sábado, 29 de junho de 2024

O Castelo de Cartas da Europa depois da Batalha de Sedan -1870




Napoleão III e Bismarck na manhã seguinte à Batalha de Sedan
 - Quadro de Wilhelm Camphausen

Em 1870, durante a Guerra Franco-Prussiana, Napoleão III foi derrotado na Batalha de Sedan, onde suas tropas foram encurraladas pelo exército prussiano liderado por Helmuth von Moltke. Esta batalha foi um ponto crucial na guerra e eventualmente levou à queda do Segundo Império Francês. É verdade que Otto von Bismarck, o chanceler prussiano e um dos principais arquitetos da unificação alemã, ficou surpreendido ao ver a condição debilitada de Napoleão III durante a rendição após a Batalha de Sedan. A deterioração da saúde de Napoleão III contribuiu para o rápido colapso do Segundo Império Francês e para o fortalecimento da posição de Bismarck nas negociações de paz.

Na Paris, assediada pela Prússia, deu-se uma revolta de operários que ficou marcada pela declaração da Comuna de Paris. Durante a Guerra Franco-Prussiana em 1870-1871, Paris foi cercada pelo exército prussiano. Este cerco levou à situação conhecida como "Comuna de Paris". Após a rendição de Napoleão III em Sedan e o estabelecimento da Terceira República Francesa, houve uma revolta liderada por operários, que resultou na criação de um governo revolucionário em Paris, conhecido como a "Comuna de Paris". Este período foi marcado por uma série de reformas radicais e pela tentativa de estabelecer uma forma de governo socialista autónomo em Paris, que acabou sendo brutalmente reprimida pelas forças do governo francês. A Comuna de Paris terminou em maio de 1871, após semanas de luta e violência intensa.

Napoleão III

Formada a Terceira República em França, a Alsácia e a Lorena foram reconhecidas com perdidas pelos franceses. Na verdade, a perda da Alsácia e da Lorena foi um ponto extremamente controverso na política francesa durante um longo período de tempo. A anexação da Alsácia e da Lorena pela Alemanha após a Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871 foi profundamente ressentida pelos franceses e tornou-se uma questão nacionalista fervorosa. A aceitação da perda dessas regiões não ocorreu imediatamente após a formação da Terceira República Francesa. Na verdade, esse foi um ponto de tensão constante nas relações franco-alemãs até ao início do século XX.

Bismarck não inventou uma nova forma de monarquia equilibrada para o Reichstag, mas ele desempenhou um papel importante na criação do sistema político na recém-unificada Alemanha. Bismarck foi o arquiteto do sistema conhecido como "Kleindeutschland" ou "Pequena Alemanha", que era uma Alemanha unificada sem a Áustria. Sob este sistema, o Reichstag, ou parlamento, tinha uma composição bicameral com uma câmara alta (Bundesrat) e uma câmara baixa (Reichstag). A monarquia, representada pelo Kaiser (imperador), detinha considerável poder, mas o Reichstag tinha autoridade limitada para aprovar legislação e controlar o orçamento. Este sistema era considerado uma monarquia constitucional com elementos parlamentares, mas não era uma invenção de Bismarck; ele adaptou e desenvolveu estruturas políticas que já estavam presentes em alguns estados alemães antes da unificação.

Assim, os alemães tinham um Kaiser, que na altura da Guerra de Sedan era Guilherme I [reinado de 2 de janeiro de 1861 a 9 de março de 1888]. E um Chanceler, Otto von Bismarck [de 21 de março de 1871 a 20 de março de 1890, tendo acompanhado tês kaisers - Guilherme I; Frederico III; Guilherme II]. Bismarck, como chanceler, era o principal conselheiro político do imperador e tinha grande influência sobre a política interna e externa do Império Alemão. Essa relação entre o Kaiser e o chanceler era uma característica importante do sistema político do Império Alemão durante o período de Bismarck.

A partir de agora a Alemanha tinha de se debruçar sobre o Império Otomano. A desintegração do Império Otomano foi um tema significativo no final do século XIX e início do século XX, especialmente para as potências como a Rússia, o Império Austro-Húngaro e o Reino Unido. Várias regiões dentro do Império Otomano começaram a buscar independência ou autonomia, e as potências europeias estavam interessadas em expandir sua influência nessas áreas estrategicamente importantes. Isso foi um dos motivos que levou à Primeira Guerra Mundial, em que o colapso do Império Otomano foi eventualmente o acontecimento mais relevante no novo mapa da Europa e em particular Bálcãs e Médio Oriente.

Durante o século XIX, tanto a Sérvia como a Roménia buscaram e alcançaram uma maior autonomia dentro do Império Otomano. No entanto, as potências europeias, especialmente a Rússia, estavam interessadas em expandir a sua influência nos Bálcãs, uma região estrategicamente importante. Isso levou a tensões e conflitos, especialmente porque a Rússia viu a região como parte de sua esfera de influência natural, enquanto outras potências, como o Império Austro-Húngaro, se opuseram a isso. As rivalidades entre as potências europeias nos Bálcãs foi mais uma causa para a eclosão da Primeira Guerra Mundial. O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria-Hungria em Sarajevo, capital da Bósnia, em 1914, foi um evento desencadeador desse conflito global, pois desencadeou uma série de alianças complexas e obrigações mútuas que levaram à guerra.

Durante o século XIX, houve várias disputas envolvendo Napoleão III, o líder francês, e os Habsburgos, a família real austríaca, pelo controlo do norte da Itália. Essas disputas foram parte das tensões políticas e territoriais que caracterizaram a Europa naquela época. Uma das principais batalhas ocorreu durante a Guerra Franco-Austríaca de 1859, que resultou na perda de parte do território italiano pelos Habsburgos e na unificação da Itália sob a liderança de reinos e estados italianos.

Em 14 de janeiro de 1858, nacionalistas italianos lançaram bombas contra Napoleão e Eugénia. O atentado por Felice Orsini, um nacionalista italiano. Orsini lançou bombas contra a carruagem imperial na tentativa de assassinar o imperador francês, como parte de um esforço para incentivar a intervenção francesa na Itália para expulsar os austríacos. Embora o atentado tenha fracassado em seu objetivo principal, resultou em várias mortes e ferimentos entre os espectadores. Isso aumentou as tensões entre a França e a Áustria e alimentou o sentimento nacionalista na Itália.

Camillo Benso, Conde de Cavour, desempenhou um papel fundamental no movimento do Risorgimento italiano. Ele foi um estadista e político do Reino da Sardenha-Piemonte, e foi um dos arquitetos da unificação italiana. Cavour adotou uma abordagem pragmática e diplomática para alcançar os seus objetivos, buscando alianças com potências estrangeiras, como a França de Napoleão III, para enfraquecer o domínio austríaco sobre a península italiana. Ele promoveu reformas económicas e modernização em seu próprio reino, criando assim um modelo para os outros estados italianos. Através de suas habilidades diplomáticas e estratégicas, Cavour foi capaz de consolidar o apoio internacional para a causa italiana e, eventualmente, contribuir para a unificação do país sob o reinado do rei Vítor Emanuel II, em 1861. Cavour serviu como primeiro-ministro da Itália unificada até à sua morte em 1861.

A imperatriz Eugénia estava grávida quando o famoso baile de máscaras ocorreu em 1855 no Palácio de Luxemburgo, em Paris. Nesse evento, a condessa de Castiglione surgiu deslumbrantemente vestida como a Rainha de Copas, uma personagem do conto "Alice no País das Maravilhas". Este baile foi organizado por Eugénia e foi um dos eventos mais comentados da época, marcado pela extravagância e pela exibição de moda e elegância.

Sim, durante a campanha militar liderada por Giuseppe Garibaldi, conhecida como a Expedição dos Mil, em 1860, ele e seus seguidores, os Garibaldinos, conseguiram tomar a Sicília em nome do movimento de unificação italiana. Enquanto isso, em 17 de março de 1861, Vítor Emanuel II, rei do Reino da Sardenha-Piemonte, proclamou-se oficialmente como rei da Itália, unindo formalmente a maioria dos estados italianos sob um único reino. Esta proclamação ocorreu durante um período de intensa atividade política e militar que levou à unificação italiana.

Stanley atravessou África do Índico ao Congo depois de Livingstone

 


Na verdade, David Livingstone não estava com Henry Morton Stanley durante a sua famosa expedição através da África, do Índico ao Congo. Foi Stanley quem encontrou Livingstone, em 1871, depois de uma longa busca patrocinada pelo jornal britânico The New York Herald. Quando Stanley encontrou Livingstone, ele supostamente pronunciou a famosa frase: "Dr. Livingstone, presumo". Livingstone morreu mais tarde, em 1873, durante a sua expedição para explorar o curso do rio Congo. Stanley realizou a sua própria expedição transafricana alguns anos depois, mas Livingstone já havia falecido quando essa jornada ocorreu. Livingstone morreu de malária sem concretizar o seu sonho.

A obcessiva procura da nascente do Nilo absorvia totalmente Livingstone. A busca pela nascente do rio Nilo consumiu grande parte da vida e do trabalho de David Livingstone. Ele realizou várias expedições na tentativa de localizar a fonte do Nilo, uma questão que intrigou exploradores e geógrafos por séculos. Embora Livingstone tenha feito importantes descobertas geográficas durante suas viagens pela África, ele não conseguiu encontrar a nascente exata do Nilo. No entanto, as suas explorações contribuíram significativamente para o conhecimento ocidental sobre a geografia e as culturas africanas.


Rio Nilo - da nascente à foz

Sim, David Livingstone faleceu em 1873, na região do que é hoje a Zâmbia, devido a complicações de malária e disenteria, que muitas vezes são referidas como gastroenterite. Ele morreu enquanto ainda estava na busca pela nascente do rio Nilo, que foi um dos principais objetivos de sua vida e trabalho como explorador. Apesar de não ter alcançado o seu objetivo final, Livingstone deixou um legado duradouro como um dos mais proeminentes exploradores e humanitários do século XIX.

