terça-feira, 25 de junho de 2024

Índice Democrático dos países



O Índice Democrático é um índice criado em 2006 pela Economist Intelligence Unit da revista The Economist para dar conta do estado da democracia em 167 países. Na avaliação mais recente, divulgada em fevereiro de 2024, o Democracy Index 2023 reportou que a Noruega marcou um total de 9,81 em uma escala de 0 a 10, que foi o resultado mais elevado (1.º país no ranking geral), enquanto o Afeganistão teve a pior nota: 0,26.

Segundo o Índice Democrático, há apenas 24 democracias "plenas" no mundo inteiro. Portugal é considerado uma "democracia com falhas", mas não é o único. Portugal "ainda tem uma caminhada para fazer" até à "democracia plena".

Como a Democracia Popular é um ideal de democracia direta e participativa das bases, não há exatamente valores muito definidos para além da manifestação de apoio a este tipo de democracia em detrimento do que é mais comum e que é a Democracia Represntativa. Mas algumas tentativas têm sido feitas para definir o que são os ideais popular-democratas baseados em torno da ideia de que esta democracia direta é só um passo para uma democracia plena. 

Algumas propostas de valores comuns popular-democráticos têm sido o de a Democracia Popular ser um tipo de democracia direta baseada em referendos e outros mecanismos de delegação de autoridade e concretização da vontade popular. O conceito evoluiu a partir da filosofia política do Populismo como uma versão completamente democrática desta ideologia de delegação de poderes popular, mas desde então tem-se tornado independente dela, e alguns até discutem se elas são antagonísticas ou não-relacionadas agora. Embora a expressão tenha sido usada desde o século XIX e possa ser aplicada à política da Guerra Civil Inglesa, pelo menos a noção (ou a noção na sua forma atual) é considerada recente.

Democracia iliberal, também chamada democracia parcial, democracia de baixa intensidade, democracia vazia, regime híbrido, democratura ou democracia guiada, é um sistema de governo no qual, embora decorra de eleições, os cidadãos são afastados de exercer controlo sobre as atividades daqueles que exercem poder real por conta da falta de liberdades civis. Portanto, não é uma "sociedade aberta". Existem muitos países "que são categorizados como nem 'livres' nem 'não livres', mas como 'provavelmente livres', situando-se entre os regimes democrático e não democrático". Isso pode ocorrer porque existe uma constituição que limita os poderes do governo, mas os que estão no poder ignoram as as liberdades porque não existe uma estrutura constitucional de salvaguarda da Constituição, tal como um Tribunal Constitucional. 


segunda-feira, 24 de junho de 2024

A propósito do caso das gémeas

 


Ana Gomes no seu comentário em podcast de 23 de junho junta-se aos demais comentadores indignados com o triste espetáculo que se passou a 21 de junho na Comissão Parlamentar de Inquérito com o questionaram feito A uma mãe de duas gémeas com a grave doença – distrofia muscular espinhal – que haviam sido tratadas com Zolgensma no Hospital de Santa Maria em Lisboa e que mais tarde a comunicação social veio a publicar uma reportagem em que tinha havido favorecimento por uma alegada cunha do Presidente da República por intermédio do seu filho.

Independentemente de ser indispensável o apuramento da verdade, não havia necessidade de o parlamento submeter a mãe das crianças a uma sórdida desumanidade. Que papel terá tido Marcelo Rebelo de Sousa depois do contacto feito pelo filho, não pode ficar no ar numa nuvem de suspeição. Isso é claro.



Mas os episódios desta trite novela ainda não chegaram ao fim. A Comissão Parlamentar de Inquérito também agendou o ex-primeiro-ministro António Costa para ser ouvido, para além do filho do Presidente - Nuno Rebelo de Sousa. O requerimento, apresentado pelo Chega, foi aprovado com nove votos a favor, duas abstenções e cinco votos contra. A comissão reiterou ainda a convocatória a Nuno Rebelo de Sousa, que pode optar por se deslocar ao Parlamento a 3 ou 12 de julho. Se não comparecer, o filho do Presidente da República incorre no "crime de desobediência qualificada". João Paulo Correia, deputado do Partido Socialista, considerou que esta “é uma chamada política à comissão parlamentar de inquérito”, sem “relevância mínima”. O socialista garantiu que na documentação disponibilizada “não há a mínima intervenção de António Costa” e que o único objetivo de André Ventura e do Chega “é atirar lama” para António Costa. O parlamentar votou contra a audição, afirmando que esta é mais uma das "tentativas de assassinato político" do Chega contra o ex-líder do executivo.

Como o caso já está a correr no Ministério Público, e Nuno Rebelo de Sousa é arguido no processo, O PSD apresentou um requerimento para que seja desenvolvido um parecer pelos serviços da Assembleia da República que defina com clareza até que ponto os arguidos se podem remeter ao silêncio, depois de António Lacerda Sales, antigo secretário de Estado da Saúde, ter invocado o seu estatuto de arguido para não responder às questões colocadas pelos deputados quando foi ouvido no Parlamento. Também os advogados de defesa de Nuno Rebelo de Sousa já anunciaram que o empresário estará disponível para vir à comissão, mas não vai responder a perguntas.

O Zolgensma tinha sido prescrito a uma bebé diagnosticada com atrofia muscular espinhal (AME) tipo 1, que se tornou amplamente conhecido em Portugal, em 2019, pelo “caso Matilde” devido à campanha de angariação de fundos realizada pelos seus pais para obter o Zolgensma, que na época era considerado o mais caro do mundo, custando cerca de 2 milhões de euros. O medicamento já estava a ser comercializado nos Estados Unidos para não na Europa. Antes da Matilde, que se saiba, só mais um caso havia sido tratado em França com o Zolgensma.

A situação gerou uma onda de solidariedade e discussão pública, culminando na decisão do Estado de financiar o tratamento de Matilde e outras crianças com a mesma condição. O caso da Matilde foi discutido no Parlamento português. Desde então, o Zolgensma foi administrado a 33 crianças em Portugal, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes.

A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) aprovou em outubro de 2021 o financiamento público do Zolgensma, para tratamento da atrofia muscular espinhal tipo 1, uma doença que atinge cerca de uma em cada 11 mil crianças.

Matilde, aos três anos, apresentava progressos significativos. Segundo a mãe, ela está com a parte respiratória estável, já consegue ficar em pé por alguns segundos e está recebendo tratamento hormonal para ajudar no crescimento muscular e ósseo. A família espera que sua saúde continue a melhorar para que ela possa frequentar uma creche e socializar com outras crianças.

O acesso ao medicamento voltou a ser notícia na sequência de uma reportagem da TVI, transmitida na sexta-feira, segundo a qual duas gémeas luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o Zolgensma. Totalizou no conjunto quatro milhões de euros. Esta situação levou a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) a abrir um processo de inspeção para verificar "se foram cumpridas todas as normas aplicáveis a este caso concreto", conforme avançou o Infarmed à agência Lusa. De acordo com o Infarmed, o medicamento foi administrado a 33 crianças, em tratamentos realizados no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Centro Hospitalar Lisboa Central, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar do Porto, Centro Hospitalar de São João, e Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.

No entanto, de forma a esclarecer algumas informações relacionadas com o preço do medicamento Zolgensma, salientamos que após o processo de financiamento (negociação com o laboratório de forma a garantir as melhores condições para o SNS, permitindo o acesso a todos os cidadãos que necessitem do medicamento), o preço ficou substancialmente mais baixo do que o indicado

O pagamento é feito através de um contrato de partilha de risco assente no tipo de doente e no resultado clínico, é feito num prazo de quatro anos, e após o pagamento de uma primeira percentagem (anual) se o tratamento não apresentar as melhorias expectáveis, não existirá lugar à continuação do pagamento do medicamento por parte das unidades hospitalares.

Este "Caso Matilde" faz lembrar uma parábola muito antiga que traduzo assim: «um pequeno feito quando acontece está longe de fazer prever que pode fazer desencadear uma sucessão imparável de acontecimentos de contornos imprevisíveis e incontroláveis.»

O Sistema Judicial português a propósitos dos últimos casos das escutas




A falta de uma reforma profunda no sistema judiciário em Portugal, herdado do período do Estado Novo, juntamente com a presença de juízes com atitudes retrógradas, apresenta os maiores desafios aos futuros governantes par que e Portugal os cidadãos possam dispor de uma justiça mais decente e mais justa. Isso está espelhado na lentidão e ineficiência dos processos há muito identificado pelos investigadores a nível internacional. A morosidade processual é uma crítica comum, e a falta de reformas pode exacerbar esse problema.

Muitas das leis e estruturas judiciais ainda são baseadas em princípios e modelos que foram estabelecidos durante o Estado Novo. Isso pode resultar em procedimentos desatualizados e ineficazes, que não atendem às necessidades da sociedade moderna. A cultura dentro do sistema judiciário tem apresentado grandes resistências à mudança. Juízes e outros profissionais do direito ao aderirem a visões mais tradicionais podem acabam por torná-los mais relutantes em adotar reformas que promovam a modernização e a maior eficiência do sistema.

Tem sido patente, em transcrições de considerandos que alguns juízes fazem na elaboração das suas sentenças, posições retrógradas que perpetuam preconceitos e discriminação dentro do sistema judicial. Isso pode afetar negativamente grupos marginalizados e minorias, minando a equidade e a justiça nos julgamentos.

Esta falta de transparência e abertura tem sido contaminada com a crónica violação do segredo de justiça ao aparecerem na comunicação social mais tablóide divulgação de escutas e de recortes mais sensacionalistas dos processos de figuras políticas e públicas com maior impacto mediático. E isto porque o Ministério Público atingiu o grau mais elevado de desresponsabilização dado que não tem de se submeter a prestação de contas acerca da clareza nas decisões judiciais.

