«Londres, terça-feira, 10 de março de 1612. No Tribunal de Justiça da cidade, os magistrados estão reunidos em sessão: um homem e uma mulher solteiros foram detidos e trazidos até eles. São acusados de terem fornicado um com o outro. A mulher confessa. O homem nega. Não demora muito para que o destino dos dois seja decidido. Eles são levados a julgamento diante de um júri masculino. Depois de interrogados são declarados culpados. Eles não apenas fizeram sexo, mas também trouxeram ao mundo um filho bastardo. Por isso, Susan Perry e Robert Watson devem ostracizados dos seus amigos, família, e modo de vida — devem ser expulsos para sempre da sociedade em que vivem. Os juízes ordenam que os dois sejam levados imediatamente para a prisão da Gatehouse, despidos da cintura para cima, e, assim, atados à traseira da carroça e açoitados desde a Gatehouse, em Westminster, até Temple Bar; e ali, efetivamente, banidos da cidade.»
Estávamos no século XVII. Depois veio o Iluminismo, e chegados ao século XIX, Londres era a maior metrópole do mundo, o epicentro do poder político, da literatura, da cultura e das novas ideias para todo o mundo anglófono. Atitudes e estilos de vida modernos urbanos, novas tendências sociais, intelectuais e sexuais. Tudo o que havia de novo era criado ali primeiro, e os seus efeitos acabavam por ser sentidos em toda a parte, também no que respeitava a questões sexuais, Londres moldava o mundo de uma ponta à outra do Império Britânico – de Edimburgo a Brighton, de Dublin a Nova York, de Delhi a Melbourne. Metade do mundo britânico, chegado a meio do século XIX vivia em cidades de algum porte.
Não há registo do que aconteceu à criança vítima daquele julgamento. O ato sexual, apesar de ser uma prática humana universal, teve sempre uma história social conturbada, devido a muitas ideias equivocadas desde Abraão. O modo como o pensamos, como o tratamos enquanto sociedade, todas as suas conotações, diferem enormemente conforme a época e o lugar. Durante a maior parte da história do Ocidente, a punição pública de homens e mulheres como Robert Watson & Susan Perry era um acontecimento habitual. Às vezes, eles eram tratados de forma mais severa, outras, menos, mas qualquer ato sexual fora do casamento era ilegal, e a Igreja, o Estado e as pessoas comuns dedicavam imensos esforços para suprimi-lo e puni-lo. Parecia óbvio que as relações ilícitas despertavam a ira de Deus, impediam a salvação, feriam as relações pessoais e minavam a ordem social. Ninguém discordava seriamente disto, embora homens e mulheres constantemente cedessem à tentação e tivessem que ser açoitados, presos, multados e humilhados para não se esquecerem. Embora os detalhes variassem de um lugar para o outro, todas as sociedades europeias promoviam o ideal da disciplina sexual e puniam pessoas por sexo consensual fora do casamento. Assim também faziam as suas extensões coloniais, na América do Norte e em outras regiões. Esta era uma característica central da civilização cristã, um aspeto cuja importância vinha crescendo continuamente desde o começo da Idade Média. Só na Grã-Bretanha, no início do século XVII, milhares de homens e mulheres sofriam as consequências a cada ano. Às vezes havia condenações à morte.
Esta é a grande diferença entre o mundo moderno e o mundo medieval. O período entre 1660 e 1800 foi um importante divisor de águas, uma grande mudança secular nas atitudes e comportamentos sexuais. A Guerra Civil Inglesa, e a execução de Carlos I em 1649, a Revolução de 1688, as guerras religiosas entre católicos e protestantes, a expansão da sociedade urbana, todos estes acontecimentos, e muitos outros não se dissociam das mudanças drásticas que ocorreram na cultura sexual europeia. A bem dizer trata-se do Iluminismo que ajudou a criar um modelo totalmente novo de civilização ocidental, cujos princípios de privacidade individual, igualdade e liberdade continuam distintos, até hoje, do resto do mundo sobretudo a oriente. No ocidente, mercê dos debates filosóficos esclarecidos entre intelectuais, deram-se uma série de mudanças sociais e intelectuais, de uma ponta à outra da sociedade, que alterou as noções de religião, verdade, natureza e moralidade de quase toda a população. A revolução sexual demonstra como os modos de pensar iluministas moldaram a sociedade ocidental de forma diferente das outras sociedades ditas “não-ocidentais”.
Isso significa que o Iluminismo não afetou todas as pessoas igualmente, ou de modo favorável. Beneficiou, acima de tudo, uma minoria de homens brancos, heterossexuais e detentores de propriedade. Contradições e disparidades mais óbvias para as mulheres, para as relações homossexuais, para diferentes classes e grupos sociais em outras sociedades ocidentais. Tradicionalmente, a maior parte da população que vivia em pequenas e vagarosas comunidades rurais, era fácil exercer a conformidade social e moral. A vida nas cidades grandes era diferente, em sua escala e anonimato, na circulação cada vez mais veloz de notícias e ideias, e na mera disponibilidade de aventuras sexuais. Ela punha a imposição da disciplina sexual sob uma pressão cada vez maior. O primeiro lugar a vivenciar estas mudanças foi Londres.
Joshua Reynolds nasceu em Plympton, Devon, Inglaterra, a 16 de julho de 1723, e faleceu em Londres, a 23 de fevereiro de 1792. Joshua Reynolds foi um pintor e retratista inglês, um dos principais retratistas do século XVIII. A sua técnica e invocação dos valores morais clássicos, influenciou as gerações seguintes de pintores retratistas. Cores em fortes pinceladas retratando mulheres e crianças. Foi o primeiro presidente da Academia Real Inglesa, preocupando-se em divulgar a arte através dos seus trabalhos e preleções aos estudantes e membros da academia britânica. Está sepultado na Catedral de São Paulo.
Embora estes relatos da época tenham muitas vezes intuitos de sátira social, a situação não deixa de ser inerentemente humilhante. Contudo, muitos relatos à época sugerem a independência e a vitalidade sexual das mulheres, e afirmam que o consentimento da esposa era essencial para o sucesso de cada transação. Embora esposas tenham resistido a serem vendidas durante o século XIX, não existem registos de resistência à venda no século XVIII. Com efeito, são conhecidos casos de serem as próprias esposas as proponentes da venda, tal era a sua vontade em se libertarem dos maridos que tinham. E muitas vezes eram elementos da família original da mulher, tanto podiam ser irmãos como pais, que as compravam de volta. E as coisas não ficavam por aqui. Há relatos de ser depois a família a fazer a venda segundo a sua conveniência escolhendo o comprador, escapando assim à aleatoriedade do leilão. A venda de esposas parece ter sido difundida por toda a Inglaterra, e cerca de quatrocentas ocorrências foram documentadas, um número pequeno em comparação com os casos de abandono conjugal do mesmo período.
Um costume notadamente ilegal a partir de meados do século XIX, passou a constar de processos judiciais. Mas, em geral, a atitude das autoridades públicas e religiosas manteve-se com algumas ambiguidades. Pelo menos um magistrado declarou não aceitar que tivesse o direito de impedir a venda de uma esposa. E houve casos de clérigos e comissários das Poor Laws a forçarem os maridos a venderem as suas esposas como forma de evitar o seu envio para 'workhouses'. Foi a crescente exposição de vendas de esposas nos jornais que fez com que, gradualmente, se acabasse com esse costume. O número de vendas documentadas diminuiu drasticamente a partir de meados do século XIX. Mas a prática, embora residual, ainda se verificava nas primeiras duas décadas do século XX. O último caso reportado, foi em Leeds, em 1926.
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