A verdade é que na Etiópia havia um João. João IV da Etiópia, também conhecido como Kassa HailuÉ interessante a reminiscência do nome que remonta ao mito do Prestes João das Índias. Kassa Hailu foi um imperador etíope que reinou de 1872 até à sua morte em 1889. Ele desempenhou um papel importante na unificação e estabilização da Etiópia durante um período turbulento da sua história. João IV é especialmente lembrado por sua resistência bem-sucedida contra a expansão colonial europeia na região, particularmente durante a Primeira Guerra Ítalo-Etíope. Sua liderança contribuiu para preservar a independência do país até à sua morte.

É interessante notar a conexão entre o nome "João" do imperador etíope João IV e o mito do lendário Prestes João das Índias. O mito do Prestes João era uma figura lendária que supostamente governava um reino rico e poderoso nas terras distantes das Índias, frequentemente associado à busca da Fonte da Juventude e à exploração das terras desconhecidas. Embora nunca tenha sido encontrado, o mito do Prestes João era muito difundido na Europa durante a Idade Média e influenciou a imaginação dos exploradores e navegadores da época, muitos dos quais buscavam encontrar seu reino lendário. A reminiscência do nome "João" pode ter sido uma coincidência ou uma homenagem simbólica à figura lendária, mas é difícil determinar se há uma conexão direta entre os dois.

Na Zambézia portuguesa imperava Manuel de Souza, conhecido como Gouveia. Manuel de Souza Gouveia, foi um explorador e comerciante português que teve uma influência significativa na região da Zambézia portuguesa, durante o século XIX. Ele foi um dos principais comerciantes de escravos da região e exerceu considerável poder económico e político na área. No entanto, não era um governante formal da Zambézia portuguesa, mas sim uma figura influente na economia e nos assuntos locais. Entretanto andava por lá David Livingstone, o famoso missionário e explorador escocês, que também viajou extensivamente pela região da Zambézia portuguesa durante o século XIX. Ele foi um dos primeiros europeus a explorar as regiões do sul e centro da África, buscando divulgar o cristianismo e mapear o continente. Suas expedições incluíram viagens pelas terras hoje conhecidas como Zâmbia, Malawi e Moçambique, onde ele explorou o rio Zambeze e suas regiões adjacentes. Suas explorações contribuíram significativamente para o conhecimento europeu sobre a África interior.

A 24 de Dezembro de 1871 na opera do Cairo, Ismail, o Magnífico, presidiu à estreia da ópera de Verdi: Aida. A estreia da ópera "Aida" de Giuseppe Verdi ocorreu de facto em 24 de dezembro de 1871, no Teatro Khedivial Opera House, no Cairo, Egito. Foi encomendada para celebrar a inauguração do Canal de Suez. E foi dirigida pelo próprio compositor. Ismail Pasha, também conhecido como Ismail, o Magnífico, esteve presente na estreia. Mas na verdade, foi o sultão Barghash bin Said que expandiu o domínio de Zanzibar para partes do Quénia e da Tanzânia no século XIX. Barghash governou Zanzibar de 1870 a 1888 e foi responsável por aumentar a influência do sultanato na região, incluindo áreas costeiras do atual Quénia e Tanzânia. Esta expansão foi principalmente para controlar o comércio de marfim, escravos e outros recursos naturais da região.

Massacre de Wounded Knee - a tribo Lakota Sioux e o 7º Regimento de Cavalaria

 

Em 29 de dezembro de 1890, ocorreu o infame Massacre de Wounded Knee em Dakota do Sul, Estados Unidos. A Sétima Cavalaria dos Estados Unidos estava envolvida na operação. Durante esse incidente trágico, centenas de homens, mulheres e crianças da tribo Lakota Sioux foram mortos, marcando um dos eventos mais sombrios e controversos na história das relações entre os nativos americanos e o governo dos Estados Unidos.




Touro Sentado, um dos líderes e chefes mais proeminentes da tribo Lakota Sioux, foi morto durante o Massacre de Wounded Knee. Ele estava gravemente doente na época e não representava uma ameaça aos soldados dos Estados Unidos. Sua morte, junto com a de muitos outros membros da tribo, tornou o massacre ainda mais trágico e controverso. O incidente é amplamente considerado como um dos pontos mais sombrios na história das relações entre os nativos americanos e o governo dos Estados Unidos.

Em 1890, um grande fenómeno se espalhou entre as tribos indígenas das Grandes Planícies. Chamava-se Dança dos Fantasmas. Prometia aos seus crentes que o homem branco seria expulso do continente americano, e os rebanhos de bisões seriam devolvidos à sua antiga área de distribuição e tamanho. Os colonos brancos perto da Reserva Indígena Standing Rock ficaram alarmados com o número de artistas de "Ghost Dance", que incluíam o famoso Touro Sentado Chefe Lakota. James McLaughlin, o agente indígena de Standing Rock, pediu ajuda militar para deter o que ele via como o início de uma revolta perigosa. Os líderes militares queriam usar Buffalo Bill (William Frederick Cody - um aventureiro americano do Iowa famoso por ter matado milhares de búfalos nu curto espaço de tempo), um amigo de Sitting Bull, como intermediário para evitar a violência, mas foram anulados por McLaughlin, que enviou a polícia para prender Sitting Bull.


Touro Sentado

Em 15 de dezembro de 1890, quarenta policiais indianos chegaram à casa de Sitting Bull para prendê-lo. Quando ele se recusou, a polícia se moveu, levando Catch-the-Bear, um Lakota, a disparar sua arma, atingindo LT Bullhead. LT Bullhead respondeu atirando em Sitting Bull no peito, e o policia Red Tomahawk posteriormente atirou na cabeça do Chefe, matando-o. Temendo represálias pelo incidente, 200 Hunkpapa fugiram para se juntar ao chefe Spotted Elk na Reserva indígena do rio Cheyenne. Spotted Elk, por sua vez, fugiu para a Reserva indígena Pine Ridge para se juntar ao chefe Red Cloud.

Um destacamento do 7º Regimento de Cavalaria sob o comando do Major Samuel Whitside foi enviado para manter a ordem, e em 28 de dezembro eles se encontraram com a banda de Red Cloud a sudoeste de Porcupine Butte quando se mudaram para Pine Ridge. John Shangreau, um batedor e intérprete que era meio Sioux, aconselhou os soldados a não desarmar os índios imediatamente, pois isso levaria à violência. Os soldados escoltaram os nativos americanos cerca de cinco milhas para o oeste até Wounded Knee Creek (Joelho Ferido), onde lhes disseram para fazer acampamento. Mais tarde naquela noite, o coronel James W. Forsyth e o resto da 7ª Cavalaria chegaram, elevando o número de soldados em Wounded Knee para 500. 

Ao amanhecer de 29 de dezembro de 1890, Forsyth ordenou a entrega de armas e a remoção imediata dos Lakota da "zona de operações militares" para comboios à espera. Uma busca no acampamento confiscou 38 espingardas, e mais foram levadas enquanto os soldados revistavam os índios. Nenhum dos idosos foi encontrado armado. Um médico chamado Pássaro Amarelo teria hostilizado os jovens que estavam ficando agitados com as buscas, e a tensão se espalhou para os soldados.

Yellow Bird começou a executar a Ghost Dance, dizendo aos Lakota que suas "camisas fantasmas" eram à prova de bala. À medida que as tensões aumentavam, o Coiote Negro se recusou a entregar a sua arma; ele não falava inglês e era surdo, e não tinha entendido a ordem. Outro índio disse: "Coiote Negro é surdo" e, quando o soldado persistiu, disse: "Parem. Ele não pode ouvir suas ordens." Nesse momento, dois soldados tomaram o Coiote Negro por trás e, (supostamente) na luta, sua espingarda disparou. No mesmo momento, Pássaro Amarelo atirou um pouco de poeira para o ar, e aproximadamente cinco jovens homens Lakota com armas escondidas em cobertores dispararam  contra a tropa do 7º. Após essa troca inicial, a razia foi indiscriminada.

Touro Sentado (Sitting Bul), chefe indígena da etnia sioux hunkpapa, viveu entre os anos de 1831 e 1890. Chegou a ser famoso por conduzir três mil e quinhentos indígenas sioux e cheyenne contra o Sétimo Regimento de Cavalaria Americana, que estava sob as ordens do general Custer, na batalha de Little Bighorn em 25 de junho de 1876, na qual o exército federal foi derrotado. Perseguido pelo exército dos Estados Unidos, Touro Sentado levou os seus homens até ao Canadá, onde permaneceram até 1881. Neste ano regressou com o seu povo aos Estados Unidos para que se entregasse e acabasse assim a guerra. Touro Sentado não conseguiu uma porção de terras canadenses, porque a Rainha Vitória o considerava um selvagem dos Estados Unidos.

Touro Sentado teria se sentido atraído pela Dança dos Fantasmas, grupo religioso fundado pelo suposto messias Wovoca. Segundo o profeta, que se dizia o próprio Cristo, a dança faria com que no próximo ano a terra engolisse os homens brancos das terras dos indígenas. O governo dos Estados Unidos viu nestas danças uma ameaça e enviou uma polícia para prender o chefe hunkpapa. Touro Sentado e seu filho morreram baleados na luta que se seguiu à tentativa de prisão. Em sioux, Tatanka Iyotake significa «Bisão Macho Sentado». O nome de Touro Sentado chegou ao português através da tradução do inglês, Sitting Bull, posto que bull, além de significar touro, utiliza-se para denominar os machos de animais similares aos bois, como os búfalos e bisões.

