"Compreendo que depois do que se passou durante a última guerra, se persiga por toda a parte o anti-semitismo, incluindo aquele que se diz inconsciente. Os preconceitos, os racismos são loucuras que não morrem. Mas conviria que se deixasse de ver um anti-semitismo em qualquer pessoa que atribui aos judeus qualidades particulares. Pensa-se muito evidentemente que essa pessoa lhes atribui defeitos particulares também. E, de facto, esse perigo existe sempre. Por mim, eu tinha muito simplesmente querido dizer que qualquer comunidade que se deslocou pela força, tendo sido condenado a muitas migrações, era necessariamente mais aberta ao estrangeiro, mais acolhedora que as sedentárias. O que eu creio. Não me compreenderam."Depois dos anos 60/70, já não havia problema em reprovar os partidos da direita israelita sem com isso se ser anti-semita. O fanatismo judaico não podia ser mais respeitável que qualquer outro fanatismo. Mas a sua eleição para a Academia Francesa era tudo menos pacífica, porque, doravante, mulheres poderiam entrar num lugar ainda protegido por homens velhos e preconceituosos, que não se sentiam estar à vontade em mangas de camisa na frente de uma senhora.
Quando Caillois morreu, havia que preencher o seu lugar na Academia. Raymond Aron e Aragon eram os mais falados. Então, foi quando Jean d'Ormesson se lembrou de Marguerite Yourcenar, depois de ter falado com Jacques Kayaloff, que era amigo de ambos. Houve quem achasse que teve a mão de Valery Giscard d'Estaing, para acabar em beleza a Presidência com a primeira mulher a ocupar um lugar na Academia Francesa. Claude Levi-Strauss foi um, entre muitos, dos que se opuseram à sua eleição, tanto mais que ela não se havia candidatado, embora dissesse que aceitaria se viesse a ser eleita. Ainda por cima tinha obtido a nacionalidade americana em 1947, sem tomar as devidas diligências de conservar a nacionalidade francesa. Os velhos Académicos fizeram uma espécie de revanche, ao não ter ido ninguém da Academia às cerimónias fúnebres celebradas em sua memória no dia 16 de janeiro de 1988, na Ilha dos Montes-Desertos.
No dia em que foi eleita para membro da Academia Francesa, 6 de março de 1980, Marguerite Yourcenar partiu de Miami num cruzeiro para as Caraíbas, com Jerry Wilson. Só regressam a Northeast Harbor a 29 de março, esperando-a uma enorme montanha de correspondência chegada depois da sua eleição para a Academia. Jerry Wilson dormirá doravante em Petite Plaisance.
Nos primeiros dias de abril de 1981 Marguerite acompanhada de Jerry, passa por Portugal, e desta vez Alain Oulman apresenta-lhe Amália Rodrigues, proporcionando-lhe um serão que muito apreciou. No dia 8 de junho de 1981 faz setenta e oito anos. Já não é a jovem nómada e livre que partia num cruzeiro com André Embricos para escrever Feux e acalmar a sua paixão dolorosa por André Fraigneau. Se quiser continuar a viajar, no tempo - no tempo dela - e no espaço, tem, de uma certa maneira, de submeter-se a Jerry. A última parte da sua vida é dividida entre escrever no isolamento da Ilha dos Montes Desertos e longas jornadas. Mesmo assim, ainda faz longas viagens à volta do mundo com o jovem Jerry Wilson, seu último secretário e companheiro, cujas fotografias coloridas ilustram um livro de recolha de textos de Yourcenar – La Voix des Chose, 1992. Jerry Wilson morre de sida em 8 de fevereiro de 1986.
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