sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A Suméria no centro das outras primeiras grandes civilizações




A civilização suméria, uma das primeiras grandes civilizações da humanidade, começou a declinar por volta de 2000 a.C. Sua queda gradual resultou de uma combinação de fatores, como invasões, mudanças climáticas, degradação ambiental e conflitos internos. Os sumérios foram conquistados pelo Império Acadiano no tempo de Sargão, o Grande. Sargão reinou por 56 anos, de 2 270 a.C. a 2 215 a.C. (cronologia curta). Tornou-se um membro proeminente da corte real de Quis, acabando por derrubar o rei local antes de partir para a conquista da Mesopotâmia.

Embora o domínio sumério tenha sido temporariamente restaurado com a Terceira Dinastia de Ur (cerca de 2112-2004 a.C.), a civilização nunca recuperou totalmente a sua antiga glória. Por volta de 2000 a.C., os amoritas e, posteriormente, os elamitas começaram a invadir e conquistar regiões sumérias, levando ao colapso final das suas cidades-estados. A cultura suméria acabou assimilada pelas civilizações que a sucederam, como os babilónios e os assírios, mas muitos aspetos de sua cultura, religião e conhecimento influenciaram profundamente essas civilizações posteriores.

Há a tese de que o povo mitificado por Abraão emigrou por volta dessa altura (2000 a.C.) de Ur e foi depois da travessia do que é hoje a Síria instalar-se onde era Canaã ou Ugarit. A migração de Abraão e de seu povo, como descrito na tradição bíblica, ocorreu aproximadamente por volta de 2000 a.C., coincidindo com o declínio da civilização suméria. De acordo com a narrativa bíblica, Abraão teria saído de Ur, uma importante cidade suméria localizada na Mesopotâmia (no que hoje é o sul do Iraque), em direção à terra de Canaã. Essa migração pode estar conectada a movimentos populacionais mais amplos da época, possivelmente causados por fatores como a instabilidade política, invasões de povos estrangeiros, mudanças climáticas e a busca por novas terras férteis. Esses fatores poderiam ter motivado várias tribos  ainda nómadas a se deslocarem do Crescente Fértil para outras regiões do Próximo e Médio Oriente.

Canaã era uma área influenciada por culturas como a dos cananeus e também próxima a Ugarit, um importante centro comercial e cultural da época, localizado na costa do Mediterrâneo (na atual Síria). A conexão entre esses movimentos históricos e as narrativas bíblicas é um tema de debate intenso entre estudiosos. Muitos acreditam que as histórias dos patriarcas bíblicos, como Abraão, foram baseadas em tradições orais que podem ter suas raízes em eventos históricos reais, embora a forma exata dessas migrações e suas datas específicas sejam difíceis de confirmar com precisão arqueológica. Essa tese é suportada por algumas narrativas como a Torre de Babel e outras estórias bíblicas, parecem estar conectadas a eventos históricos e culturais da Mesopotâmia e podem fornecer um pano de fundo para a compreensão dos movimentos populacionais e mudanças culturais daquela época.

A história da Torre de Babel, descrita no livro do Génesis, remete para uma era em que as sociedades se estavam a desenvolver rapidamente com a construção das cidades-estados, como Ur e Babilónia. A referência à construção de uma torre que deveria alcançar os céus e à subsequente dispersão das pessoas que falavam uma única língua pode simbolizar tanto a ambição e a unificação cultural das primeiras civilizações como a fragmentação resultante de conflitos e da diversidade linguística que surgiu com a migração de povos. Esse relato bíblico pode ser visto como uma alegoria para a complexidade crescente das sociedades urbanas da Mesopotâmia, que eventualmente enfrentaram tensões sociais, políticas e ambientais que contribuíram para a dispersão de suas populações. Na época, o declínio das cidades-estados e o aumento da instabilidade podem ter forçado grupos nómadas a buscar novas terras, como Canaã. Outras narrativas bíblicas, como as de Abraão, Isaac, Jacó e seus descendentes, também parecem refletir experiências de deslocamento e migração. Esses relatos podem ser interpretados como memórias de movimentos populacionais que ocorreram durante a Idade do Bronze, quando grupos semíticos do norte da Mesopotâmia e das áreas circundantes migraram para o oeste, para a região de Canaã e toda o leste mediterrânico.

Segundo as tradições bíblicas e alguns indícios históricos, as tribos descendentes de Abraão, que migraram de Ur para Canaã, enfrentaram dificuldades e hostilidade na região. Isso os levou a buscar refúgio no Egito, onde inicialmente foram recebidos de maneira mais favorável. A história de Jacó (Israel) e seus filhos, particularmente a de José, é central para essa narrativa. De acordo com o relato bíblico, José foi vendido como escravo por seus irmãos e levado ao Egito, onde, por meio de uma série de eventos, ganhou favor e se tornou um conselheiro importante na corte do faraó. Quando uma grande fome atingiu Canaã e outras regiões, as tribos israelitas lideradas por Jacó migraram para o Egito em busca de comida e melhores condições de vida.

