sábado, 8 de junho de 2024

Sissi, a princesa Isabel da Áustria – e filmes



Cartaz do filme "Sissi", 1955, em que Romy Shneyder faz o papel de Sissi.

Sissi - princesa Isabel - segunda filha mais velha do duque Maximiliano José e da princesa Ludovika -Baviera, de uma fratria de sete irmãos. Ainda uma criança, despreocupada impulsiva amante da natureza, a viver no Castelo de Possenhofen nas margens do Lago Starnberg, na Baviera. Uma infância feliz, livre dos constrangimentos habituais de quem tem estatuto real. Helene (Néné), irmã mais velha, é mais recatada. Sissi, agora com 16 anos, sai de Possenhofen numa viagem em direção à cidade termal de Bad Ischl, na Alta Áustria, com a mãe Ludovika e a irmã Helene. Ludovika vai encontrar-se com a irmã, a arquiduquesa Sofia, que é nada mais nada menos que a mãe do jovem imperador da Áustria -  Francisco José I . A arquidoquesa da Áustria quer casar o jovem imperador Francisco José com Helene, e marcou para aqui um encontro, na villa imperial, para que os dois se conheçam e fiquem imediatamente noivos. Sissi, desconhecendo o real motivo da viagem, não percebe a proibição que a tia lhe impôs, dado o seu temperamento impetuoso, de se aproximar do príncipe.


Retratos de Sissi e de Francisco José (em uniforme húngaro), 1853

Sissi passa o tempo a deambular pela floresta, ora passeando, ora peesando, até que, por mero acaso, encontra-se com Francisco José. Mas ele não sabe que ela é a Sissi, irmã de Helene. A simpatia mútua é instantânea, amor à primeira vista, e Francisco convida Sissi para uma viagem com ele aos Alpes, para uma caçada. E assim o encontro acaba por se dar, como combinado, nas montanhas alpinas. E a conversa vai fluindo e eles se vão entrelaçando. A partir daqui Sissi sente-se apaixonada por ele, mas consegue manter em segredo a sua verdadeira identidade. E só então, a partir daqui, Sissi fica a saber quais eram os verdadeiros objetivos da viagem familiar. Eram os planos do casamento de Francisco José com sua irmã - Helene. O imperador comenta que inveja o homem que um dia se casará com Sissi, e confessa que não sente nenhuma atração por Helene. Ao ouvir uma declaração destas da boca de Francisco, Sissi entra em parafuso devido à sua lealdade com a irmã. E então Sissi afasta-se de Francisco José sem dar qualquer explicação.

Quando Sissi regressa ao sítio onde se encontra a irmã e a mãe, Helene decide então revelar a Sissi que o motivo de estarem ali é para darem início aos preparativos do seu casamnto com Francisco José. Portanto, está noiva. Inesperadamente, chega um novo convidado, o Príncipe de Lippe, e Sissi é convidada pela arquiduquesa para ser o par de Lippe na festa do aniversário de Francisco. E eis que Francisco subitamente é confrontado com a aparição de Sissi ali. E Francisco não est
á com meias medidas, faz uma declaração de amor a Sissi. Sissi mantém-se fiel à irmã e recusa qualquer compromisso com ele. Ele desafia as reservas de sua mãe e a resistência de Sissi e anuncia, para surpresa de seus convidados, o seu noivado com Sissi. Helene dá-lhe um chilique. Depois de se recompôr, abandona a festa em lágrimas. Sissi fica em estado de choque, perante a posição obstinada de Francisco, que a força a obedecer aos seus desejos.

Sissi, ou Elisabeth da Áustria, comumente conhecida como Imperatriz Sissi, desempenhou um papel significativo na vida do Imperador Francisco José I da Áustria. Embora os casamentos reias ou imperiais se revestiam sempre mais do seu caráter político do que outra coisa, tornou-se evidente que Sissi exerceu uma influência considerável sobre o imperador. Sissi era ua mulher muito bela, dotada de um charme e uma personalidade muito forte, que contrastava com a formalidade e a rigidez da corte imperial austríaca. Ela desafiou as normas sociais e as expectativas que a corte exigia do seu papel como imperatriz. Nada compatível com a sua liberdade pessoal e na busca do seu envolvimento em causas sociais.

