Jeanne Louise Calment [Arles, 21/02/1875 – 04/08/1997] foi uma supercentenária francesa confirmada como a pessoa mais velha já documentada da história, depois de alcançar a idade de 122 anos e 164 dias (em um total de 44 724 dias de vida). Residiu durante toda a sua vida na cidade de Arles, no sul da França, e morreu depois da sua filha e do seu neto.
Durante os seus últimos anos na Maison du Lac, Jeanne Calment estava essencialmente imóvel, confinada à sua cama e à cadeira de rodas. A sua audição continuou a diminuir, estava virtualmente cega e tinha dificuldade em falar. Por vezes, não era claro se estava completamente consciente das coisas à sua volta. Morreu sozinha no seu lar, num verão particularmente quente, sem causa atribuída, ou seja, morte dita natural. Foi rapidamente enterrada. A poucas pessoas foi consentido estarem no seu funeral. Todos os familiares próximos tinham morrido há mais de três décadas.Jeanne Calment manteve uma vida bastante ativa para a idade. Praticou esgrima até aos 85 anos e deu os seus passeios na sua bicicleta até os 100. Deixou de fumar aos 120, depois de ter problemas em levar os cigarros à boca devido a catarata. Desde os 21 anos fumava dois cigarros diários. Viveu por sua própria conta até um pouco antes de completar 110 anos, quando tomou a decisão de se mudar para uma casa de repouso depois de um acidente na cozinha e que originou um pequeno incêndio em seu apartamento. Entretanto, Jeanne Calment estava em boa forma e era capaz de caminhar até que fraturou o fémur aos 114 anos e 11 meses, o que necessitou de uma cirurgia. Depois dessa operação, precisou utilizar uma cadeira de rodas. Pouco antes de fazer 116, adoeceu de gripe, mas conseguiu recuperar. Com 119 anos pesava 45 kg. Atribuía o segredo da sua longevidade e o seu estado saudável ao azeite, que utilizava em todos os seus alimentos, para além de um cálice de vinho do Porto diário e muitas pastas de chocolate.
Os cientistas da longevidade concordam que alongar significativamente a vida sem um bem-estar sustentado não faz sentido. Mas incrementar a vitalidade na velhice é valioso independentemente de ganhos no tempo máximo de vida. À medida que os avanços médicos e sociais vão ganhando a guerra às doenças, a vida vai-se prolongando cada vez mais, e por isso o número de pessoas com vidas excecionalmente longas tem aumentado acentuadamente. As Nações Unidas estimam que havia cerca de 95 mil pessoas com cem ou mais anos em 1990. Em 2015 havia cerca de 450 mil. E se assim se mantiver a evolução como está, por volta de 2100 haverá 25 milhões. Mas uma coisa é o número de pessoas centenárias, outra coisa é a bater o recorde da pessoa mais velha do mundo. Seria de esperar que o recorde da vida mais longa também estivesse a aumentar. Porém, quase um quarto de século após a morte de Jeanne Calment, não se conhece ninguém que tenha igualado, muito menos ultrapassado, os seus 122 anos.
Sarah DeRemer Clark Knauss [Hazlenton, USA, 24/09/1880 – Allentown, 30/12/1999] foi outra supercentenária, tendo falecido aos 119 anos e 97 dias. Sarah é até à data a pessoa que atingiu mais idade na história dos Estados Unidos.
Kane Tanaka é a pessoa mais idosa viva, com 118 anos, residente em Fukuoka, no Japão.
As demógrafas Elisabetta Barbi da Universidade de Roma e Kenneth Wachter da Universidade da Califórnia, Berkeley, juntamente com outros colegas, examinaram as trajetórias de sobrevivência de quase 4000 italianos e concluíram que, embora o risco de morte aumentasse exponencialmente até aos 80 anos, nessa altura abrandava e acabava por atingir um patamar. Uma pessoa viva aos 105 anos tinha 50 por cento de probabilidades de viver até ao ano seguinte. O mesmo era verdade aos 106, 107, 108 e 109. Os resultados, escreveram os autores, “sugerem fortemente que a longevidade continua a aumentar com o tempo, e que um limite, se existe, ainda não foi atingido”.
A maioria dos investigadores da longevidade concordam que o envelhecimento, um conjunto de processos biológicos de dano e decadência que resultam na morte, não é um traço adaptativo formado pela seleção natural. É, sim, um subproduto do enfraquecimento do poder da seleção no decurso da vida de um organismo. A seleção atua mais fortemente em genes e traços que ajudam as criaturas a sobreviver na adolescência e a reproduzirem-se. Em muitas espécies, os poucos indivíduos que chegam à velhice são praticamente invisíveis à seleção natural, pois já não estão a transmitir os seus genes nem ajudam a criar a prole dos seus descendentes.
Não há nenhum relógio programado a contar dentro de nós. Não há uma data de validade exata e programada na nossa espécie, ao fim da qual a vida cesse. Há um momento em que o corpo simplesmente já não consegue aguentar para continuar indefinidamente. Avanços sociais e melhorias na saúde pública poderão continuar a aumentar a esperança de vida e a empurrar algumas mulheres bem para lá do recorde de Jeanne Calment. E digo mulheres, porque são as mulheres que duram mais que os homens. Porém, mesmo os cientistas da longevidade mais otimistas admitem que em algum momento todos esses ganhos ambientalmente induzidos embaterão nos limites da biologia humana. A não ser que o humano desumanize a sua própria biologia.
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