segunda-feira, 10 de junho de 2024

Nova Iorque e os imigrantes a partir de finais do século XIX



Lower East Side de Manhattan, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Durante o final do século XIX e o início do século XX, Nova Iorque experimentou uma grande onda de imigração, com milhares de imigrantes chegando à cidade em busca de oportunidades económicas e uma vida melhor. Inicialmente, os imigrantes eram predominantemente irlandeses e italianos. Mas os pogroms na Rússia que se intensivaram após o assassinato de do czar Alexandre II desendacadeou uma debandada de judeus em direção a Nova Iorque.

Após o assassinato do czar Alexandre II em 1881, ocorreram uma série de pogroms na Rússia, especialmente nas áreas onde havia grandes populações judaicas. Esses pogroms foram ataques violentos e organizados contra os judeus, resultando em mortes, ferimentos e destruição de propriedades. Alexandre III, que sucedeu ao pai, Alexandre II, como czar da Rússia, era conhecido por suas posições anti-semitas. Durante o seu reinado, de 1881 a 1894, as políticas anti-semitas foram implementadas e a perseguição aos judeus na Rússia intensificou-se. Isso incluiu restrições à residência, educação e carreiras profissionais dos judeus, bem como o fomento de pogroms e outras formas de violência anti-semita. O reinado de Alexandre III é lembrado como um período sombrio para os judeus na Rússia, com políticas discriminatórias e perseguições que levaram muitos judeus a emigrar para outros países em busca de segurança e oportunidades.


Cartaz alusivo às boas-vindas de judeus americanos a imigrantes judeus vindos da Rússia

As políticas discriminatórias e a perseguição aos judeus na Rússia czarista, incluindo os pogroms e outras formas de violência anti-semita, foram fatores significativos que contribuíram para a adesão de alguns judeus à revolução bolchevique de 1917. Os bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin, prometeram igualdade e justiça social, o que atraiu muitos grupos minoritários, incluindo os judeus, que esperavam por uma mudança positiva em relação à sua situação na sociedade russa. Os bolcheviques eram contra a discriminação étnica e religiosa, promovendo ideias de igualdade para todas as nacionalidades e grupos étnicos. Como resultado, muitos judeus se envolveram na revolução bolchevique como ativistas, líderes e intelectuais. Vários líderes bolcheviques proeminentes, como Leon Trotsky e Grigory Zinoviev, eram de origem judaica. No entanto, é importante observar que a relação entre os judeus e os bolcheviques não era homogénea, e muitos judeus não apoiavam os bolcheviques, optando por outras facções políticas, ou mantendo-se alheios à revolução.

Esses eventos contribuíram significativamente para uma onda de emigração judaica da Rússia para outros países. Muitos judeus buscaram refúgio em países como os Estados Unidos, Canadá, Argentina e vários países europeus. Esse movimento populacional teve um impacto duradouro na diáspora judaica e na demografia desses países. Inclusivamente mutivou judeus a abraçarem um movimento nacional judeu de regresso a Jerusalém. Os pogroms na Rússia, juntamente com outros fatores, motivaram muitos judeus a abraçarem o movimento sionista, que buscava o estabelecimento de um estado judeu na Terra de Israel, especialmente em Jerusalém. O movimento sionista começou a ganhar força no final do século XIX e atraiu judeus de várias partes do mundo, incluindo aqueles que estavam fugindo da perseguição na Rússia czarista.

 Para muitos judeus, o sionismo representava uma solução para a perseguição e a discriminação que enfrentavam em seus países de origem. A ideia de ter um Estado judeu onde pudessem viver livres de perseguição e em segurança era muito atraente para muitos. Assim, os pogroms na Rússia e outros eventos de discriminação anti-semita ajudaram a catalisar o movimento sionista e a aumentar o apoio à ideia de retorno dos judeus à Terra de Israel.


Imigrantes chegando a Ellis Island, 1902

Os irlandeses já haviam chegado em grande número durante a Grande Fome da Irlanda na década de 1840, enquanto os italianos começaram a chegar em massa no fim do século, especialmente após a unificação da Itália em 1871. Os judeus emigraram para Nova Iorque não só aqueles devido à perseguição e aos pogroms que mencionamos anteriormente, mas também de outras partes da Europa de Leste. Essa diversidade étnica contribuiu para a rica tapeçaria cultural de Nova Iorque e moldou profundamente o caráter da cidade. A chegada desses imigrantes também teve um impacto significativo na economia, na política e na sociedade da cidade, deixando um legado duradouro que ainda é evidente hoje.