A perceção de um sistema judicial com estas características, para além de retrógrado e antiquado, tem minado a confiança pública do sistema judicial português junto dos cidadãos. antiquado e retrógrado pode diminuir a confiança pública nas instituições judiciais. Os cidadãos podem sentir que a justiça não é aplicada de maneira justa e equitativa, o que pode levar à desconfiança generalizada.

Para enfrentar esses desafios, várias medidas podem ser consideradas, mas não é por falta de legislação adequada. Em alguns casos Portugal tem das leis mais avançadas da Europa. O que está em causa é a sua aplicação. É a mentalidade dos aplicadores e a forma como o sistema está organizado que está em causa.

É necessária uma reforma profunda que possa ajudar a introduzir novas práticas e perspetivas, reduzindo atitudes retrógradas. Que também terá de passar por modernização tecnológica para acelerar processos judiciais, melhorar a gestão de casos e aumentar a transparência. Portanto, são as tão faladas Reformas Estruturais. Implementar reformas estruturais no sistema judicial para melhorar a eficiência e a eficácia. Isso pode incluir a reestruturação de tribunais, a criação de novas formas de mediação e resolução de conflitos, e a melhoria da infraestrutura judicial. Adotar práticas que promovam maior abertura e transparência, como a publicação de decisões judiciais e a criação de mecanismos de supervisão e auditoria independentes. Incentivar a diversidade dentro do sistema judicial para assegurar que diferentes perspetivas e experiências estejam representadas. Isso pode ajudar a combater preconceitos e a promover uma justiça mais equitativa. A implementação dessas medidas pode ajudar a modernizar o sistema judiciário português, tornando-o mais justo, eficiente e alinhado com os valores democráticos contemporâneos.

sábado, 22 de junho de 2024

Os anos 80 do trio - Margaret Thatcher, Ronald Reagan e Indira Gandhi




O assassinato de Indira Gandhi, primeira-ministra da Índia, ocorreu às 9h30 de 31 de outubro de 1984 em sua residência em Safdarjung Road, Nova Déli. Gandhi foi morta por dois de seus seguranças, integrantes da seita sique, durante o rescaldo da Operação Estrela Azul, o ataque realizado pelo Exército indiano contra o Templo Dourado, deixando o templo fortemente danificado e resultando na morte de centenas de militantes siques. Gandhi foi assassinada por Satwant Singh e Beant Singh. Beant, que trabalhava há dez anos como segurança da primeira-ministra, foi morto no mesmo dia por outros seguranças, enquanto Satwant foi condenado à pena de morte, sendo executado em janeiro de 1989. Após o assassinato de Gandhi, siques foram perseguidos e mortos pela população revoltada, principalmente pelos hindus, e o filho de Gandhi, Rajiv Gandhi, assumiu a chefia do governo.

Durante os anos 1980, a ocidente, a democracia consolidava-se em Portugal. E em Espanha dava-se o último golpe também de uma transição pacífica de uma ditadura para uma democracia. A democtacia na Europa ocidental consolilava-se com o abortamento de um golpe fascista em Espanha, em 1981. Na Europa havia uma clara divisão entre a Europa Ocidental, onde as democracias estavam se consolidando e expandindo, e a Europa Oriental, que ainda era dominada por regimes ditatoriais comunistas. Enquanto a Espanha realizava uma transição democrática bem-sucedida após a morte de Franco, os países do bloco oriental, sob o controlo da União Soviética, permaneciam sob regimes autoritários e totalitários. Esta disparidade entre leste e oeste foi um aspecto central da Guerra Fria.

Thacher ainda teve de enfrentar não apenas o IRA, mas também os sindicatos, com uma tenacidade de ferro. Margaret Thatcher, Primeira-ministra do reino Unido, enfrentou vários desafios internos incluindo confrontos com o IRA (Exército Republicano Irlandês) e sindicatos trabalhistas. Sua abordagem firme e determinada nessas questões rendeu-lhe uma reputação de liderança forte e intransigente, o que foi admirado por alguns e criticado por outros. Se Indira era o seu avatar como rainha guerrreira, Reagan era o seu parceiro geopolítico.

É interessante pensar em Indira Gandhi como uma "rainha guerreira" e Ronald Reagan como um parceiro geopolítico de destaque durante o seu mandato como presidente. Ambos lideraram os seus países num período turbulento da história mundial e desempenharam papéis significativos em questões geopolíticas, embora as suas abordagens e prioridades pudessem ser diferentes em muitos aspectos.

Certamente, Margaret Thatcher, Indira Gandhi e Ronald Reagan formavam um trío interessante no cenário geopolítico da época. Cada um deles liderou uma nação poderosa e desempenhou papéis distintos, mas frequentemente interligados, em questões geopolíticas globais. Suas interações e relações diplomáticas moldaram significativamente o curso dos acontecimentos durante a Guerra Fria e que continuou muito para lá deles.

A Europa a leste era uma vergonga de ditadores como o caso chocante de Enver Hoxha na Tirana albanesa. Enver Hoxha foi uma figura dominante na Albânia por décadas, liderando o país de forma autoritária e isolacionista. Seu governo impôs um regime comunista brutal, caracterizado pela repressão política, o culto da personalidade e o isolamento do país do resto do mundo. Durante o seu governo, a Albânia tornou-se uma das nações mais fechadas e isoladas do mundo. A morte de Hoxha em 1985 eventualmente abriu caminho para mudanças significativas no país. Margaret Thatcher preocupou-se com uma série de eventos ao redor do mundo, desde a presença soviética no Afeganistão até o apoio a movimentos comunistas em países como Nicarágua e Angola. No entanto, é verdade que a Albânia não era uma prioridade significativa em sua agenda geopolítica.

Enver Hoxha, bem como tantos outros como Stalin e Mao, exemplo paradigmático do perigo que representam homens paranóicos quando conseguem ocupar os lugares de topo do poder. Enver Hoxha, assim como Stalin, Mao e outros líderes autoritários, ilustram bem como indivíduos paranoicos podem exercer um grande poder e impor regimes opressivos sobre populações muito vastas. Sua paranoia muitas vezes os levava a agir de forma brutal contra qualquer oposição percebida, resultando em repressão em massa, perseguições políticas e violações dos direitos humanos. Esses exemplos servem como lembrete dos perigos de concentrar poder nas mãos de líderes autoritários e dos danos que podem causar às sociedades sob seu controlo.

Não se sabe se o filho Shedu de Enver Hoxha se suicidou ou foi assassinado. Mas Hoxha torturou a mulher e matou o filho Skender. Os detalhes sobre as circunstâncias da morte do filho de Enver Hoxha, Shedu, são envoltos em mistério e controvérsia, com algumas alegações de suicídio e outras de assassinato. Quanto ao filho Skender, sua morte foi confirmada como um assassinato por ordem de Hoxha, no meio de uma purga política em 1941. Esses eventos trágicos destacam a brutalidade do regime de Hoxha e as consequências devastadoras da sua ditadura.

No topo do decadente regime soviético estava Andropov a braços com os protestos na Polónia. Yuri Andropov foi o líder da União Soviética durante um período crucial, especialmente durante a primeira metade da década 1980, quando o comunismo estava enfrentando desafios significativos tanto internos quanto externos. Ele assumiu o cargo de Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética em 1982, sucedendo Leonid Brejnev. E
m julho de 1982 Andropov assumiu a presidência ainda com Brezhnev vivo e demente, mas ele também já estava muito doente com insuficiência renal. Brezhnev faleceu em 10 de novembro de 1982. A caminho do velório de Estado, o fundo do caixão cedeu e o corpo de Brezhnev foi parar ao chão. Sim, houve relatos de que o fundo do caixão que transportava o corpo de Leonid Brezhnev cedeu durante o trajeto para o velório de Estado. Esse incidente foi considerado embaraçoso e simbolicamente significativo, refletindo não apenas a deterioração física do líder soviético, mas também a deterioração do sistema político e do regime que ele representava. Esse evento também contribuiu para a percepção pública da fragilidade e da decadência do governo soviético naquela época.

 Durante o seu mandato, Andropov já enfrentava uma crise económica gravíssima, que se fazia acompanhar de uma catadupa de dissidências nos países do bloco comunista, incluindo os protestos na Polónia liderados pelo movimento Solidariedade. Eram os estertores do declínio do comunismo na Europa Oriental. Andropov enfrentava dentro de portas a concorrência de outro geronte chamado Chernenko na cortida da sucessão a Brezhnev. Konstantin Chernenko era um outro líder soviético proeminente na época. E efetivamente Chernenko acabou sucedendo Andropov após a sua morte em 1984. Mas este também governou por pouco tempo, dado que a morte bateu-lhe à porta em 1985. Essa competição interna, que refletia tensões na dinâmica política de decadência do Partido Comunista Soviético, facilitou a emergência de alguém que aos olhos dos ocidentais era uma completa carta fora do baralho: Mikhail Gorbachev.

Gorbachev foi um líder reformista que implementou uma série de reformas políticas e económicas, incluindo a política de Glasnost (transparência) e Perestroika (reestruturação), que visavam modernizar e revitalizar a União Soviética. Sua ascensão ao poder e suas políticas foram de facto muito comentadas e tiveram um impacto profundo não apenas na União Soviética, mas também no cenário político mundial, eventualmente contribuindo para o colapso do comunismo na Europa Oriental e o fim da Guerra Fria. É possível que Mikhail Gorbachev tenha sido ingénuo ao tentar implementar reformas políticas dentro de um sistema de partido único. Suas políticas de Glasnost e Perestroika buscavam abrir o sistema soviético para maior transparência e participação popular, mas ainda mantendo o monopólio do poder pelo Partido Comunista. No entanto, isso criou um dilema, pois as reformas políticas incentivavam a crítica ao sistema e à liderança do partido, minando a autoridade e a legitimidade do próprio partido. Isso eventualmente contribuiu para o desmantelamento do regime comunista e para o colapso da União Soviética.

