quarta-feira, 2 de outubro de 2024

As várias formas de organização política e económica


A complexidade das interações entre sistemas é parte da dinâmica da geopolítica atual. Se Marine Le Pen se tornasse presidente da França, poderíamos esperar mudanças significativas em diversas áreas, dado o seu histórico e as plataformas defendidas por seu partido, o Rassemblement National (RN). Essas mudanças provavelmente seriam mais visíveis na imigração. Le Pen defende políticas muito mais rígidas em relação à imigração. Isso poderia incluir a redução de fluxos migratórios, com foco em limitar a imigração não europeia e a concessão de asilo. Haveria políticas mais restritivas para novos imigrantes e até mesmo propostas de endurecimento das regras de cidadania. Le Pen tem defendido políticas que dariam preferência aos cidadãos franceses em áreas como emprego, habitação e benefícios sociais. Isso poderia criar tensões sociais e levantar questões sobre discriminação.

De resto, pouco mudaria em relação ao sistema capitalista, o sistema mais difundido em tod o mundo. Focado na propriedade privada, mercados livres, e o lucro como motor económico, o capitalismo varia entre capitalismo liberal (como nos EUA e Europa Ocidental) e capitalismo de Estado (como na China, onde o governo tem um papel maior na economia). Sistemas políticos que combinam o capitalismo com liberdades civis, direitos individuais, e eleições livres e justas, incluem a maioria dos países da Europa Ocidental, EUA, Canadá, Japão. As democracias iliberais, também conhecidas como "democracias controladas" ou "autoritarismo eleitoral", combinam eleições com uma erosão de liberdades civis e instituições democráticas. É o caso da Hungria de Viktor Orbán, e da Turquia sob Erdogan, só para dar dois exemplos. As autocracias são regimes onde o poder está concentrado em uma pessoa ou grupo pequeno, sem espaço significativo para oposição política ou eleições livres. Exemplos incluem a Coreia do Norte, Arábia Saudita, e até a Rússia sob Putin e a Venezuela sob Maduro.

Além desses sistemas, outros tipos menos dominantes ou em declínio incluem o comunismo e teocracias. Embora o comunismo como modelo económico tenha praticamente desaparecido com a queda da União Soviética, ainda persiste de forma limitada em países como Cuba e Coreia do Norte. A China mantém um governo de partido único, mas com uma economia essencialmente capitalista. As teocracias são sistemas onde a religião e o governo são inseparáveis. Exemplos incluem o Irão, onde o poder é dividido entre estruturas teocráticas e democráticas.

Hoje, não existe nenhum estado declaradamente fascista, nem anarquista. Isso não significa que ainda circulem por aí movimentos que imitam 
características fascistas, como nacionalismo extremo e autoritarismo. Embora não exista nenhum estado oficialmente anarquista, o anarquismo como ideologia prega a ausência de governo centralizado, com ênfase na autogestão e no comunitarismo. Outros sistemas mais híbridos ou menos comuns incluem monarquias absolutas, sultanatos e regimes tribais, que ainda existem em algumas partes do mundo, especialmente no Médio Oriente e em África.

Embora Le Pen tenha abandonado a ideia de retirar a França da União Europeia e do euro, ela ainda defende maior soberania para a França. Isso pode significar a imposição de medidas que desafiem as regras da UE, particularmente em questões de imigração e comércio. Le Pen provavelmente buscaria reformar a União Europeia por dentro, pressionando por mais controlo nacional em detrimento de decisões supranacionais. Isso poderia afetar a relação da França com outras potências europeias, especialmente a Alemanha. Le Pen tem defendido uma forma de protecionismo económico, incluindo subsídios para indústrias locais, medidas para proteger o mercado de trabalho francês de concorrência internacional, e, possivelmente, a reintrodução de controlos fronteiriços para mercadorias. Le Pen promete manter e até aumentar os investimentos nos serviços públicos, particularmente no sistema de saúde e segurança social, o que exigiria uma gestão cuidadosa do orçamento nacional.

Em resumo, uma presidência de Marine Le Pen na França implicaria uma guinada considerável à direita, com políticas mais nacionalistas e protecionistas, uma abordagem mais rígida em questões de imigração e segurança, e possíveis tensões tanto internas quanto externas devido às suas posições controversas. Isso poderia alterar a posição da França na União Europeia e no cenário internacional, além de criar grandes debates dentro do próprio país. Embora uma presidência de Le Pen provavelmente não elimine a democracia formal na França, o seu governo poderia ser caracterizado como iliberal, na medida em que minaria progressivamente os valores democráticos liberais, especialmente no que diz respeito aos direitos civis, às liberdades individuais e à independência institucional.

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