sexta-feira, 2 de julho de 2021

A astúcia do génio ou a prudência do talento




Nadia, uma criança com três anos de idade, apesar de possuir quase nenhuma habilidade linguística, dado sofrer de autismo, todavia era genial no desenho. Os seus cavalos tornaram-se famosos. Era muito desajeitada e passava o tempo em jogos repetitivos. Mas aos três anos e meio ela pegou num lápis e começou a desenhar, com domínio deslumbrante. A garota começou os seus desenhos aleatoriamente, pintando pequenos detalhes. Por exemplo, começava com os cascos, depois os pelos de cavalo, sem ainda desenhar o perfil do animal, como toda criança normal faz. 

Para a idade os desenhos eram fenomenais, comparados com qualquer outra criança de qualquer idade ou inteligência. Os desenhos de Nadia eram geralmente inspirados por imagens vistas apenas uma vez, raramente retornando à imagem de referência. A sua coordenação motora era incrivelmente refinada, desenho rápido e estranha precisão, muitas vezes desenhando linhas interrompidas que depois conectava. Com o rosto muito perto do papel, demonstrava uma extraordinária destreza manual, particularmente porque era desajeitada em qualquer outro campo. O tema favorito eram cavalos, mas desenhava outros animais e algumas figuras humanas. Sua habilidade surpreendente revelou um senso de perspetiva, proporção e movimento realizados. Os desenhos de Nadia eram conhecidos pela sua inventividade, pelo uso de nuances e sombreamento, e pela capacidade de representar movimento tridimensional.

A ausência de linguagem falada levou Lorna Selfe a desenvolver uma hipótese em torno da sua extraordinária habilidade. Postulou que as imagens visuais eram usadas como uma linguagem inicial. E no desenvolvimento da criança, as imagens visuais são suplantadas pela linguagem e esbate-se devido à falta de uso. Como a linguagem falhou no desenvolvimento de Nadia, as imagens visuais permaneceram, e até se desenvolveram mais profundamente.

O que aconteceria então se Nadia desenvolvesse a habilidade linguística? De acordo com a hipótese de Selfe, a habilidade com o desenho desapareceria. E foi exatamente o que aconteceu com Nadia. A admissão numa escola para crianças autistas aos 7 anos, com estratégias especiais e muito esforço, a sua linguagem melhorou. Mas a habilidade especial desapareceu. As habilidades migraram de uma parte do cérebro para outra...



Um cirurgião foi atingido por um raio e a partir desse momento tornou-se um grande pianista. Q
uão complexo é o nosso cérebro? Os cérebros da maioria das pessoas são mais ou menos parecidos, mas há extremos que fogem um pouco a essa normalidade, e essas configurações são às vezes patológicas e às vezes geniais. Podemos pensar que as capacidades ou disposições intelectuais que acompanham a prudência – sýnesis, gnóme e noûs – são disposições com virtude, muito superiores às disposições da esperteza que acompanham os astutos, muito mais débeis, tanto do ponto de vista intelectual como moral. Um astuto pode ter inteligência para boas jogadas táticas. Mas já é mais raro ter inteligência suficiente para bons rasgos estratégicos. Daí andar sempre sobre o fio da navalha, e acabar na dissolução ou insolvência. No fim, como um daqueles miseráveis, que impunes ficaram a dever milhões aos Bancos com uma lata tal que deixa qualquer pessoa indignada e com vontade de lhes apertar o pescoço.

Mas também há quem pense que as capacidades ou disposições intelectuais que acompanham a prudência não são necessariamente capacidades virtuosas, no sentido aristotélico. Subscrevem a tese de que o prudente e o astuto não são díspares racionalmente, mas apenas moralmente, i.e., de que o astuto detém de sýnesis, gnóme e noûs, propriedades intelectuais não propriamente virtudes mas capacidades intelectuais que colaboram e acompanham as deinótçs que são habilidades particulares. O astuto é um hábil não virtuoso, não tendo mais do que uma mera capacidade, que não chega à excelência.

Existem vários tipos de inteligência, e qualquer pessoa é uma espécie de arco-íris com margens variáveis de degradé em cada uma delas. Ou seja, cada pessoa, dentro desse espetro de inteligência pode ter um tipo mais desenvolvido que outros e destacar-se, sobrepondo-se sobre eles. Com o tempo, o tão badalado teste de QI foi caindo em descrédito, pois pouco a pouco se foi notando que nem sempre as pessoas apresentavam um resultado do teste coerente com determinados desempenhos intelectuais das mesmas pessoas.