A desintegração do Império Soviético era inevitável devido a uma série de fatores internos e externos. Internamente, as políticas de reforma de Gorbachev abriram espaço para o surgimento de movimentos nacionalistas e separatistas em várias repúblicas soviéticas, que buscavam mais autonomia e, em alguns casos, independência completa. Além disso, a economia soviética estava enfrentando dificuldades crescentes, com escassez de bens e serviços e uma estrutura económica ineficiente. E é aqui que entra o trio que vinha a falar de início. Estados Unidos e outras potências ocidentais durante a Guerra Fria contribuiram para enfraquecer o sistema comunista soviético. Eventos como a queda do Muro de Berlim em 1989, e as revoltas nos países do chamado bloco da cortina de ferro e Pacto de Varsóvia mostraram que a ideologia comunista jtambém tinha falecido e o sistema soviético estava podre. Todas essas forças combinadas levaram à desintegração da União Soviética em 1991, marcando o fim de um dos regimes políticos mais poderosos e duradouros do século XX.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Maria Teresa de Áustria casa a filha Antonia com Luís Augusto delfim de França



Maria Antonieta
por Elisabeth Vigée-Le Brun

Maria Antonieta, em alemão Maria Antonia e em francês Marie Antoinette, nasceu em Viena em 1755, filha da imperatriz da Áustria – Maria Teresa e do imperador Francisco I do Sacro Império Romano-Germânico, que morreu em Innsbruck, em 1765. Porém, era Maria Teresa quem realmente exercia o poder real. Maria Teresa usou Antonia como um "peão" no jogo político para cimentar uma nova aliança com o arqui-inimigo secular da Áustria: a França. Após longas negociações, comandadas pelo francês Étienne, Duque de Choiseul e pelo austríaco príncipe de Starhemberg, acertou-se o compromisso da jovem com Luís Augusto, delfim de França. Assim, em abril de 1770, aos 14 anos de idade, foram encetados os protocolos de casamento com o então delfim de França (que subiria ao trono em maio de 1774 com o título de Luís XVI. Arquiduquesa da Áustria, esposa do rei Luís XVI e Rainha Consorte da França e Navarra de 1774 até à Revolução Francesa em 1792.

Em novembro de 1768, o abade de Vermond partiu para Viena, como tutor de Antonia. A arquiduquesa, embora bela e inteligente, também era descrita como preguiçosa e indisciplinada e não tinha o conhecimento necessário para desempenhar o papel de rainha. O abade submeteu Antonia a um programa educacional projetado especialmente para ela, onde substituiu o estudo de livros por longas palestras que versavam sobre história, religião e literatura francesa. O programa obteve bons resultados e o tutor ficou encantado com os progressos de Antonia.

Nos poucos meses que antecederam o casamento, Maria Teresa tentou recuperar a relação com a filha, dividindo seus aposentos com ela nas últimas noites antes da partida para a França. Em 19 de abril de 1770 foi celebrado o casamento por procuração. A partir desse momento Antonia foi oficialmente chamada de "Marie Antoinette, Dauphine de France". Em 21 de abril de 1770, seguida por um sumptuoso cortejo de cinquenta e sete carruagens, Maria Antonieta deixou Viena para nunca mais voltar. Embora devesse esquecer as suas origens austríacas e tornar-se uma francesa de corpo e alma, como se esperava de toda a rainha consorte de França, a jovem delfina preferiu seguir as instruções de sua mãe, que lhe ordenou no momento da despedida: "Continue sendo uma boa alemã". A imperatriz continuaria a intimidar sua filha nas cartas mensais expedidas para Versalhes, onde lembrava a fidelidade que a jovem devia à Casa d'Áustria.

Após duas semanas de viagem e sendo elogiada por onde passava, a delfina chegou a Shüttern, na margem do Reno oposta a Estrasburgo. Em um pavilhão de madeira construído especialmente para a ocasião numa pequena ilha no Reno, teve lugar a cerimónia durante a qual Maria Antonieta trocou seus trajes austríacos pelos franceses. A delfina despediu-se definitivamente de seu séquito para ser acolhida por um cortejo francês, chefiado por Anne, Condessa de Noailles, recentemente nomeada "Grã-mestre da Casa da Delfina". O cortejo retomou a marcha para Compiègne, onde a delfina era esperada pela corte francesa, incluindo o rei Luís XV, o delfim e o duque de Choiseul, que foi ao encontro da jovem e auxiliou o seu desembarque. Maria Antonieta disse-lhe: "Nunca esquecerei que vós fostes o defensor de minha felicidade!". O casal viu-se pela primeira vez e a delfina notou que seu marido era muito diferente do descrito durante as negociações de casamento: era desajeitado, inábil e já bastante obeso para a idade; os retratos enviados para a Áustria haviam favorecido grandemente a sua aparência.

As bodas foram celebradas a 16 de maio de 1770, numa cerimónia solene em Versalhes, e todo o povo foi convidado a festejar a alegria da família real. Após o jantar, iniciou-se a cerimónia do coucher a qual, pela etiqueta, deveria ser presenciada por toda a corte. O casal foi para a cama e o leito nupcial foi abençoado pelo arcebispo. Ao final da cerimónia os noivos foram deixados a sós, mas o casamento não foi consumado. Enfim, ela não sabia nas que se estava a meter. Por exemplo, ela não sabia que Madame du Barry tinha sido uma amante famosa de Luís XV da França, uma grande influente na corte francesa durante o reinado de Luís XV. Maria Antonieta enfrentou dificuldades para engravidar durante os primeiros anos de seu casamento com Luís XVI. Isso causou especulações e pressões sobre ela na corte francesa. Maria Teresa Carlota, a primeira filha deles, nasceu em 1778.

Maria Teresa da Áustria, em Viena, estava preocupada com o comportamento de sua filha na corte francesa, especialmente devido aos rumores sobre a sua extravagância e estilo de vida. Ela expressou preocupações sobre a influência negativa que isso poderia ter na reputação da família e nas relações diplomáticas. Entretanto a França estava enfrentando graves problemas financeiros que eventualmente levaram à bancarrota. As despesas excessivas da monarquia, combinadas com a má administração financeira e a pressão fiscal sobre a população, contribuíram significativamente para a crise económica do país. Isso acabou desempenhando um papel importante na Revolução Francesa.

Por outro lado, Maria Teresa da Áustria era uma imperatriz muito preocupada com as questões geopolíticas, incluindo a sua relação com Catarina II, a Grande, da Rússia. Embora as duas tenham mantido relações diplomáticas, houve momentos de tensão e rivalidade, especialmente em relação aos interesses territoriais e à influência na Europa Oriental. O regicídio de Pedro III da Rússia, que era marido de Catarina, deposto e posteriormente assassinado, certamente causou horror e preocupação a Maria Teresa da Áustria. Isso porque poderia criar instabilidade na região e afetar as relações diplomáticas entre os países europeus. 
Matia Teresa condescendeu com Catarina II e com Frederico II da Prússia na divisão da Polónia-Lituânia em 1772. Embora Maria Teresa tenha inicialmente relutado em se envolver nesse processo, ela acabou concordando com a partilha, pois isso lhe garantiria ganhos territoriais e fortaleceria sua posição na Europa Oriental. Essa partilha foi apenas o primeiro de uma série de eventos que levaram à eventual divisão total do país entre os três poderes, em 1795.

As taras sexuais de Catarina II são frequentemente tema de especulação e discussão, mas é importante notar que muitos relatos sobre sua vida privada podem ser exagerados ou baseados em rumores infundados. Catarina II foi uma governante influente, cujo reinado foi marcado por reformas significativas e pela expansão do império russo. Suas contribuições políticas e culturais costumam ser mais enfatizadas do que sua vida pessoal.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Escola de Frankfurt



Escola de Frankfurt foi o nome pelo qual se tornou conhecido o grupo de filósofos e sociólogos associados ao Institut für Sozialforschung. A Escola foi fundada na década de 1930 por Max Horkheimer (1895–1973), filósofo e sociólogo alemão. Em a Dialética do Esclarecimento, publicada em 1947, é uma crítica pessimista da modernidade e uma obra paradigma da primeira geração da Escola. Nela, Horkheimer e Adorno questionam o próprio valor do projeto ético e político do Ocidente com questões inquietantes. Perguntam como pôde a razão tornar-se irracional e como pôde o Iluminismo, que tinha por fim a emancipação dos seres humanos, ter redundado no desastre às mãos dos nazis. Como a ciência se prestou para carrasca de uma destruição maciça. O projeto que pretendera emancipar a humanidade e libertá-la da menoridade, como pensara Kant, acabou por dar rédea solta à barbárie. Max Horkheimer foi presidente do Instituto entre 1930 e 1933. Pouco depois da ascensão de Hitler a chanceler alemão, o Instituto foi encerrado (a Gestapo tomou o edifício). Conseguiu emigrar para os Estados Unidos da América, tendo entre 1949 e 1958 passado por Nova Iorque e Chicago. 