Apesar dos desafios políticos e das pressões da vida na corte imperial, Francisco José compartilhava com Sissi um vínculo emocional profundo. A morte trágica de Sissi em 1898 teve um impacto devastador em Francisco José, que nunca se recompôs completamente da perda de sua amada esposa. O desaparecimento de Sissi marcou o fim de uma era na história do Império Austro-Húngaro, deixando para sempre uma marca indelével na persona de Francisco José.

Em Possenhofen, os preparativos para o casamento começaram. Sissi não está animada com a iminência do seu casamento. Tudo muito apressado. E a mágoa de Néné, assim a tratava a irmã, deixada para trás por um período indeterminado. Pelo bem da irmã, Sissi tenta romper o noivado. Mas quando Néné volta à cena aparece com um pretendente, Maximiliano António, Príncipe Hereditário de Thurn e Taxis. As irmãs se reconciliam e Néné dá-lhe a bênção pelo seu casamento.

Sissi viaja num barco a vapor com Franz Joseph pelo Danúbio até Viena. O povo faz fila nos bancos, agitando bandeiras e aplaudindo a futura imperatriz. Sissi entra na cidade numa carruagem dourada. O casamento acontece na Igreja dos Agostinhos em 24 de abril de 1854.

Isabel da Baviera ou ainda Elisabeth da Áustria, Imperatriz da Áustria de 1854 a 1898, é uma coisa. Sissi é outra coisa na cultura pop, no cinema, nas histórias côr-de-rosa. Uma figura mítica, portanto, especialmente a partir do filme, uma trilogia, em que Romy Schneider é a “Sissi” (1955-1957), guiada pela mestria de Ernst Marischka. Esse fascínio pela figura ainda rendeu uma outra gama de peças de teatro, espetáculos de balé, séries de TV e ainda outras referências à sua figura no cinema, como “Sisi & I”, cinebiografia alemã dirigida por Frauke Finsterwalder. 

“Corsage”, de Marie Kreutzer, um filme austríaco indicado para o Oscar de Filme Internacional de 2023. É um olhar bastante distinto da figura anterior de Sissi, um retrato íntimo muito diferente com a atriz Vicky Krieps."Corsage" é uma versão feminista da imperatriz da Áustria aos 40 anos, com personalidade irreverente e perturbada. 




Marie Kreutzer opta por um filme atemporal, bastante específico do momento que atravessamos, e em tempos de pós-verdade temos de ter filmes que nos contem a versão da pós-verdade na vida de Sissi. A história passa-se na fase em que a imperatriz está prestes a completar 40 anos e luta para manter uma imagem pública de modelo, beleza idílica. É o seu dia-a-dia das redes sociais, dos compromissos, da relação sem família, viagens e mais viagens, e a porra do casamento com o imperador Francisco José I. É uma história 100% construída numa lógica da subjugação da mulher, do levantameto do dedo do meio para com um casamento monótono na vida de monarca. Mas, curiosamente, num golpe de asa, Kreutzer consegue cativar o espectador para dentro desse mundo de forma desconcertante.




Vicky Krieps é uma atriz avassaladora. Havia despontado em “Trama Fantasma” (2017), de Paul Thomas Anderson; esteve em “A Ilha de Bergman” (2021), de Mia Hansen-Løve; “Presos no Tempo” (2021), de M. Night Shyamalan; em 2022, por sua atuação em “Corsage”, foi premiada no Festival de Cannes e no European Film Awards. Tudo isso se justifica ao vê-la em cena: Elisabeth só se torna uma personagem crível e interessante pela minuciosa construção que Krieps faz, trazendo complexidade para uma personagem que facilmente poderia cair na egolatria vazia. “Corsage” é uma espécie de apresentação do vazio que essa personagem encontra apesar de todo e qualquer hedonismo.

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