quarta-feira, 7 de julho de 2021

É um malapropismo – quando se diz: uma "contagiosa" alegria transformou-se numa "contagiante" infeção





É errado dizer: A alegria da festa foi contagiosa. E: A covid-19 é muito contagiante.

A propósito do novo aumento do número de infetados nesta já 4ª vaga covid-19, ouvi alguém comentar, em estilo de paródia, dizendo: “A alegria da festa foi contagiosa”. Mas, no sentido do que verdadeiramente se queria dizer, era que: "A alegria da festa foi de tal modo ‘contagiante’ que toda gente se quis divertir até às tantas, e isso foi fatal, porque acabou por se tornar também contagiosa, ao proporcionar que o vírus se transmitisse muito mais facilmente de pessoa para pessoa em magote."

Embora ambas as palavras signifiquem algo que se transmitiu por contágio, no entanto, não é indiferente a utilização de um vocábulo ou de outro conforme o que se queira dizer. O vocábulo ‘contagioso’ é para a transmissão do vírus. E o vocábulo 'contagiante' utiliza-se para referir que as emoções também se transmitem de umas pessoas para outras por contágio.

A palavra 'malapropismo' (malaprop ou dogberryismo) tem origem na língua inglesa – malapropism, a partir do antropónimo Malaprop, nome de uma personagem na peça teatral "The Rivals", do dramaturgo irlandês Richard Sheridan (1751-1816). É uma senhora chamada Malaprop que usa palavras que não tendo o mesmo significado confundem-se pela sua semelhança. Por sua vez, Sheridan presumivelmente terá escolhido a palavra 'malapropos', tendo ido buscá-la à língua francesa: "mal à propos" (literalmente "mal colocada"). De acordo com o Oxford English Dictionary, o primeiro uso registado de "malapropos" em inglês ter-se-á verificado em 1630. E a primeira pessoa conhecida que terá usado a palavra "malaprop" no sentido de "erro de fala" foi Lord Byron, em 1814.

O termo sinónimo em inglês - "dogberryism" - vem da peça de Shakespeare, de 1598 - Muito Barulho por Nada - na qual o personagem Dogberry pronuncia muitos malapropismos com efeito cómico. Embora Shakespeare tenha sido um escritor anterior a Sheridan, "malaprop/malapropism" terá sido fixada muito antes de "dogberryism", que só foi referenciada em 1836.

O filósofo Donald Davidson desenvolveu uma tese, defendendo que os malapropismos mostram quão complexo é o processo que se opera no nosso cérebro na passagem do pensamento a palavras. Os malapropismos são um maná para os humoristas, dado que nós gostamos muito de nos divertirmos com o jogo de palavras.

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