Nova Iorque, em 1901, era portanto uma cidade de muito crime mafioso, mas também o maior porto do mundo. A foto seguinte foi tirada em 1900, na Little Italy em Manhatam.



Em 1901, Nova Iorque era de fato uma cidade com uma considerável presença de crime organizado, especialmente na forma de atividades da máfia. O influxo de imigrantes italianos, juntamente com outros fatores sociais e económicos, contribuiu para o crescimento das organizações criminosas, que controlavam atividades como jogo ilegal, extorsão, prostituição e tráfico de drogas. Além disso Nova Iorque era o maior porto do mundo na época, o que significava que era um centro crucial para o comércio internacional. Esse estatuto de importante porto também contribuiu para o crime organizado, com grupos criminosos muitas vezes envolvidos em contrabando e extorsão de empresas portuárias.

Assim, Nova Iorque em 1901 era uma cidade que combinava uma economia vibrante como um grande centro portuário com desafios significativos em termos de crime organizado e atividades criminosas. Esses elementos contribuíram para uma cidade dinâmica, mas também apresentavam problemas de segurança e ordem pública. Pela experiência que traziam da Sicília, os italianos lideraram muitos gangues do crime. Os imigrantes italianos trouxeram consigo para os Estados Unidos uma cultura e uma estrutura social que favoreciam a formação de organizações criminosas. Na Sicília e em outras partes da Itália, havia uma longa tradição de sociedades secretas, como a Mafia, que eram muitas vezes envolvidas em atividades ilegais e exerciam influência significativa sobre a vida local. Quando os italianos imigraram para os Estados Unidos, eles transplantaram essas tradições e estruturas sociais para as cidades americanas, onde encontraram oportunidades para expandir suas atividades criminosas. Eles formaram grupos criminosos conhecidos como "gangues" ou "famílias" que operavam em áreas urbanas, incluindo Nova Iorque. 

Na Nova Iorque desse tempo, Giuseppe "Mão de Garra" Morello era um rufião de Corleone, um dos inventores da máfia nos Estados Unidos. Morello fundou a "The 107th Street Mob" ou "Morello Gang". Sua gangue foi uma das precursoras das famílias criminosas italianas que viriam a dominar o submundo do crime em Nova Iorque e em outras cidades americanas. Ele foi de fato uma figura proeminente no submundo do crime em Nova Iorque na passagem do século XIX para o século XX. Ele era oriundo de Corleone, na Sicília, e desempenhou um papel significativo na formação das primeiras organizações criminosas nos Estados Unidos, que mais tarde seriam associadas à máfia italiana.

Ao mesmo tempo Luciano, Lansky e Siegel ganhavam donheiro com a prostituição. Durante o início do século XX, Charles "Lucky" Luciano, Meyer Lansky e Benjamin "Bugsy" Siegel emergiram como figuras proeminentes no submundo da protituição em Nova Iorque e mais além. Enquanto Giuseppe Morello e outros líderes anteriores estavam mais envolvidos em atividades como extorsão e contrabando, Luciano, Lansky e Siegel se envolveram significativamente no controlo da prostituição.

Eles eram parte de uma nova geração de criminosos que operavam em uma escala mais ampla e com métodos mais sofisticados. Luciano, conhecido por sua habilidade em organizar e administrar negócios criminosos, desempenhou um papel central na modernização das operações da máfia. Lansky, por sua vez, era um especialista em finanças e ajudou a estabelecer redes de jogo ilegal e prostituição. Siegel era conhecido por sua violência e foi fundamental no estabelecimento de redes de prostituição em Nova Iorque e em outras cidades. Esses indivíduos e outros como eles lucraram enormemente com a exploração da prostituição, que na época era uma indústria significativa em muitas cidades americanas. Controlar o comércio do sexo proporcionava uma fonte estável de renda para esses criminosos e contribuía para o crescimento de suas organizações.

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