Abu-l-Qasim Ahmad ibn al-Husayn ibn Qasi, que reinou Mértola e Silves, também foi um líder sufi, com a particularidade de ter celebrado uma aliança com D. Afonso Henriques, rei de Portugal. Nasceu alegadamente em Silves, em ano incerto do séc. XII, numa família de muladis, ou seja, antigos cristãos convertidos ao islamismo após a conquista do Sul da Península Ibérica pelos muçulmanos em 711. Especula-se que o seu nome de família, Qasi, será uma corruptela do latim Cassius, que seria o nome ancestral da sua família.
Dois senhores da região, Ibn Wazir e Ibn al-Mundhir rebelam-se também contra os Almorávidas e prestam-lhe vassalagem, obtendo respetivamente o domínio de Beja e de Silves como recompensa, sendo que o último é enviado por Ibn Qasi em conquistas sucessivas de Niebla, Huelva e numa tentativa falhada de cerco a Sevilha, que o obriga a recuar aos seus domínios.
Ibn Wazir, acaba por se aliar ao senhor de Córdoba derrotando e capturando al-Mundhir, Ibn Qasi, alarmado, tenta pedir ajuda ao Califado Almóada, do Norte de África, mas sem sucesso. Depois de um reinado de pouco mais de um ano perde Mértola para Ibn Wazir. Ibn Qasi foge então para África e intercede pessoalmente junto dos líderes dos Almóadas, que se aliam a ele e lançam, poucos anos depois, uma ofensiva sobre o Sul da Península Ibérica que conquista sucessivamente Jerez, Niebla, Mértola e Silves. Ibn Wazir rende-se e declara fidelidade aos Almóadas, participando ambos os antigos aliados ao assalto (com sucesso, desta vez) dos Almóadas a Sevilha. Como paga pelo seu contributo, é dado a Ibn Qasi o domínio sobre a sua Silves natal. Com a subsequente queda da dinastia dos Almorávidas às mãos dos Almóadas, aproveita uma onda de declarações de independência política de diversos senhores locais para também ele se declarar independente.
No entanto, quando os restantes “reis” locais juram mais tarde fidelidade ao líder dos Almóadas, Ibn Qasi recusa, e procura em contrapartida uma aliança com um cristão. E esse cristão é o nosso Afonso Henriques, que tinha recentemente conquistado Lisboa e se tornado admirado e respeitado pelo seu feito notável de se ter tornado independente do imperador de Leão e Castela. Afonso Henriques terá aceitado esta aliança e enviado de presente, simbolicamente, um cavalo, um escudo e uma lança. Descontentes com esta aliança, os Almóadas patrocinam um golpe, possivelmente liderado por al-Mundhir, perpetrado em 1151, o qual custou a cabeça de Ibn Qasi. Sem o seu mahdi, os muridinos tentam ainda resistir no seu último reduto, Tavira, mas ataques sucessivos lançados desde Cacela acabam por levar à extinção deste movimento. Embora Ibn Qasi e os seus seguidores tenham sido esmagados pelos Almóadas, a sua memória continua viva nas terras de que um dia foi senhor, e tem sido inclusive celebrada nas últimas décadas.
Abacar Maomé ibne Ali ibne Arabi, que nasceu em Múrcia, 28 de julho de 1165, e morreu em Damasco em 10 de novembro de 1240, mais conhecido como Ibn Arabi, Abenarabi e Ben Arabi foi um místico sufi, filósofo, poeta, viajante e sábio hispano-muçulmano do Andaluz. As suas importantes e numerosas contribuições em distintos campos das ciências islâmicas valeram-lhe os títulos de Vivificador da Religião (Muhyi al-Din) e Mestre supremo (as-Sheikh al-Akbar), além de o platonismo de sua metafísica tornar-lhe conhecido pelo apelido de o Platónico ou "Filho de Platão" (Ibn Aflatun). Das mais de 800 obras que lhe são atribuídas, 100 sobrevivem no manuscrito original. Seus ensinamentos cosmológicos se tornaram a cosmovisão dominante em muitas partes do mundo islâmico.
Em resumo, o sufismo é um ramo do conhecimento no Islão, que trata dos aspectos internos da prática e da ética religiosas. Por aspectos internos, entenda-se o que se refere não somente às intenções, sentimentos e consciência, mas também aos aspectos mais intensos e profundos da espiritualidade, e em última instância ao coração. O sufismo ortodoxo de influência muçulmana pode ser dividido historicamente nos períodos antigo, clássico, medieval e moderno. Um dos fatos marcantes do período clássico foi a crucificação de Almançor Alhalaje, acusado de heresia, em 922, após declarar "Eu sou a verdade". Foi na época medieval, entretanto, que os sufis aprenderam a disfarçar em poesias complexas qualquer afirmação que pudesse ser considerada um desafio à crença do "Deus Único". Assim, só mesmo os esclarecidos podiam decifrá-las. Durante a Idade Média, Algazali (1059–1111) afastou-se da vida mundana para empreender uma busca por Deus. Seus escritos ajudaram a combinar os aspectos considerados heréticos do sufismo com o islamismo ortodoxo. Em números, os sufis atingiram o auge na era moderna, entre 1550 e 1800. Embora ainda sejam perseguidos em alguns países islâmicos, os sufis estão presentes em diversas partes do mundo.
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