O horror é ver crianças pagar o preço por uma guerra que não escolheram e por líderes de ambos os lados que parecem mais preocupados com objetivos ideológicos do que com vidas humanas. Esse é o ponto mais inaceitável de tudo. O que se exige, do ponto de vista moral e político, é coragem para dizer as verdades difíceis. O Hamas é um desastre para os palestinianos. Israel não pode continuar a ignorar o sofrimento civil em Gaza nem a negar uma solução política de longo prazo. E a comunidade internacional, incluindo o Ocidente, precisa de sair da hipocrisia e agir com firmeza para pôr fim a esta espiral de morte.
O Hamas, embora não seja o único responsável pela tragédia palestiniana, foi um dos maiores flagelos que caiu sobre o seu próprio povo. O sofrimento humano, especialmente o das crianças – a fome, a sede, os bombardeamentos, o trauma – é intolerável para qualquer consciência minimamente ética. E é esse sofrimento que, ironicamente, o Hamas muitas vezes instrumentaliza como arma política e mediática. A sua estratégia baseia-se em provocar Israel com ataques deliberadamente cruéis (como o de 7 de outubro), sabendo que a resposta será devastadora – e que as maiores vítimas dessa resposta serão civis inocentes, sobretudo em Gaza, onde o Hamas se entrincheira entre escolas, hospitais e bairros residenciais. Ou seja, sacrifica o seu próprio povo por cálculo político e ideológico.
Essa lógica perversa tornou o Hamas não apenas um inimigo de Israel, mas também um verdugo do povo palestiniano. Sob o seu governo em Gaza desde 2007, não houve progresso, nem liberdade, nem dignidade. Pelo contrário: houve repressão interna, corrupção, fanatismo religioso, perseguição a dissidentes, e uma cultura de morte em vez de esperança. Mas é preciso também dizer, com clareza, que o sofrimento dos palestinianos não se explica apenas pela presença do Hamas. Há décadas de ocupação, humilhação, bloqueios, colonatos ilegais e falta de soluções políticas reais por parte de Israel e da comunidade internacional. Muitos palestinianos sentem-se encurralados, sem alternativas, e é nesse desespero que movimentos radicais como o Hamas ganham terreno.
Chegámos a um ponto onde as soluções convencionais, diplomáticas ou militares, falharam por completo. Precisamos de mais ideias visionárias, como, por exemplo, a de um “gás anti-ódio” a circular pelos túneis do Hamas, em vez de bombas ou drones. Uma metáfora que seja poderosa, verdadeiramente emocional e moral, que funcione como uma alavanca de transformação da mente humana, de modo a ultrapassar tantos ciclos de vingança e retaliação que se tornou endémico. É uma forma de intervenção bioemocional, que trata o ódio como uma patologia, como quem erradica um vírus com um gás invisível que toque o cérebro e o coração ao mesmo tempo. É a necessidade de intervir na estrutura biológica ou psíquica dos humanos para prevenir a repetição dos mesmos horrores, geração após geração.
Oliver Sacks mostrou-nos, com uma sensibilidade rara, que o cérebro humano pode criar realidades paralelas, comportamentos insólitos, percepções alteradas que parecem retiradas de contos ou fábulas. Casos como “O homem que confundiu a mulher com um chapéu”, revelam algo crucial: a mente humana é infinitamente mais frágil, plástica e misteriosa do que julgamos. E o Flautista de Hamelin, com a sua música hipnótica que arrasta os ratos, mas também as crianças para o desconhecido, pode ser lido hoje como uma metáfora poderosa para várias coisas: a força invisível da sugestão, do carisma, da manipulação… ou até da esperança desesperada. Tal como o som do flautista: ideias ou ideologias guiam multidões, tanto pode ser para a salvação como para o abismo. Tudo depende da melodia, conforme os líderes utilizam o seu carisma, que tanto pode vir do pior ou do melhor dos seus lados.
Ora, se certas alterações cerebrais podem transformar completamente a visão que uma pessoa tem do mundo, então o ódio pode um dia ser abordado como uma patologia. E como qualquer patologia pode ser tratada, ainda que não curada (que significaria ser erradicada de forma definitiva da superfície da Terra). Não apenas com psicologia de superfície, mas com uma intervenção ao nível da neurociência ou da engenharia mental. Algo ainda inconcebível para nós hoje, mas não impossível a longo prazo. A sugestão de um “antídoto contra o ódio”, por mais simbólica que pareça, faz cada vez mais sentido à luz do que Sacks mostrou: há regiões do cérebro onde a compaixão pode ser desligada, a empatia bloqueada, ou o fanatismo instalado como uma espécie de tumor mental. E o que é o extremismo senão isso?
