domingo, 14 de julho de 2024

Deng Xiaoping não acreditava que Gorbachev viesse a ter algum sucesso com as suas novas ideias




Mikhail Gorbachev com  Deng Xiaoping no Grande Salão do Povo, em Pequim
maio de 1989

Gorbachev era para Deng Xiaoping a lição paradigmática sobre a contradição do poder: tanto pior quanto mais humano. Mikhail Gorbachev era realmente um exemplo da contradição inerente ao exercício do poder. Embora ele tenha sido amplamente reconhecido por suas tentativas de reformar e humanizar o sistema soviético, essas mesmas ações acabaram minando o próprio poder que ele tentava exercer. À medida que Gorbachev buscava abrir o sistema e dar voz ao povo, mais ele perdia o controlo da situação, vendo à sua frente o império a desmoronar-se.

O poder pode ser paradoxal, e que muitas vezes aqueles que tentam exercê-lo de forma mais humanitária e democrática podem acabar enfrentando desafios significativos e até mesmo o colapso de seus regimes. Gorbachev também tinha pouco apreço por 
Deng Xiaoping. Mikhail Gorbachev e Deng Xiaoping, líder da China na época, não compartilhavam necessariamente a mesma visão política ou económica. Enquanto Gorbachev buscava reformar o sistema soviético por meio de políticas de Glasnost e Perestroika, Deng Xiaoping liderava a China num período de reforma económica conhecida como "Reforma e Abertura".

Deng Xiaoping era conhecido por sua abordagem pragmática e cautelosa em relação à mudança política, e é possível que ele tenha sido cético em relação ao potencial sucesso das reformas de Gorbachev. No entanto, é importante notar que as experiências da União Soviética e da China durante esse período foram muito diferentes, e as condições políticas, económicas e sociais em cada país eram únicas. A ideia de Deng era: se o poder não for exercido com violência, dura pouco. Essa afirmação reflete a abordagem pragmática de Deng Xiaoping em relação ao exercício do poder. Ele acreditava que, para manter a estabilidade e o controlo, o governo precisava ser capaz de exercer autoridade quando necessário. No entanto, Deng também reconhecia a importância de combinar o poder com uma abordagem mais flexível e adaptável às mudanças políticas e sociais.

Deng Xiaoping ficou conhecido por sua política de "um país, dois sistemas", que permitia certa autonomia para Hong Kong e Macau após seu retorno à soberania chinesa, bem como para Taiwan, se reunir com a China sob condições aceitáveis para ambas as partes. Essa abordagem demonstra uma compreensão da necessidade de equilibrar o poder com a negociação e a diplomacia, em vez de depender exclusivamente da força bruta.

Deng Xiaoping demonstrou uma abordagem firme e, em última análise, violenta em relação aos protestos na Praça Tiananmen em 1989. Embora Deng tenha promovido reformas económicas significativas na China, ele também acreditava na necessidade de manter o controlo político e a estabilidade social a qualquer custo. Os protestos pró-democracia na Praça Tiananmen representaram um desafio direto ao controlo do Partido Comunista Chinês, e Deng Xiaoping e outros líderes do partido consideraram esses protestos uma ameaça à estabilidade social e ao poder do partido. Como resultado, o governo chinês reprimiu violentamente os protestos em 4 de junho de 1989, resultando em centenas, senão milhares, de mortes. Esses eventos na Praça Tiananmen destacam a realidade de que, apesar das reformas económicas e da abertura da China ao mundo, o governo chinês permaneceu comprometido com a manutenção do controlo político e da estabilidade interna, mesmo que isso exigisse o uso da força contra os próprios cidadãos.

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