quinta-feira, 11 de julho de 2024

As rivalidades entre a Índia e o Paquistão



As tensões entre a Índia e o Paquistão aumentaram após a morte de Nehru, especialmente durante os anos 1970. Essas rivalidades foram influenciadas por uma série de questões, incluindo disputas territoriais, como a questão da Caxemira, e diferenças políticas e culturais entre os dois países.




A partição da Índia: Punjab e Bengala divididas 
pela Linha Radcliffe

Na verdade, o Paquistão não estava dividido geograficamente da maneira como acabou por acontecer, dividido em quatro províncias principais - Punjab, Sind, Khyber Pakhtunkhwa e Baluchistão - além de Islamabad (territórios da capital), e das áreas tribais. Bengala Oriental, atualmente Bangladesh, sseparou-se do Paquistão, em 1971, após a guerra de independência. A distância entre o Punjab e Bengala é realmente grande, apesar de estarem politicamente unidos fazendo parte do Paquistão. Mas o que é certo é que o ditador militar paquistanês Yahya Khan lançou as suas tropas em Daca metralhando estudantes.

Durante a Guerra de Independência de Bangladesh em 1971, o ditador militar paquistanês Yahya Khan ordenou uma brutal repressão em Daca, a capital da então província de Bengala Oriental. O exército paquistanês lançou uma operação militar em 25 de março de 1971, visando esmagar o movimento de independência de Bengala Oriental. Esta operação, conhecida como "Operação Searchlight", resultou em inúmeras atrocidades, incluindo ataques a estudantes e civis desarmados. Esses eventos marcaram o início de uma guerra de nove meses que levou à independência de Bangladesh. Por seu lado, a Índia, tinha Indira Gandhi como líder, que apoiou os movimentos de independência.

Indira Gandhi foi a líder da Índia durante a Guerra de Independência de Bangladesh em 1971. Sob sua liderança, a Índia desempenhou um papel crucial no apoio aos movimentos de independência em Bengala Oriental. A Índia forneceu refúgio a milhões de refugiados bengalis que fugiram da violência no leste do Paquistão. Além disso, as forças armadas indianas intervieram diretamente no conflito em favor dos separatistas de Bangladesh, o que contribuiu significativamente para a vitória final e a independência de Bangladesh. Indira Gandhi emergiu como uma figura proeminente não apenas na Índia, mas também na política internacional, após o sucesso da intervenção indiana na guerra.

Indira libertou Daca e atacou o Paquistão durante 13 dias. E ganhou a guerra. Durante a Guerra de Independência de Bangladesh em 1971, Indira Gandhi autorizou a Operação Trident, ataques navais indianos contra a marinha paquistanesa. E a Operação Python, uma série de ataques aéreos indianos contra bases aéreas paquistanesas. Essas operações tiveram um papel significativo na derrota do Paquistão. Daí, resultou que o Paquistão se rendeu, levando à libertação de Daca e à independência de Bangladesh. 

O Paquistão era apoiado pela China e pelos Estados Unidos. 
A China era um aliado próximo do Paquistão na época, e se opunha à intervenção indiana no conflito. Os Estados Unidos também apoiaram o governo paquistanês, embora tenham mantido uma posição mais neutra em relação ao conflito em si. No entanto, o apoio internacional ao Paquistão não foi suficiente. A intervenção indiana teve sucesso, com a subsequente derrota do Paquistão. Richard Nixon e Henry Kissinger acompanharam de perto os os acontecimentos. Embora os Estados Unidos tenham mantido uma relação próxima com o Paquistão na época, fornecendo apoio diplomático e militar ao governo paquistanês, Nixon e Kissinger enfrentaram desafios diplomáticos durante o conflito. 

O apoio dos Estados Unidos ao Paquistão durante a guerra de 1971 foi amplamente criticado pela comunidade internacional, devido às atrocidades cometidas pelo exército paquistanês em Bengala Oriental. Após a derrota do Paquistão, e a subsequente independência de Bangladesh, Nixon e Kissinger tiveram que recalibrar a política dos Estados Unidos na região. Embora pudessem ter sentido pesar pela perda do Paquistão Oriental (Bangladesh) e pelo desenrolar dos acontecimentos, é difícil afirmar com certeza os seus verdadeiros sentimentos. As decisões políticas são frequentemente influenciadas por uma variedade de fatores estratégicos e políticos que ultrapassam as íntimas avaliações pessoais.

