sexta-feira, 7 de junho de 2024

Da paz entre Begin e Sadat em 1979 à guerra Irão-Iraque 1980-1988



Menachem Begin devolveu o Sinai ao Egito em troca de uma paz que provocou a ira do resto do mundo islâmico. Anwar Sadat, o então presidente do Egito, foi o outro interlocutor com quem Menachem Begin conseguiu estabelecer uma relação relativamente boa durante as negociações de paz entre Israel e o Egito. Ambos os líderes foram fundamentais na consecução do Tratado de Paz Israel-Egito. As negociações e entendimentos desempenharam um papel crucial na resolução de décadas de hostilidades entre os dois países.

Embora tenha sido um passo significativo para a paz entre Israel e o Egito, outros países árabes e islâmicos viram a paz entre Israel e o Egito como uma traição aos interesses árabes e palestinos. Isso causou tensões e hostilidades em certos setores do mundo islâmico. Muammar al-Khadafi, da Líbia, e Hafez al-Assad, da Síria, foram dois dos líderes árabes que se opuseram fortemente ao acordo de paz entre Israel e o Egito liderado por Sadat e Begin. Eles se reuniram com o líder iraniano Ayatollah Khomeini, que também era um crítico feroz de qualquer acordo com Israel, para discutir e coordenar suas respostas ao tratado de paz. Essa oposição conjunta refletiu a divisão dentro do mundo árabe e muçulmano em relação ao tratamento com Israel e seus vizinhos.



Anwar Sadat, Jimmy Carter e Menachem Begin
Assinam os acordos em Camp David, 17 setembro, 1978

Menachem Begin conseguiu atrair o apoio dos judeus mizrahi, também conhecidos como judeus orientais ou sefarditas, que viviam em países árabes. Esses judeus muitas vezes tinham uma perspetiva diferente dos judeus Ashkenazy, e Begin conseguiu conquistar o seu apoio através de uma série de políticas e estratégias.

O primeiro líder a visitar Khomeini foi Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), após a Revolução iraniana de 1979. Arafat buscou o apoio do Irão para a causa palestina e estabeleceu uma relação próxima com Khomeini. A cooperação entre a OLP e o Irão revolucionário foi significativa em vários momentos e teve implicações na geopolítica do Oriente Médio.

Sadat concedeu asilo ao Xá do Irão, Mohammad Reza Pahlavi. O Xá acabou por falecer no Egito em 1980, tendo sido sepultado na Mesquita de Al-Rifai, no Cairo. A decisão de Sadat de conceder asilo ao Xá do Irão foi outro facto que enfureceu muitos islamistas em geral, especialmente aqueles que se opunham ao regime do Xá e viam a sua presença no Egito como uma traição aos princípios islâmicos. Isso contribuiu para a crescente tensão entre o governo de Sadat e os grupos islâmicos no Egito.

Entretanto no Paquistão, em 4 de abril de 1979, o ex-primeiro-ministro do Paquistão, Zulfikar Ali Bhutto, foi enforcado por ordem do general Muhammad Zia-ul-Haq, que liderava o regime militar no país na época. Zia-ul-Haq era conhecido por suas inclinações islâmicas e Bhutto foi condenado à morte por acusações de conspiração para assassinar um oponente político. A execução ampliou as divisões políticas no Paquistão. Era mais um caso da influência de Khomeini. 

A proposta de união entre o Iraque, liderado por Saddam Hussein na época, e a Síria, liderada por Hafez al-Assad, após a paz de Sadat com Israel, não era algo incomum no contexto geopolítico. Ambos os líderes compartilhavam um desejo de contrabalançar o poder de Israel e de se opor à influência ocidental. No entanto, essas negociações não levaram a uma união concreta entre os dois países, principalmente devido a rivalidades políticas e diferenças ideológicas entre Saddam Hussein e Hafez al-Assad.

A Guerra Irão-Iraque começou em setembro de 1980. Ela foi iniciada pelo Iraque, liderado por Saddam Hussein. O Iraque invadiu o Irão, liderado pelo aiatolá Khomeini, aproveitando a instabilidade política e militar que se seguiu à Revolução Islâmica no Irão, que havia ocorrido no final de 1979. A guerra durou oito anos e foi uma das mais longas e sangrentas do século XX, com milhões de mortos e impactos significativos na região do Golfo Pérsico. O príncipe herdeiro saudita, Sultan bin Abdulaziz Al Saud, prometeu apoio ao Iraque, estando preocupado com a Revolução iraniana e com o alastrar da influência xiita na região. O Iraque de Saddam Hussein, predominantemente sunita, era um contrapeso aos interesses do Irão. Assim, forneceu apoio financeiro e diplomático ao Iraque durante grande parte da guerra. 
Khomeini, como líder de um governo islâmico xiita, criticava frequentemente o regime secular e sunita de Saddam Hussein. As diferenças ideológicas e geopolíticas contribuíram para a hostilidade entre os dois países o que acabaria na guerra 1980/1988. No Iraque não se aplicava a sharia de maneira estrita. O poder era mais focado em manter o controlo político e reprimir qualquer oposição, independentemente de considerações religiosas. Enquanto Saddam utilizava elementos da retórica islâmica para legitimar seu governo, ele não buscava a islamização do Iraque. 

Khomeini, apesar de ser xiita, havia-se inspirado em Qutb, um sunita. Sayyid Qutb, um teórico e ativista islâmico egípcio, é amplamente considerado uma das figuras-chave no desenvolvimento do pensamento radical islâmico contemporâneo, principalmente por sua obra "Milestones" (ou "Marcos") que defendia uma visão radical da aplicação da lei islâmica (sharia) e da rejeição das sociedades seculares. Embora as diferenças doutrinárias entre o xiismo e o sunismo sejam significativas, certas ideias e conceitos do pensamento islâmico radical podem transcender essas divisões sectárias e influenciar líderes de ambas tradições islâmicas.

Sem comentários:

Enviar um comentário