A imagem que ilustra este artigo como epígrafe intertextual, da autoria do humorista Tom Rhodes, 2009, é uma caricatura de uma outra ilustração, que vem a seguir, da autoria de Rudolph Zallinger [1919-1995], e que faz parte da obra "Marcha do Progresso", também chamada de Estrada para o Homo Sapiens, e que representa alguns milhões de anos de evolução humana. Esta obra faz parte do volume Early Man, da Life Nature Library, publicada em 1965 pela Time Life. Tem sido visto como um retrato desacreditado da ortogénese (evolução é progressiva). Como tal, foi amplamente parodiado e imitado para criar imagens de progresso de outros tipos. A ideia de "progresso" já vinha de Thomas Henry Huxley, com a publicação em 1863 de "Evidence as to Man's Place in Nature". A caricatura de Tom Rhodes tem a ver com o facto de representar a mulher que faltava na ilustração original de Zallinger. Por incrível que pareça ( e este "incrível que pareça" é retórico), todas as representações anteriores apenas se referem ao género masculino, como se a evolução acontecesse sem que homens e mulheres não fizessem o que homens e mulheres podem fazer. Daí que muitos autores considerem errada a perspetiva linear da evolução humana.
Ortogénese, também conhecida como evolução ortogenética, evolução progressiva, progresso evolutivo ou progressão, era a hipótese biológica de que os organismos têm uma tendência inata para evoluir numa direção determinada como se tivesse algum objetivo. A isto se chama teleologia, que na linguagem de Aristóteles era a força das causas. De acordo com essa teoria, a uma escala maior há uma força absoluta que se encaminha para um fim, no sentido de propósito, que é evidenciada pela complexidade biológica num crescendo progressivo. A teoria dos defensores da ortogénese é uma teoria antitética da teoria da seleção natural de Darwin. Depois do advento da genética, a teoria de Darwin revelou-se ainda mais sólida.
No tempo em que os homens caçavam, as mulheres ficavam com o grupo para cuidar, amamentar, vigiar. Os homens protegiam e as mulheres cuidavam. Como resultado, os seus corpos e cérebros tomaram rumos diversos no processo de evolução e se transformaram para se adaptarem melhor às suas funções específicas. Os homens se tornaram mais altos e mais fortes que a maioria das mulheres, e seus cérebros se desenvolveram para cumprir as tarefas que lhes cabiam. As mulheres ao verem os seus homens saírem para a caça podiam pedir como se pede hoje: “que Deus te acompanhe”. Enquanto elas mantinham o fogo aceso. Seus cérebros, então, evoluíram para atender às funções que precisavam desempenhar.
Assim, por milhões de anos, as estruturas dos cérebros de homens e mulheres foram-se formando de modo diferente. Hoje em dia, sabemos que homens e mulheres processam a informação de modos distintos. Pensam diferente. Têm crenças, perceções, prioridades e comportamentos diversos. Desconhecer este fato é uma receita certa de sofrimento e desilusão para toda a vida. No cérebro as hormonas também têm uma palavra a dizer por intermédios de outros mediadores neuronais – tal como a dopamina, a serotonina e noradrenalina – responsáveis por nossas atitudes, preferências e comportamento. Isso quer dizer que, ainda que criados em uma ilha deserta, sem uma sociedade organizada ou pais que os influenciassem, meninos competiriam física e mentalmente entre eles, formando grupos com uma nítida hierarquia, e meninas trocariam toques e carinhos, se tornariam amigas e brincariam como meninas brincam.
Desde os anos 60, vários grupos vêm tentando nos convencer a renegar a nossa herança biológica, dizendo que esta é uma treta que não é mais do que uma conspiração masculina para manter o poder do patriarcado. Afirmam que governos, seitas religiosas e sistemas educacionais se aliaram ao objetivo masculino de dominação, reprimindo as mulheres que tentavam se destacar. Um modo ainda mais eficiente de controlo seria mantê-las sempre grávidas. Mas aí cabe a pergunta: se homens e mulheres são idênticos, como afirmam esses grupos, por que os homens sempre mantiveram sua dominação? E isso, é bom que se perceba, que não invalida a tese de que homens e mulheres devem ser iguais no direito à oportunidade de desenvolver plenamente as suas potencialidades. Historicamente, parecendo que está certo, se homens e mulheres têm direitos iguais, isto é uma questão política e moral. Se são idênticos, é uma questão científica.
