sábado, 1 de junho de 2024

África de Joseph Conrad e o Mapa Cor-de-Rosa


"O Coração das Trevas" de Joseph Conrad é um romance que explora as brutalidades e atrocidades do colonialismo europeu em África, embora seja ambientado principalmente no Congo Belga. Publicado em 1899, o livro segue a jornada de um narrador chamado Marlow, que viaja pelo rio Congo em busca de um homem chamado Kurtz, um comerciante de marfim que se tornou uma figura sombria e enigmática na selva. Ao longo da narrativa, Conrad descreve vividamente as condições desumanas enfrentadas pelos trabalhadores africanos, os horrores da exploração colonial e as consequências psicológicas devastadoras da busca por poder e riqueza na selva africana. O romance é amplamente considerado uma crítica ao imperialismo europeu e à exploração colonial em África, e tem sido objeto de análises profundas sobre temas como o colonialismo, o racismo e a natureza humana.



Joseph Conrad nasceu na Ucrânia a 3 de dezembro de 1857, filho de pais polacos, exilados devido a atividades políticas. Conrad ficou órfão de pai aos onze anos, tendo sido deixado ao cuidado de um tio materno que exerceu grande influência sobre ele. A partir de 1874, Conrad, então a viver em Marselha, iniciou a sua aprendizagem como marinheiro, tendo ingressado na Marinha Mercante Britânica e adotado a nacionalidade inglesa em 1886.Depois de publicado o seu primeiro romance, Almayer’s Folly, em 1895, Conrad abandonou a vida de marinheiro. Embora os livros sobre temas marítimos sejam numerosos e exista a tendência para o imaginar sempre a bordo de um veleiro, a verdade é que passou os últimos trinta anos da sua vida em terra, numa sedentária vida de escritor, no condado de Kent. Conrad era conhecido por dois aspetos contraditórios do seu caráter. Era ao mesmo tempo irritável e amável. Todos os que o conheceram afirmavam também que era um homem de grande ironia. Usava monóculo, não gostava de poesia, exceto dos versos do seu amigo Arthur Symons e talvez de Keats. Detestava Dostoievski por ser russo e escrever romances que lhe pareciam confusos. Era um grande leitor, sendo Flaubert e Maupassant os seus autores favoritos. Durantes muitos anos, Conrad atravessou dificuldades financeiras e sentiu a incompreensão dos críticos e a indiferença dos leitores. O livro que o tornou conhecido foi Chance, publicado em 1913. Nos dez anos que se seguiram tornou-se um dos mais reconhecidos autores de língua inglesa. Conrad casou-se aos 38 anos, nunca deixando de oferecer um presente à sua mulher cada vez que acabava um dos seus livros. Morreu subitamente a 3 de agosto de 1924, na sua casa em Kent, na Grã-Bretanha. Sentira-se mal no dia anterior, mas nada deixava adivinhar a iminência da morte. Tinha sessenta e seis anos e dele se disse que cumpriu três vidas, a de polaco, a de marinheiro e a de escritor.

Os Britânicos ambicionavam controlar toda a África do Cabo ao Cairo, e isso provocou um diferendo com Portugal que ficou conhecido por Questão do Mapa Cor-de-Rosa. Na passagem do século XIX para o século XX, houve um desentendimento entre o Reino Unido e Portugal sobre o controlo de territórios na África Austral, particularmente na região compreendida entre o Rio Zambeze e o Rio Congo. O Reino Unido tinha o objetivo de estabelecer uma conexão territorial contínua, conhecida como "Cabo ao Cairo", que ligaria as suas possessões na África do Sul ao Egito. Porém, Portugal já tinha reivindicações históricas sobre algumas dessas regiões, especialmente na área entre Angola e Moçambique.

 


O termo "Mapa Cor-de-Rosa" surgiu porque, em 1886, o governo britânico divulgou um mapa que mostrava uma suposta esfera de influência britânica contínua desde o Cabo até o Cairo, com uma área em cor-de-rosa marcada como área de influência britânica. Isso provocou indignação em Portugal, que também reivindicava territórios naquela região.

O Ultimato britânico de 1890 contra as pretensões portuguesas em África provocou um movimento social e político de exaltação patriótica e de contestação da Monarquia. O conflito foi finalmente resolvido em 1890 com o Tratado de Londres, que reconhecia as reivindicações de Portugal em troca de concessões territoriais em outras partes do continente. O Tratado estabeleceu as fronteiras entre Angola e Moçambique, que eram colônias portuguesas, e as possessões britânicas ao redor delas. Ao mesmo tempo eram divulgadas as atrocidades dos belgas no Congo

Sim, durante o final do século XIX e início do século XX, houve uma crescente conscientização sobre as atrocidades cometidas pelos colonizadores europeus na África, especialmente no Congo. O Congo era uma propriedade pessoal do rei Leopoldo II da Bélgica, conhecida como Estado Livre do Congo, onde ele exercia controle absoluto sobre os recursos e a população local.

 A exploração brutal dos recursos naturais, como o marfim e o látex, levou a condições de trabalho forçado, escravidão e abusos generalizados contra a população congolense. Milhões de pessoas foram submetidas a condições de trabalho desumanas, tortura e execuções durante esse período. Essas atrocidades foram denunciadas por missionários, jornalistas e ativistas de direitos humanos, como Edmund D. Morel e Roger Casement, que expuseram as práticas desumanas no Congo ao público internacional. Essa crescente consciencialização contribuiu para a pressão sobre o governo belga para assumir o controlo direto do Congo em 1908, encerrando assim o domínio pessoal de Leopoldo II e tentando melhorar as condições para os habitantes locais.

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