terça-feira, 15 de setembro de 2020

Berlim Alexanderplatz - Alfred Döblin

 



Berlim Alexanderplatz, romance de Alfred Döblin publicado em 1929, na época do Expressionismo Alemão. A história de Franz Biberkopf, um homem de 41 anos de idade, que trabalhava como transportador até ser preso. É a Alemanha que os historiadores registaram com o nome de República de Weimar. Passaram-se onze anos desde o fim da 1ª Guerra Mundial, e a economia alemã começava a recuperar da forte inflação que assombrou o país desde essa altura. O movimento expressionista está no auge, sendo a Alemanha o seu maior palco, ao ponto de alguns autores lhe conferirem um lugar especial com a designação de Expressionismo Alemão.

Biberkopf é libertado da prisão, após ter cumprido pena de quatro anos por homicídio. Havia assassinado a namorada por ciúmes. Ao sair da cadeia, apanha um elétrico e vai para o centro de Berlim. Franz Biberkopf frequenta de novo a Praça Alexanderplatz, onde se concentrava a classe operária na Berlim da década de 1920. Faz novos conhecimentos de pessoas que a princípio se tornam amigas dele, para além de novos relacionamentos amorosos. Dois amigos, porém, traem-no, dado que ele se recusa a alinhar nas vigarices em que eles andam metidos. Um deles, que se chama Reinhold, empurra Franz para a frente de um carro em movimento, sendo atropelado. No hospital foi necessário amputar-lhe um braço. A partir daí acabou a vida honesta. Reinhold volta a aproximar-se de Franz, e continua a provocá-lo com propostas indecentes. Então, para levar adiante o seu plano, ganha a confiança da namorada de Franz. Acaba por assassiná-la num parque, e foge. É claro que Franz passa a ser o primeiro suspeito, e é presoNa prisão faz greve de fome, que o leva perto da morte. Depois disso ele renasce. Reinhold confessa o crime e é preso. Franz é solto. A partir de então deixa de frequentar bares e a bebida alcoólica. Consegue um emprego de porteiro levando uma vida pacata. 

A narrativa é complexa, com vários estilos de escrita, por vezes utilizando linguagem bíblica, e com um linguajar que atravessa vários estratos da sociedade. Longas descrições da cidade de Berlim, inclusive demorando-se em detalhes com o matadouro da cidade. Outras vezes é prosa poética, remetendo para a tradição da poesia alemã. Outras vezes muda repentinamente para o linguajar local berlinense. Por isso, o romance exige uma grande concentração de leitura. 




Berlin Alexanderplatz em 1931 passou a filme no cinema; e a minissérie de televisão. Em 22 de fevereiro de 2008, uma versão digitalmente reformulada do filme foi lançada em DVD pela Arthaus Filmvertrieb, com sede em Berlim. 

Nos anos quentes da inflação a literatura e a história dos costumes registaram uma primeira irrupção de correntes neo-hedonistas muito marcadas. Espetáculos de music-hall americanos fizeram furor, satisfazendo as expectativas do público alemão. A maneira americana de se ser impúdico triunfava com pernas e seios nus. Os gritos desesperados da conferência dos bispos de Fulda não surtiram qualquer efeito. Os presos, ao fim de meia dúzia de anos na prisão, quando saiam, ficavam muito admirados com a vida que se fazia naqueles dias na República de Weimar. A estranheza era de tal ordem que muitos queixavam-se de grande mal-estar pela dificuldade em integrarem-se num mundo que já não reconheciam.

É neste contexto que Döblin escreve o seu romance sobre Franz Biberdorf na Berlim de 1929. Começa pela impressionante descrição da viagem do protagonista através da cidade que não via há muito. Viagem que lhe põe a cabeça a andar à roda. O romance ainda dá nota do aroma pós Grande Guerra e pós Gripe Pneumónica. Na grande cidade, onde só vencem os fortes, o combate prossegue no meio do caos, com Biberdof  a tornar-se um maneta, e a acabar os seus dias num asilo de alienados. Tudo era estranho na nova fisionomia da cidade: os carros, as vitrines, os seres humanos … vidas consumistas de gente distraída com cosmética e ilusões. Era uma época em que as pessoas tinham que rir, rir mesmo muito.  
Os vanguardistas pretendem integrar a arte na sociedade e fazê-la participar nela, uma expressão do inconsciente coletivo da sociedade que representava. Por sua vez, a interação com o espectador leva a que este se envolva na perceção e compreensão da obra, assim como na sua difusão e mercantilização, fator que estará na origem do crescimento exponencial das galerias de arte e dos museus. 

O Expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido na Alemanha no início do século XX, transversal aos campos artísticos da arquitetura, artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, dança e fotografia. Mais do que meramente um estilo com características em comum, o Expressionismo é sinónimo de um amplo movimento heterogéneo, de uma atitude e de uma nova forma de entender a arte, que aglutinou diversos artistas de várias tendências e formações, com níveis intelectuais muito diversos. O movimento surge como uma reação ao positivismo associado aos movimentos impressionista e naturalista. Tratava-se de exprimir o mundo interior, e não a mera cópia da realidade observada, como se fosse uma impressão. O subjetivo tem primazia sobre o objetivo. Era o arrebatamento dos temas proibidos – o excitante, diabólico, sexual, fantástico ou perverso. Fruto das peculiares circunstâncias históricas em que surge, o Expressionismo veio revelar o lado pessimista da vida e a angústia existencialista do indivíduo. Uma sociedade moderna, industrializada, mas excessivamente alienada. A queda da taxa de analfabetismo e o aumento da literacia, que já vinha de trás, havia-se traduzido num crescimento assinalável dos meios de comunicação social, e numa difusão dos fenómenos culturais a uma escala e velocidade sem precedentes. Era a cultura de massas. A imitação da realidade deixou de fazer sentido aos artistas. Isso era agora objeto das novas técnicas a tornar o processo mais fácil, e maus rapidamente reprodutível. Era o novo tempo da fotografia e do cinema. A aparição do Expressionismo num país como a Alemanha não foi, por conseguinte, um facto aleatório. Resulta de um estudo aprofundado da Arte que vinha do Romantismo do século XIX, onde haviam florescido grandes filósofos e artistas. Só para dar um nome de cada menciono Nietzsche e Wagner. 

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