terça-feira, 19 de maio de 2020

A cultura mais inventiva da história que vai de Qin Shi Huang até Zheng He





O Exército de Qin Shi Huang, ou Guerreiros de Xian, é uma coleção de esculturas de terracota do primeiro imperador da China. É uma forma de arte funerária enterrada com o imperador em 210 a.C. e cuja finalidade era proteger o governante chinês na sua vida após a morte. As esculturas só foram descobertas em 1974 por agricultores locais no Distrito de Lintong, em Xian, na província de Shaanxi.

Os soldados variam em altura de acordo com suas funções, sendo os generais os mais altos. As estátuas incluem guerreiros, carruagens e cavalos. Estimativas atuais são de que nos três poços que contêm o Exército de Terracota, havia mais de oito mil soldados, 130 carruagens com 520 cavalos e 150 soldados de cavalaria, a maioria dos quais ainda estão enterrados nas covas nas proximidades. Outras esculturas de terracota não-militares também foram encontradas em outros poços e incluem funcionários, acrobatas e músicos. As figuras de terracota eram fabricadas em oficinas por artesãos do governo. Acredita-se que utilizavam a mesma técnica dos tubos de drenagem de água daquela época. Foram feitos em partes que eram unidas depois da queima e não em uma peça só. Eram então colocadas em seu lugar, em formação militar, de acordo com a sua patente e posto. As figuras eram em tamanho e estilo natural. Variavam em peso, indumentária e penteado, de acordo com a patente. A pintura da face, expressão facial individualizada e as armas e armaduras reais utilizadas criavam uma aparência realista e mostravam a qualidade do trabalho e a precisão envolvida na sua construção. Demonstram também o poder de um monarca que podia ordenar a construção de tão monumental empreitada.

Qin Shi Huang, que governou de 247 a.C. a 221 a.C. apenas como rei, de 221 a.C. a 210 a.C. reinou como Primeiro Imperador da China. Tendo unificado a China, seguiram-se uma série de reformas para estabilizar a unidade política chinesa, ordenando projetos de construção gigantescos, como a própria Muralha da China. Apesar de Qin Shi Huang ser considerado ainda hoje como um dos fundadores da China unificada, que assim permaneceria, com certas interrupções e diferenças territoriais, por mais de dois milênios, o imperador também é lembrado como um tirano autocrático.



Zheng He [1371-1433] realizou viagens por mar pelo sudoeste asiático, tendo chegado a Moçambique e Mar Vermelho, tendo a sétima e última expedição terminado em 1433 com a sua morte na viagem de regresso a partir de Ormuz. Xuande, que foi o governante entre 1426 e 1435, foi o imperador que pôs fim às expedições.

A história global tem sido até agora, essencialmente, uma história ocidental. Com mais uma ascensão da China, desta vez de longo alcance, a longa história chinesa vai finalmente fazer parte da História, tal como Robespeierre e a Revolução Francesa, ou Neil Armstrong como o primeiro homem a pisar a Lua. Este processo está já em andamento, como ilustrou o enorme interesse que rodeou a exposição daquelas estatuetas de terracota do Exército de Qin Shi Huang no Museu Britânico, em 2007/2008.

Além da sua extraordinária longevidade e explosões de florescente criatividade, a China consolidou-se como uma grande unidade na mesma altura em que o Império Romano se fragmentava. Enquanto na China se formava o conceito de um Estado-civilização, na Europa era o conceito de Estado-nação que se gerava, da qual fazem parte atualmente 52 países, num total de 741.447.158 pessoas que ocupa um território com a área de 10.180.000 Km2. Enquanto a China, com 1.400.000.000, ocupa a área de 9.597.000 Km2.

Os imperadores chineses lutaram sempre no sentido de unir os seus reinos, díspares e divididos, num todo unitário. Tudo sobre o que Xi Jiping lidera é vasto. Ele pode inspecionar o seu império do ar – não apenas a área abrangida pelos Himalaias, o mar do Japão e o deserto de Gobi, ou o mar da China Meridional, mas todo o império económico que atravessa o globo. Os líderes chineses sempre foram muito cuidadosos para se certificarem de que o centro (o império do meio) se mantém firme. Para conseguirem isso, tornaram-se mestres em promover, de forma discreta, a unidade através da divisão.

A unidade foi sempre crucial para o sucesso da China, e, ao mesmo tempo, foi sempre um dos seus maiores desafios. No passado, a única coisa a representar simultaneamente um papel físico e simbólico na unificação do país era a Grande Muralha da China. É aqui que se pode compreender a China. Afinal, a muralha foi construída tendo por base uma ideia bastante simplista: de um dos seus lados estava a civilização, do outro estavam os bárbaros. O Reino do Meio a sul, habitado pelo povo Han; a norte o deserto da Mongólia com a Manchúria a leste e Xingiang a oeste.

Antes de a muralha existir, há uns 2500 anos, as montanhas a norte ofereciam alguma proteção aos Han, que tinham desenvolvido sociedades estabelecidas nas terras férteis da planície do Norte da China. Mas grupos armados e, ocasionalmente, exércitos inteiros de todas as três regiões encontrariam sempre algum caminho pelas passagens das montanhas até às planas terras agrícolas, e cidades como Pequim, Luoyang e Kaifeng. E assim, ao longo de séculos, os chineses viriam a desenvolver a sua quinta essência, construído em pedra – uma linha não apenas física, mas também simbólica, a separar o barbarismo da civilização.

A crença dos Han, de que a China era o centro cultural da Terra, bem como a civilização mais avançada, juntava-se à crença que o imperador da China era o único governante na Terra, mandatado pelo próprio céu, e, por conseguinte, o legítimo imperador do mundo. Isso queria obviamente dizer que não só viam os outros governantes como subordinados, como também consideravam todas as outras civilizações inferiores. Vizinhos próximos de etnias diferentes deveriam ficar sob o domínio do imperador, embora pudessem ter os seus próprios líderes locais. Estados bárbaros próximos podiam ter reis, mas tinham de reconhecer ser inferiores ao imperador chinês. E mesmo em locais mais longínquos, como Xinjiang, Java e Japão, eram considerados “estados tributários” e tinham de pagar tributo ao Reino do Meio. Esta não era uma visão do mundo propensa a fazer amigos, mas não há dúvida de que influenciava pessoas, e durante muito tempo funcionou às mil maravilhas, a avaliar pela narrativa das ‘Viagens’ de Marco Polo [1254-1324].

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