Alce Negro, também conhecido como Black Elk, foi um sobrevivente do Massacre de Wounded Knee. Ele era um membro proeminente da tribo Lakota Sioux e mais tarde se tornou um importante líder espiritual e porta-voz de seu povo. Black Elk compartilhou as suas experiências e testemunhos sobre o massacre e outros eventos históricos em seu livro "Black Elk Speaks", que é uma importante fonte de conhecimento sobre a cultura e história dos nativos americanos. Sua narrativa oferece uma perspectiva valiosa sobre os impactos devastadores que eventos como o Massacre de Wounded Knee tiveram sobre as comunidades indígenas.



Alce Negro

Na época do Massacre de Wounded Knee, em 1890, Theodore Roosevelt estava envolvido na criação de gado no Dakota Territory. Ele havia investido na indústria do gado e estava ativo na vida política local como membro do Partido Republicano. No entanto, Theodore Roosevelt tornou-se mais amplamente conhecido posteriormente por sua carreira política, eventualmente se tornando o 26º Presidente dos Estados Unidos de 1901 a 1909. Durante o seu mandato presidencial, ele foi um defensor da conservação ambiental e é lembrado por seu papel na expansão do sistema de parques nacionais dos Estados Unidos.

Durante a mesma época do Massacre de Wounded Knee e dos eventos que se seguiram, houve uma onda significativa de imigração judaica para os Estados Unidos, muitos dos quais estavam fugindo da perseguição na Rússia czarista. O assassinato de Alexandre II, em 1881, desencadeou uma série de pogroms (ataques violentos organizados contra judeus) na Rússia, levando muitos judeus a buscar refúgio em outros países, incluindo os Estados Unidos. Esses imigrantes judeus contribuíram significativamente para a diversidade étnica e cultural dos Estados Unidos e desempenharam papéis importantes no desenvolvimento económico, cultural e político do país.

Nenhum judeu foi o assassino, mas os rumores espalharam-se por Kiev, Varsóvia e Odessa onde a populaça começou os pogroms. O assassinato de Alexandre II não foi cometido por um judeu, rumores infundados espalharam-se rapidamente, levando a ataques violentos contra comunidades judaicas em várias cidades, incluindo Kiev, Varsóvia e Odessa. Esses ataques, conhecidos como pogroms, resultaram em mortes, ferimentos e destruição de propriedades, e são lembrados como episódios trágicos de perseguição e violência anti-semita na história da Rússia. Esses eventos foram um dos fatores que contribuíram para a emigração em massa de judeus da Rússia para outros países, incluindo os Estados Unidos.

Consequências da crise da família patriarcal



A crise da família patriarcal, marcada pela transformação das estruturas familiares tradicionais onde o homem desempenhava o papel central de autoridade, trouxe várias consequências sociais, culturais e económicas. Houve uma redistribuição das responsabilidades e direitos dentro da família. As mulheres começaram a assumir papéis mais ativos no mercado de trabalho e na liderança familiar, o que resultou em uma maior igualdade de género. Surgiram novos modelos de família, incluindo famílias monoparentais, famílias com casais do mesmo sexo, famílias reconstituídas (com filhos de relacionamentos anteriores), entre outras. Essa diversidade reflete a flexibilidade das estruturas familiares modernas.

Tudo isso levou a mudanças nas relações de poder. A autoridade patriarcal, que antes era inquestionável, passou a ser compartilhada e negociada dentro da família. Isso criou uma dinâmica mais democrática e igualitária nas decisões familiares. Mas com a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, a renda familiar aumentou e a dependência económica da mulher em relação ao homem diminuiu, o que contribuiu para a maior independência financeira das mulheres. Os valores tradicionais que sustentavam a família patriarcal, como a obediência cega ao chefe de família e a divisão rígida dos papéis de género, foram desafiados. Novos valores, como igualdade, autonomia e respeito mútuo, ganharam mais destaque.

Como tudo o que é humano não é perfeito, a transição da família patriarcal para estruturas mais igualitárias também trouxe desafios à criação dos filhos, como o aumento das taxas de divórcio e a necessidade de adaptação a novas formas de convivência. Houve necessidade de novas leis e novas políticas públicas. Uma evolução nas políticas públicas e na legislação para acompanhar essas mudanças, incluindo leis que promovem a igualdade de género, proteção contra a violência doméstica e apoio a diferentes configurações familiares. Todas essas consequências refletem uma transformação profunda na forma como a família é entendida e vivida, evidenciando a adaptação da sociedade às mudanças culturais e económicas contemporâneas. A transição de uma estrutura familiar patriarcal para modelos mais igualitários e diversos pode levar à desestruturação de algumas famílias, resultando em separações e divórcios mais frequentes, o que pode causar instabilidade emocional e financeira para os membros da família, especialmente para os filhos.

Em famílias monoparentais ou reconstituídas, as crianças podem enfrentar desafios adicionais, como a ausência de uma figura paterna ou materna constante, dificuldades de adaptação a novos parceiros dos pais e problemas de identidade e segurança emocional. Embora a igualdade de género tenha permitido às mulheres assumirem papéis ativos no mercado de trabalho, muitas vezes elas ainda carregam a maior parte das responsabilidades domésticas e de cuidado dos filhos, resultando numa sobrecarga dupla que pode levar a uma exaustão psíquica e problemas de saúde mental. Muitas religiões tradicionais têm sido desafiadas a reavaliar suas posições sobre a sexualidade e o casamento. Enquanto algumas permanecem inflexíveis, outras têm adotado uma abordagem mais inclusiva. Os movimentos lésbico e gay têm sido catalisadores de mudanças profundas nas estruturas sociais, culturais e legais. Ao desafiar normas milenares, eles promovem uma sociedade mais inclusiva, justa e igualitária, embora também enfrentem resistência e desafios significativos. Essas transformações continuam a evoluir, moldando o futuro das relações humanas e das estruturas sociais.

A crise da família patriarcal pode levar a alguns conflitos de identidade masculina em que homens sentem perda de identidade e propósito, uma vez que os papéis tradicionais de provedor e autoridade estão sendo redefinidos. Isso pode resultar em crises de masculinidade, ansiedade e, em alguns casos, comportamento agressivo ou abusivo. A dissolução de famílias patriarcais pode resultar em instabilidade financeira, especialmente em casos de divórcio, onde a divisão de bens e a necessidade de manter duas residências separadas podem gerar dificuldades económicas para ambos os ex-conjuges. E a fragmentação das famílias pode levar ao isolamento social e à solidão, especialmente para os idosos que, em uma estrutura familiar patriarcal, teriam um papel mais central e próximo aos membros mais jovens da família.

A ausência de uma estrutura familiar estável pode impactar negativamente o desenvolvimento e a educação dos filhos. Crianças de famílias desestruturadas podem apresentar problemas comportamentais, dificuldades académicas e maiores taxas de abandono escolar. A pressão sobre sistemas de apoio social passa a ser maior. Com a crescente diversidade de configurações familiares, há uma maior demanda por políticas públicas e sistemas de apoio social para atender às necessidades dessas famílias. Isso esgota por sobrecarga os recursos governamentais e comunitários disponíveis. Essas consequências negativas ressaltam a complexidade da transição das estruturas familiares tradicionais e a necessidade de políticas e suportes sociais adequados para mitigar os impactos adversos sobre os indivíduos e a sociedade como um todo.

Os divórcios são um aspecto complexo e podem ter tanto consequências negativas quanto positivas, dependendo do contexto e das circunstâncias. É claro que existe sempre um impacto emocional e psicológico, o que naturalmente acarreta sempre consequências negativas. Não quer dizer que não deva ser wencarado como são encaradas as doenças físicas curáveis. Vai-se ao médico, trata-se e a vida prossegue o caminho que tem de prosseguir sempre com altos e baixos até outra doença. Por conseguinte o divórcio é quase sempre uma experiência emocionalmente difícil e traumática para todos os envolvidos, incluindo os cônjuges e os filhos. Pode causar stress, ansiedade, depressão e sentimento de fracasso ou perda. Portanto, implica um período de luto. Mas para além dos cônjuges temos os filhos, obviamente quando os há. As crianças podem sofrer com a separação dos pais, enfrentando sentimentos de insegurança, confusão e lealdade dividida. Podem ter dificuldades académicas e comportamentais, além de problemas emocionais a longo prazo. A gestão da guarda dos filhos, visitas e responsabilidades parentais pode ser complicada e causar conflitos entre os ex-cônjuges.

Devemos encarar o divórsio como uma necessidade para a saúde e bem-estar da família se atendermos às justas causas para uma separação. Em casos de relacionamentos abusivos ou extremamente conflituosos, o divórcio pode ser um passo positivo para proteger a saúde física e emocional dos cônjuges e dos filhos. Pode proporcionar um ambiente mais seguro e saudável. O divórcio pode permitir que os indivíduos recuperem a independência, explorem novas oportunidades e desenvolvam a autoconfiança e o crescimento pessoal. Para muitos, a dissolução de um casamento infeliz pode levar a uma melhoria na qualidade de vida, proporcionando uma oportunidade para buscar relacionamentos mais satisfatórios e harmoniosos. Embora o divórcio possa ser difícil para as crianças, crescer em um ambiente sem conflitos contínuos pode ser benéfico. Crianças em ambientes harmoniosos tendem a ter melhor bem-estar emocional e desenvolvimento saudável.

O impacto do divórcio muitas vezes depende de como ele é conduzido e do nível de suporte disponível. Políticas públicas, aconselhamento familiar e redes de apoio social podem ajudar a mitigar os efeitos negativos e apoiar os indivíduos e famílias durante o processo. Portanto, enquanto o divórcio pode ter consequências negativas significativas, ele também pode oferecer benefícios importantes, especialmente em situações onde o casamento é prejudicial ao bem-estar dos envolvidos. Em muitos países, as estatísticas oficiais sobre divórcios não incluem casos de concubinato ou uniões informais. As consequências da crise da família patriarcal também impactam essas relações de forma significativa, mas muitas vezes essas situações não são refletidas nas estatísticas de divórcio. Uniões informais podem carecer de proteção legal em comparação com casamentos oficiais. Em caso de separação, questões como divisão de bens, guarda dos filhos e pensão de alimentos podem ser mais complexas e menos favoráveis para o parceiro mais vulnerável economicamente.

