terça-feira, 13 de julho de 2021

Feminismo radical





Kimberlé Williams Crenshaw é Prof. na Faculdade de Direito da UCLA e na Columbia Law School, onde é especialista em questões raciais e de género. Crenshaw também é a fundadora do Centro de Estudos de "On Intersectionality" e Política Social (CISPS) da Columbia Law School e do Fórum de Política Afro-Americana (AAPF), bem como presidente do Centro de Justiça Interseccional (CIJ), com sede em Berlim. 

"On Intersectionality" é um marco analítico para entender como aspetos das identidades sociais e políticas de uma pessoa se combinam para criar diferentes modos de discriminação e privilégio. "On Intersectionality" identifica múltiplos fatores de vantagem e desvantagem. Exemplos desses fatores incluem género, casta, sexo, raça, classe, sexualidade, religião, deficiência, aparência física, etc. Essas identidades sociais interseccionais e sobrepostas podem tanto dar empoderamento como serem opressoras. Por exemplo, uma mulher negra pode enfrentar discriminação, não por ser negra, nem por ser mulher, mas devido a uma combinação dos dois fatores.

Se, na verdade, estávamos habituados ao universalismo liberal, em que as pessoas eram tratadas por igual, independentemente do significado social das suas categorias de identidade, agora temos de enfrentar as defesas de políticas de identidade. Kimberlé Crenshaw, inventora deste conceito - 
"On Intersectionality" - e fundadora da Teoria Crítica de Raça, é uma académica de referência quanto à explicitação da aplicação das teorias pós-modernistas na ação prática das políticas de identidade. Metáfora retirada da imagem de uma pessoa correr o risco de ser atropelada ao atravessar a passadeira numa rotunda, por ser uma imagem parecida com o que acontece com a marginalização de uma pessoa quando atingida por diferentes formas de preconceito em relação à sua identidade múltipla. Uma mulher negra pode ser discriminada pela simultaneidade da sua identidade de mulher e negra, quando não acontece a uma mulher branca por ser mulher, ou a um homem negro por ser negro.

Nas palavras de Crenshaw: “Todos somos capazes de entender a diferença entre as afirmações 'eu sou negro' e 'eu sou uma pessoa que por acaso é negra'. Eu sou negro assume a identidade socialmente imposta e dá-lhe poder na qualidade de âncora de subjetividade. Primeiro eu sou uma pessoa; negro é uma contingência, circunstancial, não determinante. 
Na questão das categorias de grupos identitários, no que respeita a discriminação e marginalização, por vezes somos confrontados com fogos cruzados, aquilo que certos teóricos ditos 'da Teoria', designam "à boleia do preconceito". As repercussões das teorias identitárias sobre simpatizantes e os próprios em causa, sobretudo de matriz feminista, estão a ser de tal modo avassaladoras que essas pessoas já começam a sentir-se perdidas. E não há nada pior para uma pessoa do que sentir-se perdida.

Um ativista de direitos humanos insurgiu-se contra um músico negro, de rap, por cantar sobre o homicídio de um homem gay. A seguir viu-se em apuros ao ser acusado de racismo. Uma esteticista de uma minoria étnica e religiosa foi acusada de discriminação e transfobia, por ter recusado fazer depilação a uma mulher trans (corpo do sexo masculino mas sentindo-se mulher)A justificação da esteticista foi que a sua religião e os seus costumes proibiam que uma mulher tocasse nos genitais masculinos. E o que a mulher trans queria: era que a esteticista lhe fizesse a depilação do escroto com cera. Ora, isso ultrapassava o seu código de conduta porque tinha de lhe por a mão nos testículos. 

O feminismo radical é uma corrente dentro do feminismo que propõe um reordenamento radical da sociedade no que diz respeito à supremacia masculina em tudo o que mexe. Isso inclui o desafio aos tradicionais papéis de género, e à violência contra a mulher que é tratada por homens, e mulheres com má-consciência, como um objeto, e não como uma pessoa humana. As feministas radicais localizam a raiz da opressão das mulheres nas relações de género patriarcais. A opressão que precede todas as outras formas de opressão.

O feminismo radical argumenta que a subordinação da mulher no lar é de algum modo anterior e mais importante do que a sua subordinação no trabalho remunerado. A sociedade até aqui tem sido um patriarcado em que a classe dos homens é a classe opressora da classe das mulheres. As feministas radicais procuram abolir o patriarcado e acreditam que a maneira de o fazer é lidar com a opressão de qualquer tipo, abordando as causas subjacentes através de um processo revolucionário.

Ellen Willis escreveu em 1984 que as feministas radicais criaram um vocabulário próprio que tem entrado na cultura popular de forma sub-reptícia. Desencadearam a unidade para legalizar o aborto; foram as primeiras a exigir igualdade total na chamada esfera privada (tarefas domésticas e cuidados infantis, necessidades emocionais e sexuais); e criaram a atmosfera de “urgência", que quase levou à aprovação da Emenda dos Direitos Iguais.

A ideologia do feminismo radical nos Estados Unidos desenvolveu-se como um componente do movimento de libertação das mulheres. Ele cresceu em grande parte devido à influência do movimento dos direitos civis que ganhou impulso na década de 1960. Muitas das mulheres que tomaram a causa do feminismo radical tinham experiência proveniente do seu papel nas lutas de protesto radical contra o racismo.

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