O Institut für Sozialforschung tinha começado como um grupo de estudos marxista, quando Felix Weil, um estudante de Ciência Política, utilizou a sua herança para apoiar investigação social de orientação esquerdista. A Teoria Crítica pretendia ser uma reatualização do marxismo para as sociedades capitalistas avançadas e, ao mesmo tempo, uma crítica ao Positivismo, ou modo de pensar positivista.  Era a forma de pensar e praticar as ciências sociais como extensão do modelo e do método das ciências naturais. Uma interrogação central era por que razão o proletariado não se tinha tornado uma classe revolucionária. A ideia de emancipação no sentido moral, social e político, tal como esta se encontra já em Kant, um convicto Aufklärer, é desde os inícios fundamental para o programa da Escola. Também por isso as conclusões pessimistas de Adorno e Horkheimer na Dialética do Esclarecimento são tão importantes. 

O compromisso teórico da Escola de Frankfurt com o Iluminismo e com o ideal de emancipação permite compreender a razão pela qual Jürgen Habermas, o seu mais conhecido representante atual, deu corpo à reação ao pós-modernismo nos debates sobre modernidade e pós-modernidade nos anos 1980 e 1990, nomeadamente em discussão com o filósofo francês Jean-François Lyotard, ou na sua crítica ao filósofo francês Jacques Derrida. Na visão de Habermas, o pós-modernismo teria precisamente deixado cair qualquer vocação emancipadora do pensamento, tal como esta estivera sempre presente na grande tradição alemã, a tradição de Kant, Hegel e Marx. 

Theodor W. Adorno (1903–1969), regressado da emigração forçada para os EUA,  torna-se uma figura muito importante na filosofia alemã do pós-guerra. Antes da ascensão de Hitler ao poder, tinha já tido uma breve carreira académica e literária. Filósofo (escreveu a sua Habilitationsschrift sobre Kierkegaard) e músico (estudante de Composição com Alban Berg em Viena), manteve sempre perto da superfície a veia artística do seu pensamento. A sua Filosofia da Nova Música (1949) e a sua Teoria Estética (1970, póstuma) podem ser vistas diretamente a essa luz. Escritas (nas palavras do próprio) em «estilo paratético e atonal», as investigações estéticas ocupam mais de metade do corpus de Adorno. Não são, no entanto, separáveis do enquadramento geral de teoria social da sua obra. Noutras palavras, se a obra estética de Adorno é aquilo que sobressai nos seus escritos, essas investigações acontecem no seio do projeto da Escola, um projeto de continuação crítica (eventualmente melancólica e pessimista) do projeto de emancipação da modernidade, num contexto de investigação social. 

Adorno foi um duro crítico de Heidegger. Apesar disso, a sua própria crítica da modernidade tem muito em comum com a crítica heideggeriana. A Dialética do Esclarecimento é um exemplo, muito embora sem as solenes formulações heideggerianas, e assumindo um ponto de vista mais claramente histórico e social, é marcado pelo marxismo e por apropriações e usos de autores como Hegel, Schopenhauer, Nietzsche, Lukács e Benjamin, muitas das teses de Adorno e Horkheimer são análogas às teses de Heidegger.

No pessimismo cultural e sociológico de Adorno, depois da guerra, não há Aufhebung, não existe a elevação e superação do racionalismo dialético hegeliano. Não há chegada ao espírito a si, compreendendo a racionalidade da realidade. O que existe em vez disso, no retrato de Adorno, é um mundo administrado, um mundo da racionalidade instrumental desenfreada e enlouquecida, um mundo de indústria cultural. A dominação e controlo da natureza tornou-se dominação e controlo sobre os homens, culminando na dominação da natureza nos homens e na repressão. O lado escondido da razão iluminista é precisamente a violência repressiva e o totalitarismo. 

Para Adorno, a palavra «Auschwitz» simboliza isto mesmo. Quais poderão então ser ainda as aspirações iluministas neste contexto? Na Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer continuavam a declarar a sua crença na inseparabilidade da liberdade social e do pensamento esclarecido. No caso de Adorno, além da crítica, que é concebida de forma hegeliana como negação imanente, a esperança utópica do Iluminismo ganha contornos estéticos. Ele fala em contemplar o mundo do ponto de vista da redenção, ver traços messiânicos. Isto liga-o a Benjamin, mais do que a Heidegger. Nesta época de metafísica e esquecimento do Ser, estamos simplesmente a viver o niilismo que Nietzsche profetizou, diz Heidegger. Adorno morre em 1969, talvez chocado com as manifestações estudantis que o confrontam pessoalmente.

Rodolfo II



Ao subir ao trono, Rodolfo II [1552-1612] manteve a política de tolerância ao protestantismo de seu pai e deu auxílio à Contrarreforma. Embora fosse um homem culto, parecia incapaz de governar por ataques de melancolia e, mais tarde, ocasionalmente, de insanidade. Por isso, outros membros da família começaram a intervir nos assuntos do império. Foi imperador do Sacro Império Romano-Germânico de 1576 até sua abdicação em 1611. 

Após uma revolta na Hungria (1604-1606) liderada por Stephen Bocskay e seus aliados otomanos, grande parte do poder foi transferido para o irmão de Rodolfo, Matias. A revolta foi provocada pela tentativa de Rodolfo de impor o catolicismo romano na Hungria. Em 1608, Matias forçou Rodolfo a lhe ceder a Hungria, a Áustria e a Morávia. Procurando ganhar apoio dos estados da Boémia, Rodolfo emitiu um documento real chamado Majestät em 1609, que garantia a liberdade religiosa aos nobres e às cidades. Este esforço foi em vão e Rodolfo foi forçado a ceder a Boémia para Matias em 1611. O reinado turbulento de Rodolfo foi um prelúdio para a Guerra dos Trinta Anos.

A relação entre Rodolfo II, Sacro Imperador Romano-Germânico, e Abbas I, o Grande, do Império Safávida, foi marcada por contactos diplomáticos e trocas comerciais. Em 1609, Rodolfo II enviou um representante chamado Busbecq a Abbas I. Busbecq era um diplomata flamengo e embaixador do Sacro Imperador Romano-Germânico na corte otomana. Sua missão era estabelecer contactos e negociações com Abbas I em busca de alianças e acordos comerciais. Este encontro diplomático é conhecido por suas valiosas descrições das regiões e culturas do Médio Oriente. As conquistas de Abbas referem-se às realizações e expansões do Império Abbasida durante o reinado dos califas da dinastia Abbasida. Sob o governo de califas como Al-Mansur, Al-Mamun e Harun al-Rashid, o império alcançou o seu auge, expandindo-se para o leste, conquistando territórios significativos na Ásia Central, Pérsia e partes do subcontinente indiano. Essas conquistas não apenas aumentaram a influência do império, mas também promoveram o comércio, a cultura e o intercâmbio de conhecimento entre diferentes civilizações. Na verdade, A retomada de Tabriz ocorreu durante o reinado de Abbas I. Em 1605, Abbas I lançou uma campanha militar contra os otomanos, reconquistando Tabriz, uma cidade importante na região do Azerbaijão, que havia sido perdida anteriormente para os otomanos. Esta foi uma das muitas campanhas militares de Abbas I para consolidar e expandir o Império Safávida durante seu longo reinado.

Rodolfo II foi um dos mais excêntricos monarcas europeus de todos os tempos. Colecionava anões e possuía um regimento de gigantes em seu exército. Era rodeado por astrólogos e fascinado por jogos, códigos e música. Rodolfo fazia parte dos nobres de seu período orientados pelas ciências ocultas. Patrono da alquimia, financiou a impressão de literatura dos alquimistas. Além disso, seu gosto pelo excêntrico o fez um dos principais protetores e mecenas de Giuseppe Arcimboldo pintor considerado por certos críticos um dos precursores ou inspiradores do surrealismo, umas das principais vanguardas europeias do século XX. Uma das principais obras do artista é justamente o retrato de Rodolfo II como o deus romano Vertumnus pintado provavelmente entre 1590 e 1591 feito com vários tipos de frutas, legumes, cereais e outros vegetais.




Rodolfo II era um patrono das artes e das ciências, e sua corte em Praga era um centro de atividade intelectual durante o Renascimento, onde alquimistas como Edward Kelley e John Dee encontraram patrocínio e apoio. Foi o Papa Clemente VIII quem chamou o imperador Rodolfo II de "Príncipe das Trevas" devido ao seu interesse pela alquimia e por práticas consideradas esotéricas na época. Este apelido era uma referência à sua associação com alquimistas e astrólogos, que eram vistos com desconfiança pela Igreja Católica naquele período. Rodolfo II fez de Praga a capital de seu império e passou a maior parte de seu reinado lá. Sua corte em Praga foi um centro intelectual e cultural importante durante o Renascimento, onde ele recebeu artistas, cientistas, alquimistas e pensadores de toda a Europa. Praga sob seu governo era conhecida por sua atmosfera cosmopolita e tolerância religiosa.

Rodolfo II teve um encontro secreto em Viena com Fernando de Estíria, que mais tarde se tornou Fernando II, Sacro Imperador Romano. Este encontro ocorreu em 1608 e foi parte das negociações para resolver disputas entre a família Habsburgo. Foi um encontro significativo, pois os dois líderes discutiram questões políticas e estratégias para fortalecer o império.

Matias da Boémia, que mais tarde se tornou imperador, foi uma figura importante durante a época da Defenestração de Praga. A defenestração de Praga ocorreu em 23 de maio de 1618, quando nobres boémios protestantes jogaram pela janela do Castelo de Praga dois conselheiros católicos e seu secretário. Isso desencadeou a Revolta da Boémia e foi um dos eventos precipitantes da Guerra dos Trinta Anos. Matias foi um dos líderes envolvidos nos eventos que se seguiram, e sua ascensão ao trono imperial foi influenciada pelos tumultos e disputas que se seguiram à defenestração.

