domingo, 21 de julho de 2024

A motivação para participar em marchas ou paradas



A participação de um homossexual em marchas de orgulho LGBT+ pode ser motivada tanto por razões individuais quanto grupais, e muitas vezes essas motivações se entrelaçam. Participar em marchas pode ser uma forma de afirmar e celebrar a sua própria identidade e orientação sexual em um ambiente acolhedor e afirmativo. Pode ser uma experiência que ajuda o indivíduo a sentir-se mais confiante e incluído.

Promove um sentimento de solidariedade e apoio mútuo, fortalecendo a coesão do grupo. As marchas são oportunidades para construir e reforçar laços dentro da comunidade. É comum que as razões individuais e grupais se sobreponham. Por exemplo, um indivíduo pode participar para afirmar a sua própria identidade (razão individual) enquanto também deseja apoiar a comunidade e lutar por direitos coletivos (razão grupal). As experiências pessoais de um indivíduo frequentemente se conectam com as experiências e desafios enfrentados pelo grupo, criando uma motivação mista para a participação.

Ao longo da evolução a cultura passou a evoluir de parceria com os genes de tal modo que traços que reforçassem a coesão de grupos tribais tinham valor adaptativo. E assim os instintos tribais foram-se reforçando ao ponto de nós adorarmos assinalar a pertença ao grupo. Daí não ser de admirar que cooperemos preferencialmente com os membros do nosso grupo independentemente de considerações de ordem moral racional que diga que não devíamos fazer isso por ser errado o que o nosso grupo está a fazer. Apesar de o grosso da natureza humana ter sido operada por seleção natural ao nível dos genes do indivíduo, há uma parte que nos últimos dez mil anos também foi moldada ao nível do grupo por força da cultura e do meio ambiente. E daí sermos indivíduos egoístas com um toque mais ou menos de altruísmo cuja percentagem em relação ao egoísmo tem uma variação circunstancial histórica.




A ontogénese do ser humano, ou seja, o desenvolvimento do indivíduo desde a concepção até à morte, está profundamente ligada ao grupo social em que ele se insere e à maneira como ele percebe e interage com o "estranho" ou "estrangeiro". Desde a infância, os seres humanos aprendem a se definir em relação aos outros. Essa definição em grupo é fundamental para o desenvolvimento da identidade pessoal e social. A convivência em grupo, com suas normas, valores e tradições, molda o comportamento e o pensamento do indivíduo, criando um sentido de pertencimento. No entanto, a presença do estranho ou do estrangeiro desempenha um papel crucial nesse processo. A interação com o que é diferente ou desconhecido desafia as normas e os valores estabelecidos, promovendo uma reflexão sobre a própria identidade e as próprias crenças. Essa interação pode gerar sentimentos variados, como curiosidade, medo, hostilidade ou admiração, mas é através dela que muitas vezes se reforça a coesão interna do grupo e se redefine a própria identidade. Portanto, a ontogénese do ser humano não ocorre de forma isolada, mas é um processo contínuo de construção em relação ao outro. A diferença com o estranho ou estrangeiro não apenas marca os limites do grupo, mas também promove o crescimento individual e coletivo ao instigar a reflexão e a adaptação a novas realidades.

Platão, na sua obra "A República", Livro II, põe Glaucon a narrar a história do "Anel de Giges". Glaucon utiliza essa narrativa para discutir a natureza da justiça e da moralidade humana. A história é a seguinte: Giges era um pastor que servia ao rei da Lídia. Um dia, após um terramoto, Giges descobriu uma caverna aberta na terra. Dentro dessa caverna, ele encontrou um cadáver que portava um anel de ouro. Giges pegou o anel e, mais tarde, descobriu por acaso que ao girá-lo em seu dedo, ele se tornava invisível. Com o poder da invisibilidade, Giges aproveitou-se da situação para cometer diversos atos injustos sem medo de ser descoberto ou punido. Ele seduziu a rainha, matou o rei e tomou o trono para si, governando a Lídia com o anel mágico.

Glaucon usa essa história para argumentar que a maioria das pessoas praticaria crimes se tivessem a garantia de não serem apanhadas. Ele sugere que as pessoas não praticam crimes não por uma inclinação natural, mas por medo das consequências e da punição. Assim, segundo Glaucon, a justiça é uma pura criação da sociedade enquanto tal, e não uma qualidade intrínseca do ser humano enquanto tal, enquanto entidade isolada. Ou seja não se trata de uma virtude intrínseca ao ser humano. É então quando Platão faz entrar em cena Sócrates.

Sócrates, refuta a perspectiva de Glaucon mais adiante na obra, defendendo que a justiça é uma virtude essencial e que uma vida justa é mais valiosa e satisfatória do que uma vida injusta, mesmo se esta última pudesse ser vivida sem punições. Portanto, já no tempo de Platão as pessoas se preocupavam muito com aquilo que estava mais certo, ou então, mutatis mutandis, o que era considerado errado não se devia fazer. Mas estas questões são as tais questões complexas que se arrastam até aos nossos dias sem uma conclusão definitva, porque tudo o que tem a ver com a subjetividade é complicado. Basta ver o que se passa nas diferentes sociedades. Por exemplo, os valores morais e culturais das sociedades asiáticas orientais são muito distintos dos ocidentais, de que faz parte o presente autor deste texto. Os Direitos Humanos não são entendidos de igual forma em toda a parte do mundo. E o mesmo se passa com a democracia. As instituições e sistemas de governo são moldados por contextos históricos específicos. A democracia liberal que prevalece na Europa é resultado de séculos de desenvolvimento histórico, cultural e político que pode não ser diretamente aplicável a outras regiões.

A pluralidade de perspetivas significa que diferentes modelos podem ter méritos e desvantagens. Por exemplo, a democracia liberal valoriza a liberdade individual e a participação política, enquanto outros sistemas podem enfatizar a estabilidade, a ordem social e o desenvolvimento económico. Sistemas políticos e sociais precisam ser adaptados às necessidades, condições e desejos específicos de suas populações. Um modelo que funciona bem em um contexto pode não ser eficaz em outro.

A interpretação e a implementação desses direitos podem variar. As avaliações de sistemas políticos muitas vezes consideram o bem-estar e a justiça que proporcionam aos seus cidadãos. Isso pode incluir considerações sobre liberdade, igualdade, prosperidade e segurança. O debate aberto e o diálogo entre diferentes culturas e sistemas políticos são cruciais para promover a compreensão mútua e a cooperação. A troca de ideias pode levar à melhoria de todos os sistemas envolvidos. As sociedades devem ter a capacidade de determinar seu próprio caminho de desenvolvimento político e social, respeitando os princípios de autodeterminação e soberania. Em suma, é importante reconhecer a complexidade e evitar julgamentos simplistas de "certo" ou "errado". Em vez disso, é mais produtivo considerar os méritos, desafios e contextos específicos de cada sistema, promovendo um diálogo respeitoso e construtivo que reconheça a diversidade e a multiplicidade de perspectivas humanas.

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