sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Escola Jónica - ou da Ásia Menor




A Jónia, no século VII a. C., é o local onde nasceram as primeiras tentativas, plenamente racionais, de descrição e explicação da natureza do mundo. Esta possibilidade talvez se explique por se encontrar num local central, em que as comunicações com diversos povos e suas respetivas culturas foram privilegiadas. A Escola Jónica recebe esse nome por ser formada por filósofos nascidos na Jónia, colónia grega da Ásia Menor, que se caracterizavam pela forma de fazer perguntas a respeito da origem da natureza, e do elemento que deu origem a todos os seres. Esses filósofos jónicos tinham nomes como Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Heráclito, os mais imporantes.

Foi em Mileto, na Jónia, que esta escola se desenvolveu. Os filósofos desta escola procuravam investigar os primeiros princípios, partindo da observação da natureza. O que lhes interessava era essencialmente aspetos cosmológicos, aparecendo aí o homem apenas como um ser entre os outros seres que constituem a natureza. O homem só aparece como objeto da filosofia, de facto, com Sócrates e, de algum modo com a sofística, mesmo considerando que nos fragmentos de Heraclito já está presente o homem, algumas vezes mesmo como centro do cosmos.

O que caracteriza a Escola Jónica, dentro da temática, já referida, da cosmologia e da cosmogonia é a sua conceção a um tempo unitária e pluralista do universo, visto que admite uma substância única como substância original de onde o cosmos partiu, na sua diversidade, na pluralidade dos elementos e dos seres como consequência desse momento primevo. Por outro lado, a sua conceção do cosmos é hilozoísta, que significa yudo unido numa indistinção matéria/espírito ou, dito de outro modo, a matéria animada por um espírito formado numa unidade inseparável. Tales de Mileto é o fundador e inspirador da escola Jónica. Seguiram-se depois Anaximandro, Anaxímines, de seguida Anaxágoras, Arquelau e, finalmente, Heraclito, este último aparecendo separado deste movimento, que embora conhecendo bem as doutrinas da escola, foi mais longe do que os seus antecessores.

Tales, Anaximandro e Heraclito são os filósofos mais originais e criadores deste movimento. O primeiro propunha que a água era a origem do universo, a matéria-prima enquanto substância primordial fecundada pelo espírito, o arquê, que a animava. O segundo propunha esse início num princípio infinito e imaterial a que chamou apeiron. Finalmente, o terceiro afirmava que esse mesmo princípio era como um fogo, um ser primordial, criador e destruidor, que subjaz ao devir (a vida, a transformação e a morte) que caracteriza a natureza.

Xenófanes, o filósofo pré-socrático, é conhecido por ter vindo da Ásia Menor e se ter estabelecido em Eleia, na Itália, onde ele influenciou a filosofia de Parménides estabelecido em Eleia. Parménides foi um dos mais importantes filósofos da escola eleática, que desenvolveu conceitos fundamentais sobre a natureza da realidade e do ser. Parménides era de Eleia, sul de Itália, e Xenófanes é que emigrou para lá, vindo da costa Jónica da Ásia Menor. Xenófanes nasceu na costa jónica da Ásia Menor e, mais tarde, estabeleceu-se em Eleia, no sul da Itália, onde a sua filosofia teve influência significativa. Parménides é conhecido como o filósofo mais importante da escola eleática de filosofia. Xenófanes e Parménides tiveram uma relação importante no desenvolvimento do pensamento filosófico. Há quem diga que Xenófanes é que ajudou Parménides a moldar o contexto intelectual de Eleia.

Os filósofos da Ásia Menor é que haviam moldado a forma de observar os fenómenos naturais. Tales, Anaximandro e Anaxímenes é que foram os pioneiros na busca por explicações para os fenómenos naturais, com base na observação e na razão, em vez do recurso a explicações que até aí tinham uma estrutura mitológica. Eles procuraram identificar os princípios fundamentais (archê) que governam o universo. Assim, propuseram que a realidade é constituída por substâncias básicas como a água, o ar, o fogo, o infinito (apeiron). Esse forma naturalista e racional de ver o mundo foi, por assim dizer, o marco do arranque da ciência ocidental que ainda vigora nos dias de hoje.

Os gregos do "logos", no entanto, não sabiam no que estavam a meter-se ao distrairem-se com elocubrações mentais. Negligenciaram o poderio que tinham às suas portas, o Império Persa. Os filósofos gregos, ao desenvolverem o conceito de logos — a razão ou princípio racional que ordena o cosmos — estavam focados na busca do conhecimento e na compreensão do mundo natural e humano. No entanto, essa ênfase na razão e na filosofia não os levou necessariamente a uma compreensão completa da dinâmica política e militar da época. O Império Persa, sob a liderança de figuras como Ciro, Dario e Xerxes, era um poder militar e político imenso e sofisticado, com vastas riquezas e um governo centralizado muito eficaz. Os gregos, focados principalmente em seus próprios debates filosóficos, e em suas cidades-estado independentes, não estavam cientes das ameaças, nem preparados para acatar os ditames dos persas com o seu poderio militar.


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