O bando ou tribo só esperava que os homens cumprissem as suas tarefas de caçador e protegessem o grupo, nada mais. Não era preciso "repensar o relacionamento" e ninguém lhes pedia para levar o lixo para fora. O papel da mulher era também muito claro. A necessidade de ser a progenitora perpetuadora da espécie apontou a direção em que deviam evoluir as tarefas numa família. A mulher com a sua extraordinária sensibilidade para identificar as pequenas mudanças na aparência e comportamento das crianças e adultos dotou-a de ser melhor a cuidar dos filhos na doença e na tristeza. Tudo muito simples: ele era o caçador da comida, ela a guardiã da cria. A mulher passava o dia cuidando das crianças, colhendo frutos e sementes e se relacionando com as outras mulheres do grupo. Não tinha que se preocupar com a parte principal do abastecimento de comida, e seu sucesso estava ligado à capacidade de manter a vida em família. Ter filhos era um ato mágico, sagrado mesmo, como se só ela conhecesse o segredo da vida. Ninguém esperava que fosse caçar, enfrentar inimigos ou trocar lâmpadas. A sobrevivência era difícil, mas o relacionamento era fácil. Assim foi por centenas de milhares de anos. Ao fim de cada dia, os caçadores voltavam com os animais abatidos, que eram divididos igualmente, e todos comiam juntos na caverna ou na cabana onde viviam. Cada homem entregava parte da caça à mulher, que, em troca, lhe dava frutos e sementes.
Depois de comer, os homens se sentavam à volta da fogueira, contavam estórias, pregavam partidas uns aos outros, e riam. Depois de um dia tão estafante deviam estar exaustos. Precisavam de recuperar forças para caçar novamente no dia seguinte. As mulheres continuariam a cuidar das crianças e a garantir o descanso e a alimentação do grupo. Cada um apreciava o que o outro fazia. Eles não eram considerados preguiçosos nem elas se sentiam como criadas oprimidas.
Esses rituais e comportamentos simples ainda são encontrados em civilizações primitivas, em lugares como Bornéu, parte da África e Indonésia, e entre alguns aborígenes australianos, maoris da Nova Zelândia e inuits do Canadá e Groenlândia. Nessas culturas, cada pessoa conhece e entende o seu papel. Os homens admiram as mulheres e as mulheres admiram os homens. Cada um reconhece no outro uma contribuição única para a sobrevivência e o bem-estar da família.
Mas, para quem vive nos modernos países civilizados, essas coisas mudaram. A família não mais depende unicamente do homem para a sua sobrevivência e não se espera mais que a mulher fique em casa exercendo as funções de mãe e zeladora. Agora, a maior parte dos homens e mulheres se confundem na hora de definir as suas tarefas familiares. Nós agora passamos por situações que os nossos antepassados duas gerações antes de nós nunca conheceram. Eles repetiam o seu comportamento, com os seus papéis claramente definidos, que aprenderam com os pais deles, que, por sua vez, imitaram os pais deles, e assim por muito tempo até regredirmos ao povo das cavernas pré-históricas.
Assim, por milhões de anos, as estruturas dos cérebros de homens e mulheres foram-se formando de modo diferente. Hoje em dia, sabemos que homens e mulheres processam a informação de modos distintos. Pensam diferente. Têm crenças, perceções, prioridades e comportamentos diversos. Desconhecer este fato é uma receita certa de sofrimento e desilusão para toda a vida. No cérebro as hormonas também têm uma palavra a dizer por intermédios de outros mediadores neuronais – tal como a dopamina, a serotonina e noradrenalina – responsáveis por nossas atitudes, preferências e comportamento. Isso quer dizer que, ainda que criados em uma ilha deserta, sem uma sociedade organizada ou pais que os influenciassem, meninos competiriam física e mentalmente entre eles, formando grupos com uma nítida hierarquia, e meninas trocariam toques e carinhos, se tornariam amigas e brincariam como meninas brincam.
