à colaboração de radiestesistas, obtendo resultados muito satisfatórios. Todavia, em Portugal, um médico que tenha o mesmo procedimento, pode ser expulso da Ordem dos Médicos.

A radiestesia, por exemplo, aquela que é utilizada para a deteção de poços de água subterrânea, não prova ser uma ciência no sentido estrito, pois não há dados que corroborem as hipóteses dos proponentes. Todas as experiências conduzidas seguindo o método científico demonstraram que o uso de técnicas de radiestesia não aumenta a probabilidade de que seja encontrada água no solo estudado. Porém, mesmo existindo divergências sobre a sua eficácia a radiestesia conseguiu ser aceita pela Academia de Ciências de Cuba, e ser incluída em 2009 entre os temas debatidos no VIII Congresso Cubano de Geologia. A radiestesia também foi por muitos anos aceite nos Estados Unidos como ciência. No entanto faltam estudos que o comprove. Alega-se que o movimento dos bastões dos radiestesistas é causado pelo efeito ideomotor que supostamente explicaria essa característica - além de outros supostos mistérios paranormais. Alega-se também que a aparente taxa de acerto seria causada pelo viés de confirmação. Os erros não são mencionados. Essa é uma tendência natural da mente humana e não necessariamente aplicada de má-fé pelos proponentes. 


E há depois toda uma parafernália de terapias alternativas New age que incluem no seu repertório a radiestesia, de credibilidade muito duvidosa. Claro que, o facto de uma chusma de curandeiros se aproveitarem desta onda nova era para fazerem pela vida, não significa que o princípio da radiestesia, ta como é defendido por algumas pessoas aparentemente sérias, seja uma aldrabice. Agora, a verdade é que, a ciência através da sua metodologia seguramente consagrada, não atesta a veracidade do que por aí se diz.

Käthe Bachler, é uma das radiestesistas mais sérias a nível mundial. Atualmente com 96 anos de idade, vem de uma família de agricultores de Salzburgo. A partir de 1969, começou a lidar com radiestesia e, a partir de 1971, passou a fazer conferências baseadas nas suas experiências. Após as primeiras viagens de pesquisa (América do Sul, 1972), recebeu uma bolsa de pesquisa do Instituto Pedagógico de Salzburgo e publicou as suas experiências e resultados de pesquisa a partir de 1976: Experiências de radiestesista; Veritas, Linz 1981; Biologia e doenças do local; Neubeuern: Inst. For Baubiologie + Oekologie, 1989; Experiências de radiestesista ; Landesverl., St. Pölten 2003; O bom lugar; Residência, St. Pölten 2007; Pesquisa direta do bom lugar ; Residência, St. Pölten 2008, 6ª ed.


Segundo Käthe Bachler, nós somos afetados pelas radiações da própria Terra nos bons e maus lugares. Estas têm um efeito muito maior e mais importante sobre nós do que tem sido reconhecido cientificamente. E isso também se passa com os nossos pensamentos e obcecações. As reações radiestésicas não são uma invenção, o ser humano está envolvido numa espécie de corpo radiante, invisível a olho nu, mas que pessoas muito sensíveis o podem sentir. Pode ser fortalecido, e é essa a mina dos terapeutas, e também pode ser rompido pela exposição a energias nocivas. Neste caso, é o sistema imunitário que mais sofre.

Existem áreas ao alcance da ciência, que não tendo sido devidamente exploradas, têm um grande potencial para contribuírem factualmente para um melhor conhecimento do mundo em que vivemos, e de nós próprios. Uma situação que está bem demonstrada é a exposição contínua e prolongada ao ruído de baixa frequência. Agora, se tem a ver com esse tal corpo radiante de que fala Käthe Bachler, esse é o busílis. Um português que se tem dedicado ao assunto é José Alexandre Cotta, autor do blogue e co-fundador da associação Radiestesia Lusitaniae, e que em parceria com o esoterista Paulo Alexandre Loução realizaram trabalho de campo junto a um menir e a uma anta no Alentejo. Segundo a geobiologia, a Terra é percorrida pela denominada rede Hartmann, cujas linhas têm 21 cm de largura e seguem exatamente a direção norte-sul e oriente-ocidente. Frequências vibratórias Curry e Hartmann têm sido verificadas exaustivamente nos cinco continentes e por milhares de radiestesistas. As medidas podem ter variações e as linhas Hartmann em certos locais apresentam uma configuração mais ou menos serpenteada.


Mais no domínio da espiritualidade e esoterismo é de referir o extraordinário trabalho literário de José Manuel Anes, que tem sido conhecido pela apresentação dos "Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira", mas o seu curriculo nesta área é vastíssimo. Com a emergência do Novo Espírito Antropológico na área das ciências humanas, a reabilitação científica do esoterismo tradicional tornou-se uma realidade. Mas convém distinguir o esoterismo tradicional do esoterismo-ficção que hoje polula livremente pela sociedade ocidental transmitindo ideias de cariz excessivamente carregado de superstição. O esoterismo tradicional exige uma libertação de qualquer dogma ou superstição, bem como não aceita  esoterismo-revelação, aquele em que as pessoas se afirmam falar com seres espirituais.

No domínio das Espiritualidades e Religiosidades, leccionou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desde 1998 até 2010. Cursos Livres sobre Novos Movimentos Religiosos e Espiritualidades Alternativas e Violentas, integradas no que foi o Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões fundado e dirigido pelo Professor Moisés Espírito Santo. Sobre esses temas também tem leccionado no Centro Nacional de Cultura. Foi, nos anos 90, director da Biblioteca Hermética da Editora Hugin, É membro da European Society for the Study of Western Esotericism. É autor e co-autor de cerca de 30 livros e artigos no domínio das espiritualidades e religiosidades alternativas, de entre os quais se referem “Re-criações herméticas I e II” (1996, 1997), ambos na Hugin eds. “Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos” (3ª. Ed. 2006), “Um outro olhar – a face esotérica da cultura portuguesa (2006), “Mozart e os mistérios iniciáticos” (2007), “Alquimia, os alquimistas contemporâneos e os novos movimentos religiosos” (2009). “Uma Introdução ao Esoterismo Ocidental (Arranha Céus, 2ª Edição, 2014) .

Um outro português com grande notoriedade é o médico Luís Portela, ex-Presidente dos Laboratórios Bial, que tem realizado um amplo trabalho de divulgação dos estudos de parapsicologia e da consciência humana, incluindo a realização de congressos na área do cérebro e da consciência, tendo num deles estado presente o Dalai Lama. Luís Portela é Comendador da Ordem do Mérito, de que mais tarde veio a receber a Grã-Cruz. É também Professor Honorário da Universidade de Cádiz, em Espanha. Em 1998, foi distinguido com o Prémio de Neurociências da Louisiana State University, nos EUA. Colabora regularmente na comunicação social, tendo publicado oito livros: Evolução Tecnológica; À Janela da Vida; Esvoaçando; Serenamente; Encarar a Realidade; Ser Espiritual; O Prazer de Ser; da Ciência ao Amor;  Textos seus foram traduzidos e publicados em Inglaterra, no volume Spirit of Life.

Sem comentários:

Enviar um comentário