Estudos sugerem que uniões informais podem ser mais instáveis do que casamentos, o que pode levar a uma maior rotatividade de parceiros e impactos negativos sobre os filhos. Concubinatos podem enfrentar menor reconhecimento social e familiar, o que pode causar tensões e menos suporte da comunidade em comparação com casamentos formais. Crianças de uniões informais podem enfrentar desafios similares aos das crianças de pais divorciados, como insegurança e instabilidade emocional, especialmente se as separações forem frequentes. 
Nos países desenvolvidos há um aumento significativo no número de crianças nascidas fora do casamento. Essa tendência reflete mudanças sociais, culturais e económicas que têm transformado a estrutura familiar tradicional. Há uma aceitação crescente das uniões informais e das famílias monoparentais. A estigmatização social associada a ter filhos fora do casamento diminuiu consideravelmente. Com mais mulheres independentes por via da sua participação do mercado de trabalho, de onde decorre independência financeira, a pressão para se casar antes de ter filhos diminui. A educação e as carreiras das mulheres têm prioridade, e elas podem escolher ter filhos não só mais tarde como mesmo sem estar casadas. A coabitação sem casamento formal tornou-se mais comum e socialmente aceitável. Muitos casais optam por viver juntos e criar filhos sem oficializar a união através do casamento.

Assim, em muitos países, há uma crescente necessidade de ajustar as leis para garantir que todas as crianças, independentemente do estado civil dos pais, tenham direitos iguais e acesso a benefícios, como herança e suporte financeiro. A disponibilidade de creches, licença parental e políticas de suporte podem mitigar esses desafios. Em todo o caso, estudos indicam que o bem-estar das crianças é mais influenciado pela qualidade da relação parental e pela estabilidade do lar do que pelo estado civil dos pais. No entanto, crianças em famílias monoparentais podem enfrentar desafios adicionais, como recursos financeiros limitados e menos suporte emocional e prático. A mudança nas estruturas familiares está também ligada à evolução das normas de género, com homens e mulheres assumindo papéis mais diversos e compartilhados na criação dos filhos e nas responsabilidades domésticas. Essa tendência não é uniforme em todos os países desenvolvidos, mas é amplamente observada na Europa, América do Norte, Oceania e algumas partes da Ásia. Cada sociedade adapta-se de maneira diferente a essas mudanças, influenciada por suas culturas, sistemas legais e políticas de bem-estar social.

Em suma, o aumento do número de crianças nascidas fora do casamento nos países desenvolvidos é um reflexo das mudanças dinâmicas na sociedade moderna. Enquanto apresenta desafios específicos, também abre caminho para uma maior diversidade e flexibilidade nas formas de organização familiar, exigindo uma adaptação contínua das políticas públicas e dos sistemas de apoio social. Os movimentos lésbico e gay desafiam algumas das estruturas milenares sobre as quaisas sociedades foram historicamente construídas. Têm, de fato, desempenhado um papel significativo em desafiar e transformar estruturas sociais e culturais profundamente enraizadas. Essas mudanças são evidentes em vários aspectos das sociedades contemporâneas, especialmente nos países desenvolvidos. Eles promovem uma compreensão mais inclusiva e fluida do género, permitindo que as pessoas se identifiquem e se expressem de maneiras que vão além das definições binárias tradicionais.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Dos Não Alinhados do tempo da Guerra Fria


O Movimento dos Não Alinhados incluía uma ampla gama de líderes e países de várias regiões do mundo. Alguns dos líderes mais proeminentes associados ao movimento incluíam Jawaharlal Nehru da Índia, Gamal Abdel Nasser do Egito, Josip Broz Tito da Jugoslávia, Sukarno da Indonésia e Kwame Nkrumah de Gana. Além disso, muitos países africanos, asiáticos e latino-americanos aderiram ao movimento como uma forma de promover a solidariedade entre as nações recém-independentes ditas do Terceiro Mundo e buscar uma terceira via entre os blocos liderados pelos EUA e pela URSS.

Era o caso de Norodom Sihanouk, o ex-rei e líder político do Camboja, que tentou manter o país neutro durante várias décadas durante a Guerra Fria. Ele buscava equilibrar as relações com as potências globais para proteger a independência e a estabilidade do Camboja. Sihanouk aderiu então ao Movimento dos Não Alinhados de nações que se recusavam a alinhar com qualquer bloco geopolítico dominante. Isso refletia uma política de neutralidade e independência, buscando manter o país afastado das rivalidades entre os blocos liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética.

Ho Chi Minh,  não pessoalmente, mas as forças do Vietcong, apoiadas pelo Vietname do Norte, invadiram o Vietname do Sul em uma série de ataques em 1960, marcando o início da Guerra do Vietname. No entanto, a escalada significativa das hostilidades ocorreu em 1965, quando os Estados Unidos aumentaram o seu envolvimento militar no conflito.

Tudo começou com John F. Kennedy, presidente dos Estados Unidos na época. Ele estava preocupado com a crescente influência comunista no Sudeste Asiático, mas não pressionou Sihanouk a resistir à invasão comunista no Camboja. Na verdade, os EUA apoiaram Sihanouk em certa medida como parte de sua política de conter o comunismo na região. A relação entre os Estados Unidos e Sihanouk foi complexa e variou ao longo do tempo, mas Kennedy não pressionou Sihanouk a resistir à invasão comunista no Camboja.



Sihanouk com Kennedyem Nova Iorque
25 de setembro de 1961

Sihanouk acabou por sofrer uma taentado organizado pelos irmãos Ngo, mas sobreviveu. Chegou a admitir-se que a CIA aprovara o atentado. Fosse como fosse houve conspirações envolvendo a CIA e elementos do governo sul-vietnamita liderado pelos irmãos Ngo contra Sihanouk. Em 1959, a CIA aprovou um plano para assassinar Sihanouk, mas o plano não foi bem-sucedido. Além disso, Sihanouk sobreviveu a várias tentativas de assassinato ao longo da sua vida política muito atribulada. Uma delas foi um atentado à bomba em 1959, que visava matá-lo enquanto ele assistia a um filme no cinema em Phnom Penh. Apesar dessas ameaças, Sihanouk manteve a posição de neutralidade e tentou equilibrar as pressões geopolíticas sobre o Camboja durante o seu governo.

Durante o regime de Sihanouk no Camboja, houve períodos em que os budistas enfrentaram perseguições, especialmente durante a década de 1960. Embora o país fosse predominantemente budista, o governo de Sihanouk estava em constante luta pelo poder e tentava suprimir qualquer oposição política, incluindo movimentos budistas que desafiavam sua autoridade. Isso resultou em tensões e conflitos entre o governo e monges budistas e ativistas religiosos. No entanto, é importante observar que as políticas de Sihanouk e as condições no Camboja mudaram ao longo do tempo e não foram consistentemente opressivas para os budistas.

Estávamos também no tempo em que o Xá da Pérsia se divorsiava de Soraya e casava com Farah Diba, jovem estudante de arquitetura. Mohammad Reza Pahlavi, divorciou-se de Soraya Esfandiary-Bakhtiari em 1958 e casou-se com Farah Diba, que na época era uma jovem estudante de arquitetura, em 1959. Farah Diba tornou-se a última imperatriz consorte do Irão até 1979, quando se deu a Revolução Islâmica do Ayatollah Khomeini. Farah Diba usou um deslumbrante vestido criado pelo renomado estilista Yves Saint Laurent. Este vestido foi um símbolo de elegância e luxo, refletindo o estilo e o prestígio associados à família real do Irão na época.




Dizia-se que tanto o Xá como John Kennedy frequentavam a parisuense Madame Claude. A sua vida foi contada no filme de 1977 “Madame Claude”, dirigido por Just Jaeckin. A 2 de abril de 2021 estreou um novo “Madame Claude” na Netflix — um filme que reconta a sua história, embora de forma distinta.

Havia rumores de que tanto o Xá da Pérsia, Mohammad Reza Pahlavi, quanto John F. Kennedy, o presidente dos Estados Unidos na época, frequentavam os serviços de Madame Claude, uma famosa madame parisiense conhecida por administrar um sofisticado serviço de acompanhantes de luxo para clientes de alta sociedade. Esses rumores nunca foram oficialmente confirmados, mas contribuíram para a aura de glamour e mistério em torno dessas figuras públicas. Madame Claude, cujo nome verdadeiro era Fernande Grudet, era de facto a proprietária da principal maison close de Paris. Seu estabelecimento era conhecido por fornecer serviços de acompanhantes de alto nível para clientes influentes e poderosos, incluindo políticos, empresários e celebridades. Madame Claude tornou-se uma figura lendária na cena social parisiense e seus negócios ganharam fama internacional.




Khomeini, já no tempo do Xá da Pérsia, Mohammad Reza Pahlavi, conspirava para derrubar o regime secular e substituí-lo por um regime de um guardião judicial islâmico. Ele liderou o movimento islâmico que eventualmente culminou na Revolução Islâmica de 1979, que depôs o Xá e estabeleceu a República Islâmica do Irão, com Khomeini como seu líder supremo. A abordagem tradicional do Islão xiita não necessariamente endossava um sistema político onde um líder religioso exercesse autoridade política direta sobre o Estado. No entanto, o aiatolá Khomeini era um líder carismático e persuasivo que conseguiu mobilizar apoio para a sua visão de um Estado islâmico, eventualmente levando à revolução que transformou o Irão.

