segunda-feira, 15 de julho de 2024

A Palestina após a Segunda Guerra Mundial


Atlee não proibiu a emigração de judeus britânicos para a Palestina com o objetivo de entregar a região a um Estado árabe. A política britânica em relação à Palestina após a Segunda Guerra Mundial foi complexa e influenciada por vários fatores, incluindo as tensões entre árabes e judeus na região, bem como considerações geopolíticas mais amplas. 
O que foi então que se passou para a Inglaterra ter deixado de apoiar os judeus na constituição de um Estado judaico independente? 

A mudança na política britânica em relação à criação de um Estado judaico independente na Palestina foi influenciada por vários fatores, incluindo pressões políticas e diplomáticas, bem como eventos regionais e globais. Alguns dos principais motivos tinham a ver com tensões entre árabes e judeus na Palestina. O aumento das tensões e dos conflitos entre as comunidades árabe e judaica na Palestina levou a uma revisão da política britânica. Os interesses geopolíticos britânicos na região mudaram ao longo do tempo, com considerações sobre o equilíbrio de poder no Médio Oriente na relação com outros países da região.

Esses fatores combinados levaram a uma mudança na postura britânica em relação à criação de um Estado judaico independente na Palestina. A 29 de Novembro de 1947 a ONU votou pela partição da Palestina em dois Estados: um árabe e outro judeu. Jerusalém seria uma zona internacional administrada pelas Nações Unidas. Esta resolução foi um marco significativo no caminho para a criação do Estado de Israel. No entanto, a resolução não foi aceite por todas as partes envolvidas, e isso levou a uma guerra entre árabes e judeus na região em 1948. David Ben-Gurion, líder da comunidade judaica na Palestina na época, aceitou o compromisso da partição proposto pela Resolução 181 da ONU. Ele viu isso como uma oportunidade para estabelecer um estado judeu independente. No entanto, os líderes árabes rejeitaram a resolução, considerando-a injusta, o que acabou numa guerra entre árabes e judeus após a declaração de independência de Israel em 1948.

Após a aprovação da Resolução 181 da ONU, os líderes árabes da Palestina e os líderes árabes da maioria dos países do Médio Oriente rejeitaram o plano de partição, preferindo lutar pela totalidade da Palestina como um Estado árabe único. Eles viam a partição como injusta e uma violação de seus direitos sobre a terra. Ainda antes, durante o período que antecedeu a declaração de independência de Israel em 1948, grupos paramilitares árabes atacaram comunidades judaicas na Palestina. Os ataques foram uma das manifestações da tensão e violência que caracterizaram esse período turbulento na história da região.

Os judeus na Palestina 
também tinham a sua milícia: Haganá. A diferença é que estava melhor organizada. E isso é que fez a diferença no sentido de Israel ter levado sempre a melhor sobre os árabes. Aliás, estabeleceram várias organizações paramilitares, sendo a mais conhecida a Haganá. A Haganá era uma organização clandestina de autodefesa judaica que se formou durante o Mandato Britânico na Palestina. Ela se concentrava na proteção das comunidades judaicas contra ataques árabes e no treino de milicianos para a defesa. Com o tempo, a Haganá tornou-se uma força militar mais organizada e disciplinada do que alguns dos grupos árabes rivais, o que foi um fator importante durante a guerra que levou à criação do Estado de Israel em 1948.

No Egito, entretanto, enquanto Farouk aprendia o nacionalismo árabe, Hassan al-Banna formava a Irmandade Muçulmana. Os seguidores da Irmandade Muçulmana estavam entre aqueles que se opunham à imigração judaica para Jerusalém e à presença judaica na região, o que contribuiu para as tensões entre árabes e judeus na Palestina. Os judeus, embora não fossem maioritários na Palestina, eram-no em Jerusalém. Durante o período do Mandato Britânico na Palestina, os judeus não eram a maioria da população em toda a região, mas em certas áreas, como Jerusalém, eles formavam uma parte significativa da população e, em alguns casos, eram maioritários. Jerusalém, em particular, tinha uma população judaica considerável, com uma presença histórica e religiosa significativa para a comunidade judaica. Isso contribuiu para as tensões étnicas e religiosas na cidade e na região como um todo.

Mas a Irmandade Muçulmana, por seu lado no Egito, começou a assassinar ministros de Farouk. Hassan al-Banna, envolveu-se em atividades violentas no Egito durante esse período. Isso incluía ataques e assassinatos de políticos e autoridades do governo. A Irmandade Muçulmana via o regime de Farouk como corrupto e opressivo, e buscava derrubá-lo para estabelecer um estado islâmico baseado na sharia. Essa violência contribuiu para a instabilidade política no Egito durante o reinado de Farouk. E foi então que em dezembro de 1947, no Cairo, Farouk organizou uma nova Liga Árabe de sete países que decidiram fazer guerra aos israelitas. Na verdade, foi em dezembro de 1945, durante a Conferência do Cairo, que o rei Farouk do Egito propôs a criação da Liga Árabe, que mais tarde foi oficializada. A Liga Árabe não declarou guerra a Israel até à declaração de independência de Israel. O que Farouk não estava à espera era que Abdullah, rei da Jordânia, fizesse jogo duplo.

