quarta-feira, 30 de outubro de 2024

A social-democracia nórdica


A social-democracia nórdica da segunda metade do século XX foi uma lufada de ar fresco. Foi um modelo que combinou bem elementos do socialismo e do capitalismo de forma equilibrada e eficaz. Os países nórdicos, como Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia, implementaram políticas que buscavam garantir tanto o crescimento económico como a justiça social, resultando em sociedades com altos níveis de bem-estar, igualdade e coesão social. Esses países estabeleceram um sistema de estado de bem-estar social robusto, que incluía acesso universal à saúde, educação de qualidade, proteção social e políticas de emprego. Além disso, promoveram a negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores, garantindo direitos laborais e um padrão de vida digno para a população. Esse modelo foi capaz de unir a eficiência económica do capitalismo comprometido com a justiça social.

A social-democracia nórdica conseguiu evitar os extremos: de um lado o autoritarismo do socialismo Russo e do outro os excessos do neoliberalismo da América. Em vez disso buscou o caminho do meio, onde a intervenção estatal era vista como necessária para corrigir as falhas do mercado, promovendo o bem-estar social. O sucesso desse modelo de desenvolvimento humano com índices elevados de felicidade, atraiu o interesse e até mesmo a admiração de muitas partes do mundo. Entretanto, algo se modificou depois do elevado fluxo migratório oriundo do Próximo e Médio Oriente, e a desigualdade começou a crescer. Geraram-se tensões em torno do estado de bem-estar social, o que desencadeou o crescimento da extrema-direita que tem vindo a por em causa a sustentabilidade do modelo muito elogiado.

Os países nórdicos estão mesmo a ser tomados pela extrema-direita, isso não é ficção. E tal facto tem vindo a ser atribuído ao excesso de facilitismo em relação ao modo de vida das comunidades de origem muçulmana. A ascensão da extrema-direita nos países nórdicos, assim como noutras partes da Europa, tem-se relacionado em parte com a dificuldade de integração das diversas comunidades. A narrativa de que as políticas de acolhimento redundaram num colossal fracasso tem contribuído para dar força aos partidos de extrema-direita. Esses partidos frequentemente argumentam que as políticas social-democratas, que inicialmente buscavam promover a inclusão e a diversidade resultaram em tensões sociais, no aumento da criminalidade, e numa suposta balbúrdia identitária e cultural com o chavão da "nova invasão pacífica dos bárbaros". Esta em sentido inverso da antiga invasão dos bárbaros, após a queda do Império Romano do Ocidente, gente vinda de Norte para Sul.

Até agora, esquerda moderada e centro-esquerda, consideravam manifestamente exageradas as narrativas que apontavam o dedo aos imigrantes a causa do aumento da criminalidade e dos problemas da habitação. Mas ultimamente algo está a mudar, com a cedência dos moderados à retórica populista e xenófoba. Admitem, em abono da honestidade intelectual, que o aumento significativo de uma certa imigração descontrolada está ultimamente a começar a contribuir para algum mal-estar em algumas camadas da população mais desfavorecida. Começa-se a sentir dificuldade no processo de integração em ambos os lados da equação. Há cada vez mais pessoas indignadas com a forma degradante e precária em que estão a viver alguns imigrantes. Por outro lado, certas pessoas nativas sentem-se chocadas com certas aberrações de índole cultural dos estrangeiros. E isso está a alarmar comerciantes e empresários de sectores de atividade económica que depende completamente de mão de obra estrangeira.

Uma "maçã podre" pode contaminar todo o cesto. Esta metáfora serve para ilustrar como a presença de extremismos ou comportamentos radicalizados dentro de uma comunidade pode afetar a percepção geral sobre ela. Quando há indivíduos ou grupos que adotam posturas de intolerância ou violência, isso pode criar uma narrativa negativa que prejudica a imagem de toda a comunidade. Essa dinâmica pode levar a generalizações injustas, onde a ação de uma minoria é vista como representativa de todo o grupo. Isso reforça estereótipos e pode alimentar a hostilidade e a polarização, dificultando a construção de relações de confiança e diálogo. Por conseguinte, o desafio está em encontrar as formas de lidar com as "maçãs podres" sem deitar fora todo o cesto, promovendo um ambiente onde a diversidade e a pluralidade possam ser celebradas, enquanto se combatem ideologias e comportamentos que vão contra os valores democráticos e o respeito mútuo.

A história revela um padrão de conflitos e guerras que muitas vezes se repetem ao longo do tempo, frequentemente ligados a questões de identidade, poder, recursos e a incapacidade de resolver tensões de forma pacífica. Os "realistas" na política internacional argumentam que a natureza humana e as dinâmicas de poder inevitavelmente levam a conflitos, especialmente em contextos de rivalidade e competição por recursos. Esses realistas enfatizam que, apesar dos esforços de diplomacia e integração, existem fatores estruturais e interesses nacionais que podem levar a tensões e guerras. A dificuldade em encontrar soluções duradouras para as disputas e a resistência a aceitar a diversidade num mundo globalizado são algumas das razões pelas quais os conflitos continuam a emergir.


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