quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O vírus SARS-CoV-2 e a Parábola da Morte em Samarcanda


Não adianta a obstinação na fuga à morte, é essa a mensagem da Parábola da Morte em Samarcanda, incluída no acevo de histórias das Mil e Uma Noites. Chegado o cavaleiro do cavalo baio, neste caso personificado pelo vírus SARS-CoV-2, esteja onde estiver o velho, até num lar de luxo, será sempre encontrado para ser levado na garupa.
Vamos primeiro ao lar de luxo, e depois a Samarcanda. A Residência Montepio, na Rua do Breiner, no Porto, é um lar de luxo onde no último mês o SARS-CoV-2 provocou a morte a 16 pessoas, num universo de 48 infetados (29 utentes e 19 profissionais). Pela tese apresentada em epígrafe não seria caso para admiração, na medida de a média de idades rondar os 90 anos. O que chamou a atenção foi o secretismo, comparado com um outro caso passado em Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas igualmente idosas.

Um radialista, que estava à espera de um rim doado para transplante, um dia resolveu contar a sua história, apimentando-a com a Parábola da Morte em Samarcanda. Pois, uma ouvinte, de 60 anos de idade, ouviu a história e decidiu doar um rim ao radialista, que não conhecia de lado nenhum. E o caso teve um desenlace feliz, que não a morte.

E agora aí vai a Parábola da Morte em Samarcanda:
Trata-se de um vizir de Esmirna, a quem um soldado lhe fez chegar por mensagem, que tinha sido vista pela manhã a morte a atravessar a praça principal da cidade, no sentido de oeste para leste. – A Morte? O vizir pensou que a morte andava à procura dele. Não estando com mais delongas, ordenou ao soldado que lhe aparelhasse a sua melhor montada. Pronto o cavalo, transpôs as portas da cidade e desatou a galope em direção a Samarcanda, onde iria chegar já de noite bem alta. 

O soldado, tinha um grande afeto pelo seu vizir. Depois de o ver partir regressou ao centro da cidade. Eis senão quando vê a morte sentada num dos bancos da praça maior. Então o soldado, que coragem não lhe faltava, foi ter com a morte. A morte reconheceu-o logo e interpelou-o assim: “então que há?” – “Se me permite, queria fazer-lhe uma pergunta. Quem terá por cá?” A morte respondeu: “Por acaso por cá não tenho ninguém. Estou apenas aqui de passagem, e a descansar um pouco, porque seguirei viagem até Samarcanda, onde chegarei já de noite. Em Samarcanda sim, há uma pessoa que está lá à minha espera, e com quem me vou encontrar."

Samarcanda, fundada há três mil anos, ainda é hoje a segunda cidade mais importante do Uzbequistão. Situada num fértil vale irrigado, foi durante séculos, passagem obrigatória das caravanas da rota da seda. 




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