segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Um passeio pelo Porto



Logo pela manhã, viajas de Braga até ao Porto de comboio para entrar na cidade pela Estação de São Bento. És um homem do Norte, sobes a rua 31 de janeiro até à rua de Santa Catarina, nº 112, para ires tomar um cimbalino ao Café Majestic.


O Café Majestic é um café histórico, café tertúlia, com uma arquitetura de época – Arte Nova, inaugurado em 17 de dezembro de 1921, com o nome “Elite”. No ano seguinte mudaria de nome para Majestic, mais ao tom do chic parisiense. Nas classificações internacionais que há agora, está em 6º lugar. A imponente fachada em mármore, adornada com aspetos vegetalistas de formas sinuosas, reflete o bom estilo decorativo da altura. Um trio de elegantes colunas marca a frontaria, limitada por uma secção retangular, rasgada em vidro. No topo um frontão coroa a composição com as iniciais do Majestic. A simetria curvilínea das molduras em madeira e os pormenores decorativos cativam a observação. Grandes espelhos riscados pela idade, intercalados por candeeiros em metal trabalhado, delimitam as paredes num inteligente jogo óptico de amplitude, que lhe dá uma dimensão maior que a real.

Na inauguração esteve lá Gago Coutinho. Depois passaram a ser frequentadores residentes: Teixeira de Pascoaes, José Régio, António Nobre, Leonardo Coimbra, e mais tarde os da Escola de Belas Artes do Porto. A partir da década de 1960, a transformação do ritmo de vida provocou o declínio destes estabelecimentos e o Majestic não escapou a essa sorte até aos primeiros anos da década de 1980. O processo de recuperação, apesar de longo, voltou a trazer aquele esplendor à luz do dia em 1994. 


Reconfortados do café, vamos agora visitar a Livraria Lello, situada na rua das Carmelitas, 144, perto da Igreja dos Clérigos. É também uma referência internacional, mas esta já tem ocupado o 1º lugar nesses rankings que se fazem todos os anos e que aparecem nos guias de viagens. A empresa remonta à fundação da "Livraria Internacional de Ernesto Chardron", em 1869, na rua dos Clérigos, n.º 96-98, no Porto. Antigo empregado da Livraria Moré, o cidadão francês Ernesto Chardron alcançou projeção como editor, sendo o primeiro a publicar grande parte das obras de Camilo Castelo Branco e outras de relevo na época, como o Tesouro da Literatura Portuguesa, de Frei Domingos Vieira. Após o falecimento do fundador, aos 45 anos de idade, a casa-editora foi vendida à firma "Lugan & Genelioux, Sucessores" que, pouco depois, ficou com Mathieux Lugan como seu único proprietário. Em 1891, a Livraria Chardron adquiriu os fundos de três casas livreiras do Porto, pertencentes a A. R. da Cruz Coutinho, Francisco Gomes da Fonseca e Paulo Podestá. Em 1881 José Pinto de Sousa Lello havia aberto um estabelecimento, nos números 18-20 da rua do Almada, dedicando-se ao comércio e edição de livros. E foi a 30 de junho de 1894 que Mathieux Lugan vendeu a antiga Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello que, associado ao seu irmão António Lello, manteve a Chardron com a razão social de "Sociedade José Pinto Sousa Lello & Irmão". Em 1898, entrou para a nova sociedade o fundo bibliográfico da Livraria Lemos & C.ª, fundada pelos irmãos Maximiliano e Manuel de Lemos. 


Com projeto do engenheiro Francisco Xavier Esteves, no dia 13 de janeiro de 1906 inaugurou-se o novo edifício da Livraria Lello, no número 144 da rua das Carmelitas, causando grande impacto no meio cultural da época. De entre as diversas figuras presentes na inauguração, encontrava-se Guerra Junqueiro, José Leite de Vasconcelos e Afonso Costa. 


Em 30 de julho de 2016, foi concluída a primeira fase do restauro que incluiu a fachada, o telhado e o vitral interior. A vidraça de oito metros de comprimento por 3,5 metros de largura, composta por 55 painéis de vidro e da autoria do arquiteto holandês Gerardus Samuel van Krieken, foi desmontada pela primeira vez desde a sua existência. Foi alvo de limpeza, restauro e correção de danos oferecendo agora uma luminosidade há muito esquecida. Os arcos quebrados apoiam-se nos pilares em que, sob baldaquinos rendilhados, avultam os bustos de Antero de Quental, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro. Os tetos trabalhados, o grande vitral que ostenta o monograma e a divisa da livraria "Decus in Labore" e a escadaria de grandes dimensões, de acesso ao primeiro piso, são as marcas mais significativas da livraria.

Depois de uma série de circulações de nomes da família Lello à frente da livraria durante todo o século XX, a partir de 1995, o estabelecimento voltou a designar-se simplesmente "Livraria Lello". Com o objetivo de se adaptar aos tempos presentes, em 1995, o serviço foi atualizado e informatizado, o interior da livraria foi restaurado, tendo também sido criado um espaço de galeria de arte e tertúlia, que se afirmou como um importante polo cultural da cidade do Porto. A partir de 23 julho de 2015 a entrada na livraria passou a estar sujeita a um pagamento inicial, descontado na compra de um livro. O pagamento deste valor destinou-se a conter o número elevado de turistas e também a custear obras de conservação e restauro. Em 2016, a livraria foi visitada por mais de um milhão de pessoas, o que perfaz uma média de quase três mil visitas diárias. Dos visitantes 40% foram espanhóis, 15,9% franceses, 15,2% portugueses. Seguem-se os brasileiros (6,6%), os alemães (4,6%) e os norte-americanos (3,1%). 