Em 5 de junho de 1963, o xá Mohammad Reza Pahlavi havia ordenado a prisão do aiatolá Ruhollah Khomeini, após este ter feito discursos contra o regime. Esse evento marcou um ponto de viragem na relação entre Khomeini e o regime do xá, aumentando a oposição contra o governo e contribuindo para a ascensão do movimento islâmico que levaria à Revolução Islâmica de 1979. O primeiro-ministro Hassan Ali Mansur chegou a repreende-lo antes de partir para o exílio no Iraque. Mansur, que serviu como primeiro-ministro do Irão de 1963 a 1965, representava o governo do xá Mohammad Reza Pahlavi e estava envolvido na repressão aos oponentes políticos, incluindo Khomeini. A repreensão de Mansur e a subsequente prisão de Khomeini fizeram parte dos esforços do regime para conter a crescente oposição religiosa e política.

A 12 de outubro de 1971 o xá havia organizado a festa do século para celebrar os 2500 anos da Grande Civilização Persa. De fato, o xá Mohammad Reza Pahlavi organizou uma celebração extravagante. Esta festa foi chamada de "Festa dos 2.500 Anos da Monarquia Imperial do Irão" e foi realizada na cidade de Persépolis. Foi um evento monumental, com a presença de muitos líderes mundiais e dignitários, e foi projetado para destacar a grandeza histórica e cultural do Irão. No entanto, essa celebração também gerou controvérsia devido aos altos custos e à extravagância em um momento de crescente descontentamento social no país.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Índice Democrático dos países



O Índice Democrático é um índice criado em 2006 pela Economist Intelligence Unit da revista The Economist para dar conta do estado da democracia em 167 países. Na avaliação mais recente, divulgada em fevereiro de 2024, o Democracy Index 2023 reportou que a Noruega marcou um total de 9,81 em uma escala de 0 a 10, que foi o resultado mais elevado (1.º país no ranking geral), enquanto o Afeganistão teve a pior nota: 0,26.

Segundo o Índice Democrático, há apenas 24 democracias "plenas" no mundo inteiro. Portugal é considerado uma "democracia com falhas", mas não é o único. Portugal "ainda tem uma caminhada para fazer" até à "democracia plena".

Como a Democracia Popular é um ideal de democracia direta e participativa das bases, não há exatamente valores muito definidos para além da manifestação de apoio a este tipo de democracia em detrimento do que é mais comum e que é a Democracia Represntativa. Mas algumas tentativas têm sido feitas para definir o que são os ideais popular-democratas baseados em torno da ideia de que esta democracia direta é só um passo para uma democracia plena. 

Algumas propostas de valores comuns popular-democráticos têm sido o de a Democracia Popular ser um tipo de democracia direta baseada em referendos e outros mecanismos de delegação de autoridade e concretização da vontade popular. O conceito evoluiu a partir da filosofia política do Populismo como uma versão completamente democrática desta ideologia de delegação de poderes popular, mas desde então tem-se tornado independente dela, e alguns até discutem se elas são antagonísticas ou não-relacionadas agora. Embora a expressão tenha sido usada desde o século XIX e possa ser aplicada à política da Guerra Civil Inglesa, pelo menos a noção (ou a noção na sua forma atual) é considerada recente.

Democracia iliberal, também chamada democracia parcial, democracia de baixa intensidade, democracia vazia, regime híbrido, democratura ou democracia guiada, é um sistema de governo no qual, embora decorra de eleições, os cidadãos são afastados de exercer controlo sobre as atividades daqueles que exercem poder real por conta da falta de liberdades civis. Portanto, não é uma "sociedade aberta". Existem muitos países "que são categorizados como nem 'livres' nem 'não livres', mas como 'provavelmente livres', situando-se entre os regimes democrático e não democrático". Isso pode ocorrer porque existe uma constituição que limita os poderes do governo, mas os que estão no poder ignoram as as liberdades porque não existe uma estrutura constitucional de salvaguarda da Constituição, tal como um Tribunal Constitucional. 


segunda-feira, 24 de junho de 2024

A propósito do caso das gémeas

 


Ana Gomes no seu comentário em podcast de 23 de junho junta-se aos demais comentadores indignados com o triste espetáculo que se passou a 21 de junho na Comissão Parlamentar de Inquérito com o questionaram feito A uma mãe de duas gémeas com a grave doença – distrofia muscular espinhal – que haviam sido tratadas com Zolgensma no Hospital de Santa Maria em Lisboa e que mais tarde a comunicação social veio a publicar uma reportagem em que tinha havido favorecimento por uma alegada cunha do Presidente da República por intermédio do seu filho.

Independentemente de ser indispensável o apuramento da verdade, não havia necessidade de o parlamento submeter a mãe das crianças a uma sórdida desumanidade. Que papel terá tido Marcelo Rebelo de Sousa depois do contacto feito pelo filho, não pode ficar no ar numa nuvem de suspeição. Isso é claro.



Mas os episódios desta trite novela ainda não chegaram ao fim. A Comissão Parlamentar de Inquérito também agendou o ex-primeiro-ministro António Costa para ser ouvido, para além do filho do Presidente - Nuno Rebelo de Sousa. O requerimento, apresentado pelo Chega, foi aprovado com nove votos a favor, duas abstenções e cinco votos contra. A comissão reiterou ainda a convocatória a Nuno Rebelo de Sousa, que pode optar por se deslocar ao Parlamento a 3 ou 12 de julho. Se não comparecer, o filho do Presidente da República incorre no "crime de desobediência qualificada". João Paulo Correia, deputado do Partido Socialista, considerou que esta “é uma chamada política à comissão parlamentar de inquérito”, sem “relevância mínima”. O socialista garantiu que na documentação disponibilizada “não há a mínima intervenção de António Costa” e que o único objetivo de André Ventura e do Chega “é atirar lama” para António Costa. O parlamentar votou contra a audição, afirmando que esta é mais uma das "tentativas de assassinato político" do Chega contra o ex-líder do executivo.

Como o caso já está a correr no Ministério Público, e Nuno Rebelo de Sousa é arguido no processo, O PSD apresentou um requerimento para que seja desenvolvido um parecer pelos serviços da Assembleia da República que defina com clareza até que ponto os arguidos se podem remeter ao silêncio, depois de António Lacerda Sales, antigo secretário de Estado da Saúde, ter invocado o seu estatuto de arguido para não responder às questões colocadas pelos deputados quando foi ouvido no Parlamento. Também os advogados de defesa de Nuno Rebelo de Sousa já anunciaram que o empresário estará disponível para vir à comissão, mas não vai responder a perguntas.

O Zolgensma tinha sido prescrito a uma bebé diagnosticada com atrofia muscular espinhal (AME) tipo 1, que se tornou amplamente conhecido em Portugal, em 2019, pelo “caso Matilde” devido à campanha de angariação de fundos realizada pelos seus pais para obter o Zolgensma, que na época era considerado o mais caro do mundo, custando cerca de 2 milhões de euros. O medicamento já estava a ser comercializado nos Estados Unidos para não na Europa. Antes da Matilde, que se saiba, só mais um caso havia sido tratado em França com o Zolgensma.

A situação gerou uma onda de solidariedade e discussão pública, culminando na decisão do Estado de financiar o tratamento de Matilde e outras crianças com a mesma condição. O caso da Matilde foi discutido no Parlamento português. Desde então, o Zolgensma foi administrado a 33 crianças em Portugal, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes.

A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) aprovou em outubro de 2021 o financiamento público do Zolgensma, para tratamento da atrofia muscular espinhal tipo 1, uma doença que atinge cerca de uma em cada 11 mil crianças.

Matilde, aos três anos, apresentava progressos significativos. Segundo a mãe, ela está com a parte respiratória estável, já consegue ficar em pé por alguns segundos e está recebendo tratamento hormonal para ajudar no crescimento muscular e ósseo. A família espera que sua saúde continue a melhorar para que ela possa frequentar uma creche e socializar com outras crianças.

O acesso ao medicamento voltou a ser notícia na sequência de uma reportagem da TVI, transmitida na sexta-feira, segundo a qual duas gémeas luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o Zolgensma. Totalizou no conjunto quatro milhões de euros. Esta situação levou a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) a abrir um processo de inspeção para verificar "se foram cumpridas todas as normas aplicáveis a este caso concreto", conforme avançou o Infarmed à agência Lusa. De acordo com o Infarmed, o medicamento foi administrado a 33 crianças, em tratamentos realizados no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Centro Hospitalar Lisboa Central, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar do Porto, Centro Hospitalar de São João, e Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.

No entanto, de forma a esclarecer algumas informações relacionadas com o preço do medicamento Zolgensma, salientamos que após o processo de financiamento (negociação com o laboratório de forma a garantir as melhores condições para o SNS, permitindo o acesso a todos os cidadãos que necessitem do medicamento), o preço ficou substancialmente mais baixo do que o indicado

O pagamento é feito através de um contrato de partilha de risco assente no tipo de doente e no resultado clínico, é feito num prazo de quatro anos, e após o pagamento de uma primeira percentagem (anual) se o tratamento não apresentar as melhorias expectáveis, não existirá lugar à continuação do pagamento do medicamento por parte das unidades hospitalares.

Este "Caso Matilde" faz lembrar uma parábola muito antiga que traduzo assim: «um pequeno feito quando acontece está longe de fazer prever que pode fazer desencadear uma sucessão imparável de acontecimentos de contornos imprevisíveis e incontroláveis.»

