terça-feira, 16 de junho de 2020

A Caravela-portuguesa – Physalia Physalis



A Caravela-portuguesa maravilha-nos com as suas cores e tons, mas é preciso ter cuidado e não chegar perto demais, porque a picada é extremamente dolorosa e pode evoluir para algo mais grave. As Caravelas-portuguesas surgem frequentemente na Madeira e Açores, sendo pouco comum o seu aparecimento na costa continental. No entanto, têm aparecido no Algarve. As Caravelas-portuguesas são frequentemente confundidas com as alforrecas, mas, em vez de nadarem como estas, apenas flutuam. 
Movem-se pelos oceanos levadas pelo vento, com o pólipo, que constitui a “cabeça” da colónia, à tona da água.

A origem do nome comum vem precisamente da forma da parte que flutua.A bolsa que flutua, quando completamente cheia, faz lembrar as velas das caravelas portuguesas. Há outras teorias, não tão comummente aceites:  a suposta circunstância de o organismo ser muito abundante na zona das ilhas portuguesas dos Açores e Madeira; ou a semelhança da bolsa com os capacetes dos soldados portugueses do século XVI, como vem descrito na Wikipédia em língua inglesa - The Portuguese man o' war (Physalia physalis), also known as the man-of-war, or blue bottle is a marine hydrozoan found in the Atlantic, Indian and Pacific Oceans. It is one of two species in the genus Physalia, along with the Pacific man o' war (or Australian blue bottle), Physalia utriculus. Physalia is the only genus in the family Physaliidae.
 
A Caravela-portuguesa é uma espécie do reino Animalia com o nome científico – Physalia Physalis – filo Cnidária (nome comum – cnidários); classe Hydrozoa – de que também fazem parte medusas, alforrecas ou águas-vivas, anémonas-do-mar, corais moles e hidras de água doce. Existem cerca de 3.200 espécies conhecidas. Os membros dessa classe são medusóides ou polipóides, em que alguns exibem ambas as formas no seu ciclo de vida. Os cnidários foram incluídos durante muito tempo em conjunto com os ctnóforos no filo dos celenterados, embora essa classificação há muito que foi abandonada.A Caravela-portuguesa é um organismo pluricelular, composto de quatro pólipos ou zooides distintos – portanto, uma colónia. 

Os cnidários, em geral, têm grande capacidade de regenerar tecidos e partes do corpo, ou mesmo um novo corpo. Das formas de vida dos cnidários, a forma polipóide apresenta maior potencial de regeneração. As formas de medusa regeneram tentáculos, braços e pedaços da umbrela, mas em geral numa magnitude menor do que as formas polipoides. Todas as classes podem reproduzir-se tanto de forma sexuada como de forma assexuada, embora existam exceções em cada classe. A forma de reprodução sexuada tipicamente ocorre em alternância de gerações, com uma fase séssil, chamada polipóide, e uma fase livre nadante, a medusa.

Os medusozoários da classe Hydrozoa – de que também faz parte a curiosa Turritopsis dohrnii - também conhecida por "água-viva imortal" e que vai merecer um outro postal a seguir - que apresentam a forma de medusa, também podem diferenciar-se em pólipo, dependendo das condições ambientais. Tipicamente apresentam alternância de gerações. No caso da Caravela-portuguesa a reprodução é também chamada de reprodução clonal. Inúmeras variações ocorrem no plano básico de alternância de gerações nos medusozoários. Há a possibilidade de divisão de tarefas. Em algumas espécies as medusas jovens se desenvolvem e reproduzem ligadas à colónia mãe. É no pólipo que se dá a produção de gâmetas. Nas formas assexuadas há uma passagem directa de plânumla para  medusa.

Resumindo, a Caravela-Portuguesa é uma colónia de organismos geneticamente idênticos e altamente especializados, embora pareça uma única criatura. Os quatro pólipos não sobrevivem separados: um pneumatóforo que é a vesícula flutuadora; os dactilozooides que formam os tentáculos; os gastrozooides que fazem o papel de estômago da colónia; e os gonozoides destinados à reprodução. 
Capturam pequenos organismos marinhos como peixes e plâncton, com os seus tentáculos. Uma vez apanhados, as presas são paralisadas, ou até mortas, por acção do veneno. A presa é depois conduzida para os pólipos digestivos da colónia, que digerem o alimento. Os nutrientes são depois partilhados entre os vários zooides. Os organismos individuais são unissexuais, cada um com gonozooides (órgãos sexuais) formado por gonóforos com o formato de pequenas bolsas contendo ovários ou testículos. São animais dioécios, isto é, todos os indivíduos numa colónia são do mesmo sexo. Na fase de reprodução, os espermatozóides separam-se da colónia e expelem os gâmetas. Uma densidade populacional mínima de caravelas-portuguesas é necessária para que ocorra a fertilização. Boa parte da reprodução acontece no período do outono, produzindo a grande quantidade de exemplares jovens que são comummente avistados durante o inverno e a primavera. As larvas desenvolvem-se muito rapidamente, e transformam-se em pequenas criaturas flutuantes. 

As Caravelas-portuguesas são extremamente resistentes e adaptáveis. A superfície colorida pode actuar como uma espécie de protector solar. Ainda que não seja raro ver grupos pequenos, aparecem aos milhares a flutuar um pouco por todo o mundo. As colónias conseguem libertar algum do gás dos seus flutuadores, e submergir brevemente, para fugir à ameaça dos predadores. Ainda assim, os predadores são poucos. Os poucos conhecidos são a tartaruga-comum, o caracol-violeta e a lesma do mar azul, que são, obviamente, imunes às toxinas da Caravela-portuguesa.

Debaixo da carapaça mole escondem-se tentáculos compridos, até 20 metros, com cnidócitos venenosos. Estes cnidócitos são células urticantes, recheadas de filamentos que libertam as toxinas quando em contacto com a pele. O veneno da Caravela-portuguesa é, de certa forma, parecido ao da aranha Viúva-negra, que provoca dores muito fortes, queimaduras que podem ser até de terceiro grau, e em casos mais extremos, reacções alérgicas graves acompanhadas de arritmias, náuseas e necrose do tecido. As queimaduras provocadas pelo contacto com os tentáculos provocam cicatrizes, em certos casos, permanentes. Ainda que ela tenha dado à costa aparentemente morta, mesmo morta, os seus tentáculos podem ainda ter veneno que fica agarrado à pele.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), os cuidados a ter em caso de contacto com uma Caravela-portuguesa são: lavar com cuidado a pele e sem esfregar, com água do mar e nunca com água doce; remover os tentáculos que possam estar agarrados à pele com um instrumento de plástico, um cartão de crédito serve; aplicar vinagre, se for possível, nunca álcool ou amónia; aplicar bandas quentes ou água quente para alívio da dor; procurar assistência médica o mais rapidamente possível. Se, por outro lado, avistar uma Caravela-portuguesa, depois de alertar as pessoas que estão por perto, deve-se comunicar ao IPMA ou à Autoridade Marítima, fornecendo informações sobre data, hora e local do avistamento, bem como o número aproximado de caravelas.

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