sábado, 15 de junho de 2024

O efeito Dunning-Kruger e a razão para não dar visibilidade mediática a extremistas





O efeito Dunning-Kruger é um fenómeno cognitivo onde indivíduos com baixo nível de escolaridade ou conhecimento, tendem a superestimar as suas próprias capacidades inclusivamente em áreas específicas profissionais, como por exemplo medicina, ou economia. Esse viés cognitivo foi identificado e descrito pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger, em 1999. 

Há pessoas que chegam a acreditar que sabem mais de medicina do que os profissionais de medicina. Ou de tudo e mais alguma coisa. Os defensores da ideia da Terra Plana são um exemplo disso. São aqueles que têm o pior nível de conhecimento científico, mas isso não os impede de fazerem discorrer um discurso completamente disparatado. São por assim dizer cegos em relação à sua própria cegueira. Não se enxergam em relação à sua ignorância, acreditando que a sua própria competência é igual ou superior à de pessoas mais experientes. 

O estudo de Dunning e Kruger demonstrou que essa sobrestimação ocorre porque as pessoas incompetentes carecem das habilidades metacognitivas necessárias para avaliar com precisão a sua própria competência. Estamos a falar de pessoas egocêntricas. Há uma correlação entre ignorância e o atrevimento. Não sabendo nada de um assunto, dão paradoxalmente um excesso de confiança. São pessoas que têm uma necessidade de se evidenciarem num espelho de vaidade ao ponto de serem as pessoas que mais aderem às chamadas teorias da conspiração. A internet veio ampliar este tipo de pessoas.
Wheeler estava mesmo convencido que o sumo de limão poderia ser usado como uma "tinta invisível". Que poderia tornar o seu rosto invisível para as câmaras de segurança. Wheeler foi parar à prisão. E a sua história chamou a atenção de Justin Kruger e David Dunning identificando o processo psicológico que levou Wheeler a acreditar incompetentemente na tinta invisível. O seu trabalho valeu-lhes o Prémio Ig Nobel em Psicologia, 2000. Este prémio é um prémio satírico que é dado a trabalhos que no início nos fazem rir, mas depois nos faz pensar. O efeito Kruger e Dunning foi depois corroborado por outros trabalhos de outros e tornou-se um Zeitgeist.
Daí que, as pessoas de camadas da sociedade que se sentem marginalizadas ou alienadas podem encontrar nos grupos extremistas uma comunidade acolhedora, reforçando a sua identidade e sentido de pertencimento. E para isso os Partidos extremistas só têm que utilizar técnicas sofisticadas de propaganda para atrair novos membros, apresentando as suas causas de forma apelativa e emocionante.

Partidos extremistas muitas vezes apelam para sentimentos fortes de identidade, pertencimento e medo do "outro". Isso pode estimular áreas do cérebro associadas ao prazer e recompensa, como o núcleo accumbens. Além disso, os discursos que são emotivos e polarizados podem aumentar a liberação de dopamina, tornando os indivíduos mais engajados e emocionalmente investidos na causa.

Quando as pessoas recebem feedback positivo, seja através de aprovação social, validação ou sensação de conquista, isso pode reforçar comportamentos e crenças. Partidos extremistas podem utilizar técnicas de reforço social e emocional para solidificar o apoio e a lealdade dos seus membros. Em alguns casos, a exposição contínua a narrativas extremistas e a interação com grupos que reforçam essas ideias pode levar a mudanças nas redes neurais associadas a crenças e comportamentos. Isso pode tornar o indivíduo mais suscetível a novas ideias extremistas, criando um ciclo de reforço que é difícil de quebrar.

Estudos científicos em neurociência mais recentes são suficientes para sabermos que a participação em grupos e a adesão a ideologias podem influenciar os processos neurobiológicos, incluindo a libertação de dopamina, que é o neurotransmissor da motivação por excelência. A dopamina é um neurotransmissor associado ao sistema de recompensa do cérebro, desempenhando um papel crucial na motivação, prazer e aprendizagem. Quando uma pessoa se envolve em atividades que lhe proporcionam uma sensação de recompensa ou prazer, a dopamina aumenta no cérebro reforçando esse comportamento. A participação em grupos extremistas pode criar uma forte coesão social, onde a conformidade e o apoio mútuo reforçam o compromisso com a causa.

Ora, os movimentos extremistas muitas vezes proporcionam uma sensação de pertencimento e propósito aos seguidores. A adesão a essas ideologias pode gerar um sentido de identidade e missão, levando à liberação de dopamina, que reforça esses sentimentos. Junta-se a isto o facto de as ideologias extremistas geralmente oferecerem explicações simples para problemas complexos e uma clara distinção entre "nós" e "eles". Essa clareza pode ser emocionalmente gratificante e reduzir a incerteza, o que também pode aumentar a liberação de dopamina. As narrativas extremistas frequentemente ativam emoções intensas, como raiva e indignação, que podem ser gratificantes e gerar a liberação de dopamina.

Somente a humildade e o reconhecimento de quão vasto e complexo é o mundo real podem oferecer uma esperança para não cair nesta ilusão ridícula. Acontece que as pessoas que sofrem deste delírio não serão convencidas por evidências ou razão. Elas precisam de aconselhamento e terapia cognitivo-comportamental para superar o seu estado de ilusão. Esforços racionais são infrutíferos.

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