Frederico V, Eleitor Palatino do Reno, era um príncipe protestante. Em 1619, ele foi eleito rei da Boémia, em grande parte como resultado da Revolta da Boémia e da deposição do rei católico Fernando II. Frederico V governou por um curto período antes de ser derrotado na Batalha da Montanha Branca em 1620. Sua derrota teve consequências significativas para a causa protestante durante a Guerra dos Trinta Anos. Frederico V, Eleitor Palatino do Reno, era casado com Isabel Stuart, filha de Jaime I da Inglaterra (ou Jaime VI da Escócia). O casamento deles foi uma aliança política importante, pois uniu a casa real inglesa com o ramo protestante da família Palatina. No entanto, após a derrota de Frederico V na Batalha da Montanha Branca em 1620, ele e sua esposa foram exilados da Boémia e perderam seus títulos e terras. 

Os irmãos "de Witt" durante a guerra entre a França e a Holanda em 1672


Nascidos no seio de uma família patriarcal neerlandesa ligada à política, eram filhos de Jacob de Witt e de Anna van den Corput, e sobrinhos de Cornelio de Graeff e Andries Bicker. Em 1672, após os Países Baixos serem ocupados pelas tropas francesas de Luís XIV na Terceira Guerra Anglo-Holandesa, Johan e seu irmão Cornelius de Witt foram assassinados brutalmente por uma multidão enfurecida, tendo os seus corpos horrivelmente mutilados sido expostos.

 

Johan e seu irmão Cornelis de Witt em Dordrecht

Durante a Guerra Franco-Neerlandesa (1672-1678), uma série de eventos levou os neerlandeses a tomarem medidas extremas para se defenderem dos avanços franceses. Uma dessas medidas foi a inundação das terras baixas, conhecidas como Polders, na Holanda. Os neerlandeses abriram os diques e barragens para inundar vastas áreas de terras baixas, tornando-as intransitáveis para os exércitos franceses e criando uma barreira natural contra sua invasão. Essa estratégia de inundação, conhecida como "inundação deliberada", foi uma tática defensiva eficaz usada pelos neerlandeses para proteger suas terras e dificultar o avanço das forças francesas.

Apesar de causar danos às terras agrícolas e às propriedades locais, a inundação deliberada desempenhou um papel crucial na resistência neerlandesa durante a guerra, contribuindo para a defesa bem-sucedida contra os avanços franceses. Conhecido como o "Rampjaar" (Ano do Desastre), Johan de Witt e seu irmão Cornelis foram alvo de uma multidão enfurecida em Haia. A multidão, composta em parte por partidários do príncipe Guilherme de Orange (futuro rei Guilherme III da Inglaterra), responsabilizou os De Witt pela situação precária da República Holandesa durante a guerra contra a França e seus aliados.

Johan de Witt havia servido como raadpensionaris (pensionário) da República Holandesa por muitos anos e era uma figura polarizadora na política holandesa. Ele e seu irmão foram atacados por uma multidão em Haia, e ambos foram brutalmente assassinados em 20 de agosto de 1672. O assassinato dos De Witt marcou o fim de uma era na política holandesa e teve consequências significativas para o país. O príncipe Guilherme de Orange emergiu como uma figura ainda mais poderosa na República Holandesa após o incidente, e mais tarde ele ascendeu ao trono da Inglaterra como Guilherme III.

Johan de Witt graduou-se em Direito e Matemática, na Universidade de Leiden. Estabeleceu-se em Haia, e em 1653, passou a ocupar o posto de grande pensionário da então província Holanda, tornando-se efetivamente o líder do governo holandês. De Witt passou a ser um dos homens mais importantes da República Holandesa neste período. Sob a orientação de De Witt e De Graeff, a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos passou a cuidar, em 1660, da educação de Guilherme III, Príncipe de Orange, com a finalidade de assegurar-lhe as capacidades necessárias a uma futura função governamental.

Jahangir





Nur-ud-Din Muhammad Salim (31 de agosto de 1569 – 28 de outubro de 1627) conhecido por seu nome imperial Jahangir 'Conquistador do Mundo' foi o 4º imperador mogol, que governou de 1605 até sua morte em 1627. Nascido príncipe Salim, ele era o terceiro e único filho sobrevivente do imperador Akbar. Tinha como imperatriz principal - Mariam-uz-Zamani. 
A busca de Akbar por um sucessor levou-o a visitar os Hazrat Ishaan e Salim Chishti, santos sufis que profetizaram o nascimento de três filhos. O nascimento de Jahangir em Fatehpur Sikri foi visto como um cumprimento das bênçãos de Chishti, e ele foi nomeado em sua homenagem. 

A criação de Jahangir foi fortemente influenciada pela herança cultural e espiritual de sua família, preparando o terreno para seu governo posterior como imperador. Sua infância foi marcada por tragédias pessoais, incluindo a morte de seus irmãos gémeos na infância, o que levou a um sentimento de tristeza em sua família. Sua educação inicial foi abrangente, cobrindo vários assuntos, incluindo persa, urdu pré-moderno e táticas militares. 

Seu reinado foi marcado por uma combinação de realizações artísticas e intrigas políticas, tendo como pano de fundo a considerável expansão e consolidação do Império Mogol. O governo de Jahangir se distingue por seu compromisso com a justiça e seu interesse pelas artes, particularmente pintura e arquitetura, que floresceram durante seu reinado. O reinado de Jahangir foi caracterizado por uma relação complexa com sua nobreza e família, notavelmente refletida em seu casamento com Mehr-un-Nissa (mais tarde conhecida como Imperatriz Nur Jahan), que exerceu significativa influência política atrás do trono. Este período viu o entrincheiramento do império no subcontinente indiano, incluindo esforços para subjugar os reinos Rajput e estender a autoridade mogol no Decão. A política externa de Jahangir incluiu interações com os safávidas da Pérsia e do Império Otomano, bem como com a Companhia Inglesa das Índias Orientais, marcando o início da influência europeia na política e no comércio indianos.



Apesar de suas conquistas, o reinado de Jahangir teve desafios, incluindo revoltas lideradas por seus filhos, que ameaçavam a estabilidade de seu governo. Sua saúde, deteriorada por uma vida inteira de uso de ópio e álcool, levou à morte em 1627, precipitando uma breve crise sucessória antes que o trono passasse para o filho, Shah Jahan. O legado de Jahangir continua vivo através de suas contribuições para a arte e arquitetura mogol, suas memórias e as políticas que implementou, que continuaram a influenciar o império após a sua morte.

Nur Jahan, nascida Mehr-un-Nissa foi a vigésima esposa e principal consorte de Jahangir. 
Mais decidida e proativa do que seu marido, Nur Jahan é considerada por certos historiadores como a verdadeira potência por trás do trono por mais de uma década. Empunhando um nível de poder e influência sem precedentes para uma imperatriz mogol recebeu honras e privilégios nunca desfrutados por nenhum de seus antecessores ou sucessores, como emitir moedas em seu nome. Sua preeminência foi em parte possibilitada pelos vícios de seu marido Jahangir e seus frequentes problemas de saúde.



Nur Jahan segurando um retrato de Jahangir
Bishanadas c. 1627


Nur Jahan, morreu em 1645 em Lahore, na pobreza, após o exílio. Após a morte de Jahangir, ela perdeu influência política e foi exilada para Lahore por ordem do filho de Jahangir, Shah Jahan. Lá, ela viveu em relativa obscuridade e pobreza até sua morte. Embora tenha sido uma das mulheres mais poderosas da sua época, seu fim foi marcado pela tragédia e pela perda de estatuto e riqueza.

O Hetmanato Cossaco tem origem na revolta de Khmelnitski em 1648


Para muitos nacionalistas ucranianos, o Hetmanato Cossaco liderado por Hetman Bogdano Khmelnitski é visto como o primeiro estado ucraniano moderno. Esse período é frequentemente considerado como um momento de grande importância na história da Ucrânia, quando a identidade nacional ucraniana começou a se desenvolver mais distintamente e as instituições políticas ucranianas começaram a se formar. No entanto, é importante reconhecer que a interpretação histórica pode variar dependendo do contexto e das perspectivas.



Hetman Bogdano Khmelnitski

O Hetmanato tem origem na revolta de Khmelnitski em 1648. Inicialmente, cobria o Dnieper, Transnístria, Sevéria e Zaporójia. Após a revolta de Barabash e Pushkar, a desconfiança em relação ao Hetman tornou-se mais forte entre os koshevoi atamans da Hoste Zaporojiana das Terras Baixas, como resultado do qual o Siche Zaporojiano começou a se submeter ao Hetman apenas formalmente. 
Em 1654, o Hetmanato ficou sob o protetorado do Czar russo. Desde 1663, o Hetmanato, que tinha uma série de direitos especiais em termos políticos e administrativos como parte do Czarado da Rússia, era controlado pelo Prikaz da Malorrússia. Depois que o Hetman Mazepa apoiou Carlos XII na Guerra do Norte, a influência dos hetmans diminuiu significativamente: por decreto do Czar Pedro I, em 1709, o stolnik André Izmailov foi designado para servir o Hetman Skoropadski (um ano depois ele foi substituído por outro stolnik, Teodoro Protasiev).

Após a conclusão da Paz Eterna de 1686 entre o Império Russo e a Comunidade Polaco-Lituana, o Hetmanato na margem direita do Dnieper permaneceu na coroa polaca. Até a década de 1760, as instituições de poder hetman também existiam nas terras da Horda Edisan, ou seja, no território da Transnístria e parte da Bratslavshchina, recebida por Pedro Ivanenco do Império Otomano e sob a proteção dos cãs da Crimeia.



