segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Kamala Harris




Parece que a notícias são boas quanto à probabilidade de Trump perder as próximas eleições, com o anúncio de Kamala Harris ter sido escolhida por Joe Biden para sua vice-presidente a concorrer às próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos. É claro que não deixa de ser curioso os articulistas darem muita importância ao perfil de mulher negra e de origem asiática. Pelos tempos que estamos a viver de recrudescimento do racismo e xenofobia, que é por assim dizer o barómetro da ascensão do fascismo e da extrema direita um pouco por todo o mundo, tal escolha reveste-se de extrema importância. 

O jornal Washington Post dá conta de outros países do continente americano e europeu onde políticos com raízes indianas chegaram ao poder, incluindo Portugal. Como sabemos, António Costa é filho de pai indiano. E Kamala Harris é filha de mãe indiana e pai jamaicano. Imigrantes nos Estados Unidos, conheceram-se na Universidade da Califórnia. A inspiradora história das suas origens tem suavizado, até certo ponto, escreve o Washington Post, a suspeição entre os progressistas norte-americanos em relação às posições políticas moderadas de Harris. Obama e Harris representam a democracia cosmopolita e internacial em que a maioria dos americanos aspira viver atualmente. Por outro lado há quem diga que ela não é suficientemente negra. Outros há que dirão que ela não é suficientemente indiana. Os olhos dos democratas e progressistas norte-americanos estão agora todos postos em Kamala Harris. "É importante estrategicamente ter laços fortes entre os Estados Unidos e a Índia", diz o democrata Ro Khanna, citado pelo Washington Post. "Mas é importante que esses laços assentem nos valores do pluralismo e da inclusão. É um momento histórico, independentemente de que lado do espetro político democrata estejamos ou a que partido pertençamos. Ter uma filha de imigrantes a poder tornar-se vice-presidente deve dar-nos grande esperança sobre a direção futura deste país", disse Khanna. Kamala Harris está certamente à esquerda de Joe Biden, um centrista, mas não se enquadra na ala esquerda radical do partido democrático; o que, a acontecer, limitaria as possibilidades de ser eleita. 

Advogada, tem uma longa carreira política, na qual se inclui ter sido procuradora do distrito de São Francisco, procuradora geral da Califórnia e senadora federal, o que projeta uma imagem de alguém para quem a lei e a ordem são valores importantes. Claro que tal não impediu Trump e os seus colaboradores de cobrirem Kamala Harris com uma chuva de insultos: "falsa, mentirosa, medíocre, hipócrita, de esquerda radical", etc. Nada de novo a acrescentar ao estilo de Trump quando fala de adversários políticos, apenas reduz ainda mais a credibilidade dos ataques verbais a Kamala Harris. Kamala Harris censurou Joe Biden por, no passado, ter colaborado com senadores racistas. Mas quando Kamala Harris desistiu da corrida, disse apoiar Joe Biden – e este, não sendo um político excecional, é uma pessoa decente, que não guarda rancores e por isso aceitou o seu apoio e a escolheu agora. A experiência de Kamala Harris, de 55 anos, também é um trunfo. Joe Biden, se ganhar a eleição, iniciará o mandato de presidente com 77 anos.

Kamala Harris participou ativamente nos protestos antirracistas das últimas semanas. Nascida em Oakland, Califórnia, formou-se na Howard University e na Hastings College of the Law. Cresceu em Berkeley, com sua irmã mais nova, Maya Harris. Quando criança, Harris viveu brevemente na Milvia Street no centro de Berkeley, e então a sua família se mudou para o andar superior de um duplex em Bancroft Way em West Berkeley, uma área frequentemente chamada de "planícies", que tinha uma população negra significativa. Harris cresceu frequentando uma igreja Batista Negra, e um tempo hindu. Ela e sua irmã de vez em quando iam visitar a família de sua mãe em Madras, hoje Chennai. Ela também visitou a família de seu pai na Jamaica. Seus pais se divorciaram quando ela tinha sete anos. E quando ia visitar com airmã o pai em Palo Alto, os filhos dos vizinhos não podiam brincar com elas porque eram negras. Aos 12 anos foi com a mãe para Montreal, onde tinha aceitado um lugar de investigadora na área do cancro, no Hospital da Universidade de McGill. Harris voltou para a Califórnia para estudar direito na Universidade. Formou-se em 1989, tendo sido admitida na Ordem dos Advogados da Califórnia em junho de 1990.

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