Pessoas com grandes facilidades oratórias, com boas notas nas disciplinas de línguas, tanto oralmente como na forma escrita, podem não ser igualmente talentosas com números ou questões lógicas. Podem ficar muito aquém das pessoas com esse perfil de inteligência, uma alta capacidade de memória e um grande talento matemático e lógico. Um cérebro matemático encontra a solução para problemas complexos, mas à custa da capacidade de quebrar um grande problema em problemas menores, e ir resolvendo cada um deles de forma reiterada, até chegar à resposta final.

Outros casos há que, sendo nada especiais em relação às duas aptidões referidas, são exímios desenhadores, com um talento espantoso para geometria no espaço, distância e profundidade, e tempo. Um controlo de mãos com grande facilidade para a realização de movimentos complexos e precisos. Pessoas com este perfil de inteligência têm como principais características a criatividade e a sensibilidade, sendo capazes de imaginar, criar e projetar. Geralmente com uma maior capacidade estratégica do que tática. É neste grupo de aptidões que também aparecem os grandes talentos musicais. Ou então ainda, pessoas que apesar de serem pouco relevantes nos tipos de inteligência já apontados, são possuidores de uma excecional inteligência dita “emocional”. São pessoas com um talento especial para a liderança, com grande facilidade para a inter-relação pessoal, a empatia e compaixão.
Isso aconteceu durante os meus anos de universidade. Não ia às aulas… muito pouco. Estudava por conta própria, falava com os professores, que me diziam que livros estudar. Eu trazia esses livros, e outros, para ler em casa como autodidata. Estudei a relatividade geral, não em Bolonha, na universidade, mas quando estava na praia de uma pequena terra, Condofuri, no Sul de Itália, na Calábria. Estudava muito na praia, tentava compreender as equações. Faço um esforço para ver o que as equações dizem e não apenas usar aquele fluxo de símbolos e números para computar: quero a imagem que as equações nos dão da realidade. Quando comecei a compreender a curvatura do espaço e a curvatura do tempo previstas por Einstein, foi quase como uma trip psicadélica. O momento em que vi essas curvaturas foi como uma epifania: compreendi algo sobre a forma como a relatividade funciona. É como quando percebemos que a Terra roda. Estudamos isso nos livros, mas um dia vemos o pôr do sol: como o Sol não se move, sentimos que estamos nesta grande rocha que gira.
A teoria de Einstein é estranha, fora do comum, surpreendente. Mostra que a realidade é diferente do que pensamos, mas é clara como água: assim que a compreendemos, não há confusão ou mistério nela. No entanto, a mecânica quântica é diferente: funciona muito bem, usamo-la para imensas coisas, mas não é clara. Não temos uma boa intuição da mecânica quântica. Há quem pense na função de onda, que as partículas são ondas, que as partículas são clarões separados de existência, mas não há intuição clara que torne a mecânica quântica compreensível. 
Um génio é uma pessoa com grande capacidade mental. O termo "génio" também se aplica a alguém que seja um polímata ou alguém habilidoso em muitas áreas intelectuais. O termo se aplica com precisão a habilidades mentais, mais que físicas, embora seja também usado coloquialmente para indicar a posse de um talento superior em qualquer campo. Richard Feynman, um Nobel da Física, quando fez o teste do QI obteve uns míseros 125. E, todavia, foi considerado portador de uma das mentes mais brilhantes do século XX. Ao passo que alguns professores medianos de Física frequentemente alcançam pontuações de 140 a 160, desde que tenham pensamento rápido, já que a rapidez para resolver problemas simples é um quesito para se obter bons resultados em testes de QI tradicionais. Por isso, quando se trata do conceito de "génio", é mais recomendável que o "diagnóstico" seja baseado na produção intelectual. D
e qualquer forma, os génios eventualmente se diferenciam pela sua grande originalidade e visão nítida e concisa de uma dada situação que mais ninguém vê. Daí que a inteligência seja excecionalmente difícil de quantificar. 

Génios são frequentemente tidos como tendo uma grande falta de bom senso. Génios em determinadas áreas são incapazes de "captar" conceitos corriqueiros. Einstein era um caso desses. Supostamente, muitas vezes, esquecia-se se tinha almoçado e costumava calçar meias de cores diferentes. O foco intenso que um génio coloca num determinado assunto pode ser classificado como obsessivo-compulsivo. Se alguém está realizando um trabalho revolucionário em algum campo, a manutenção dos outros elementos da vida pode ser logicamente relegada à insignificância. 

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