Hetmanato em 1649 - 1654

A luta sem fim entre Estevão Veliaminov, que chefiava o Collegium da Malorrússia, e o Hetman nomeado Paulo Polubotok, que nunca foi reconhecido no Sejm, levaram a que em 1726, em São Petersburgo, fosse decidido fechar o Collegium e restaurar o Hetmanato, elegendo um novo Hetman. Em 1728, foi eleito Daniel Apóstolo, que apoiou Basílio Kochubei durante o reinado de Pedro I. Durante o reinado de Pedro II e Anna Ioannovna, os direitos do Hetman foram significativamente ampliados: foram elaborados os "Pontos decisivos"; os cossacos que viviam na Turquia foram autorizados a regressar à Rússia, o que permitiu a Ivan Biletski, apesar da proibição do Canato da Crimeia, chegar com um exército a Belaya Tserkov e prestar o juramento russo. Durante o reinado de Daniel, os cossacos tiveram a oportunidade de se estabelecerem em aldeias suburbanas. Após a morte de Daniel, em 1734, São Petersburgo não teve pressa em eleger um novo Hetman, mas seguiu os "Pontos Decisivos" elaborados sob Daniel. Sob Ernst Biron, um decreto foi aprovado sobre o Collegium da Malorrússia, que serviu como gabinete do Hetman por 16 anos e na verdade representou o segundo Collegium da Malorrússia.

O Hetmanato foi restaurado por decreto da imperatriz Elizaveta Petrovna, que concedeu terras e o título de Hetman ao conde Cirilo Razumovski em 1750, mas já em 1764, por decreto da Imperatriz Catarina, a Grande, o título de Hetman da Hoste Zaporijiana foi finalmente abolido: o último Hetman da Hoste Zaporijiana, o conde Cirilo Razumovski, recebeu a mais alta patente militar, General-Marechal de Campo, e a administração da Pequena Rússia foi confiada ao Conde Pedro Rumiantseve. No entanto, a antiga divisão administrativo-territorial do Hetmanato foi mantida na Rússia até 1782. Em 1782, no decurso da reforma administrativa, entrou em vigor o Regulamento Geral dos Gubernias do Império Russo de 1781, resultando na abolição da estrutura administrativa de cem regimentos.

Resumindo: O Hetmanato Cossaco liderado por 
Hetman Bogdano Khmelnitski durou cerca de cinco anos, de 1648 a 1654. Foi uma época significativa na história da Ucrânia, marcada por conflitos e mudanças políticas. Foi, de facto, traído pelo Khan da Crimeia, uma aliança que inicialmente havia sido formada para enfrentar o domínio polaco na região. A traição enfraqueceu significativamente a posição de Khmelnitski e contribuiu para o colapso do Hetmanato. Após a traição do Khan da Crimeia, Khmelnytsky buscou proteção e apoio do Tsardom de Moscovo. Isso levou a Ucrânia a entrar em união com Moscovo em 1654, conhecida como o Tratado de Pereyaslav, que marcou o início da influência russa na região e o declínio da autonomia cossaca. Em janeiro de 1654, Khmelnitski, o Hetman dos cossacos, jurou lealdade ao Czar Aleixo I de Moscovo, formalizando assim a união entre a Ucrânia e o Czardom de Moscovo, conforme estabelecido no Tratado de Pereyaslav. Este evento marcou um ponto crucial na história da Ucrânia e teve consequências significativas para a região.

Assim, após o juramento de lealdade de Khmelnitski a Aleixo I, a região conhecida como Pequena Rússia, que correspondia em grande parte à Ucrânia, foi formalmente unida à Grande Rússia. Essa união marcou o início de um período em que a Ucrânia ficou sob a influência política e cultural do Czardom de Moscovo, contribuindo para a formação do futuro Estado russo. Durante o período do Hetmanato Cossaco, a região estava dentro do contexto do Estado Polaco-Lituano, também conhecido como a Comunidade Polaco-Lituana. Esta era uma união política entre o Reino da Polónia e o Grão-Ducado da Lituânia que existiu de 1569 a 1795. Durante esse tempo, a Ucrânia estava sob a dominação polaca e lituana, e as tensões entre os cossacos ucranianos e as autoridades polacas foram um aspecto importante desse período histórico.

Após séculos de dominação por diferentes potências, a Ucrânia só voltaria a proclamar a sua independência em 1917, durante a Revolução Russa. Este período foi marcado pela efémera República Popular Ucraniana, que foi seguida por uma série de conflitos internos e externos antes de finalmente se tornar uma república socialista dentro da União Soviética em 1922. A verdadeira independência da Ucrânia só seria alcançada em 1991, com o colapso da União Soviética.

terça-feira, 18 de junho de 2024

Akbar, o Grande





Jalāl ud-Dīn Muhammad Akbar, também conhecido como Akbar, o Grande (23 de Novembro de 1542 — 27 de Outubro de 1605), foi o terceiro imperador mogol da Índia /Industão. Era descendente direto da Dinastia Timúrida, filho de Humaium e neto de Babur, fundador da dinastia. No final do seu reinado, em 1605, o império mogol cobria a maior parte do norte da Índia. Tinha treze anos quando ascendeu ao trono em Déli, após a morte de seu pai, Humaium. Durante seu reinado, eliminou as ameaças militares dos pastós descendentes de Xer Xá Suri e na Segunda Batalha de Panipate derrotou os rei hindu Hemu. Demorou quase duas décadas ainda para consolidar o poder e trazer as partes do norte e do centro da Índia para seu reino. O imperador solidificou seu governo pela diplomacia com a poderosa casta rajput e também por admitir princesas rajapute no seu harém.

Influenciou significativamente a arte e a cultura na região. Akbar tinha grande interesse na pintura e as paredes de seus palácios foram adornados com murais. Além de incentivar o desenvolvimento da escola mogol, também patrocinava o estilo europeu de pintura. Ele gostava de literatura e tinha várias obras em sânscrito traduzidas para o persa, além de obter muitas obras persas ilustradas por pintores de sua corte. Também encomendou muitas grandes obras de arquitetura e inventou a primeira casa pré-fabricada. Akbar iniciou uma série de debates religiosos, onde eruditos muçulmanos podiam debater questões religiosas com siques, hindus, ateus cārvāka e jesuítas portugueses. Fundou um culto religioso, o Din-i-Ilahi (Divina Fé), que redundou num culto de personalidade de Akbar, que rapidamente se dissolveu após a sua morte.

Akbar, o Grande, foi o terceiro imperador mogol da Índia, e Babur foi o fundador. Ele era descendente de Tamerlão por parte de sua mãe e de Genghis Khan por parte de seu pai. Babur nasceu em 1483 e governou uma parte do atual Uzbequistão antes de conquistar partes do norte da Índia, estabelecendo assim o Império Mogol. Ele é conhecido por suas habilidades militares e por sua autobiografia, o "Baburnama", que oferece um relato detalhado de suas conquistas e experiências. Babur faleceu em 1530.

A Península Itálica desde o Reino Ostrogodo [493] até ao fim do Reino Itálico [1014]



A Península Itálica ou península Apenina, que atualmente apenas contém três estados: Itália, San Marino e Vaticano – é de uma riqueza extraordinária quanto à quantidade de estados e reinos que nela se geraram ao longo da História Universal. Este ensaio debruça-se sobre um tempo que começa em 493 com o reino Ostrogodo e termina com reino de Itália em 1946. Marcada pela cordilheira montanhosa dos Apeninos, a península é circunscrita pelo mar Lígure e pelo mar Tirreno a oeste, pelo mar Jónico a sul e pelo mar Adriático a leste. A parte norte é mais plana e as costas apresentam geralmente falésias. Dos Apeninos tosco-emilianos, traça-se uma linha imaginária que vai de Génova a Veneza e se estende até o extremo meridional do cabo de Spartivento, na Calábria.

O Reino Ostrogodo foi um Estado germânico fundado pelos ostrogodos que ocuparam a península Itálica e áreas vizinhas de 493 a 552. Sucedeu ao reino de Odoacro, antigo líder dos federados no norte da península e governante de facto da Itália, que tinha deposto o último imperador do Império Romano do Ocidente, Rómulo Augusto (r. 475–476). Foi originalmente criado sob o rei Teodorico, seu primeiro rei.


Reino Ostrogodo no seu apogeu

Os ostrogodos eram um ramo oriental dos godos, assentes num poderoso Estado ao norte do mar Negro, em Aujo. Mas durante o final do século IV permaneceram sob domínio dos hunos. Após o colapso do Império Huno em 454, parte de ostrogodos foram reunidos pelo imperador Marciano (r. 450–457) na província romana da Panónia como federados. Mas em 459/460, durante o reinado de Leão I, o Trácio (r. 457–474), devido ao fim do pagamento dos subsídios anuais concedidos aos ostrogodos, eles devastaram a Ilíria. A paz foi concluída em 461, segundo a qual o jovem Teodorico, o Amal, filho de Teodomiro (r. 454–474) da dinastia dos Amalos, foi enviado a Constantinopla para ser refém por 10 anos, onde recebeu uma educação romana.

No seu apogeu o Reino Ostrogodo chegou a estender-se da França até à Sérvia. Muitas das instituições do Império Romano do Ocidente foram preservadas durante o seu reinado. Após a sua morte, os bizantinos sentiram-se instigados a invadirem a península. E assim se iniciou a Guerra Gótica de 535–554, na qual o reino foi completamente conquistado.


