segunda-feira, 21 de outubro de 2024

A crítica das progressistas à gente conservadora


É tão legítimo uma pessoa ser progressista como conservadora, é tudo uma questão de bom ou mau feitio e que ninguém tem nada com isso. A diferença é que aqueles que têm bom feito sentem-se amedrontados com a tal “cultura do cancelamento”, embora os que têm mau feitio ficam mesmo muito irritados. Dado que, dizem os conservadores, esses progressistas não vivem nos bairros degradados das cidades, o que têm é a mania de se armarem em bem-pensantes só para chatear o indígena. Portanto, é esse tipo de distanciamento, em muitos casos, que provoca uma reação contrária, fazendo com que parte da população procure apoiar-se em movimentos de extrema-direita. E é por isso que, quando não é um partido de extrema-direita que vem ao encontro das suas preocupações, a terra até treme com tal erupção ardente.

A extrema-direita, com um discurso populista, tem capitalizado sobre esse ressentimento, oferecendo uma retórica de "resistência" ao que eles descrevem como imposições das elites progressistas. Eles se apresentam como defensores das liberdades tradicionais, da "normalidade" e do "bom senso", opondo-se ao que consideram uma agenda de minorias que atropela as maiorias silenciosas. O discurso conservador que promove a rejeição ao "politicamente correto" ressoa com aqueles que sentem que sua cultura e valores estão sendo atacados ou subvertidos pelas novas regras culturais.

Rejeição ao Politicamente Correto: Muitos sentem que o "politicamente correto" se tornou sufocante, inibindo a liberdade de expressão e criando um ambiente onde qualquer comentário ou atitude pode ser interpretado como ofensivo. A extrema-direita aproveita-se dessa frustração, posicionando-se como uma força que desafia essas normas e defende a liberdade de dizer o que se pensa, mesmo que isso seja visto como controverso ou inadequado. O foco progressista na diversidade e na inclusão de diferentes identidades e minorias, embora importante para muitos, é visto por outros como uma ameaça à identidade cultural e às tradições nacionais. A extrema-direita utiliza essa percepção para atrair aqueles que sentem que os valores tradicionais estão sendo ameaçados ou desvalorizados.

Alexandra Leitão, líder da bancada parlamentar do Partido Socialista, ontem no programa televisivo “O Princípio da Incerteza”, na sua crítica ao PSD, mostrou-se incomodada pelo facto de o momento alto do discurso de Luís Montenegro reunido em Congresso, ter sido quando anunciou mudanças numa disciplina que pretende formar melhores cidadãos. Ora, eu não fico surpreendido com isso na medida em que encaixa naquilo que são as bases do PSD no que respeita ao progressismo dos comportamentos sociais. Neste tópico de ação política o PSD não é progressista, digamos as coisas assim.




Muitos cidadãos comuns veem as elites académicas que promovem essas agendas progressistas como desconectadas de suas realidades. A extrema-direita, ao adotar um discurso populista, coloca-se como a voz do "povo comum" contra essas elites, explorando a insatisfação com a forma como o debate público tem sido moldado por questões de género, sexualidade e identidade. Em muitos casos, as frustrações relacionadas a questões culturais estão entrelaçadas com problemas económicos. A extrema-direita, ao articular essas queixas culturais com a promessa de restaurar o poder económico e a segurança, cria uma narrativa atraente para muitos que se sentem abandonados tanto pelos progressistas como pelos partidos tradicionais.

Essa tendência revela como o excesso de ortodoxia ideológica por parte das novas esquerdas pode, em vez de fortalecer a coesão social em torno de causas justas, acabar polarizando ainda mais a sociedade. Ao adotar posturas que, para muitos, parecem radicais ou excessivas, acabam empurrando um segmento significativo da população para os braços de movimentos mais autoritários e conservadores, exacerbando o ciclo de polarização e extremismo político.

Resumindo: as profecias de Marx em relação à vitória do proletariado não se confirmaram a ocidente, e a oriente o que vingou foi um capitalismo de Estado autoritário de partido único. As profecias de Marx sobre a vitória do proletariado e a inevitabilidade da revolução socialista não se concretizaram nas sociedades ocidentais desenvolvidas, onde o capitalismo se consolidou e evoluiu, resultando em um sistema político e económico que, em muitos casos, se baseia em valores democráticos e em um estado de bem-estar social. O proletariado, em vez de se unir contra a burguesia, muitas vezes se viu integrado em uma sociedade de consumo, com uma classe média crescente que se beneficia do capitalismo.

Por outro lado, nas sociedades orientais que adotaram a visão marxista, como a China e a ex-União Soviética, o que prevaleceu foi uma forma de capitalismo de Estado, caracterizado por um partido único que controla a economia e a política. Esse modelo combina elementos de planeamento central com práticas capitalistas, onde o Estado exerce um controlo autoritário sobre a vida política e social, enquanto se engaja em atividades económicas de mercado. Esse sistema desvirtuou a ideia original de uma sociedade sem classes proposta por Marx, resultando em novas formas de desigualdade e opressão. As visões marxistas sobre a transição do capitalismo para o socialismo não se realizaram conforme esperado no Ocidente, e o modelo que emergiu no Oriente não cumpriu as promessas de emancipação proletária, levando a um capitalismo estatal que perpetua formas autoritárias de governo. Essa desconexão entre a teoria marxista e a realidade política e económica observada ao longo do século XX e XXI levanta questões sobre a relevância do marxismo na análise contemporânea das sociedades.

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