sexta-feira, 5 de julho de 2024

Garcia II do Congo

 


Em 1641, Garcia II do Congo liderou uma revolta contra os colonizadores portugueses, expulsando-os temporariamente da região. Essa revolta foi parte dos esforços dos líderes locais para resistir à colonização e preservar a autonomia do Reino do Congo. "Manikongo" era o título dado aos monarcas do Reino do Congo, uma região na África Central que hoje faz parte da República Democrática do Congo e de outros países vizinhos. O Manikongo era o líder supremo do reino e desempenhava um papel crucial na governança política, económica e social da região.

Garcia II foi o segundo rei da casa de Quinzala e poucos meses após subir ao trono, Luanda foi invadida e dominada pelos holandeses no contexto da Guerra dos Oitenta Anos. Rapidamente fez uma aliança com os holandeses, descartando a antiga aliança política e religiosa com os portugueses. Durante o início de seu reinado, o conde D. Daniel da Silva de Soyo declarou a separação do condado do resto do reino. Com isso deu-se início à Primeira Guerra Civil do Reino do Congo, 1641-1645, e o rei reconhece a soberania e independência de Soyo.

Em 15 de agosto de 1648, os portugueses reconquistam Luanda e tomam conhecimento da aliança dos invasores feita com o D. Garcia II. Os portugueses quase declararam guerra ao Congo, mas logo uma conferência de paz ocorre e é seguida de um acordo pouco tempo depois. No acordo o rei teve de ceder a soberania da Ilha de Luanda aos portugueses, ainda tendo que assinar um tratado onde o mesmo se comprometia a não realizar alianças e diplomacia com os Países Baixos e a Espanha, já que na época os reinos de Portugal e Espanha estavam em guerra. Outro comprometimento seria de ceder as montanhas do reino para a exploração portuguesa de metais preciosos, como prata e cobre.

Em 1650 o papa Gregório XV envia um grupo de padres capuchinhos para realizar missões no Congo. Na mesma época o rei entra numa disputa com os nobres e o Conselho Real, já que a monarquia congolesa ainda dependia de um conselho de nobres e eleitores do rei. Garcia tentou obter apoio de Roma para a sua campanha de tonar hereditária a monarquia e exilou o seu sobrinho e herdeiro Pedro de Sundi. Mesmo assim, todos os seus esforços foram em vão. Em 1654, o rei entra em conflito com os capuchinhos, já que o padre italiano Jacinto de Vetralla criticou o rei e afirmou que ele tinha "má conduta" e era adepto de "crendices tradicionais", coisa que o irritou profundamente. O manicongo acusou os capuchinhos ao governo de Luanda de traição.

Garcia teve muitas decisões tirânicas em seu reinado, pois odiava os portugueses e todos que declarassem apoio aos mesmos eram executados, inclusive seu filho e herdeiro, D. Afonso, que foi condenado à morte por supostamente conspirar contra o pai com o apoio lusitano. O rei também chegou a uma quase guerra com os portugueses devido ao não cumprimento da clausula assinada em 1649 que cedia as montanhas do reino à exploração. Garcia II do Congo faleceu em 1660 com 45 anos, sendo sucedido por seu sobrinho AntónioI.

Durante o século XVII, os holandeses estiveram também envolvidos em conflito com os portugueses no Brasil, em uma série de guerras conhecidas como as Invasões Holandesas. Esses conflitos resultaram na ocupação temporária de partes do nordeste brasileiro pelos holandeses, principalmente nas regiões de Pernambuco e Bahia. As batalhas entre portugueses e holandeses no Brasil foram parte do contexto mais amplo das disputas coloniais europeias pelo controlo de territórios e recursos ultramarinos. Garcia II do Congo havia sido educado por missionários portugueses, o que provavelmente teve uma influência significativa na sua cultura. A influência cultural dos colonizadores europeus acabava por gerar nestes líderes um relacionamento complexo e ambivalente com os colonizadores.

Daí que não seja de estranhar que Garcia II do Congo se tenha envolvido no comércio de escravos, assim como muitos outros líderes africanos da época. O comércio de escravos era uma prática comum na região e era muitas vezes incentivado pelos próprios colonizadores europeus, que lucravam com essa atividade. Apesar de algumas tentativas de resistência à escravidão por parte de líderes africanos, muitos deles acabavam participando do comércio de escravos devido às pressões económicas e políticas da época.

Durante o período colonial muitos colonos portugueses casaram-se com mulheres africanas, especialmente em regiões onde havia uma presença significativa de colonos portugueses e interações com comunidades locais. Esses casamentos frequentemente resultavam em famílias mestiças, e as mulheres africanas muitas vezes desempenhavam papéis importantes como esposas, mães e até mesmo como parceiras comerciais dos colonos portugueses. Essa prática também contribuiu para uma mistura cultural e étnica em algumas áreas colonizadas pelos portugueses. Sim, ao longo da história colonial em África, houve uma mistura de crenças e práticas religiosas entre os colonos portugueses e as populações africanas. Muitas vezes, isso resultou em uma sincretização de diferentes tradições religiosas, onde elementos do catolicismo eram combinados com crenças e práticas tradicionais africanas, como o vodu. Esse sincretismo religioso era uma forma de adaptar as crenças religiosas às realidades locais e muitas vezes servia como uma forma de resistência cultural contra a imposição da fé católica pelos colonizadores.


A escarificação era uma prática comum em muitas culturas africanas, incluindo aquelas influenciadas pela presença portuguesa. A escarificação envolve fazer cortes na pele e aplicar substâncias para criar cicatrizes decorativas ou simbólicas. Essa prática era realizada por uma variedade de razões, incluindo expressão cultural, identidade étnica, status social e beleza. Durante o período colonial, algumas comunidades adotaram e mantiveram essa tradição, mesmo em meio à influência cultural européia.

E os "pombeiros" eram os intermediários ou traficantes de escravos que operavam no interior de África durante o período do tráfico transatlântico de escravos. Eles eram frequentemente africanos locais que estabeleciam relações comerciais com os europeus e facilitavam a captura e o comércio de escravos, muitas vezes atuando como intermediários entre as comunidades africanas que capturavam os escravos e os comerciantes europeus que os compravam. Os pombeiros desempenhavam um papel central na cadeia de abastecimento do comércio de escravos e eram frequentemente motivados por incentivos financeiros fornecidos pelos comerciantes europeus.

O surgimento dos Jagas e dos Imbangalas teve um impacto significativo e muitas vezes devastador na região do Congo. Os Jagas e Imbangalas eram grupos guerreiros originários de outras regiões, como Angola, que invadiram o Congo e causaram estragos através de saques, destruição e escravização de pessoas. Suas invasões contribuíram para o enfraquecimento dos reinos africanos locais, incluindo o Congo, e desestabilizaram a região, levando ao colapso de estruturas políticas e sociais estabelecidas. Esses eventos foram parte do contexto mais amplo das mudanças políticas e sociais que ocorreram na África Central durante o período pré-colonial.

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