Durante algum tempo, os hebreus foram bem tratados no Egito e prosperaram na região de Gósen, uma área fértil no delta do Nilo. No entanto, com o passar dos anos, essa relação positiva mudou drasticamente. A narrativa bíblica relata que um novo faraó, “que não conhecia José,” subiu ao poder e começou a ver os hebreus como uma ameaça devido ao seu número crescente e à sua potencial influência. Esse novo faraó escravizou os hebreus e impôs-lhes trabalho forçado, dando início ao período de cativeiro que culminaria, segundo a tradição, com a liderança de Moisés e o êxodo do Egito. Esse evento se tornou um marco na identidade e na história do povo hebreu, simbolizando libertação e renovação.

Segundo a tradição bíblica, passaram-se cerca de quatrocentos a quinhentos anos entre a chegada das tribos hebraicas ao Egito e a época de Moisés, que liderou o Êxodo de volta à terra de Canaã. Essa cronologia é baseada principalmente em textos do Antigo Testamento, que sugerem um longo período de escravidão e opressão para os israelitas no Egito antes da libertação sob a liderança de Moisés. Esse período de escravidão é muitas vezes colocado no contexto da Idade do Bronze Tardia (aproximadamente entre 1500 e 1200 a.C.), embora a datação exata seja difícil de determinar com precisão.

A história do Êxodo, liderada por Moisés, é geralmente datada por volta do século XIII a.C., num período em que o Egito estava sob a dinastia Ramsés, possivelmente durante o reinado de Ramsés II ou de seu sucessor Merneptá. Durante esse tempo, Moisés teria confrontado o faraó, exigindo a libertação do seu povo, o que levou às famosas pragas do Egito e, finalmente, à fuga dos israelitas para o deserto do Sinai. Depois de décadas vagando pelo deserto, os hebreus finalmente retornaram à terra de Canaã sob a liderança de Josué, sucessor de Moisés. Esse retorno foi marcado por um processo de conquista e assentamento em Canaã, descrito de forma detalhada no livro de Josué na Bíblia. Essa narrativa bíblica da conquista é repleta de batalhas e desafios, sugerindo um esforço prolongado e complexo para se estabelecer de forma duradoura na região.

Embora os relatos bíblicos tenham sido enriquecidos com elementos religiosos e simbólicos, há alguns indícios históricos e arqueológicos que apontam para movimentos de populações semíticas na região durante esse período. Esse contexto coincide com uma época de instabilidade onde várias culturas e cidades-estados passaram por mudanças e conflitos que facilitaram migrações e assentamentos de novos grupos. A longa jornada do povo hebreu, desde Ur até Canaã, passando pelo Egito e pelo Êxodo, reflete a luta de um povo por identidade e sobrevivência num cenário de transformações políticas e culturais profundas no antigo Médio Oriente.

Há evidências de que a civilização suméria manteve relações comerciais extensas com outras culturas distantes, incluindo as civilizações do Vale do Indo, como Mohenjo-daro, e com povos da Península Arábica. Os sumérios eram uma sociedade altamente desenvolvida, com uma economia baseada na agricultura, manufatura e comércio, e estabeleceram uma rede de trocas que abrangia grandes distâncias no mundo antigo.




Comércio com o Vale do Indo: Os sumérios comercializavam com as civilizações do Vale do Indo (como Mohenjo-daro e Harappa) já no terceiro milénio a.C. Essa relação é atestada pela descoberta de artefactos do Vale do Indo em sítios arqueológicos sumérios e vice-versa. Produtos como pedras semipreciosas (como lápis-lazúli e cornalina), marfim, algodão e outros bens eram trocados. As civilizações do Vale do Indo eram conhecidas pela sua habilidade em artesanato e manufatura, e os sumérios buscavam essas mercadorias exóticas para satisfazer as demandas da elite e para uso em rituais religiosos. O comércio entre as duas civilizações provavelmente era realizado por meio de rotas marítimas que atravessavam o Golfo Pérsico e alcançavam as costas da Mesopotâmia. O porto de Dilmun (que corresponde à moderna ilha de Bahrein) servia como um importante ponto de conexão nessa rota, funcionando como um entreposto comercial.

Comércio e migração para a Arábia: Os sumérios também mantinham contactos comerciais com a Península Arábica. Eles negociavam com povos das regiões que hoje correspondem ao Omã e ao sul da Arábia Saudita. Itens como cobre, pedras preciosas e incenso eram trocados, itens que eram altamente valorizados nas cidades sumérias para construção, fabricação de ferramentas e em práticas religiosas. Além do comércio, a instabilidade política e o declínio gradual da civilização suméria levaram a uma série de migrações de pessoas para o sul, em direção à Arábia. Migrantes de Ur e outras cidades sumérias podem ter se deslocado para regiões da Península Arábica em busca de novas oportunidades ou devido à necessidade de escapar de conflitos e condições adversas em suas terras de origem. Esses movimentos populacionais ajudaram a disseminar ideias, tecnologias e práticas culturais sumérias para essas novas regiões, influenciando as sociedades locais.

Impacto cultural e tecnológico: A influência suméria nessas trocas comerciais e migrações se refletiu em aspetos culturais e tecnológicos em outras civilizações. Por exemplo, a escrita cuneiforme suméria e algumas técnicas de construção e irrigação foram difundidas para outras culturas, direta ou indiretamente, por meio dessas interações. Essas conexões comerciais e culturais entre a Suméria, o Vale do Indo e a Península Arábica mostram como as civilizações antigas eram interconectadas, criando uma rede de troca de bens e ideias que ajudou a moldar o desenvolvimento das culturas do Próximo e Médio Oriente.

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