quarta-feira, 19 de junho de 2024

Escola de Frankfurt



Escola de Frankfurt foi o nome pelo qual se tornou conhecido o grupo de filósofos e sociólogos associados ao Institut für Sozialforschung. A Escola foi fundada na década de 1930 por Max Horkheimer (1895–1973), filósofo e sociólogo alemão. Em a Dialética do Esclarecimento, publicada em 1947, é uma crítica pessimista da modernidade e uma obra paradigma da primeira geração da Escola. Nela, Horkheimer e Adorno questionam o próprio valor do projeto ético e político do Ocidente com questões inquietantes. Perguntam como pôde a razão tornar-se irracional e como pôde o Iluminismo, que tinha por fim a emancipação dos seres humanos, ter redundado no desastre às mãos dos nazis. Como a ciência se prestou para carrasca de uma destruição maciça. O projeto que pretendera emancipar a humanidade e libertá-la da menoridade, como pensara Kant, acabou por dar rédea solta à barbárie. Max Horkheimer foi presidente do Instituto entre 1930 e 1933. Pouco depois da ascensão de Hitler a chanceler alemão, o Instituto foi encerrado (a Gestapo tomou o edifício). Conseguiu emigrar para os Estados Unidos da América, tendo entre 1949 e 1958 passado por Nova Iorque e Chicago. 

O Institut für Sozialforschung tinha começado como um grupo de estudos marxista, quando Felix Weil, um estudante de Ciência Política, utilizou a sua herança para apoiar investigação social de orientação esquerdista. A Teoria Crítica pretendia ser uma reatualização do marxismo para as sociedades capitalistas avançadas e, ao mesmo tempo, uma crítica ao Positivismo, ou modo de pensar positivista.  Era a forma de pensar e praticar as ciências sociais como extensão do modelo e do método das ciências naturais. Uma interrogação central era por que razão o proletariado não se tinha tornado uma classe revolucionária. A ideia de emancipação no sentido moral, social e político, tal como esta se encontra já em Kant, um convicto Aufklärer, é desde os inícios fundamental para o programa da Escola. Também por isso as conclusões pessimistas de Adorno e Horkheimer na Dialética do Esclarecimento são tão importantes. 

O compromisso teórico da Escola de Frankfurt com o Iluminismo e com o ideal de emancipação permite compreender a razão pela qual Jürgen Habermas, o seu mais conhecido representante atual, deu corpo à reação ao pós-modernismo nos debates sobre modernidade e pós-modernidade nos anos 1980 e 1990, nomeadamente em discussão com o filósofo francês Jean-François Lyotard, ou na sua crítica ao filósofo francês Jacques Derrida. Na visão de Habermas, o pós-modernismo teria precisamente deixado cair qualquer vocação emancipadora do pensamento, tal como esta estivera sempre presente na grande tradição alemã, a tradição de Kant, Hegel e Marx. 

Theodor W. Adorno (1903–1969), regressado da emigração forçada para os EUA,  torna-se uma figura muito importante na filosofia alemã do pós-guerra. Antes da ascensão de Hitler ao poder, tinha já tido uma breve carreira académica e literária. Filósofo (escreveu a sua Habilitationsschrift sobre Kierkegaard) e músico (estudante de Composição com Alban Berg em Viena), manteve sempre perto da superfície a veia artística do seu pensamento. A sua Filosofia da Nova Música (1949) e a sua Teoria Estética (1970, póstuma) podem ser vistas diretamente a essa luz. Escritas (nas palavras do próprio) em «estilo paratético e atonal», as investigações estéticas ocupam mais de metade do corpus de Adorno. Não são, no entanto, separáveis do enquadramento geral de teoria social da sua obra. Noutras palavras, se a obra estética de Adorno é aquilo que sobressai nos seus escritos, essas investigações acontecem no seio do projeto da Escola, um projeto de continuação crítica (eventualmente melancólica e pessimista) do projeto de emancipação da modernidade, num contexto de investigação social. 

Adorno foi um duro crítico de Heidegger. Apesar disso, a sua própria crítica da modernidade tem muito em comum com a crítica heideggeriana. A Dialética do Esclarecimento é um exemplo, muito embora sem as solenes formulações heideggerianas, e assumindo um ponto de vista mais claramente histórico e social, é marcado pelo marxismo e por apropriações e usos de autores como Hegel, Schopenhauer, Nietzsche, Lukács e Benjamin, muitas das teses de Adorno e Horkheimer são análogas às teses de Heidegger.

No pessimismo cultural e sociológico de Adorno, depois da guerra, não há Aufhebung, não existe a elevação e superação do racionalismo dialético hegeliano. Não há chegada ao espírito a si, compreendendo a racionalidade da realidade. O que existe em vez disso, no retrato de Adorno, é um mundo administrado, um mundo da racionalidade instrumental desenfreada e enlouquecida, um mundo de indústria cultural. A dominação e controlo da natureza tornou-se dominação e controlo sobre os homens, culminando na dominação da natureza nos homens e na repressão. O lado escondido da razão iluminista é precisamente a violência repressiva e o totalitarismo. 

Para Adorno, a palavra «Auschwitz» simboliza isto mesmo. Quais poderão então ser ainda as aspirações iluministas neste contexto? Na Dialética do Esclarecimento, Adorno e Horkheimer continuavam a declarar a sua crença na inseparabilidade da liberdade social e do pensamento esclarecido. No caso de Adorno, além da crítica, que é concebida de forma hegeliana como negação imanente, a esperança utópica do Iluminismo ganha contornos estéticos. Ele fala em contemplar o mundo do ponto de vista da redenção, ver traços messiânicos. Isto liga-o a Benjamin, mais do que a Heidegger. Nesta época de metafísica e esquecimento do Ser, estamos simplesmente a viver o niilismo que Nietzsche profetizou, diz Heidegger. Adorno morre em 1969, talvez chocado com as manifestações estudantis que o confrontam pessoalmente.

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