segunda-feira, 17 de junho de 2024

Derrida





Jacques Derrida [1930-2004] - Professor da École Normale Supérieure entre 1965 e 1984, então Diretor de Estudos da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales - criou e desenvolveu a escola de pensamento pós-moderno em torno do desconstrucionismo que seguia a tradição de Heidegger. E assim desafiou a tradição da Fenomenologia que vinha de Husserl professor de Heidegger. 
O ponto de partida de sua obra é uma crítica à linguística e ao lugar dominante que ela ocupa no campo das ciências humanas. 

O Derrida anglo-saxónico dos Departamentos de Teoria Crítica, e não dos departamentos de filosofia, teve certamente para estes um efeito muito negativo. A imagem de Derrida perante os filósofos da Filosofia Analítica não evoca mais do que jargão ininteligível.

Em seu livro Sobre a Gramatologia (1967), Derrida tenta mostrar que o modelo linguístico dominante na época se baseava numa contradição. Se a linguagem provinha na sua nascença da fala oral, da qual a escrita não passava da sua transcrição, para Derrida a linguística se baseia na linguagem escrita  e não na língua, que é a linguagem oral, a original. Portanto, linguística e linguagem são termos que se baseiam na linguagem escrita, cuja estrutura da linguagem é parte de uma construção e desconstrução. Assim, a escrita na desconstrução da linguagem passou a vogorar como a língua viva. Um oxímoro ou contradição quando se diz que a origem da fala viva é a linguagem escrita. 

Derrida transpõe para o campo da linguística o mesmo questionamento que Edmund Husserl fez em "A origem da geometria". E introduz o conceito de «suplemento originário», ou simplesmente «suplemento»Essa contradição de origem, colocada inicialmente — no nível da linguagem — entre a fala e a escrita, reverberará depois em todas as áreas em que Derrida realizará a sua investigação: em direção à estrutura de um texto e ao suplemento na origem deste texto, como a linguagem em que foi escrita, para o princípio fundador. E desta forma que decorre uma espécie de morte da ideologia com o deflagrar de toda a verborreia jargacional dos pós-modernismo. Só agora, com as imposições ao nível da linguagem para as questões de género, se consegue vislumbrar o alcance de Derrida no seu acolhimento por parte dos arautos do movimento woke. 




A Gramatologia, a sua obra inicial de referência, ainda é algo iluminador como método derridiano em ação. Os seus textos são ainda bastante compreensíveis. É a abordagem da metáfora, ou melhor, do metafórico. É o caso do artigo «Mitologia Branca», em Margens da Filosofia (1972). A expressão do título, «Mitologia Branca», significa várias coisas: significa, por exemplo, uma mitologia que não se vê a si própria como mitologia. Significa mitologia dos brancos. Considera que usualmente e habitualmente a nossa linguagem comporta uma divisão entre o metafórico e o não metafórico. Pressupõe a possibilidade de distinguir, sem mais problemas, o metafórico do não metafórico. 

Derrida lança-se na história de conceitos vários: dom, hospitalidade, morte, justiça, liberdade, etc. Examina os paradoxos e as várias aporias da construção histórica de tais conceitos. Esta é a forma da sua crítica à metafísica ocidental. Derrida tem perfeita consciência de que toda a apaixonada crítica da razão que o rodeia na década de 1960, quando a sua obra começa a ascender, i.e., todos os clamores contra a razão ocidental, é recebida de forma injusta. É uma disputa que ele considera só poder ser tarvada no campo da própria linguagem. Com razão ou sem ela, não pode ser ganha contra a razão. Tematicamente, uma coisa é certa: a partir de 1990 os escritos de Derrida têm uma forte incidência sobre questões de Política. São exemplo disso Espectros de Marx (1993), em que analisa a importância do marxismo como messianismo da democracia sempre em registo de porvir. O mesmo acontece em 1997 com Da Hospitalidade. O seu último livro, O Animal Que logo Sou, datado de 2006, testemunha o seu profundo interesse pela animalidade, tanto mais que é a essência do humano, do cerne da questão, e não das margens, como se poderia erradamente deduzir-se do seu pensamento. 

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