quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Do Imaginário - [5] - D. Pedro, o das 7 Partidas


No capítulo VII da Crónica da Guiné é facilmente identificável o conhecimento do Libro del Conosçimiento, quando se noticia o desejo do Infante D. Henrique entrar em contacto com o Preste João. Afirmava-se ser possível, através da foz do rio do Ouro enquanto braço do Nilo, um tal objetivo, ou seja, a partir da costa ocidental africana atingir a África Oriental e, mais especificamente, o reino do Preste João.

Tal como no Libro del Conosçimiento, bem como na maior parte dos livros de viagem da Idade Média, O livro das Sete Partidas de D. Pedro é um híbrido de muita ficção e alguma realidade, com muito de farsa, muito de inverosímil. Isso não significa que D. Pedro não tenha estado efetivamente em certas cidades que descreve.

D. Pedro celebrizou-se pelas suas preocupações culturais, e por uma longa viagem que fez pela Europa. Mas apesar de ser exagerada, os historiadores acham que ele merece o título de Infante das Sete Partidas. Pode-se então dizer que terá havido razões de Estado para uma viagem de tão grande envergadura. O resto, são narrativas piedosas, quando D. Pedro aparece na presença do Preste João, soberano da Abissínia.

Partiu de Lisboa em 1424, passou pelo reino de Leão, Castela, estacionou em Valhadolide, depois Barcelona e Paris. Daqui nada se sabe: quando, como e com quem esteve. É seguro, porém, que em 1425 esteve em Londres, capital do reino de onde era sua mãe. Em dezembro de 1425 deixa Londres, e dirige-se para Bruges, onde permanece mês e meio. Onde se demorou mais tempo foi na Casa de Luxemburgo, de Segismundo, imperador, e com ele se bateu contra os Turcos. Por isso, do imperador recebeu o ducado de Treviso, em Itália. Ainda consta que D. Pedro contribuiu para o enlace de sua irmã Isabel com o duque de Borgonha, Filipe o Bom.

Como se disse, a Casa de Luxemburgo era em Buda, capital da Hungria. Quando se fartou dos magiares do Sacro Império, deixou Buda e foi para Veneza, passando por Treviso, sede do seu ducado. A República de Veneza encontrava-se então em todo o seu fulgor comercial. Veneza possuía o maior arsenal da Europa. Do Adriático, mais de três mil embarcações haviam sulcado no ano anterior as águas do Mediterrâneo, do mar Negro e do Atlântico. De março a abril de 1428, pôde inteirar-se de muita coisa que dizia respeito à navegação marítima. Por este passo fica-se com a ideia de que a curiosidade de D. Pedro, ia além da vulgar peregrinação à Terra Santa. De resto, todo o livro de viagens que encontrasse deitava a mão. Não iria faltar o de Marco Polo. É preciso lembrar que o primeiro livro impresso por Gutenberg foi a Bíblia, mas esse processo só se iniciou por volta de 1450, e apenas em 1455 se viu toda a Bíblia concluída. D. Pedro viria a morrer em 1449, na desastrosa batalha de Alfarrobeira. Afonso V, apoiado por um bom punhado de nobres, insurgiu-se contra a regência do tio, e desafiou-o para a batalha que seria mortal.

Enquanto os Descobrimentos progrediam, também progrediam os panfletos dos novos sonhos. Quando Vasco da Gama chegou a Calecute em 1498, já os livros impressos tinham excitado toda a Europa. E já o papa Alexandre VI ocupava a cátedra de Roma desde 1492, um tal espanhol Rodrigo de Borja que era corrupto e dado aos prazeres terrenos sem qualquer pudor. Daí que, a literatura ainda tivesse pano para mangas, para promover o Preste João das Índias.

Politicamente, temos um rei João todo-poderoso a quem o patriarca Tomé obedece. Depois são amalgamados no mesmo João poderes pontifícios. Geograficamente, a evolução começa com uma Índia vaga onde reina o Preste João. Depois há a transmutação dos lugares, da Índia para a Etiópia. Por fim as duas regiões são fundidas numa só, governada por um único governador das “Índias”.

Parece que Pêro da Covilhã, o explorador que D. João II tinha mandado, pelo sim pelo não, procurar o Preste João na Abissínia, não deixou nenhuma memória escrita da sua longa residência entre os Etíopes, aliás como seria de esperar, tratando-se de um espião de Estado.

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