O Reino Lombardo existe a partir 568 como resultado da conquista de grande parte da península pelos lombardos comandados por Alboíno, e durou até a conquista dos Francos em 774. A conquista lombarda trouxe como consequência a divisão política da península Itálica, que permaneceria por três séculos com uma parte bizantina e uma parte lombarda.



O Reno Lombardo
                               

Os lombardos foram uma das tribos que faziam parte dos suevos, eram principalmente pastores e fazendeiros até o século IV. A situação mudou ao iniciar-se o período das grandes migrações de povos procedentes do Leste. No final do século V, estabeleceram-se na região que hoje é a Áustria, no território anteriormente ocupado pelos rúgios. No começo do século VI, estabeleceram na Panónia (hoje o oeste da Hungria), como federados autorizados pelo imperador Justiniano (r. 527–565). Nesta época, tinham começado a mudar a sua organização tribal para outra forma liderada por duques e condes que comandavam bandos de guerreiros reunidos em reino.

Em 554, o imperador bizantino Justiniano tinha estendido à Itália a validade do Corpus Juris Civilis, anulando com isso os decretos dos últimos reis ostrogodos. Assim, a península Itálica gozou de paz até 568, depois da terrível guerra. Junto com as tropas bizantinas, haviam chegado também os funcionários da eficiente burocracia justiniana, os quais junto com a paz e a ordem trouxeram a capacidade de cobrar impostos. A paz bizantina tinha um preço alto para a população: o poder dos grandes proprietários e pesados impostos. A 3 de abril de 568, dois dias após a Páscoa, Alboíno começou a cruzar os Alpes. Junto aos lombardos havia também muitos de seus aliados saxões. Seguiam junto também pessoas de outras etnias anteriormente submetidas aos lombardos: gépidas, búlgaros, sármatas, panónios, suevos, nóricos. Devem-se considerar também os rúgios e hérulos já assimilados aos lombardos. Havia também godos já residentes na Itália que decidiram apoiar o líder lombardo. Não eram apenas guerreiros: seguiam-nos mulheres e filhos numa gigantesca migração, que se estima em cerca de cento e cinquenta mil pessoas, número surpreendente para a época, considerando-se que a invasão dos ostrogodos no século anterior reuniu cerca de cem mil pessoas.

A primeira cidade importante a cair foi Fórum Júlio (atual Cividale del Friuli), no nordeste da península. Então Alboíno criou o primeiro ducado lombardo, o Ducado do Friul, onde ele entronizou o seu sobrinho Gisulfo I do Friul. Logo Verona, uma das cidades mais caras a Teodorico, o Grande e Bréscia, que haviam sido sede das últimas resistências dos ostrogodos aos bizantinos, caíram em mãos lombardas. Verona torna-se o quartel-general dos lombardos ao sul dos Alpes.

No verão de 569 os lombardos conquistaram a principal cidade romana do norte da península, a ex-capital do império, Mediolano (atual Milão. O pequeno exército bizantino deixado para sua defesa não pôde fazer quase nada. Após a conquista de Milão, a resistência bizantina começou a sentir-se: Ticino (atual Pavia) cairia somente em 572, após três anos de assédio, quando os lombardos já dominavam a Toscana e outros territórios ao norte da península.

Os bizantinos, tendo a via de acesso terrestre pela Panónia impedida pelos ávaros, aliados dos lombardos, levaram algum tempo para reorganizar as tropas. Deve-se recordar que após a Guerra Gótica, o ex-território ostrogodo estava muito empobrecido, especialmente o campo e esta situação era atribuída (quase sempre com razão) aos próprios bizantinos.

O prefeito pretoriano da Itália enviado pelo imperador Justino II (r. 565–578), Longino, pôde defender somente as cidades costeiras abastecidas pela poderosa frota bizantina. Pavia caiu depois de um sítio de três anos, em 572, tornando-se a primeira capital do novo Reino Lombardo. Nos anos seguintes, os lombardos penetraram mais ao sul, conquistando a Toscana e estabelecendo os ducados de Espoleto e Benevento, sob Zoto, os quais breve se tornaram semi-independentes e duraram mais que o reino do Norte, sobrevivendo até o século XII. O Império Bizantino conseguiu manter o controlo das áreas de Ravena e de Roma, ligadas por um fino corredor através de Perúgia. O Reino Lombardo durou até 781, às mãos de Carlos Magno.

Depois de Carlos Magno ter tomado conta do norte de Itàlia, passou a vigorar o Reino Itálico, uma entidade política da Alta Idade Média meramnte formal. Na Península Itálica naquele período não existia um verdadeiro Estado nem um rei que pudesse impor uma autoridade, ainda que esse título fosse fortemente disputado por vários pretendentes em luta. E assim passou o tempo até ao advento da autonomia comunal, no século XI.



O Reino Itálico +/- no ano 1000

Carlos Magno, numa campanha entre 773 e 774 conquistou o Reino Lombardo, isto é, obrigou o rei Desidério a renunciar. Carlos assumiu então a coroa de um reino que compreendia a Itália setentrional no seu âmbito territorial. Esse novo reino carolíngio na Itália compreendia o norte e o centro da península Itálica, da qual ficava excluído o Ducado de Veneza - que compreendia a lagoa de Veneza - e os territórios da Doação de Pepino - da qual fazia parte a Romanha, o Ducado da Pentápole e o Ducado de Roma. O Ducado de Espoleto fazia parte do reino, mas era governado por duques francos. O Ducado de Benevento, reconhecendo a supremacia franca, manteve a sua independência. Carlos Magno atribuiu o reino ao filho Pepino, casado com Ildegarda. Com a morte de Pepino em 8 de julho de 810, sucedeu-lhe no trono o filho Bernardo.

Dada a vasta extensão do reino dos francos, em 781 Carlos Magno nomeou rei nas zonas periféricas da Aquitânia e Itália, respectivamente os filhos Luís e Pepino. O objetivo era manter a sua política expansiva e o filho Pepino foi um excelente continuador da política paterna contra o Império Bizantino. À morte de Pepino em 810, a dignidade real foi atribuída por Carlos a Bernardo, filho de Pepino. Ao mesmo tempo, porém, Carlos preparou a sua sucessão para o filho Luís, mais tarde conhecido como Luís, o Piedoso.

Quando Carlos Magno morreu, em 814, Luís o Piedoso designou o Reino Itálico ao seu primogénito Lotário I com a consequente rebelião de Bernardo, o qual depois de ser derrotado e aprisionado, morreu em 17 de abril de 818. A luta pela sucessão terminou em 843 com o tratado de Verdun que deu origem a três reinos que depois adquiriram conotações nacionais: O Reino Itálico e Lotaríngia, sob Lotário I; Frância Oriental sob Luís; Frância Ocidental sob Carlos o Calvo. O primeiro, que tinha como capital Pavia, compreendia os ex-territórios lombardos chamados ao norte Lombardia Maior, ou seja os territórios correspondentes às atuais regiões italianas de Piemonte, Ligúria, Lombardia, Toscana, Trentino, Friul e Vêneto com a exceção da zona de Veneza, e a Lombardia Menor, ou seja, o Ducado de Espoleto (parte do Patrimonium Sancti Petri) e o Ducado de Benevento no centro sul.

Com o enfraquecimento do poder imperial, os territórios do Reino Itálico ficaram num estado de anarquia feudal, dominada pelos senhores locais, embora alguns fracos monarcas tenham ascendido ao trono, às vezes mesmo sendo coroados pelo papa. Uma exceção relativamente sólida foi o governo de Hugo de Provença, que entre 926 e 946 reinou e buscou resolver as disputas hereditárias sobre o título associando-o ao seu filho Lotário II. Este reinou até 950, e foi sucedido pelo marquês de Ivrea, Berengário II, que por sua vez escolheu como sucessor o filho Adalberto. Berengário, temendo lutas e tramas pelo poder, perseguiu a viúva de Lotário II, Adelaide, que pede ajuda ao imperador alemão Oto I, frente à usurpação da coroa por parte de Berengário. O pretexto para Oto I invadir a Itália estava criado, para a qual já devia ter planos uma vez consolidado o seu poder na Alemanha. Depois de ter derrotado Berengário, entrou na capital Pavia, desposou Adelaide e tomou a coroa italiana em 951, ligando-a à do Sacro Império Romano-Germânico. Oto talvez tivesse desejado prosseguir até Roma, mas a pressão dos húngaros na Alemanha o obrigou-o a voltar.

Desta época em diante, a coroa da Itália foi institucionalmente ligada à coroa imperial do Sacro Império e foi automaticamente herdada pelos sucessores de Oto I até 1002, altura em que os feudatários italianos, reunidos em Pavia, decidiram designar a coroa de Itália a um deles, cansados do vazio de poder causado pela falta de autoridade do soberano alemão e descontentes de sua aliança com a hierarquia eclesiástica que os excluía. Foi escolhido então o Marquês de Ivrea o príncipe Arduíno de Ivrea. 
Em 990, Arduíno tornou-se Marquês de Ivrea e em 991 Conde do Palácio Sagrado de Latrão em Roma. Em 1002, depois da morte do Imperador Otão III, os nobres italianos elegeram-no Rei da Itália na Basílica de San Michele Maggiore em Pavia, tornando-o o primeiro não alemão a ocupar o trono italiano em 41 anos. Arduíno foi considerado a escolha da nobreza e contestado pelo episcopado, mas foi inicialmente apoiado pelo arcebispo de Milão.

Mas Arduíno encontrou dura resistência sobretudo entre os feudatários eclesiásticos da planície padana. Derrotado, foi obrigado a retirar-se para o Mosteiro de Fruttuaria em 1014, onde morreu em 1015. E assim o Reino Itálico chegou ao fim com o advento da autonomia comunal. Sobretudo a ambição autonomista e, em alguns casos, independentista dos feudatários italianos não permitiram jamais ao Reino assumir uma força e um peso político relevante.