Para se ter uma ideia, quando no início de junho de 2019 foi feito o diagnóstico à Matilde, o Zolgensma só estava a ser autorizado nos EUA. E a família tinha lançado uma plataforma de angariação. O objetivo assumido era conseguir recolher a verba necessária (quase dois milhões de euros) para que a criança tivesse acesso ao medicamento. Nas notícias dizia-se que o medicamento mais caro do mundo poderia chegar a Portugal ainda esse ano. O pedido de autorização para a comercialização deste medicamento na Europa tinha sido entregue à EMA (Agência Europeia do Medicamento) em outubro de 2018 pelo laboratório de biotecnologia Avexis, que o desenvolveu e, entretanto, foi comprado pela gigante farmacêutica Novartis. O medicamente estava ainda a ser avaliado pela agência, que não avançava datas para o desfecho desse processo.

Um outro medicamento chamado Spinraza, comercializado na Europa a partir de 2018, parecia conseguir “apenas” travar a progressão da atrofia muscular espinhal. Outras nove crianças diagnosticadas em Portugal com a forma mais grave da doença, como acontecia com Matilde, já estavam a ser tratadas com este medicamento, comparticipado a 100% pelo Estado.

Nos meses que antecederam a aprovação do medicamento pelo FDA, um denunciante informou a Novartis que certos estudos do medicamento haviam sido sujeitos à manipulação de dados. A Novartis demitiu dois executivos da AveXis que considerou responsáveis, mas informou a FDA sobre a questão da integridade dos dados apenas em junho de 2019, um mês após a aprovação do medicamento. Em outubro de 2019, a empresa admitiu não ter informado a FDA e a EMA sobre os efeitos tóxicos da formulação intravenosa observados em animais de laboratório. Devido ao problema de manipulação de dados, a EMA retirou a decisão de permitir uma avaliação acelerada do medicamento.

Em dezembro de 2019, a Novartis anunciou que doaria 100 doses de Onasemnogeno abeparvove (Zolgensma) por ano para crianças fora dos Estados Unidos por meio de um sorteio internacional. Isso foi recebido com muitas críticas pela Comissão Europeia, uma vez que alguns reguladores de saúde europeus e Associações de doentes do Reino Unido viam nisso um tipo de manipulação emocional, eticamente questionável. A Novartis não consultou familiares ou médicos antes de anunciar o programa.

O Sistema Judicial português a propósitos dos últimos casos das escutas




A falta de uma reforma profunda no sistema judiciário em Portugal, herdado do período do Estado Novo, juntamente com a presença de juízes com atitudes retrógradas, apresenta os maiores desafios aos futuros governantes par que e Portugal os cidadãos possam dispor de uma justiça mais decente e mais justa. Isso está espelhado na lentidão e ineficiência dos processos há muito identificado pelos investigadores a nível internacional. A morosidade processual é uma crítica comum, e a falta de reformas pode exacerbar esse problema.

Muitas das leis e estruturas judiciais ainda são baseadas em princípios e modelos que foram estabelecidos durante o Estado Novo. Isso pode resultar em procedimentos desatualizados e ineficazes, que não atendem às necessidades da sociedade moderna. A cultura dentro do sistema judiciário tem apresentado grandes resistências à mudança. Juízes e outros profissionais do direito ao aderirem a visões mais tradicionais podem acabam por torná-los mais relutantes em adotar reformas que promovam a modernização e a maior eficiência do sistema.

Tem sido patente, em transcrições de considerandos que alguns juízes fazem na elaboração das suas sentenças, posições retrógradas que perpetuam preconceitos e discriminação dentro do sistema judicial. Isso pode afetar negativamente grupos marginalizados e minorias, minando a equidade e a justiça nos julgamentos.

Esta falta de transparência e abertura tem sido contaminada com a crónica violação do segredo de justiça ao aparecerem na comunicação social mais tablóide divulgação de escutas e de recortes mais sensacionalistas dos processos de figuras políticas e públicas com maior impacto mediático. E isto porque o Ministério Público atingiu o grau mais elevado de desresponsabilização dado que não tem de se submeter a prestação de contas acerca da clareza nas decisões judiciais.

A perceção de um sistema judicial com estas características, para além de retrógrado e antiquado, tem minado a confiança pública do sistema judicial português junto dos cidadãos. antiquado e retrógrado pode diminuir a confiança pública nas instituições judiciais. Os cidadãos podem sentir que a justiça não é aplicada de maneira justa e equitativa, o que pode levar à desconfiança generalizada.

Para enfrentar esses desafios, várias medidas podem ser consideradas, mas não é por falta de legislação adequada. Em alguns casos Portugal tem das leis mais avançadas da Europa. O que está em causa é a sua aplicação. É a mentalidade dos aplicadores e a forma como o sistema está organizado que está em causa.

É necessária uma reforma profunda que possa ajudar a introduzir novas práticas e perspetivas, reduzindo atitudes retrógradas. Que também terá de passar por modernização tecnológica para acelerar processos judiciais, melhorar a gestão de casos e aumentar a transparência. Portanto, são as tão faladas Reformas Estruturais. Implementar reformas estruturais no sistema judicial para melhorar a eficiência e a eficácia. Isso pode incluir a reestruturação de tribunais, a criação de novas formas de mediação e resolução de conflitos, e a melhoria da infraestrutura judicial. Adotar práticas que promovam maior abertura e transparência, como a publicação de decisões judiciais e a criação de mecanismos de supervisão e auditoria independentes. Incentivar a diversidade dentro do sistema judicial para assegurar que diferentes perspetivas e experiências estejam representadas. Isso pode ajudar a combater preconceitos e a promover uma justiça mais equitativa. A implementação dessas medidas pode ajudar a modernizar o sistema judiciário português, tornando-o mais justo, eficiente e alinhado com os valores democráticos contemporâneos.

sábado, 22 de junho de 2024

Os anos 80 do trio - Margaret Thatcher, Ronald Reagan e Indira Gandhi




O assassinato de Indira Gandhi, primeira-ministra da Índia, ocorreu às 9h30 de 31 de outubro de 1984 em sua residência em Safdarjung Road, Nova Déli. Gandhi foi morta por dois de seus seguranças, integrantes da seita sique, durante o rescaldo da Operação Estrela Azul, o ataque realizado pelo Exército indiano contra o Templo Dourado, deixando o templo fortemente danificado e resultando na morte de centenas de militantes siques. Gandhi foi assassinada por Satwant Singh e Beant Singh. Beant, que trabalhava há dez anos como segurança da primeira-ministra, foi morto no mesmo dia por outros seguranças, enquanto Satwant foi condenado à pena de morte, sendo executado em janeiro de 1989. Após o assassinato de Gandhi, siques foram perseguidos e mortos pela população revoltada, principalmente pelos hindus, e o filho de Gandhi, Rajiv Gandhi, assumiu a chefia do governo.

Durante os anos 1980, a ocidente, a democracia consolidava-se em Portugal. E em Espanha dava-se o último golpe também de uma transição pacífica de uma ditadura para uma democracia. A democtacia na Europa ocidental consolilava-se com o abortamento de um golpe fascista em Espanha, em 1981. Na Europa havia uma clara divisão entre a Europa Ocidental, onde as democracias estavam se consolidando e expandindo, e a Europa Oriental, que ainda era dominada por regimes ditatoriais comunistas. Enquanto a Espanha realizava uma transição democrática bem-sucedida após a morte de Franco, os países do bloco oriental, sob o controlo da União Soviética, permaneciam sob regimes autoritários e totalitários. Esta disparidade entre leste e oeste foi um aspecto central da Guerra Fria.

Thacher ainda teve de enfrentar não apenas o IRA, mas também os sindicatos, com uma tenacidade de ferro. Margaret Thatcher, Primeira-ministra do reino Unido, enfrentou vários desafios internos incluindo confrontos com o IRA (Exército Republicano Irlandês) e sindicatos trabalhistas. Sua abordagem firme e determinada nessas questões rendeu-lhe uma reputação de liderança forte e intransigente, o que foi admirado por alguns e criticado por outros. Se Indira era o seu avatar como rainha guerrreira, Reagan era o seu parceiro geopolítico.

É interessante pensar em Indira Gandhi como uma "rainha guerreira" e Ronald Reagan como um parceiro geopolítico de destaque durante o seu mandato como presidente. Ambos lideraram os seus países num período turbulento da história mundial e desempenharam papéis significativos em questões geopolíticas, embora as suas abordagens e prioridades pudessem ser diferentes em muitos aspectos.

Certamente, Margaret Thatcher, Indira Gandhi e Ronald Reagan formavam um trío interessante no cenário geopolítico da época. Cada um deles liderou uma nação poderosa e desempenhou papéis distintos, mas frequentemente interligados, em questões geopolíticas globais. Suas interações e relações diplomáticas moldaram significativamente o curso dos acontecimentos durante a Guerra Fria e que continuou muito para lá deles.

A Europa a leste era uma vergonga de ditadores como o caso chocante de Enver Hoxha na Tirana albanesa. Enver Hoxha foi uma figura dominante na Albânia por décadas, liderando o país de forma autoritária e isolacionista. Seu governo impôs um regime comunista brutal, caracterizado pela repressão política, o culto da personalidade e o isolamento do país do resto do mundo. Durante o seu governo, a Albânia tornou-se uma das nações mais fechadas e isoladas do mundo. A morte de Hoxha em 1985 eventualmente abriu caminho para mudanças significativas no país. Margaret Thatcher preocupou-se com uma série de eventos ao redor do mundo, desde a presença soviética no Afeganistão até o apoio a movimentos comunistas em países como Nicarágua e Angola. No entanto, é verdade que a Albânia não era uma prioridade significativa em sua agenda geopolítica.

Enver Hoxha, bem como tantos outros como Stalin e Mao, exemplo paradigmático do perigo que representam homens paranóicos quando conseguem ocupar os lugares de topo do poder. Enver Hoxha, assim como Stalin, Mao e outros líderes autoritários, ilustram bem como indivíduos paranoicos podem exercer um grande poder e impor regimes opressivos sobre populações muito vastas. Sua paranoia muitas vezes os levava a agir de forma brutal contra qualquer oposição percebida, resultando em repressão em massa, perseguições políticas e violações dos direitos humanos. Esses exemplos servem como lembrete dos perigos de concentrar poder nas mãos de líderes autoritários e dos danos que podem causar às sociedades sob seu controlo.

