quinta-feira, 22 de julho de 2021

Metanarrativas e Figuras de linguagem





Em tempo de Peste e de Metanarrativas, ontem, no Debate da Nação, foi um fartote em figuras de linguagem no hemiciclo de São Bento, saídas da boca dos senhores deputados. A palavra “narrativa”, foi a que se ouviu mais vezes. Vimos aviões apeados em terra pela força da gravidade; e vimos um palhaço, dos verdadeiros, numa reflexão misantrópica encabeçada pela máxima de Vico: “nada do que é humano me atrapalha”. Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do quotidiano o tornem cada vez mais cínico, não “basta” para ele permanecer indiferente às desgraças ou alegrias da humanidade. Haverá sempre no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda ecos dos sons do amor no tempo da Peste.

Metanarrativa – é um termo literário e filosófico que significa simplificadamente a narrativa contida dentro ou além da própria narrativa. Jean-François Lyotard [1924-1998] era apologista do fim das grandes narrativas – Iluminismo; Marxismo. Em que uma metanarrativa assume o sentido de uma grande narrativa, um “Paradigma” no sentido de Thomas Kuhn, uma narrativa de nível superior capaz de explicar todo o conhecimento existente ou capaz de representar uma verdade absoluta sobre o universo. Por outro lado, a Bíblia e o Alcorão também seriam metanarrativas com o mesmo valor. Isto levou Jean-François Lyotard à proposição da condição pós-moderna, como uma reação à confiança em relação a estas metanarrativas.

No entender de Lyotard, o declínio das ideologias iluministas e marxistas na sociedade pós-industrial advém do conjunto de fragmentos de histórias variadas e muitas vezes contraditórias sobre um mesmo assunto. Lyotard inventa uma teoria cínica contra a filosofia iluminista. Esta acredita na razão e no progresso científico, que leva o homem à felicidade, emancipando a humanidade dos dogmas, mitos e superstições dos povos primitivos. O marxismo é outro exemplo de metanarrativa. Para os marxistas, a História era impulsionada pelo confronto entre duas classes contraditórias, a burguesia e o proletariado, que resultaria, ao fim da revolução do proletariado, numa sociedade sem classes, de plena liberdade e igualdade.

Em suma, na prática textual, uma metanarrativa é todo o discurso que se vira para si mesmo, questionando a forma da produção da narrativa. A técnica de construção de uma metanarrativa obriga o autor a uma preocupação particular com os mecanismos da linguagem e da gramática do texto.

Não confundamos com ironia. A ironia é uma figura de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se está a pensar. A ironia é a arte de zombar de alguém ou de alguma coisa, com um ponto de vista a obter uma reação do leitor, ouvinte ou interlocutor. A pessoa está, por exemplo, a elogiar outra, e afinal o que ela quer fazer é desvalorizá-la. O que fazia Sócrates nos diálogos platónicos não era bem ironia. O que ele se armava era em ignorante, e armadilhava o discurso do adversário, até que este chegasse a uma contradição e percebesse assim os erros do próprio raciocínio. A ironia é também um estilo de linguagem caracterizado por subverter o símbolo que, a princípio, representa. A ironia utiliza-se de uma forma de linguagem preestabelecida para, a partir e de dentro dela, contestá-la.

"A vida é breve, a arte é longa, a ocasião fugidia, a experiência enganosa, o julgamento difícil" – é um dos aforismos de Hipócrates, uma longa série de proposições tratando de sintomas e diagnósticos de doenças (semiologia) e a arte da cura em medicina (tratamento). Atualmente o aforismo é compreendido como uma forma concisa e eloquente de declarar a verdade.

Nietzsche foi muito pródigo em aforismos. Assim como Wittgenstein. Nietzsche visava atacar um dos principais pilares da sociedade, a religião: "Deus está morto. Viva perigosamente. Qual o melhor remédio? – Vitória!" E assim, desconstruíamos a visão de vida após a morte, para que possamos viver melhor a verdadeira vida. Para o filósofo 
Nietzsche, o cristianismo era algo decadente, pois um dos seus pontos principais era essa farsa de outra vida pós-morte. 
  • Cada pessoa tem que escolher quanta verdade consegue suportar.
  • A moralidade é o instinto de rebanho do indivíduo. O desespero é o preço pago pela autoconsciência.

Platão, na alegoria da caverna, usa o sol como uma metáfora para a fonte da "iluminação", presumivelmente da iluminação intelectual. A metáfora é sobre a natureza da realidade última e sobre como o conhecimento é adquirido. Sócrates é o narrador de A República, mas é geralmente aceite que o verdadeiro autor é Platão. O olho, diz Platão, é pouco usual entre os sentidos, visto que necessita de um meio, a luz, para conseguir funcionar. A melhor e mais forte fonte de luz é o sol; com a sua luz, os objetos podem ser apreendidos de maneira clara. Raciocínio análogo pode ser dito dos objetos inteligíveis, isto é, das formas eternas e fixas que são os objetos últimos do estudo científico e filosófico: as Ideias.

Na filosofia de Zenão de Eleia, por exemplo, podemos falar de aporias nos juízos sobre a impossibilidade do movimento. Mais tarde, designaram-se alguns diálogos platónicos como aporéticos, isto é, inconclusivos. A aporia pode também ser definida como uma figura de retórica dizendo respeito aos momentos em que uma personagem dá sinais de indecisão ou dúvida sobre a forma de se expressar ou de agir. O melhor exemplo é o célebre solilóquio de Hamlet, de William Shakespeare, consagrado na expressão “to be or not to be”

Mais recentemente, o termo "aporia" foi utilizado com frequência pelos tais autores pós-modernistas. Jacques Derrida foi o maior desconstrutivista. A aporia é identificada pela leitura desconstrutiva do texto, que terá como fim mostrar que o sentido nele inscrito atingirá invariavelmente o nível da indeterminação ou da indecidibilidade. Uma aporia é um núcleo que cria uma tensão lógico-retórica que impede que o sentido de um texto se possa fixar. Um texto, por definição, conterá sempre aporias que servirão para mostrar que esse mesmo texto pode querer dizer algo que escapa a uma qualquer leitura convencional. Nem o texto nem o seu autor estão obrigados a ter conhecimento prévio ou consciência da presença de aporias. Compete ao leitor, pela desconstrução.

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