Desde os anos 60, vários grupos vêm tentando nos convencer a renegar a nossa herança biológica, dizendo que esta é uma treta que não é mais do que uma conspiração masculina para manter o poder do patriarcado. Afirmam que governos, seitas religiosas e sistemas educacionais se aliaram ao objetivo masculino de dominação, reprimindo as mulheres que tentavam se destacar. Um modo ainda mais eficiente de controlo seria mantê-las sempre grávidas. Mas aí cabe a pergunta: se homens e mulheres são idênticos, como afirmam esses grupos, por que os homens sempre mantiveram sua dominação? E isso, é bom que se perceba, que não invalida a tese de que homens e mulheres devem ser iguais no direito à oportunidade de desenvolver plenamente as suas potencialidades. Historicamente, parecendo que está certo, se homens e mulheres têm direitos iguais, isto é uma questão política e moral. Se são idênticos, é uma questão científica.
Se estivermos, por exemplo no cinema, ou numa sala cheia de gente, podemos verificar que as mulheres são mais baixas e mais miúdas que os homens. Pode ser que haja uma mulher mais alta e corpulenta que todos os homens, mas, em geral, os homens são mais altos e fortes.
Depois de comer, os homens se sentavam à volta da fogueira, contavam estórias, pregavam partidas uns aos outros, e riam. Depois de um dia tão estafante deviam estar exaustos. Precisavam de recuperar forças para caçar novamente no dia seguinte. As mulheres continuariam a cuidar das crianças e a garantir o descanso e a alimentação do grupo. Cada um apreciava o que o outro fazia. Eles não eram considerados preguiçosos nem elas se sentiam como criadas oprimidas.
Esses rituais e comportamentos simples ainda são encontrados em civilizações primitivas, em lugares como Bornéu, parte da África e Indonésia, e entre alguns aborígenes australianos, maoris da Nova Zelândia e inuits do Canadá e Groenlândia. Nessas culturas, cada pessoa conhece e entende o seu papel. Os homens admiram as mulheres e as mulheres admiram os homens. Cada um reconhece no outro uma contribuição única para a sobrevivência e o bem-estar da família.
Mas, para quem vive nos modernos países civilizados, essas coisas mudaram. A família não mais depende unicamente do homem para a sua sobrevivência e não se espera mais que a mulher fique em casa exercendo as funções de mãe e zeladora. Agora, a maior parte dos homens e mulheres se confundem na hora de definir as suas tarefas familiares. Nós agora passamos por situações que os nossos antepassados duas gerações antes de nós nunca conheceram. Eles repetiam o seu comportamento, com os seus papéis claramente definidos, que aprenderam com os pais deles, que, por sua vez, imitaram os pais deles, e assim por muito tempo até regredirmos ao povo das cavernas pré-históricas.
Ainda não é há muito tempo que o ser humano busca amor, romance e realização pessoal, e não em todo o lado. Em primeiro lugar está a sobrevivência. Estando garantida, para muitos pela estrutura de várias instituições governamentais, então entra-se no tempo do Homo Ludens. Então, quais são as novas regras? Onde se pode aprender? Certamente que os nossos pais não nos podem ajudar, porque as regras sociais têm uma sobrevida cada vez menor, tudo mudando muito depressa. O índice de divórcios entre os casamentos recentes está em crescendo todos os dias. E se levarmos em conta as uniões de facto, e os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, a verdadeira taxa é abismal. A procura de crianças para adoção sobe exponencialmente. Ninguém sabe ser feliz. Mas também não vai ser preciso no meio do cataclismo do Antropoceno, que se vem anunciando com pezinhos de lã.
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