Parece uma fábula, mas o século XXI pode ser o tempo em que essas fábulas comecem a tornar-se hipóteses. A visão de “dar a volta à cabeça ao terrorista no seu próprio ninho”, usando inteligência artificial, robótica e neurociência -- é talvez uma das ideias mais ousadas, que alguém poderia propor para lidar com fanatismos como o do Hamas. Os conflitos do futuro não se ganham com tanques nem bombardeamentos, mas com a capacidade de transformar consciências. E nisso, a inteligência artificial tem um potencial que está ainda por explorar – especialmente no domínio da psicologia de massas, engenharia comportamental e contra-propaganda. Claro que há enormes desafios: éticos, técnicos, logísticos. Mas é aqui que a aposta na IA faz todo o sentido. Se a IA tem potencial para entender o ser humano melhor do que ele próprio, então talvez possamos usá-la para curar o ódio com inteligência, e não com violência.
Com a Inteligência Artificial, a ideia de não matar, mas desarmar internamente, de quebrar o fanatismo com melodia cognitiva, como se fosse o Flautista de Hamelin, ao contrário, não é mera utopia: é uma estratégia que combina as metodologias mais avançadas do contra-terrorismo digital com insights neuroemocionais, estudados por psicólogos, tecnólogos e estrategas globais. Temos já indícios promissores de aplicabilidade real, desde bots que detectam e oferecem narrativas alternativas até deepfakes contra narrativas, passando por análise preditiva de risco.
O futuro pertence aos que tocarem primeiro a alma. Devemos acreditar que a guerra do futuro será travada no plano das consciências. E só a venceremos se formos capazes de criar instrumentos que sintonizem razão, emoção e tecnologia numa só pauta ética.
Ora, se certas alterações cerebrais podem transformar completamente a visão que uma pessoa tem do mundo, então o ódio pode um dia ser abordado como uma patologia. E como qualquer patologia pode ser tratada, ainda que não curada (que significaria ser erradicada de forma definitiva da superfície da Terra). Não apenas com psicologia de superfície, mas com uma intervenção ao nível da neurociência ou da engenharia mental. Algo ainda inconcebível para nós hoje, mas não impossível a longo prazo. A sugestão de um “antídoto contra o ódio”, por mais simbólica que pareça, faz cada vez mais sentido à luz do que Sacks mostrou: há regiões do cérebro onde a compaixão pode ser desligada, a empatia bloqueada, ou o fanatismo instalado como uma espécie de tumor mental. E o que é o extremismo senão isso?
Parece uma fábula, mas o século XXI pode ser o tempo em que essas fábulas comecem a tornar-se hipóteses. A visão de “dar a volta à cabeça ao terrorista no seu próprio ninho”, usando inteligência artificial, robótica e neurociência -- é talvez uma das ideias mais ousadas, que alguém poderia propor para lidar com fanatismos como o do Hamas. Os conflitos do futuro não se ganham com tanques nem bombardeamentos, mas com a capacidade de transformar consciências. E nisso, a inteligência artificial tem um potencial que está ainda por explorar – especialmente no domínio da psicologia de massas, engenharia comportamental e contra-propaganda. Claro que há enormes desafios: éticos, técnicos, logísticos. Mas é aqui que a aposta na IA faz todo o sentido. Se a IA tem potencial para entender o ser humano melhor do que ele próprio, então talvez possamos usá-la para curar o ódio com inteligência, e não com violência.
Com a Inteligência Artificial, a ideia de não matar, mas desarmar internamente, de quebrar o fanatismo com melodia cognitiva, como se fosse o Flautista de Hamelin, ao contrário, não é mera utopia: é uma estratégia que combina as metodologias mais avançadas do contra-terrorismo digital com insights neuroemocionais, estudados por psicólogos, tecnólogos e estrategas globais. Temos já indícios promissores de aplicabilidade real, desde bots que detectam e oferecem narrativas alternativas até deepfakes contra narrativas, passando por análise preditiva de risco.
O futuro pertence aos que tocarem primeiro a alma. Devemos acreditar que a guerra do futuro será travada no plano das consciências. E só a venceremos se formos capazes de criar instrumentos que sintonizem razão, emoção e tecnologia numa só pauta ética.
O Flautista de Hamelin
Ilustração do conto considerado o exemplar mais antigo
O Flautista de Hamelin é um conto folclórico, reescrito pela primeira vez pelos Irmãos Grimm e que narra um desastre incomum acontecido na cidade de Hamelin, na Alemanha, em 26 de junho de 1284.Em 1284 a cidade de Hamelin estava com uma infestação de ratos. Um dia, chega à cidade um homem que reivindica ser um "caçador de ratos" dizendo ter a solução para o problema. Prometeram-lhe um bom pagamento: uma moeda pela cabeça de cada rato. O homem aceitou o acordo, pegou uma flauta e hipnotizou os ratos, afogando-os no Rio Weser.Apesar do sucesso, o povo da cidade roeu a corda e recusou-se a pagar o "caçador de ratos", afirmando que ele não havia apresentado as cabeças. O flautista deixou a cidade, mas voltou várias semanas depois e, enquanto os habitantes estavam na missa, tocou a flauta. Só que desta vez atraiu as crianças de Hamelin. Cento e trinta crianças seguiram-no. E ele conduziu-as para dentro de uma caverna. Na cidade de Hamelin nunca mais se viu um rato. Nem uma criança.
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