domingo, 8 de setembro de 2019

Dos símbolos da criação



Dois símbolos muito vistos em todo o lado são as estrelas de cinco e de seis pontas. E o território português não teria de ser exceção, onde a estrela de cinco pontas aparece desde há milénios. Por exemplo, na imagem seguinte, vê-se dinheiro de D. Afonso Henriques com a representação do pentalfa num dos lados. Está representado o “cinco” como um pentagrama (estrela de David) com um círculo no centro. 


Ainda hoje os amuletos populares portugueses têm o pentalfa, o hexalfa, a meia lua e a figa como símbolos preferenciais. A tradição portuguesa chama “Selo de Salomão” à estrela de seis pontas, que não é mais do que dois triângulos entrelaçados; e “Estrela de David” à estrela de cinco pontas. 


Agora reparando nas outras fotos das moedas dos primeiros reis portugueses verificamos que têm cinco escudetes com um número variável de besantes. Tendo evoluído para uma forma amendoada, os escudetes da origem estavam dispostos de uma forma que acabou por ser corrigida no reinado de D. João II, para que o escudo fosse endireitado segundo as regras da heráldica. 


Há nas cinco quinas uma aliança entre religião, política e guerreiro: forma de cruz; forma de amêndoa; forma de escudo. É curioso que no morabitino de D. Sancho I os escudetes têm apenas 4 besantes. Ao passo que no tornês de D. Diniz veem-se cinco, e na outra face a cruz templária. 


O escudo português será uma alusão à batalha de Ourique. Nestes casos, o brasão tem por missão captar o “valor simbólico” de um acontecimento histórico marcante. Por outro lado, nem sempre o facto histórico é tão evidente. Daí que os símbolos possam ter segundas e terceiras leituras que exprimem uma mensagem esotérica.

No Museu Arqueológico de Barcelos, num espaço ao ar livre, encontra-se um túmulo "O Túmulo de Faria" que se notabiliza pela grande complexidade simbólica inscrita num dos lados da arca tumular em granito. A estrela de seis pontas tem no seu centro um pentafólio esculpido , o que é significativo. As folhas de carvalho também estão presentes. Não tem recebido a devida atenção por parte dos especialistas, mas tudo indica que seja do século XI.



D. João III desconfiava de Ourique, das lendas e dos Templários. Também não sentia a força ideológica do Culto do Espírito Santo desde D. Dinis. O corte das elites dirigentes com as tradições, ritos, símbolos, enfim, com a mundivisão do Portugal Mítico que vinha acontecendo paulatinamente desde D. Manuel I com o caso dos judeus, culminou na Inquisição e no golpe de 1580. Em suma, os mitos foram recalcados para o inconsciente coletivo.

Diogo Pires, um judeu de origem portuguesa , exilado em Dubrovnik devido a édito manuelino, escreveu em 1547, numa alusão à concessão pelo papa da Inquisição para Portugal: “Mas ocorre neste ponto pasmar ante a enorme crueldade de alma daquele pontífice que, a um rei enfurecido (D. João III) contra um povo pacífico e inocente, prometeu aquilo que Clemente de Aquitânia (Clemente V), segundo julgo, quando governava em Avinhão com relutância concedeu a Filipe, o Belo, depois de ele lho reclamar, com insistência e há largo tempo, contra os templários. E eram tais as forças dos templários nesses tempos que os próprios reis as consideravam fora do comum.”

Eduardo Lourenço, por sua vez, referindo-se ao estigma da Inquisição que caiu sobre nós diz: “Criou em nós essa indiferença a toda a verdade criativa de inventores geniais. Uma forma de hipocrisia social, altamente conservadora no pior sentido da palavra, que criou uma névoa sobre a realidade e amputou o génio a muitos idealistas livres-pensadores, artistas de facto, inventores, humanistas, enfim, todos aqueles que acreditam que ‘o sonho comanda a vida’.

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