sábado, 10 de julho de 2021

Parábola: não há anjinhos




Sacrifício de Isaac - Rembrandt

Sacrifício de Isaac é uma conhecida pintura de Rembrandtque se encontra no Museu Hermitage, São Petersburgo. Notabilíssimo, pela doçura e transparência das meias tintas espalhadas no rosto do anjo, pela modelação das figuras e efeitos prodigiosos de luz. A tela representa Abraão prestes a cumprir uma ordem de Deus que, para provar a sua obediência, exigiu que ele sacrificasse o seu Isaac, o único patriarca bíblico cujo nome não foi mudado. E também o único que não deixou Canaã. Comparado com Abraão e Jacó, a história de Isaac é pouco explorada, a não ser que tenha vivido 80 anos, não se sabendo que anos são estes, ainda assim é o patriarca de vida mais longa.

Deixemos por agora a parábola da Geometria - definida como uma curva plana cujos pontos distam igualmente de um ponto fixo (foco) e de uma reta fixa (diretriz), e peguemos na parábola da Gramática - uma narrativa curta que, mediante o emprego de linguagem figurada, transmite um conteúdo moral, sendo por isso erroneamente confundida com a fábula. A parábola difere do apólogo, por ser protagonizada por seres humanos. 

Os hebreus, conotados com o Povo do Livro, e os textos da Bíblia – tanto no Antigo como no Novo Testamento em nome de Jesus Cristo – estão recheados de parábolas. Trata-se, pois, de uma narrativa alegórica, que, por meio de ação ou analogia, transmite um preceito moral ou religioso. É uma forma de linguagem excelente para obrigar a pensar, para nos fazer entender as suas múltiplas significações, e incendiar-nos a imaginação. Nada a ver com a linguagem da publicidade ou do marketing, cujo fito é manipular. A parábola não, pelo contrário, exige um percurso intelectual e afetivo para descobrir significações que não estão à vista. Não é uma linguagem unívoca, mas simbólica, de muitas significações. A realidade do mundo também é assim, múltipla de significações.

Tanto a parábola da semente que germina por si só, como a do grão de mostarda, não são lições para agricultores. Os semeadores não dispõem de um manual de instruções para obter um bom resultado das suas intervenções. São semeadores de perguntas, de enigmas, de provocações que nos põem a pensar, imaginar e agir, sem garantias de sucesso.

O nome Isaac é uma transliteração do termo hebraico Yiṣḥāq que significa literalmente "Ele ri/vai rir." Textos ugaríticos que datam do século XIII a.C. referem-se ao sorriso benevolente da divindade cananeia El. O Génesis, no entanto, atribui o riso aos pais de Isaac - Abraão e Sara -, ao invés de El. De acordo com a narrativa bíblica, Abraão caiu sobre o seu rosto e riu quando Elohim comunicou a notícia do eventual nascimento do filho. Riu porque Sara já não tinha idade para ter filhos; tanto Sara como Abraão eram velhos e adiantados em idade. Mais tarde, quando Sara ouviu três mensageiros do Senhor renovar a promessa, riu-se consigo pela mesma razão. Sara, no entanto, negou que o tivesse feito quando Elohim questionou Abraão sobre isso.

Foi profetizado ao patriarca Abraão que ele teria um filho e que seu nome seria IsaacAbraão tinha a linda idade de 100 anos, quando Isaac nasceu. ao fim e ao cabo o segundo filho de Abraão, embora primeiro e único filho de Sara. Pertencendo à casa de Abraão, Isaac foi circuncisado ao oitavo dia, em conformidade com a aliança do Senhor.

De acordo com o Génesis, Ismael foi o primeiro filho de Abraão, que o teve através da sua serva, Agar.
No dia em que Isaac foi desmamado, Sara viu Ismael gozar com a situação. Então Sara pediu a Abraão que expulsasse Agar e Ismael de casa. Isaac seria o seu único herdeiro. Abraão ainda hesitou, mas o pedido de Sara foi ratificado por Deus.

Abraão estava em Quiriate-Arba (atualmente Hebrom) quando, por uma ordem de Deus, viajou com Isaac para oferecê-lo em sacrifício sobre o monte Moriá, localizado dentro dos limites da cidade de Jerusalém. Estudos das Universidades de Harvard e Cambridge debatem sobre a tradição judaica de ter sido neste mesmo local que, mais tarde, o rei Salomão edificaria o primeiro Templo de Jerusalém.

Politicamente falando, este episódio parece ter servido como um teste da fé e obediência de Abraão a Deus, e não como um sacrifício real, pois a própria promessa de Deus de que Abraão teria incontáveis descendentes a partir de Isaac. Já no campo metafísico ou espiritual, há quem defenda que neste episódio tudo o que ocorreu com Isaac simbolizaria o que é conhecido em teologia cristã como o sacrifício vicário de Jesus Cristo, ou seja, sacrifício na cruz para morrer no lugar dos seres humanos pelo pecado individual de cada um. Assim, nesta simbologia ligada com a vida de Isaac, o cristianismo aproveita-se disso para dar sentido à narrativa do "Jesus Cristo Filho de Deus e Salvador do Mundo".

Noutra linha de pensamento teológico, a morte de Jesus Cristo nas cruz estaria simbolizada em Isaac apenas até ao momento imediatamente antes do sacrifício no altar. Depois a simbologia passaria a recair sobre o cordeiro que foi utilizado por Abraão como substituto do seu filho. Corroboraria com essa ideia, por exemplo, a passagem neotestamentária onde o profeta João Batista declara ter Jesus Cristo servido por Cordeiro de Deus para pagar pelos pecados do mundo.

É apócrifa a versão que Ismael ficou feliz pelo sacrifício de Isaac, já que imaginou que ficaria com toda a herança de Abraão. Satanás por sua vez tenta Isaac e Abraão no caminho do sacrifício, mas é "empurrado para trás" por Abraão. Satanás, vendo os planos furados, vai a casa de Abraão na forma de um velho e diz a Sara que Abraão deu o ato por consumado. Sara resigna-se por se ter cumprido a ordem de Deus. Mas entra em depressão pela perda do filho: "Ó meu filho Isaac, meu filho, devia ter sido eu a morrer por ti!". Satanás volta para informar Sara que afinal Isaac não foi executado. Nesse momento Sara é tomada de uma alegria explosiva e não resiste. A sua alma sai do corpo e ela morre.


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