Abdullah, o rei da Jordânia na época, estava envolvido em negociações secretas com líderes judeus e britânicos, o que foi visto como uma traição pelos outros líderes árabes. Essas negociações acabaram resultando num acordo de paz com Israel, conhecido como Acordo de Armistício de 1949, que encerrou formalmente a guerra de 1948-1949. Essa ação surpreendeu muitos líderes árabes, incluindo Farouk, que esperavam um apoio unificado contra Israel. 

Inicialmente, Stalin e a União Soviética apoiaram a criação do Estado de Israel. Essa postura era baseada em vários fatores estratégicos e ideológicos. A União Soviética via a criação de Israel como uma maneira de enfraquecer a influência britânica no Médio Oriente. Houve um sentimento de solidariedade com os judeus sobreviventes do Holocausto, muitos dos quais estavam entre os fundadores e defensores do novo Estado de Israel. A União Soviética apoiou o Plano de Partilha da ONU de 1947, que propunha a criação dos dois estados: árabe e judeu na Palestina.

Em termos práticos, o apoio soviético foi manifestado através da aprovação da resolução da ONU que recomendava a partilha da Palestina e a subsequente criação de Israel. Além disso, a Checoslováquia, então um estado satélite soviético, forneceu armas significativas ao novo Estado de Israel, o que foi crucial para a sua sobrevivência nos primeiros meses de combate. No entanto, após a guerra, as relações entre Israel e a União Soviética começaram a azedar, especialmente devido ao alinhamento de Israel com os Estados Unidos e as potências ocidentais durante a Guerra Fria. Além disso, a União Soviética começou a apoiar os estados árabes em suas disputas contínuas com Israel, fornecendo armas e apoio político.

O resultado desta guerra foi catastrófica para os palestinos. Foi a Nakba, com mais de setecentos mil palestinos exilados. Nakba, que significa "catástrofe" em árabe. Mais de setecentos mil palestinos foram deslocados de suas casas e se tornaram refugiados, enquanto outras comunidades palestinas foram dispersas ou destruídas. A Nakba teve um impacto duradouro na história e na consciência coletiva do povo palestino, e suas consequências continuam a ser sentidas até hoje.

Por seu turno, judeus sefarditas que viviam há seculos nesses estados árabes tiveram de fugir precisamente para o Israel acabado de se formar. Muitos judeus sefarditas que viviam em países árabes há séculos enfrentaram discriminação e perseguição após a criação do Estado de Israel em 1948. Isso levou a uma onda de migração em massa dessas comunidades judaicas para Israel, conhecida como a "diáspora sefardita". Esses judeus foram integrados à população de Israel e contribuíram para a formação e desenvolvimento do país.

O líder da Irmandade Muçulmana, Hassan al-Banna, foi assassinado em fevereiro de 1949, provavelmente por agentes do governo egípcio. Isso ocorreu durante o reinado de Farouk, que enfrentava crescente oposição política, incluindo da Irmandade Muçulmana, devido à sua incompetência e corrupção. Embora Farouk tenha sobrevivido a esse evento, sua imagem e autoridade foram severamente comprometidas, e isso contribuiu para a crescente instabilidade política que acabou por resultar na Revolução Egípcia de 1952 e na queda da monarquia.

A incompetência de Farouk e a traição do rei da Jordânia, Abdullah, certamente tiveram um impacto significativo na derrota árabe na primeira guerra entre árabes e israelitas. A falta de coordenação e liderança eficaz entre os líderes árabes, juntamente com conflitos internos e agendas políticas divergentes, enfraqueceu a resistência árabe contra Israel. Isso contribuiu para a rápida ascensão e sucesso militar de Israel durante o conflito. Um coronel egípcio chamado Nasser, viria mais tarde a planear um golpe contra Farouk. Gamal Abdel Nasser, um coronel do exército egípcio na época, desempenhou um papel crucial no golpe que depôs o rei Farouk em 1952. Esse golpe, conhecido como Revolução Egípcia de 1952, resultou na abolição da monarquia e na ascensão de Nasser ao poder como líder da recém-formada República Árabe Unida (que mais tarde se tornou a República Árabe do Egito). O golpe foi motivado por vários fatores, incluindo o descontentamento popular com o regime de Farouk, a corrupção no governo e a percepção de que o Egito precisava de reformas sociais e políticas profundas.

A Síria não estava melhor, com as sus rivalidades étnicas internas. A Síria também enfrentava desafios internos significativos, incluindo rivalidades étnicas, religiosas e políticas. Na época, o país era uma colónia francesa e estava passando por uma transição tumultuosa em direção à independência. As divisões étnicas e religiosas entre os árabes sunitas, alauítas, drusos, cristãos e curdos, entre outros grupos, contribuíram para a instabilidade política e social. Essas rivalidades étnicas internas continuaram a ser uma fonte de tensão e conflito mesmo após a independência da Síria em 1946.

Abdullah da Jordânia, também vencedor, tomou conta de Jerusalém oriental e parte dos lugares sagrados dos cristãos. Conseguiu tomar o controlo de Jerusalém Oriental, incluindo a Cidade Velha, que continha locais sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos. A Jordânia também controlou a Cisjordânia, incluindo Belém e outras áreas de importância religiosa. Esse controlo durou até à Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel capturou Jerusalém Oriental e a Cisjordânia. Durante o período em que a Jordânia controlava Jerusalém Oriental, houve alguma liberdade de acesso aos locais sagrados para os cristãos.

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