A morte do último rei itálico, Ardoíno da Ivrea, em 1015 e que governou de 1002 a 1014; e a ascensão de Henrique II como Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, que reinou entre 1014 e 1024 - significaram a integração formal do Reino Itálico no Sacro Império Romano-Germânico. Isso resultou numa crescente influência germânica sobre os assuntos italianos. No entanto, a autoridade central era fraca e as regiões italianas começaram a fragmentar-se em várias comunas e estados independentes. Nos séculos seguintes, muitas cidades italianas ganharam autonomia e começaram a se organizar como comunas independentes. Isso incluiu cidades como Milão, Veneza, Florença, Pisa, Génova e outras. Essas comunas frequentemente lutavam entre si e contra os nobres locais, além de enfrentar as tentativas do imperador do Sacro Império de reafirmar o controlo.

A fragmentação levou a muitos conflitos internos entre cidades e nobres, bem como entre facções dentro das cidades. Guerras entre guelfos (pró-papais) e gibelinos (pró-imperiais) eram comuns. Além disso, a Península Itálica foi um campo de batalha para forças estrangeiras, incluindo invasões normandas no sul e incursões por parte dos reis germânicos do Sacro Império. O papado, sediado em Roma, desempenhou um papel importante na política italiana. Os papas buscavam afirmar sua autoridade não apenas religiosa, mas também temporal sobre partes significativas da península. Isso resultou em conflitos com os imperadores germânicos e também em alianças estratégicas com diversas cidades e estados italianos.

Enquanto o norte da Itália estava se fragmentando em comunas, o sul da Itália experimentava um processo diferente. Os normandos, que inicialmente chegaram como mercenários, acabaram estabelecendo estados fortes e organizados na região. Em 1130, o Reino da Sicília foi fundado, unindo a Sicília, partes do Sul da Itália e Malta sob um governo centralizado. Apesar da fragmentação política, os séculos XI a XIII foram um período de florescimento cultural e económico na Itália. As cidades italianas tornaram-se centros de comércio, finanças, arte e cultura. O Renascimento começou a tomar forma na Itália no final do período medieval, preparando o caminho para o auge cultural e artístico que viria nos séculos seguintes. Estava pavimentado o caminho para o Renascimento.

A família Farnésio e o Ducado de Parma e Placência



A família Farnésio foi uma influente família italiana da aristocracia que ostentou o Ducado de Castro entre 1537 e 1649 e o Ducado de Parma e Placência entre 1545 e 1731. Os seus importantes membros incluíram o papa Paulo III e os duques de Parma e de Placência. O poderio dos Farnésio e a sua ligação com as mais ilustres famílias romanas teve lugar desde tempos de Rainúncio Farnésio, o Velho [1390-1450]. Era um protegido do papa Eugénio IV. Rainúncio casou o seu filho Gabriel Francisco com Isabel Orsini. O filho Pedro Luís foi o continuador com Joana Caetani. Foi desse casamento que nasceram: Paulo III, o papa; e Júlia Farnésio.

Entre os séculos XVI e XVII os Farnésio distinguiram-se pela sua protecção às artes. A eles se deve a construção do Palácio Farnésio em Roma, da Villa Farnese, em Caprarola, da Igreja de Jesus em Roma e do Palácio della Pilotta em Parma, atualmente a Galeria Nacional de Parma. O último Farnésio soberano de Parma foi António Farnésio [1679-1731]; ao morrer sem sucessão direta, o ducado passou para o filho da sua sobrinha Isabel Farnésio e do monarca espanhol Filipe V, o terceiro filho varão infante Filipe de Bourbon, que fundou a Casa de Bourbon-Parma.



Palácio Caprarola - Villa Farnese

Portanto, o Ducado de Parma e Placência foi um Estado que existiu na Península da Itália, de 1545 a 1859. Paulo III passou-o ao filho Pedro Luís Farnésio, cujos descendentes, por via masculina, o governaram até 1731. Ocupava o território das atuais províncias de Parma e Placência, na atual região italiana de Emília-Romanha. Durante o período ducal, conheceu uma fama particular pela sua escola de pintura, com artistas do nível de Correggio. O apoio dos duques favoreceu a realização de obras arquitetónicas que transformaram Parma de capital de um pequeno ducado, nascido sob o nepotismo papal, a uma grande cidade.


Em 1731, o duque António Farnésio morreu sem deixar descendentes. O ducado passou assim à sobrinha Isabel Farnésio a qual, tendo desposado em 1714 Filipe V de Espanha, o transmitiu aos Bourbons. Este período durou até ao fim do ducado, mas foi interrompido por dois períodos de regência dos Habsburgos e uma anexação ao Império Francês de 1808 a 1814.



Isabel Farnésio com Filipe V de Espanha
por Louis-Michel van Loo

Pedro Luís Farnésio tomou posse de seu estado em 23 de setembro de 1545, permaneceu em Parma uns poucos meses e depois transferiu-se para Placência, escolhendo-a como capital e sede da corte. Não mostrou nenhuma gratidão ao Papa, considerando a formação do ducado como mérito totalmente seu, e buscou deixar de ser vassalo dos Estados Pontifícios e tornar-se vassalo do Sacro Império Romano-Germânico, coisa que o imperador Carlos V o recusou. 

Os primeiros empreendimentos constam da abertura de numerosas escolas (onde se ensinavam a medicina, o direito, a literatura grega e latina); a construção de novas vias de comunicação para favorecer o comércio; a reforma do sistema administrativo seguindo o modelo milanês; a reforma do sistema judiciário e deu forte avanço à agricultura, abolindo a taxa sobre os animais, reparando estradas rurais, reconstruindo ou restaurando pontes e melhorando o regime de águas. Para a indústria e o comércio, melhorou as comunicações entre as várias regiões do ducado e desenvolveu o serviço postal.

Para garantir a segurança do Estado, Pedro Luís criou as legiões compostas de cinco companhias de 200 infantes cada, e uma guarda pessoal. Pedro Luís sabia bem que os nobres o odiavam e que o povo não tinha por ele grande simpatia. Assim, para melhor controlar a situação, decidiu que quem tivesse uma renda superior a 200 escudos devia residir na cidade, sob pena de perda dos bens. Todas estas precauções eram necessárias porque Carlos V, que entretanto se havia tornado hostil ao papa, não tinha gratidão pela cessão do ducado a Pedro Luís. Devido a esta hostilidade, havia recomeçado a formação da facção dos guelfos com o papa, a França, Veneza, Parma e Ferrara e da facção gibelina com o imperador, Espanha, Génova, os Médici e os Gonzaga. Foi Ferrante I Gonzaga, governante de Milão que, tendo descoberto que o imperador queria apoderar-se do ducado de Parma e Placência com a morte do papa, decidiu atacar os Farnese aos quais dedicava um ódio mortal.

No tempo das campanhas de Itália, Napoleão pagou às suas tropas à custa da riqueza do Piemonte. Assim conquistou a Lombardia expulsando os austríacos de Itália. Beaulieu tinha disposto as suas tropas numa frente de quase 100 Km de extensão que, na margem norte do rio Pó, cobria todos os possíveis locais em que era possível atravessar aquele rio. Napoleão chegou no dia 6 de maio de 1796 a Castel San Giovanni e, no dia seguinte iniciou a travessia do rio Pó em Placência.

Os Franceses tinham recebido reforços e eram agora mais numerosos que as tropas de Beaulieu. No dia 3 de maio, os Franceses reuniram uma força formada por seis batalhões de granadeiros e fuzileiros, sob o comando do general de brigada Dallemagne. Durante os dias 5 e 6, esta força percorreu quase 90 Km até à ponte em Placência. O Major de Artilharia Antoine-François Andréossy, conseguiu reunir um conjunto de barcaças. A operação de travessia foi executada sob comando do coronel Jean Lannes. Encontraram uma resistência muito ligeira e a operação foi um sucesso. No dia seguinte entraram em contacto com o flanco esquerdo de Beaulieu e registaram-se alguns combates.

No dia 9, todo o exército de Napoleão tinha atravessado o rio Pó. Nesta operação, durante a noite, o general Laharpe foi mortalmente atingido por um atirador francês da sua própria unidade. Placência, onde foi feita a travessia do rio Pó, pertencia ao Ducado de Parma e era uma cidade neutral. Napoleão não só infringiu a neutralidade de Parma como ainda cobrou ao duque 80 000 libras a fim de pagar às tropas francesas. Também fez grandes requisições de abastecimentos e enviou para Paris vinte pinturas de Miguel Ângelo e Correggio. No Ducado de Módena, procedeu de igual forma. Na realidade, estava a cumprir ordens do Diretório.

Em 9 de junho de 1859, Luísa de Bourbon, duquesa regente, e seu filho, o duque Roberto I, foram obrigados a abandonar o ducado não antes de ter escrito uma carta de protesto. Em 15 de setembro de 1859, foi declarado fim da dinastia dos Bourbon-Parma e o território passou a fazer parte da então província de Emília (hoje região da Emília-Romanha). Em 5 de março de 1860 o ducado passou, mediante plebiscito, ao Reino da Sardenha, e depois ao Reino de Itália. Atualmente, embora o ducado não exista há mais de um século, continua ainda a existir um duque simbólico. De 7 de maio de 1977 a 18 de agosto de 2010 este título simbólico estve a cargo de Carlo Ugo, descendente dos Bourbon-Parma, até falecer em 2010 com 80 anos.