Os propósitos do Infante Dom Henrique com as expedições ao golfo da Guiné foram multifacetados e refletem uma combinação de objetivos económicos, políticos, religiosos e científicos. Dom Henrique estava interessado em encontrar novas rotas comerciais e estabelecer ligações diretas com as fontes de ouro e outras riquezas na África Ocidental. As expedições visavam abrir novos mercados e assegurar o monopólio português sobre o comércio de especiarias, ouro, marfim e escravos. As viagens tinham o objetivo de expandir o domínio e a influência portuguesa além das fronteiras da Europa. Estabelecer postos avançados e fortalezas ao longo da costa africana ajudaria Portugal a consolidar um poder marítimo inigualável, uma vez que alargaria uma rede de bases para a expansão de futuras expedições.
A causa da Evangelização Cristã era de um interesse primordial, atendendo aos apoios implícitos de Roma, aspeto que aliás vinha de pactos anteriores consolidados pela Reconquista rcentemente consolidada na zona dos Algarves, onde o Infante, não por acaso, instaou a sua Escola em Sagres. Dom Henrique, asim como boa parte da nobreza portuguesa, tinha fortes motovos para desejar converter os povos africanos ao cristianismo, se lembrarmos que já nessa altura todo o Norte de África estava nas mãos do Islão. Contornar o Bloqueio Muçulmano era uma motivação estratégica importante. Era encontrar uma rota marítima para a Ásia que evitasse o controlo muçulmano das rotas terrestres e marítimas tradicionais pelo Médio Oriente e pelo Mar Vermelho.
Mas é claro, não só de espírito vive o homem, e as expedições também eram acicatadas por outras necesidades humanas que eram colmatadas pelo negócio, pelo comércio. E como a curiosidade puxa o engenho, o caráter exploratório haveria de contibuir com alguma coisa para o progresso científico. Dom Henrique estava interessado em aumentar o conhecimento sobre a geografia do mundo desconhecido, mapeando novas terras e melhorando as técnicas de navegação. E para isso não tinha outro sítio melhor situado que não fosse Sagres, onde ele montou a sua Escola onde aportariam os melhores geógrafos e cartógrafos genoveses que já se haviam instalado há algum tempo nas ilhas, sobretudo as maiorquinas. As informações que essas figuras possuíam, ligadas à navegação e à arte de marear, era de todo o interesse para o projeto de Henrique que gostava de se dar pelo epíteto de Navegador. Eram fundamentais para o desenvolvimento de novos mapas e cartas náuticas.
O apoio contínuo da coroa portuguesa aos empreendimentos
marítimos, incluindo recursos financeiros e concessões, indica um compromisso
estatal que vai além do mero oportunismo. A organização de viagens sucessivas e
o estabelecimento de feitorias ao longo da costa africana são exemplos de planeamento
estratégico. Os avanços em navegação e cartografia, como o desenvolvimento da
caravela e a criação de mapas mais precisos, refletem um esforço sistemático
para melhorar a capacidade de exploração e comércio marítimo. Os objetivos de
longo prazo, como encontrar uma rota marítima para a Índia e estabelecer um
império comercial, indicam que havia uma visão estratégica subjacente. A
conquista de Ceuta em 1415, por exemplo, pode ser vista como um primeiro passo
nesse plano de expansão.
Embora as circunstâncias e oportunidades possam ter
influenciado a trajetória dos Descobrimentos, a combinação de esforços
sustentados em várias frentes sugere que havia uma base estratégica
significativa. Essa visão equilibrada reconhece tanto os elementos de
oportunidade quanto o planeamento consciente e a visão de longo prazo dos
líderes portugueses da época. A ocupação da ilha da Madeira em 1419 é um bom
exemplo de como os Descobrimentos Portugueses foram acompanhados de planeamento
estratégico, ao contrário da visão simplista de que tudo ocorreu sem uma
estratégia clara. A colonização da Madeira apresenta vários aspectos que
indicam um propósito bem definido. A colonização da Madeira também serviu como
um "laboratório" para testar e aprimorar técnicas de navegação,
construção naval e administração colonial. As lições aprendidas ali seriam
aplicadas em empreendimentos futuros mais ambiciosos.
E o motivo religioso não era despiciendo. A combinação de
motivações religiosas (propagação do cristianismo) e comerciais (busca de novas
rotas e recursos) revela um propósito claro. A tentativa de contornar o
monopólio muçulmano das rotas comerciais terrestres para alcançar as riquezas
do Oriente foi um objetivo estratégico bem definido.
A posse da Madeira ajudou a garantir as rotas marítimas e
proteger os navios portugueses dos piratas e de outras ameaças. Isso foi
crucial para o desenvolvimento do comércio marítimo e para o estabelecimento de
uma rede de postos avançados que sustentariam a expansão portuguesa. A colonização da Madeira contou com o apoio e
financiamento da coroa portuguesa, que viu nisso uma oportunidade para aumentar
a influência e as riquezas do reino. Esse investimento indica que havia um
plano deliberado para utilizar a ilha como um ativo estratégico e económico.

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