A partir daqui vamos descer à Ribeira, passando pelo Jardim da Cordoaria, e fazer uma breve visita ao Palácio da Bolsa e à Igreja de São Francisco. O Jardim de João Chagas, popularmente conhecido como Jardim da Cordoaria, localiza-se no Campo dos Mártires da Pátria. O Jardim encontra-se nas proximidades da Torre dos Clérigos, do Centro Português de Fotografia, do Café “Piolho”, e do Hospital de Santo António. O Jardim foi fundado pelo Visconde de Vilar d’Allen em 1865, que em 1941 sofreu muito da sua aparência inicial de jardim romântico, devido a um ciclone. 


Na sequência das obras de remodelação urbana da Capital Europeia da Cultura Porto 2001, o jardim foi alvo de uma intervenção coordenada pelo arquiteto Camilo Cortesão. Esta obra foi muito contestada por algumas personalidades e associações do Porto pois implicou uma grande modificação do espaço onde se encontram esculturas: "Rapto de Ganimedes" (1898); "Flora" (1904); “Ramalho Ortigão” (1909); “António Nobre” (1926); e "Treze a rir uns dos outros" (2001), de Juan Muñoz. 


De resto, os ingleses viviam no bairro ocidental, que crescia para Massarelos, Vilar e Lordelo, em quintinhas ou casas ajardinadas, quase sempre alugadas. Já para os lados da Velha Universidade e o Hospital de Santo António, veem-se estendais de roupa de cama e de mesa por trás da torre dos Clérigos, ou mesmo ao lado do Café Piolho, mesmo perto do edifício onde antigamente era a Academia e a Escola Médico-Cirúrgica. Era precisamente em frente à porta comum da Academia que ficava o Jardim da Cordoaria que tendia a substituir como Passeio Público, o das Virtudes. 


O Palácio da Bolsa, ou Palácio da Associação Comercial do Porto, começou a ser construído em outubro de 1842, em virtude do encerramento da Casa da Bolsa do Comércio, o que obrigou temporariamente os comerciantes portuenses a discutirem os seus negócios na Rua dos Ingleses, em pleno ar livre. Com uma mistura de estilos arquitetónicos o edifício apresenta em todo o seu esplendor, traços do neoclássico oitocentista, arquitetura toscana, assim como o neo-paladiano inglês. 


O Salão Árabe detém o maior destaque de todas as salas do palácio devido, como o nome indica, a estuques do século XIX legendados a ouro com caracteres arábicos que preenchem as paredes e teto da sala. É neste salão que tem lugar as homenagens a chefes-de-estado que visitam a cidade. Na Sala dos Retratos encontra-se uma famosa mesa do entalhador Zeferino José Pinto que levou três anos a ser construída, revelando-se um "exemplar altamente qualificado em todas as exposições internacionais a que concorreu". 


A Igreja de São Francisco é uma igreja gótica. A construção iniciou-se no século XIV como parte de um convento Franciscano. É notável pelo seu conjunto de talha dourada barroca do século XVIII. Anexa à sua entrada frontal, situa-se a Igreja da Venerável Ordem Terceira de São Francisco. Os frades Franciscanos estabeleceram-se no Porto no início do século XIII. Iniciadas as obras em 1383, impulsionadas por decreto de Dom Fernando, especial protector dos Franciscanos, foram concluídas em 1410. O modelo planimétrico adoptado é similar ao já ensaiado em inúmeros templos portugueses a partir do gótico mendicante do século XII. Uma característica regional importante é a presença de motivos lacrimais decorados com esferas na parte superior da capela-mor, de influência galega. A estrutura da igreja não sofreu alterações significativas, sendo o melhor exemplo de arquitetura gótica no Porto. A principal campanha artística foi levada a cabo na primeira metade do século XVIII, quando a maior parte das superfícies interiores, incluindo paredes, colunas, capelas laterais e telhado, foram revestidas com talha dourada barroca.



Na Ribeira propriamente dita, podemos ver as lanchas, os “ferries”, que vão subir o Douro com turistas. Os barcos rabelos servem para colorir a paisagem. E os turistas, ou os pintores dão um gosto especial às “vistinhas”. Se estiver um dia limpo de sol, até pode ser que a cor a mais estrague um "porto sentido" nas caves ali do outro lado, em Gaia, que tem fama. Em certos dias de nevoeiro o Porto é escuro e taciturno, como tem de ser. 


Situada bem no centro histórico do Porto, a Praça da Ribeira, junto ao Cais com o mesmo nome, é das praças mais antigas da cidade, já mencionada em cartas régias em 1389, embora com uma traça diferente da de hoje em dia. Foi nesta zona da Ribeira e na sua ligação comercial com o Rio Douro que a cidade começou o seu franco desenvolvimento e se voltou para o rio. Daqui se tinha acesso à famigerada Ponte das Barcas, onde em 1809 mais de 4 mil pessoas morreram, aquando de uma investida das tropas francesas. Hoje, um baixo-relevo em bronze atesta este momento.


No Cais é possível observar-se a existência de uma porta denominada de Postigo do Carvão. Das 18 portas ou postigos da Muralha Fernandina construída no século XIV, este é o único que se manteve até aos nossos dias. As ruas estreitas e sinuosas, com vista para Gaia, as arcadas sombrias, casas típicas com fachadas coloridas de outros tempos, a sua arquitetura urbano-ribeirinha, rodeada de cafés e lojas fazem desta uma das principais zonas turísticas da cidade. Animação diurna e noturna, e um cosmopolita movimento conferem ao Cais da Ribeira e a toda a zona envolvente um ambiente único de história, tradição, animação e beleza. 


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