No final da guerra de Troia a cidade foi destruída e os troianos tiveram que se expatriar à deriva pelo mar Mediterrâneo, pois as suas terras foram ocupadas por outros invasores. Durante muito tempo, os intelectuais europeus partiram do princípio que, apesar de a epopeia de Homero não se ter apagado da mente dos gregos, Troia fazia parte de um mito, até que surgiu Heinrich Schliemann, que evidenciou em Hisarlik vestígios de várias cidades antigas sobrepostas. Hisarlik, que em turco significa "Lugar da Fortaleza", é o nome da estação arqueológica onde se situa a antiga Troia ou Ílio (Ilium). Localiza-se na Troade (no extremo noroeste da Anatólia, próxima à entrada do estreito dos Dardanelos a cerca de 32 km da cidade de Çanakkale.
Escavações em Hisarlik - Heinrich Schliemann
Os famosos poemas épicos de Homero – Ilíada e Odisseia – transmitem claramente a imagem de uma grande cidade situada numa colina perto da foz do rio Scamandu – Troia, Ílion – perto de Çanakkale, região da Mármara na Turquia. As ruínas de Troia situam-se a pouca distância de Çanakkah. Na época clássica chamava-se Helesponto, e no período bizantino chamava-se Dardanélia. Ali perto também se encontra as ruínas de Abidos da Mísia, famosa pela lenda dos amores de Hero e Leandro. É em Çanakkale que se encontra esta réplica gigantesca do lendário Cavalo de Troia, que se vê nesta fotografia.
Em 1871 Schliemann fez escavações em Hisarlik, e achou não uma, mas nove Troias, isto é, uma colina com nove camadas arqueológicas sucessivas que estratificam nove períodos históricos. O mais antigo de todos remonta a cerca de 2.600 a.C. Os arqueólogos posteriores a Schliemann concentraram-se no nível 6, que apresenta a idade e o tamanho certos para poderem ter sido a cidade de Homero.
Após a Guerra de Troia, caiu uma enorme cortina sobre o mundo mediterrânico oriental. A Guerra de Troia, de acordo com a mitologia grega, foi um grande conflito bélico entre Aqueus e Troianos, tendo ocorrido possivelmente entre 1300 e 1200 a.C., e que coincide com o grande cataclismo referenciado na ilha de Tera, e com a entrada em cena dos Povos do Mar que marca o fim da Idade do Bronze no Mediterrâneo.
Perdeu-se a escrita que tinha existido antes, e os palácios das civilizações micénica e minoica tiveram de ser abandonados após os terramotos. É na sequência destes acontecimentos que chegam os Dórios. É uma maciça e violenta invasão que destruiu as civilizações minoica e micénica. Os Dórios eram um povo guerreiro, de quem descenderam os espartanos, também com grande propensão militar. Da violenta invasão dos Dórios que resultou na destruição da civilização micénica entrou-se numa profunda regressão, a que os historiadores clássicos denominaram “Idade das Trevas”.
Deu-se uma fuga dos habitantes para outros territórios fora da Hélade, chamada “Primeira Diáspora Grega”, com formação de colónias a oriente – na faixa costeira da Ásia Menor (atual Turquia e Síria); e a ocidente, desde o sul de Itália, sul de França, e a costa leste da Península Ibérica, designada por “Levante Peninsular”.
A fonte principal deste período ainda são as duas grandes epopeias de Homero: Ilíada e Odisseia, dedicadas respetivamente à Guerra de Troia e ao périplo de Ulisses. Foi de Homero que recebemos a matriz de toda a semântica do tratamento carinhoso da existência: ‘nóstos’ (regresso) + ‘algos’ (dor) = Nostalgia. Ulisses é o maior nostálgico de todos os tempos, depois de ter passado 10 anos na Guerra de Troia, sem grande entusiasmo, e outros 10 no regresso a casa. Os primeiros 3 recheados de peripécias insólitas e os outros aprisionado na ilha da deusa Calipso que, apaixonada por ele, o cativa como amante. Mas um dia acaba por ceder e deixa-o partir, depois de Ulisses lhe implorar que tinha que regressar a casa, porque o regresso a casa é a reconciliação com a finitude da vida.
Assim, um dia, Ulisses aparece adormecido debaixo de uma oliveira na costa de Ítaca, depois de ter sido depositado ali embrulhado num lençol pelos marinheiros da Feácia. Quando acordou, a princípio não sabia onde estava. Mas depois, quando Atena afastou a bruma dos seus olhos, foi o êxtase do Grande Regresso.
««Ainda passou algum tempo até ao dia em que, já perto de casa, acompanhado por um porqueiro a servir de cicerone, pede a este que vá à sua frente sem receio, pois o seu coração, habituado a sofrer na guerra e no mar, aguentará tudo. Porém, mal tinha acabado de proferir estas palavras apetrechadas de asas, um cão, que ali jazia no esterco desprezado por todos, até que um dia fosse levado como estrume para os campos, arrebitou as orelhas. Mas Ulisses só intuiu, quando o cão começou a abanar a cauda à medida que Ulisses se ia aproximando dele, que se tratava de Argos, o cão que ele havia criado e deixado aos rapazes quando partiu. Por isso não chegou a apreciar como ele caçava e perseguia cabras selvagens, veados e lebres. Apesar desse abandono, Argos olha o dono de frente pela última vez, baixa as orelhas, estremece, e cai, morto. Já não teve forças para receber as carícias do dono. Ulisses estarrecido, olha para o lado a esconder o rosto a Eumeu, banhado em lágrimas.»»
Se Homero tiver narrado algo de verídico, que tenha acontecido e transmitido de geração em geração por via oral, os Aqueus que destruiram Troia eram gregos da Idade do Bronze. E eram, portanto, micénicos. A linguagem dos poemas épicos sugere ter origem nas lendas e tradições micénicas. Mas não há provas que liguem a destruição de Troia a Micenas. De facto, os arqueólogos acreditam que, durante o período em questão, cerca de 1.200 a.C., os micénios encontravam-se a braços com o colapso da sua própria civilização. As escavações de Hasarlik provam, contudo, que aí existiu, durante dois mil anos, uma cidade importante, centro de uma cultura fascinante e misteriosa.
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