quinta-feira, 6 de junho de 2024

Sociedade civil


Quando um liberal fala em sociedade civil, pode entrar em contradição, ou ambiguidade, com a concepção original de Gramsci, porque este admitia algum controlo do Estado. Pode haver diferenças significativas na maneira como o termo "sociedade civil" é entendido por diferentes correntes e ideologias políticas. Na concepção de um liberal, a sociedade civil é frequentemente concebida como um espaço autónomo de interações sociais onde os cidadãos exercem a sua liberdade e buscam os seus interesses sem a intervenção direta do Estado. Nessa visão a sociedade civil é como um contrapeso que se exerce ao poder do Estado, e um meio de garantir a liberdade individual e a pluralidade das ideias.

Por outro lado, a concepção de sociedade civil proposta por Gramsci, embora também valorize a autonomia e a organização da sociedade fora do Estado, reconhece que o Estado desempenha um papel importante na regulação e na configuração das relações sociais. Gramsci enfatiza a importância da hegemonia cultural, na qual o Estado e outras instituições dominantes exercem influência sobre as ideias e os valores da sociedade civil. Portanto, para Gramsci, a sociedade civil não está totalmente separada do Estado, e pode haver uma relação de controlo ou influência do Estado sobre a sociedade civil.

Essas diferenças de interpretação podem resultar em ambiguidades ou até contradições quando pessoas de diferentes perspectivas políticas discutem o papel e a natureza da sociedade civil em democracia. O orgulho gay, assim como a cultura queer, imprime uma identidade de exclusão em termos defensivos, quiçá autoinfligida. Mas o orgulho gay e a cultura queer têm sido importantes para muitas pessoas LGBTQ+ como formas de resistência e celebração da identidade. No entanto, é verdade que em alguns casos podem surgir dinâmicas de exclusão dentro desses movimentos, especialmente quando certos grupos dentro da comunidade LGBTQ+ se sentem marginalizados da sociedade civil. Essas dinâmicas podem refletir questões mais amplas de poder e privilégio dentro da comunidade LGBTQ+, incluindo a prevalência de normas de beleza e comportamento, o preconceito dentro da própria comunidade e a falta de inclusão de pessoas que não se encaixam nas categorias dominantes de identidade de género ou orientação sexual.

É importante reconhecer essas questões e trabalhar para criar espaços mais inclusivos e acolhedores dentro da sociedade civil, onde todas as pessoas se sintam valorizadas e representadas. Isso pode envolver um compromisso com a diversidade de experiências e identidades, além de uma reflexão crítica sobre as normas e expectativas que podem contribuir para a exclusão. E é por isso que sem darem conta, esas ditas comunidades de siglas, em vez de se incluirem numa sociedade agregadora, estão a fragmentar-se em constelações de comunidades tribais. É o caso dos movimentos de orgulho gay e a cultura queer.

É importante reconhecer o potencial dessas comunidades para se tornarem exclusivas ou isolacionistas, especialmente se forem construídas em torno de uma identidade de oposição ao invés de uma visão inclusiva e aberta. Quando as comunidades se tornam muito tribalizadas, podem reforçar divisões e limitar o diálogo entre grupos diferentes.

Por conseguinte, voltado ao liberais, para não dizer neoliberais, com o seu foco no individualismo, na competição e na busca pelo sucesso pessoal, contribuiram para a formação de certas identidades centradas no sujeito, em detrimento do espírito comunitário. O neoliberalismo promove uma ideologia que valoriza a autonomia individual, a livre iniciativa e o mérito pessoal, muitas vezes à custa do apoio coletivo da sociedade civil. Essa ênfase no indivíduo pode levar à fragmentação das comunidades e enfraquecer os laços sociais que tradicionalmente unem as pessoas. Em vez de se identificarem com grupos com base em interesses compartilhados, ou pertença cultural, as pessoas podem-se concentrar mais em construir uma identidade baseada em realizações individuais que confiram estatuto pessoal e social. Ainda assim, deve reconhecer-se que o neoliberalismo não é o único fator que influencia a formação das identidades contemporâneas mais marcantes. As famigeradas inovações tecnológicas têm desempenhado um papel significativo.

Pode-se dizer que o partido de Marine Le Pen, o Rassemblement National (anteriormente conhecido como Front National), e partidos semelhantes são frequentemente classificados como partidos identitários. Com uma forte ênfase na proteção da identidade francesa, controlo rigoroso da imigração e políticas económicas nacionalistas, é acompanhada na Europa por outros partidos: o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), a Liga na Itália, e o Partido pela Liberdade (PVV) nos Países Baixos. Esses partidos compartilham uma preocupação com a preservação da identidade nacional e uma abordagem crítica em relação à imigração e à globalização.

Partidos identitários são caracterizados por uma ênfase em questões de identidade nacional, cultural e étnica. Enfatizam a preservação da identidade nacional e cultural frente à globalização e à imigração. Defendem políticas que protejam a independência e soberania do país, muitas vezes criticando instituições supranacionais como a União Europeia. Apoiam políticas rigorosas de controlo da imigração, argumentando que a imigração em massa ameaça a coesão social e a identidade nacional.

De cariz populista, esses partidos frequentemente criticam o multiculturalismo, preferindo políticas de assimilação que exijam que os imigrantes adotem a cultura e os valores do país de acolhimento. Defendem a manutenção e valorização das tradições culturais, religiosas e históricas do país. Enfatizam o amor e a lealdade ao país como valores centrais, posicionando-se como defensores do "povo comum" contra as elites políticas e económicas.

Outro aspeto básico é a ênfase dada à segurança interna e à luta contra o crime, frequentemente associando a imigração a problemas de segurança. Defendem políticas de lei e ordem para manter a estabilidade e a segurança nas comunidades. Por outro lado, defendem políticas protecionistas na economia nacional da concorrência estrangeira. E neste caso, criticam as políticas económicas neoliberais que consideram prejudiciais à classe trabalhadora e à soberania económica do país.

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