Não se sabe se o filho Shedu de Enver Hoxha se suicidou ou foi assassinado. Mas Hoxha torturou a mulher e matou o filho Skender. Os detalhes sobre as circunstâncias da morte do filho de Enver Hoxha, Shedu, são envoltos em mistério e controvérsia, com algumas alegações de suicídio e outras de assassinato. Quanto ao filho Skender, sua morte foi confirmada como um assassinato por ordem de Hoxha, no meio de uma purga política em 1941. Esses eventos trágicos destacam a brutalidade do regime de Hoxha e as consequências devastadoras da sua ditadura.

No topo do decadente regime soviético estava Andropov a braços com os protestos na Polónia. Yuri Andropov foi o líder da União Soviética durante um período crucial, especialmente durante a primeira metade da década 1980, quando o comunismo estava enfrentando desafios significativos tanto internos quanto externos. Ele assumiu o cargo de Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética em 1982, sucedendo Leonid Brejnev. E
m julho de 1982 Andropov assumiu a presidência ainda com Brezhnev vivo e demente, mas ele também já estava muito doente com insuficiência renal. Brezhnev faleceu em 10 de novembro de 1982. A caminho do velório de Estado, o fundo do caixão cedeu e o corpo de Brezhnev foi parar ao chão. Sim, houve relatos de que o fundo do caixão que transportava o corpo de Leonid Brezhnev cedeu durante o trajeto para o velório de Estado. Esse incidente foi considerado embaraçoso e simbolicamente significativo, refletindo não apenas a deterioração física do líder soviético, mas também a deterioração do sistema político e do regime que ele representava. Esse evento também contribuiu para a percepção pública da fragilidade e da decadência do governo soviético naquela época.

 Durante o seu mandato, Andropov já enfrentava uma crise económica gravíssima, que se fazia acompanhar de uma catadupa de dissidências nos países do bloco comunista, incluindo os protestos na Polónia liderados pelo movimento Solidariedade. Eram os estertores do declínio do comunismo na Europa Oriental. Andropov enfrentava dentro de portas a concorrência de outro geronte chamado Chernenko na cortida da sucessão a Brezhnev. Konstantin Chernenko era um outro líder soviético proeminente na época. E efetivamente Chernenko acabou sucedendo Andropov após a sua morte em 1984. Mas este também governou por pouco tempo, dado que a morte bateu-lhe à porta em 1985. Essa competição interna, que refletia tensões na dinâmica política de decadência do Partido Comunista Soviético, facilitou a emergência de alguém que aos olhos dos ocidentais era uma completa carta fora do baralho: Mikhail Gorbachev.

Gorbachev foi um líder reformista que implementou uma série de reformas políticas e económicas, incluindo a política de Glasnost (transparência) e Perestroika (reestruturação), que visavam modernizar e revitalizar a União Soviética. Sua ascensão ao poder e suas políticas foram de facto muito comentadas e tiveram um impacto profundo não apenas na União Soviética, mas também no cenário político mundial, eventualmente contribuindo para o colapso do comunismo na Europa Oriental e o fim da Guerra Fria. É possível que Mikhail Gorbachev tenha sido ingénuo ao tentar implementar reformas políticas dentro de um sistema de partido único. Suas políticas de Glasnost e Perestroika buscavam abrir o sistema soviético para maior transparência e participação popular, mas ainda mantendo o monopólio do poder pelo Partido Comunista. No entanto, isso criou um dilema, pois as reformas políticas incentivavam a crítica ao sistema e à liderança do partido, minando a autoridade e a legitimidade do próprio partido. Isso eventualmente contribuiu para o desmantelamento do regime comunista e para o colapso da União Soviética.

A desintegração do Império Soviético era inevitável devido a uma série de fatores internos e externos. Internamente, as políticas de reforma de Gorbachev abriram espaço para o surgimento de movimentos nacionalistas e separatistas em várias repúblicas soviéticas, que buscavam mais autonomia e, em alguns casos, independência completa. Além disso, a economia soviética estava enfrentando dificuldades crescentes, com escassez de bens e serviços e uma estrutura económica ineficiente. E é aqui que entra o trio que vinha a falar de início. Estados Unidos e outras potências ocidentais durante a Guerra Fria contribuiram para enfraquecer o sistema comunista soviético. Eventos como a queda do Muro de Berlim em 1989, e as revoltas nos países do chamado bloco da cortina de ferro e Pacto de Varsóvia mostraram que a ideologia comunista jtambém tinha falecido e o sistema soviético estava podre. Todas essas forças combinadas levaram à desintegração da União Soviética em 1991, marcando o fim de um dos regimes políticos mais poderosos e duradouros do século XX.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Maria Teresa de Áustria casa a filha Antonia com Luís Augusto delfim de França



Maria Antonieta
por Elisabeth Vigée-Le Brun

Maria Antonieta, em alemão Maria Antonia e em francês Marie Antoinette, nasceu em Viena em 1755, filha da imperatriz da Áustria – Maria Teresa e do imperador Francisco I do Sacro Império Romano-Germânico, que morreu em Innsbruck, em 1765. Porém, era Maria Teresa quem realmente exercia o poder real. Maria Teresa usou Antonia como um "peão" no jogo político para cimentar uma nova aliança com o arqui-inimigo secular da Áustria: a França. Após longas negociações, comandadas pelo francês Étienne, Duque de Choiseul e pelo austríaco príncipe de Starhemberg, acertou-se o compromisso da jovem com Luís Augusto, delfim de França. Assim, em abril de 1770, aos 14 anos de idade, foram encetados os protocolos de casamento com o então delfim de França (que subiria ao trono em maio de 1774 com o título de Luís XVI. Arquiduquesa da Áustria, esposa do rei Luís XVI e Rainha Consorte da França e Navarra de 1774 até à Revolução Francesa em 1792.

Em novembro de 1768, o abade de Vermond partiu para Viena, como tutor de Antonia. A arquiduquesa, embora bela e inteligente, também era descrita como preguiçosa e indisciplinada e não tinha o conhecimento necessário para desempenhar o papel de rainha. O abade submeteu Antonia a um programa educacional projetado especialmente para ela, onde substituiu o estudo de livros por longas palestras que versavam sobre história, religião e literatura francesa. O programa obteve bons resultados e o tutor ficou encantado com os progressos de Antonia.

Nos poucos meses que antecederam o casamento, Maria Teresa tentou recuperar a relação com a filha, dividindo seus aposentos com ela nas últimas noites antes da partida para a França. Em 19 de abril de 1770 foi celebrado o casamento por procuração. A partir desse momento Antonia foi oficialmente chamada de "Marie Antoinette, Dauphine de France". Em 21 de abril de 1770, seguida por um sumptuoso cortejo de cinquenta e sete carruagens, Maria Antonieta deixou Viena para nunca mais voltar. Embora devesse esquecer as suas origens austríacas e tornar-se uma francesa de corpo e alma, como se esperava de toda a rainha consorte de França, a jovem delfina preferiu seguir as instruções de sua mãe, que lhe ordenou no momento da despedida: "Continue sendo uma boa alemã". A imperatriz continuaria a intimidar sua filha nas cartas mensais expedidas para Versalhes, onde lembrava a fidelidade que a jovem devia à Casa d'Áustria.

Após duas semanas de viagem e sendo elogiada por onde passava, a delfina chegou a Shüttern, na margem do Reno oposta a Estrasburgo. Em um pavilhão de madeira construído especialmente para a ocasião numa pequena ilha no Reno, teve lugar a cerimónia durante a qual Maria Antonieta trocou seus trajes austríacos pelos franceses. A delfina despediu-se definitivamente de seu séquito para ser acolhida por um cortejo francês, chefiado por Anne, Condessa de Noailles, recentemente nomeada "Grã-mestre da Casa da Delfina". O cortejo retomou a marcha para Compiègne, onde a delfina era esperada pela corte francesa, incluindo o rei Luís XV, o delfim e o duque de Choiseul, que foi ao encontro da jovem e auxiliou o seu desembarque. Maria Antonieta disse-lhe: "Nunca esquecerei que vós fostes o defensor de minha felicidade!". O casal viu-se pela primeira vez e a delfina notou que seu marido era muito diferente do descrito durante as negociações de casamento: era desajeitado, inábil e já bastante obeso para a idade; os retratos enviados para a Áustria haviam favorecido grandemente a sua aparência.

As bodas foram celebradas a 16 de maio de 1770, numa cerimónia solene em Versalhes, e todo o povo foi convidado a festejar a alegria da família real. Após o jantar, iniciou-se a cerimónia do coucher a qual, pela etiqueta, deveria ser presenciada por toda a corte. O casal foi para a cama e o leito nupcial foi abençoado pelo arcebispo. Ao final da cerimónia os noivos foram deixados a sós, mas o casamento não foi consumado. Enfim, ela não sabia nas que se estava a meter. Por exemplo, ela não sabia que Madame du Barry tinha sido uma amante famosa de Luís XV da França, uma grande influente na corte francesa durante o reinado de Luís XV. Maria Antonieta enfrentou dificuldades para engravidar durante os primeiros anos de seu casamento com Luís XVI. Isso causou especulações e pressões sobre ela na corte francesa. Maria Teresa Carlota, a primeira filha deles, nasceu em 1778.