O Paquistão ressentiu-se da derrota na guera da independência do Bangladesh. Uma das consequências foi o poder ter passado para as mãos de Ali Bhutto, ligado à família Sindh. Após a derrota na Guerra de Independência de Bangladesh em 1971, o Paquistão passou por uma mudança significativa no poder político. O presidente paquistanês Yahya Khan teve de renunciar. O poder passou para Zulfikar Ali Bhutto, líder do Partido Popular do Paquistão (PPP). Bhutto, um político carismático e influente, foi eleito como presidente em 1971 e, posteriormente, serviu como primeiro-ministro após a promulgação de uma nova constituição em 1973. Ele era, de facto, da província de Sindh, onde a família tinha raízes sociais profundas. Bhutto implementou várias políticas domésticas e externas durante o seu mandato, buscando reconstruir o país após a guerra e consolidar o poder.



Ali Bhutto, apesar de ser um político formado em Oxford e Berkeley, não deixou de querer a bomba atómica. Zulfikar Ali Bhutto foi um defensor do programa de armas nucleares do Paquistão. Bhutto articulou a política de "insegurança existencial" do Paquistão, argumentando que o país enfrentava ameaças significativas de seus vizinhos, e que a posse de armas nucleares era necessária para garantir a segurança nacional do Paquistão. Bhutto é famoso por sua frase: "Vamos comer a relva, mas vamos obter armas nucleares." Ele iniciou o programa nuclear paquistanês, que eventualmente levou à primeira detonação nuclear do país em 1998.

Mas Indira não se ficou atrás com a bomba atómica. Sob a liderança de Indira Gandhi, a Índia também desenvolveu o seu próprio programa nuclear. A Índia realizou a sua primeira detonação nuclear em 1974, num teste conhecido como "Operação Sorriso". Indira Gandhi, assim como Bhutto, considerava o desenvolvimento de armas nucleares como um meio de garantir a segurança nacional e afirmar a posição da Índia no cenário internacional. A detonação nuclear de 1974 tornou a Índia o sexto país do mundo a possuir capacidades nucleares. Este evento teve implicações significativas nas relações indo-paquistanesas e na dinâmica geopolítica da região.



Discurso de Sheikh Mujibur Rahman, em Daca
10 de janeiro 1972

Entretanto, no Bangladesh, o xeque Mujibur era assassinado em 1975. Em 15 de agosto de 1975, o presidente do Bangladesh, Sheikh Mujibur Rahman, juntamente com a maioria de sua família, foi assassinado num golpe militar. O golpe foi liderado por oficiais do exército e foi seguido por um período de instabilidade política no Bangladesh. Este evento teve um impacto devastador no país, causando agitação política e tumulto social. Sheikh Mujibur Rahman, popularmente conhecido como Sheikh Mujib, havia sido uma figura proeminente na luta pela independência de Bangladesh e desempenhou um papel crucial na fundação do país. Seu assassinato marcou um ponto de viragem na história do Bangladesh e teve repercussões duradouras na política e na sociedade do país.

Ao Sheikh Mujibur Rahman sucedeu-lhe a sua filha Hasina que governou autocraticamente até à década de 2020. A bem dizer, após o assassinato de Sheikh Mujibur Rahman, sua filha Sheikh Hasina Wazed, conhecida simplesmente como Sheikh Hasina, assumiu a liderança da Liga Awami, o partido político fundado por seu pai. No entanto, ela não assumiu imediatamente o poder político, pois o Bangladesh passou por períodos de regimes militares e instabilidade política nos anos seguintes ao assassinato de Sheikh Mujibur Rahman. Sheikh Hasina eventualmente se tornou primeira-ministra do Bangladesh em 1996, após vencer as eleições gerais. 


Hasina com o primeiro-ministro britânico David Cameron
 Downing Street janeiro de 2011

Hasina foi reeleita várias vezes e serviu como primeira-ministra por vários mandatos não consecutivos. Embora tenha sido criticada por algumas práticas políticas, seu governo foi responsável por algumas melhorias significativas no desenvolvimento económico e social do Bangladesh, incluindo avanços na redução da pobreza, melhoria da infraestrutura e expansão do setor da manufatura dos texteis. Enquanto alguns críticos acusam o governo de Hasina de autoritarismo e de restringir a liberdade de imprensa e os direitos políticos, outros destacam os esforços do governo em promover o desenvolvimento e a estabilidade do país. Como em muitos contextos políticos, a situação é multifacetada e sujeita a interpretações variadas.

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