Maria Teresa da Áustria, em Viena, estava preocupada com o comportamento de sua filha na corte francesa, especialmente devido aos rumores sobre a sua extravagância e estilo de vida. Ela expressou preocupações sobre a influência negativa que isso poderia ter na reputação da família e nas relações diplomáticas. Entretanto a França estava enfrentando graves problemas financeiros que eventualmente levaram à bancarrota. As despesas excessivas da monarquia, combinadas com a má administração financeira e a pressão fiscal sobre a população, contribuíram significativamente para a crise económica do país. Isso acabou desempenhando um papel importante na Revolução Francesa.

Por outro lado, Maria Teresa da Áustria era uma imperatriz muito preocupada com as questões geopolíticas, incluindo a sua relação com Catarina II, a Grande, da Rússia. Embora as duas tenham mantido relações diplomáticas, houve momentos de tensão e rivalidade, especialmente em relação aos interesses territoriais e à influência na Europa Oriental. O regicídio de Pedro III da Rússia, que era marido de Catarina, deposto e posteriormente assassinado, certamente causou horror e preocupação a Maria Teresa da Áustria. Isso porque poderia criar instabilidade na região e afetar as relações diplomáticas entre os países europeus. 
Matia Teresa condescendeu com Catarina II e com Frederico II da Prússia na divisão da Polónia-Lituânia em 1772. Embora Maria Teresa tenha inicialmente relutado em se envolver nesse processo, ela acabou concordando com a partilha, pois isso lhe garantiria ganhos territoriais e fortaleceria sua posição na Europa Oriental. Essa partilha foi apenas o primeiro de uma série de eventos que levaram à eventual divisão total do país entre os três poderes, em 1795.

As taras sexuais de Catarina II são frequentemente tema de especulação e discussão, mas é importante notar que muitos relatos sobre sua vida privada podem ser exagerados ou baseados em rumores infundados. Catarina II foi uma governante influente, cujo reinado foi marcado por reformas significativas e pela expansão do império russo. Suas contribuições políticas e culturais costumam ser mais enfatizadas do que sua vida pessoal.

Maria Teresa da Áustria enviou seu filho, o arquiduque José II, para se reunir com Frederico II da Prússia em várias ocasiões. Essas reuniões eram parte dos esforços diplomáticos para resolver questões de interesse mútuo e garantir alianças ou acordos favoráveis para a Áustria.

Maria Teresa (13 de maio de 1717 - 29 de novembro de 1780) foi governante dos domínios dos Habsburgos de 1740 até sua morte em 1780, e a única mulher a ocupar o cargo suo jure (por direito próprio). Foi soberana da Áustria, Hungria, Croácia, Boêmia, Transilvânia, Mântua, Milão, Galícia e Lodomeria, Holanda austríaca e Parma. Por casamento, foi duquesa de Lorena, grã-duquesa da Toscana e imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico.



Maria Teresa com a família, 1754
por Martin van Meytens

Maria Teresa começou seu reinado de 40 anos quando seu pai, o imperador Carlos VI, morreu em 20 de outubro de 1740. Carlos VI abriu o caminho para sua ascensão com a Pragmática Sanção de 1713 e passou todo o seu reinado assegurando-a. Ele negligenciou o conselho do príncipe Eugênio de Saboia, que acreditava que um exército forte e um rico tesouro eram mais importantes do que meras assinaturas. Eventualmente, Carlos VI deixou para trás um estado enfraquecido e empobrecido, particularmente devido à Guerra da Sucessão Polonesa e à Guerra Russo-Turca (1735-1739). Além disso, após sua morte, a Saxônia, a Prússia, a Baviera e a França repudiaram a sanção que haviam reconhecido durante sua vida. Frederico II da Prússia (que se tornou o maior rival de Maria Teresa durante a maior parte de seu reinado) prontamente invadiu e tomou a rica província de Habsburgo da Silésia no conflito de oito anos conhecido como Guerra da Sucessão Austríaca. Desafiando a grave situação, ela conseguiu o apoio vital dos húngaros para o esforço de guerra. Durante o curso da guerra, Maria Teresa defendeu com sucesso seu domínio sobre a maior parte da monarquia dos Habsburgo, além da perda da Silésia e de alguns territórios menores na Itália. Maria Teresa mais tarde tentou, sem sucesso, recuperar a Silésia durante a Guerra dos Sete Anos.


quarta-feira, 19 de junho de 2024

Escola de Frankfurt



Escola de Frankfurt foi o nome pelo qual se tornou conhecido o grupo de filósofos e sociólogos associados ao Institut für Sozialforschung. A Escola foi fundada na década de 1930 por Max Horkheimer (1895–1973), filósofo e sociólogo alemão. Em a Dialética do Esclarecimento, publicada em 1947, é uma crítica pessimista da modernidade e uma obra paradigma da primeira geração da Escola. Nela, Horkheimer e Adorno questionam o próprio valor do projeto ético e político do Ocidente com questões inquietantes. Perguntam como pôde a razão tornar-se irracional e como pôde o Iluminismo, que tinha por fim a emancipação dos seres humanos, ter redundado no desastre às mãos dos nazis. Como a ciência se prestou para carrasca de uma destruição maciça. O projeto que pretendera emancipar a humanidade e libertá-la da menoridade, como pensara Kant, acabou por dar rédea solta à barbárie. Max Horkheimer foi presidente do Instituto entre 1930 e 1933. Pouco depois da ascensão de Hitler a chanceler alemão, o Instituto foi encerrado (a Gestapo tomou o edifício). Conseguiu emigrar para os Estados Unidos da América, tendo entre 1949 e 1958 passado por Nova Iorque e Chicago. 

O Institut für Sozialforschung tinha começado como um grupo de estudos marxista, quando Felix Weil, um estudante de Ciência Política, utilizou a sua herança para apoiar investigação social de orientação esquerdista. A Teoria Crítica pretendia ser uma reatualização do marxismo para as sociedades capitalistas avançadas e, ao mesmo tempo, uma crítica ao Positivismo, ou modo de pensar positivista.  Era a forma de pensar e praticar as ciências sociais como extensão do modelo e do método das ciências naturais. Uma interrogação central era por que razão o proletariado não se tinha tornado uma classe revolucionária. A ideia de emancipação no sentido moral, social e político, tal como esta se encontra já em Kant, um convicto Aufklärer, é desde os inícios fundamental para o programa da Escola. Também por isso as conclusões pessimistas de Adorno e Horkheimer na Dialética do Esclarecimento são tão importantes. 

O compromisso teórico da Escola de Frankfurt com o Iluminismo e com o ideal de emancipação permite compreender a razão pela qual Jürgen Habermas, o seu mais conhecido representante atual, deu corpo à reação ao pós-modernismo nos debates sobre modernidade e pós-modernidade nos anos 1980 e 1990, nomeadamente em discussão com o filósofo francês Jean-François Lyotard, ou na sua crítica ao filósofo francês Jacques Derrida. Na visão de Habermas, o pós-modernismo teria precisamente deixado cair qualquer vocação emancipadora do pensamento, tal como esta estivera sempre presente na grande tradição alemã, a tradição de Kant, Hegel e Marx. 

Theodor W. Adorno (1903–1969), regressado da emigração forçada para os EUA,  torna-se uma figura muito importante na filosofia alemã do pós-guerra. Antes da ascensão de Hitler ao poder, tinha já tido uma breve carreira académica e literária. Filósofo (escreveu a sua Habilitationsschrift sobre Kierkegaard) e músico (estudante de Composição com Alban Berg em Viena), manteve sempre perto da superfície a veia artística do seu pensamento. A sua Filosofia da Nova Música (1949) e a sua Teoria Estética (1970, póstuma) podem ser vistas diretamente a essa luz. Escritas (nas palavras do próprio) em «estilo paratético e atonal», as investigações estéticas ocupam mais de metade do corpus de Adorno. Não são, no entanto, separáveis do enquadramento geral de teoria social da sua obra. Noutras palavras, se a obra estética de Adorno é aquilo que sobressai nos seus escritos, essas investigações acontecem no seio do projeto da Escola, um projeto de continuação crítica (eventualmente melancólica e pessimista) do projeto de emancipação da modernidade, num contexto de investigação social. 

Adorno foi um duro crítico de Heidegger. Apesar disso, a sua própria crítica da modernidade tem muito em comum com a crítica heideggeriana. A Dialética do Esclarecimento é um exemplo, muito embora sem as solenes formulações heideggerianas, e assumindo um ponto de vista mais claramente histórico e social, é marcado pelo marxismo e por apropriações e usos de autores como Hegel, Schopenhauer, Nietzsche, Lukács e Benjamin, muitas das teses de Adorno e Horkheimer são análogas às teses de Heidegger.

No pessimismo cultural e sociológico de Adorno, depois da guerra, não há Aufhebung, não existe a elevação e superação do racionalismo dialético hegeliano. Não há chegada ao espírito a si, compreendendo a racionalidade da realidade. O que existe em vez disso, no retrato de Adorno, é um mundo administrado, um mundo da racionalidade instrumental desenfreada e enlouquecida, um mundo de indústria cultural. A dominação e controlo da natureza tornou-se dominação e controlo sobre os homens, culminando na dominação da natureza nos homens e na repressão. O lado escondido da razão iluminista é precisamente a violência repressiva e o totalitarismo. 

Para Adorno, a palavra «Auschwitz» simboliza isto mesmo. Quais poderão então ser ainda as aspirações iluministas neste contexto? Na Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer continuavam a declarar a sua crença na inseparabilidade da liberdade social e do pensamento esclarecido. No caso de Adorno, além da crítica, que é concebida de forma hegeliana como negação imanente, a esperança utópica do Iluminismo ganha contornos estéticos. Ele fala em contemplar o mundo do ponto de vista da redenção, ver traços messiânicos. Isto liga-o a Benjamin, mais do que a Heidegger. Nesta época de metafísica e esquecimento do Ser, estamos simplesmente a viver o niilismo que Nietzsche profetizou, diz Heidegger. Adorno morre em 1969, talvez chocado com as manifestações estudantis que o confrontam pessoalmente.